Syriza a ver-se grego: as eleições na Grécia

Kyriakos Mitsotakis, dos conservadores do Nova Democracia, é re-eleito. Fotografia: Milos Bacanski/Getty Images

O Partido da Nova Democracia voltou a vencer as eleições na Grécia. Sem maioria, o que obrigará a uma segunda volta e, posteriormente, a uma ginástica parlamentar, mas volta a eleger um governo, depois dos anos em que o partido social-democrata, o Syriza de Aléxis Tsípras, galvanizou o eleitorado farto da crise e dos acordos com os FMIs da vida.

A surpresa é, lá está, o próprio Syriza, que atinge apenas os 20%. Mas, a meu ver, o Syriza não perde votos para a direita conservadora (por muito que, há uns tempos, a estratégica aliança com os conservadores populistas dos Gregos Independentes tenha sido um erro de palmatória – que levou, aliás, a que vários dos seus mais activos militantes saíssem do partido de Tsípras). Perde votos para os outros partidos de centro-esquerda e de esquerda, que crescem. Assistimos ao ressurgimento dos social-liberais do PASOK, que julgávamos já mortos e enterrados, e à subida dos comunistas do KKE. [Read more…]

Crónica do Rochedo 42 – Grécia: O Elefante na Sala

O gigante do mercado de viagens de turismo, TUI, através do seu presidente Marek Andryszak, lançou um comunicado a informar quais as tendências nas actuais reservas do mercado alemão para a temporada de férias de verão deste ano.

Pela primeira vez, as ilhas gregas atingem o primeiro lugar como destino escolhido pelos alemães (principal mercado para o turismo da Europa). Aliás, Grécia e Turquia são quem mais sobe. Já Portugal e Espanha quem mais desce. No Top 15 das reservas já contratadas pelos alemães, o Algarve aparece num assustador 15º lugar e Espanha vê a eterna número 1 das escolhas dos alemães, Maiorca, descer para segundo lugar, ultrapassada pela grega Creta. Algo inimaginável nos anos anteriores à pandemia. E a Riviera turca à frente das Canárias. Aliás, nos cinco primeiros lugares, a Grécia coloca três destinos e a Turquia um – só a espanhola Maiorca , em segundo lugar, se intromete nesta guerra. Antes da pandemia, a guerra pelo top 5 era dividida entre as espanholas Canárias e Maiorca com a Turquia a tentar espreitar. Como chegou aqui a Grécia em tão curto espaço de tempo? Pelo preço? Não. Com campanhas de marketing? Não.

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Neo-nazismo ilegalizado

A democracia alcancou hoje uma grande vitória, com o veredicto da justiça grega que ilegalizou o partido de extrema-direita Aurora Dourada. A partir deste dia histórico, para a Grécia e para todo o mundo democrático, o gangue neonazi grego passou a ser, oficialmente, uma organização criminosa.

Na foto podemos ver o arianíssimo Nikos Michaloliakos, líder do Aurora Dourada e negacionista do Holocausto, condenado por liderar uma organização criminosa responsável por homicídios, espancamentos, perseguições e outras actividades comuns entre a extrema-direita. O julgamento condenou ainda 68 outros arguidos, entre eles 18 ex-deputados do partido. Não admira que esteja com este ar de zangado.

Que a Europa ponha os olhos no berço da democracia e ganhe coragem para, de uma vez por todas, ilegalizar e julgar todos os criminosos que querem fazer do medo e da violência uma arma política. O lugar deles é na prisão.

De repente, a nossa sala parece maior, não parece?

CRM

Campo de refugiados de Moria, ilha de Lesbos, Grécia. Uma criança, possivelmente em fuga da eterna guerra na Síria, explica-nos, de forma simples, que estar fechado em casa, mesmo na esmagadora maioria das mais humildes que por cá temos, não é assim tão mau. Mau é ver tudo o que temos ser destruído por uma guerra, sermos obrigados a fugir da nossa terra, arriscarmos a vida na fuga e não irmos além da rede do campo de refugiados, onde nos sujeitaremos às condições sub-humanas que imperam em qualquer campo de refugiados, onde dividiremos uma tenda como esta com 5 ou 10 pessoas, não necessariamente da nossa família. De repente, a nossa sala parece maior, não parece?

Carta dos voluntários humanitários portugueses ao governo português, sobre a emergência humanitária grega

Pedro Amaro Santos

Ex.mo Sr. Presidente da República Professor Marcelo Rebelo de Sousa,

Ex.mo Sr. Primeiro Ministro Dr. António Costa,

Ex.mo Sr. Ministro da Administração Interna Dr. Eduardo Cabrita,

Ex.ma Sr.ª Ministra do Estado e da Presidência Dr.ª Mariana Vieira da Silva,

Ex.mo Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros Dr. Augusto Santos Silva,

Ex.ma Sr.ª Secretária de Estado para a Integração e as Migrações Dr.ª Cláudia Pereira,

Os voluntários humanitários, cidadãos portugueses, signatários da presente carta vêm alertar o Governo Português para a emergência humanitária decorrente da situação alarmante e desumana que se vive no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia. Apelamos à tomada de decisões imediatas coerentes com a política portuguesa de acolhimento e integração das pessoas refugiadas.

No campo de Moria, com capacidade para albergar 3 100 requerentes de asilo, vivem neste momento mais de 20 000 pessoas. Destas, mais de metade são famílias e há 1 049 menores desacompanhados.

As condições e recursos de um campo construído para 3 100 pessoas são descritas pelas organizações não governamentais presentes no terreno e pelos próprios residentes como insuficientes e inexistentes: falta de água quente e limpa; falhas de eletricidade; más condições sanitárias e escassos cuidados de saúde. Entre os testemunhos dos voluntários portugueses, destacamos:

— Há uma casa de banho para cada 300 pessoas.
— Os residentes esperam 3 horas por cada refeição.
— Nos últimos 2 meses morreram 5 pessoas (1 criança de 19 meses por desidratação, 2 mulheres num incêndio dentro dos contentores onde viviam, 1 bebé atropelado enquanto brincava e 1 menor desacompanhado esfaqueado).
— 20 crianças automutilaram-se e 2 tentaram o suicídio. [Read more…]

Não, não somos a Grécia

In Greece, an Economic Revival Fueled by ‘Golden Visas’ and Tourism
Less than a year after the country ended a multibillion-euro international bailout, property buyers from China and Russia are helping to mend its economy.

Qualquer semelhança é mera coincidência.

E um dia, o que será destas economias se um sopro alterar, ou terminar, estes fluxos de ócio?

Detalhe particularmente curioso é o uso da cidadania como modelo de negócio em ambos os casos. Os anéis que se vendem tomam muitas formas.

Mário Centeno, o Cristiano Ronaldo de Wolfgang Schäuble

Fotografia: Getty Images via Sábado

Se dúvidas restassem, todas se dissiparam ontem. O Bruno resumiu bem a coisa:

Mário Centeno caucionou os 5 anos de governo Passos Coelho, Vítor Gaspar e Maria Albuquerque.

E foi exactamente isso que aconteceu. Centeno teve a sua oportunidade, e usou-a para mostrar ao país e à Europa where his allegiance lies. Centeno, como grande parte do baronato socialista, vive bem com esta Europa ao serviço dos grandes negócios. E as várias fases do so-called resgate grego, bem como as manobras de terrorismo financeiro que o antecederam, foram um grande negócio para muita gente. Excepto para a Grécia. [Read more…]

Postcards from Greece #63 (Corfu)*

«I want to visit Albania»

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Disse eu à rapariga que estava na ponta do pontão, sentada nas pedras, mesmo ao lado do pequeno farol. A fortaleza antiga em frente, do outro lado da baía. A miúda ouvia música com uns headphones e sorriu ao ver-me aproximar-me da beira do pontão. Vi um banco e sentei-me ao mesmo tempo que a rapariga abanava a cabeça e fazia um gesto com a mão. Mal me sentei percebi. O banco estava molhado. Levantei-me de um salto e rimos as duas com a situação, enquanto eu pensava, de rabo molhado, que sorte não estar frio e estar um solzinho bom. Pedi à rapariga – Ada, agora sei – se me tirava uma fotografia. Tirou duas ou três e perguntou-me de onde é que eu era. Disse-lhe e perguntei-lhe o mesmo. Albânia, sorriu ela. A mesma Albânia ali tão perto e que eu quero mesmo muito visitar. Disse-lhe isso mesmo. Que queria visitar a Albânia há muito tempo. Espantou-se. Era a primeira pessoa que lhe dizia tal coisa. Compreendi-a . Basicamente é o que toda a gente a quem eu digo que quero muito visitar a Albânia faz: espantar-se. Mas no caso da Ada, o espanto era positivo. Talvez este verão, disse-lhe eu. Disse-me que lhe dissesse, se isso viesse a acontecer. Seguimo-nos agora, mutuamente, no facebook. Admirável mundo novo. Estavamos no fim do pequeno pontão que sai do Anemomylos, um moinho de vento, e junto a pequenos barcos de recreio. 4 ou 5 pessoas nadavam nas águas calmíssimas do mar Jónico e eu despedi-me da miúda e voltei para trás, com as calças molhadas a pensar que hei-de ir à Albânia, sim senhora, que daqui seria muito perto e há ferries, mais a mais. De Kassiopi, no norte da ilha, seria um saltinho, se houvesse transporte direto, bem entendido. Agora, seja como for, também não tenho tempo.
 

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Postcards from Greece #65 to #67 (Thessaloniki)

 ‘Yasas’ Salónica, ‘Yasas’ Grécia
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Tenho andado estes últimos 3 dias, desde que cheguei de Corfu, a despedir-me de Salónica. Não de toda a cidade, isso seria impossível, mas de alguns sítios e, sobretudo, da vista da minha varanda, sobre a Agios Dimitrios, a ouvir-lhe os sinos pela última vez, a ver os gatos que costumam deitar-se ao sol nos tijolos e me conhecem já como vizinha, do por do sol sobre o golfo, uma e outra vez, de Ladadika, e, nestes locais, despeço-me também de tudo o que fiz e vivi nestes quase três meses em Salónica e noutras partes da Grécia, sobretudo no norte. 3 meses é muito e pouco tempo em simultâneo e na verdade não vi quase nada. Ausentei-me do meu país e da minha vida de todos os dias e isso faz diferença. É agradável por um tempo. Tenho de convir. Não apenas porque se vive, de facto, noutro lugar. Se tem o nosso café, o nosso supermercado, a nossa livraria, a nossa lavandaria, a nossa paragem de autocarro noutro sítio diferente daquele em que vivemos sempre. Mas também porque deixamos nos lugares onde vivemos um bocado do nosso coração. Em cada pessoa que conhecemos. E a Grécia pode ser um país encantador, com paisagens maravilhosas e tão diferentes umas das outras. Das montanhas, ao mar, das casas de pedra escura às casas brancas das imagens que estamos mais habituados a ver deste país. A Grécia pode ser um país maravilhoso. Mas o que a Grécia tem de melhor, o melhor de tudo na Grécia serão sempre as pessoas.
 

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Postcards from Greece #64 (Corfu)

«Maybe it’s not about the happy end, maybe it’s about the story»

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estava escrito, num grafiti muito tosco num muro velho na praça Lemonias. Só quando passei a fotografia para o computador vi que tinha cortado a palavra ‘end’. A frase ficou estranha na fotografia: ‘maybe it’s not about the happy, maybe it’s about the story’… ou, daí talvez não tenha ficado assim tão estranha, talvez faça também sentido. É o meu último dia em Corfu o dia a que se refere este postal e o dia em que ao entrar na praça Lemonias dei com o velho muro com esta frase. É também o dia antes do antepenúltimo que passarei na Grécia, pelo penos desta vez. Acordo tarde, no velho hotel e não tomo o pequeno almoço, porque já passou da hora. Arrumo as minhas coisas, tomo banho e deixo a mala na receção antes de sair para a rua. O voo para Atenas é apenas às 19h40, pelo que tenho muitas horas ainda – mas nunca as suficientes, como sempre – para me passear pelas ruas estreitas da cidade e me distraír com os seus belos edifícios de arquitetura italiana. A cidade antiga poderia facilmente ser uma cidade italiana, já o disse ontem. Apesar de terem sido os Venezianos os responsáveis pela arquitetura da cidade, a verdade é que, para mim, Corfu se assemelha muito mais a Nápoles ou a Génova do que a Veneza. Para começar faltam-lhe os canais, é evidente. Apesar de ter o mar, a configuração é completamente outra e o modo como a cidade se relaciona com a água também. Faz-me lembrar Nápoles e o Quartieri Spagnoli, nas margens do qual fiquei alojada quando estive – que saudades – na bela cidade do mezzogiorno. A roupa a secar em estendais improvisados em qualquer parte, de um lado ao outro das ruas, algumas, como disse, muito estreitas (e nisto sim, também se parece com Veneza e com Génova e com muitas das outras cidades italianas que conheço) torna tudo pitoresco, mas de um pitoresco desalinhado e imperfeito de que não posso senão gostar.

Postcards from Greece #62 (Corfu)

«What are you doing here? It’s winter!»

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espantou-se o dono do bar onde, eram já mais de onze da noite entrei em busca de um café. Tinha já ido a 2 ou 3 sítios, sem sucesso, ou seja, sem que tivesse encontrado o precioso líquido. O senhor era bastante falador, mas compreende-se, sendo eu a única cliente, que ele tivesse querido saber de onde eu era e o que estava ali a fazer, pois… se era inverno! Eu respondi-lhe que estava a conhecer um bocadinho de Corfu e que preferia assim, no inverno, porque no verão deve ser impossível. Confirmou que no verão os turistas são mais que muitos mas ainda assim… ‘é inverno, não há nada para fazer aqui’. Disse-lhe que gostava de tirar fotografias e de pouca gente e por isso para mim esta foi a altura ideal para visitar Corfu. Depois falou-me de tudo e mais alguma coisa. Queixou-se dos impostos, logo a seguir, e consequentemente, do governo (apesar de ter dito ‘I voted for him the 3 times!’ quando lhe perguntei o que achava do Tsipras), da juventude e até dos turistas! Fiquei um bom bocado a ouvi-lo diante da minha grande chávena de café (pedi um ‘americano’, dado o adiantado da hora), praticamente sem poder dizer nada, porque ele estava apostado em falar. É inverno. É provável que eu tenha sido a única pessoa que entrou no bar hoje.
 

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Postcards from Greece #61 (Ioannina)

A cidade ao pé do lago

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O lago de Ioannina, ou lago Pamvotida, é o maior lago da região do Epirus. Está situado a 470 metros de altitude e a sua abundância de água deve-se às montanhas ali em volta, e à água que nasce delas e à neve que, na primavera, alimenta os rios. O lago, já o escrevi no postal de ontem é infinitamente belo e eu podia, também já o disse, ficar a contemplá-lo para sempre. Esta manhã o lago está coberto de uma leve neblina que faz com que tudo pareça irreal, com que tudo flutue naquela fronteira, que agora não se vê, mas se supõe, entre a água e o céu. Até eu. Fico ali a olhar para aquilo antes de subir até à praça 25 de março, onde fica o museu arqueológico. A praça é estranha, apesar de ter uma vista assombrosa sobre o lago. Mas é descuidada e está cheia de homens que andam de um lado para o outro. Não me sinto confortável ali e desço rapidamente para a Averof. Antes de entrar na praça 25 de março passei pelo relógio de Ioannina, no meio de um jardim, rodeado de obras. Ainda o vejo daqui na rua Averof que começa a descer em direção ao castelo.
É nessa direção que vou mas antes de chegar ao castelo corto à esquerda para a pitoresca rua Anexartisias. A rua está cheia de cafés bares, lojas disto e daquilo. É comprida, mas estreita e tem muitos arcos que dão para pequenas vielas ou pequenas alamedas, algumas forradas a azulejos. Entro num desses arcos que me parece bastante bonito, logo ali encontro a Route 66. Não a verdadeira, claro, mas um bar com esse nome. Admiro o edifício, mas não entro. Continuo em frente, caminhando sobre os mosaicos vistosos da Stoa Liampei até chegar a um café – Montage – forrado com fotografias de estrelas de cinema. Vejo a cara da Jean Seberg e resolvo entrar. O café é, além de muito cinematográfico, bastante bonito e o café propriamente dito é bom. Depois do café saio para a Kaniggos e volto, na esquina a seguir, para a Anexartisias. Deambulo entre lojas de tudo e de nada, e volto para trás, para ir à fortaleza. Entro nela pela porta B. Sei que à esquerda da porta, um pouco mais adiante, porque vi no mapa, há uma sinagoga. Está fechada. Mas as ruas dentro da fortaleza são bonitas e tranquilas. Não se vê praticamente uma alma e sabe-se que eu gosto disso.

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Postcards from Greece #60 (Ioannina)

The island without a name

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Dou um salto de 3 postais, porque em Salónica nada de relevante se passou. Fiz entrevistas, fui à AUTH e até houve uma defesa de tese através do Skype. Mas bom, repito, nada de relevante se passou no meu quotidiano. Tanto que nem dei pela manifestação da Aurora Dourada em que parece que houve distúrbios e um incêndio. Ainda bem que não dei por nada, é o que penso. Mas leio com tristeza estas notícias, especialmente por saber que, ao que parece, se tratou da maior das manifestações deste partido de extrema direita.
 
Além do salto de 3 postais, também vou atrasada dois dias. Ao todo deveria ter escrito 5 postais, desde o último. Tive um problema com o computador, antes de ontem. Tive de reinstalar todo o sistema. Coisas da vida. Agora parece normal, vamos ver se sim. Isto aconteceu já eu estava em Ioannina, ou Janina, onde cheguei dia 24 (o dia a que se refere este postal, portanto) às 3 da tarde, depois de uma viagem belíssima entre os montes cobertos de neve. A certa altura, já perto da cidade vê-se o lago inteiro e a pequena ilha – ou nisí , em grego – a que muitos sites se referem como a ‘ilha sem nome’, porque, de facto, não o tem. Gostei logo desta designação, é evidente. E depois de pousar a mala no muito simpático e confortável e com um pequeno almoço fabuloso, hotel Z, em frente ao lago Pamvotida, saí para a rua decidida a apanhar o barco das 16h. Tinha lido que os barcos que saem do pequeno porto para a ilha sem nome o faziam apenas de hora a hora, no inverno, pelo que esperava conseguir apanhar o das 16h. Mas o lago distraiu-me. Se já estiveram em Ioannina compreenderão, seguramente.
 

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Postcards from Greece #57 (Kavála)

«Where are you from?»

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deve ser a pergunta que mais vezes me fazem, na Universidade, nos cafés, nos restaurantes, nos táxis, na rua se calho em perguntar alguma direção a alguém. Quando digo «Portugal» a reação costuma ser bastante boa, ao contrário do que acontece quando viajo para países do norte e centro da Europa. Não quer dizer que aí seja má, mas é um bocado menos entusiasmada, digamos assim. Hoje, por exemplo, perguntaram-me três vezes de onde sou. A primeira foi uma senhora que estava a tomar chá no café onde tomei o pequeno almoço. Ao ouvir-me pedir o que queria, sem mais nem menos perguntou-me de onde era. A seguir se era a primeira vez que estava na Grécia e depois mais não sei o quê. Ou seja, em vez da indiferença com que geralmente somos brindados – bom, pelo menos em geral, não quer dizer que seja sempre assim – nos países mais centrais da Europa, aqui as pessoas interessam-se. Como o rapaz do hotel – outro hoje, não o que hasteou a bandeira portuguesa ontem à tarde – que quis saber o que é que eu estava aqui a fazer, se Espanha e Portugal falam a mesma língua, qual era a equipa de futebol da minha cidade (esta é recorrente, especialmente se são homens, hoje perguntaram-me isto duas vezes), etc., etc. Ou o taxista que me trouxe da estação de autocarros aqui em Salónica, onde já estou há um par de horas, que queria saber tudo e um par de botas, me falou de Cristiano Ronaldo com enlevo e do Fernando Santos (?) que parece que é o treinador de um clube grego qualquer de que ele é adepto. E também quis, claro, saber o qual era o clube da minha cidade. «Beira Mar» respondi eu. E, mais uma vez, me espantei, como antes de outras vezes. Ele conhecia! Talvez deva aprender mais sobre futebol, mas bom, eu até há uns 4 ou 5 anos desconheia quem era o Messi, por isso, saber que o Beira Mar é a equipa de Aveiro, digamos que já é qualquer coisa.
 

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Postcards from Greece #54 to #56 (Kavála)

«I have to put the flag out»

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atirou-me o senhor da receção do Old Town Inn, em Kavála (um hotel muito simpático, centralíssimo e escrupulosamente limpo) depois de ter dito ‘Ah, you are from Portugal’. Fiquei a olhar para ele sem compreender e perguntei o que significava colocar a bandeira lá fora. ‘A bandeira de Portugal, ora essa’, disse-me ele como se fosse uma evidência e como se em todos os hotéis colocassem a bandeira nacional de cada hóspede. Eu confesso, já dormi em tantos e nunca dei por que hasteassem a bandeira portuguesa por mim. De maneira que quando regressei do meu passeio pela pitoresca e cheia de charme cidade, lá estava ela, a minha bandeira, ou melhor, a bandeira portuguesa, a ondular levemente ao vento, juntamente com uma bandeira turca, outra alemã e ainda outra inglesa. O hotel é pequeno. É o que lhe vale. Pois se hasteiam uma bandeira por cada nacionalidade dos hóspedes não haveria fachada que chegasse! Quando a vi, ao regressar, senti uma pontinha de alegria. Já se sabe que não sofro de patriotismo, como digo frequentemente podia ser de qualquer parte e, por isso, para quê amor desmesurado a uma pátria que nos calhou apenas por acaso? Mas apesar disto, senti então uma pontinha de alegria ao ver a bandeira portuguesa hasteada na fachada do hotel. Saudades de casa ou apenas, quer eu queira quer eu não queira, o reconhecimento de que, afinal, sempre terei algum prazer (não digo orgulho, vá, que seria demais) em ser portuguesa.

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Postcards from Greece #50 & #51 (Lagkadás)

It is all Greek to me

 

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é o que penso hoje, durante uma parte da manhã. Que para mim é tudo grego, literalmente, porque não percebo nada do que diz o meu segundo entrevistado. É uma sensação estranha esta, fazer perguntas numa língua e responderem-nos noutra, absolutamente diferente e incompreensível para mim. É difícil a conversa fluir, desta maneira como é evidente, mais a mais porque as respostas do entrevistado são depois traduzidas pela R, não em inglês, mas em francês. Ou seja, eu coloco as questões em inglês, a R. traduz quase todas para grego (porque ele percebe um bocadinho de inglês e algumas não é preciso traduzir) e a R. traduz as respostas depois para francês, porque apesar de entender bem o inglês não se sente tão à vontade para falar. Portanto, aqui estou em Lagkadás, uma pequena cidade a noroeste de Salónica, completamente perdida na tradução. Antes tínhamos feito outra entrevista em Salónica, em que praticamente se dispensou a tradução, porque a senhora falava inglês razoavelmente. Mas agora, agora é mesmo tudo grego para mim.

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Postcards from Greece #48 & #49 (Edessa)

A Cidade das Águas

 

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É assim que é conhecida esta pequena cidade a nordeste de Salónica, distante desta 95 quilómetros e, de autocarro ou comboio, aproximadamente uma hora e meia. Edessa é a capital da região de Pella, naturalmente localizada na Macedónia central. É uma cidade extremamente sossegada, com aproximadamente 18 mil habitantes e onde se concentra uma boa parte dos serviços administrativos da região. Atualmente Edessa vive essencialmente do turismo mas foi, até meados do século XX, um importante centro industrial, com muitas fábricas de têxteis, aproveitando a abundância de água.
Antiga capital da Macedónia central, Edessa foi uma cidade sempre disputada, devido à sua localização geográfica, por Búlgaros, Sérvios, Bizantinos e Otomanos. Tal como toda a Macedónia, a cidade esteve sob ocupação Otomana mais de 400 anos, tendo sido anexada pela Grécia em outubro de 1912 durante a primeira guerra dos Balcãs. Edessa era, na época, como é ainda hoje (explica-me o D. durante as viagens de carro de sábado entre as aldeias dos arredores) uma cidade multicultural. A cidade esteve sob ocupação alemã durante a segunda guerra mundial. Foram, aliás, os alemães que construíram grande parte do que é hoje o Museu da Água e os jardins perto das cataratas de Edessa, para fins turísticos. Conta-me o D. que no final da guerra, os ocupantes queriam destruir as construções, mas tiveram a oposição, bem sucedida dos habitantes da cidade. E os canais e canaizinhos que abundam pela cidade, os jardins e as infraestruturas associadas à grande queda de água (Karanos, com 70 metros de altura) e às cataratas mais pequenas que a rodeiam, alimentadas todas pelo rio Edessaios, ali permanecem, sendo hoje uma das maiores atrações da cidade e da região de Pella.

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Postcards from Greece #46 & #47 (Edessa, Aridaia, Nótia, Foústani, Perikleia, Archaggelos)

As cerejeiras de Archaggelos, dentro de uma nuvem e a verdadeira Macedónia

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Ontem ao princípio da tarde viajei com a S., uma muito jovem estudante de Agronomia, entre Salónica e Edessa. A viagem é curta (uma hora e meia) e a rapariga é uma excelente companhia, apesar de ter apenas 18 anos. Responsável, prestável e extraordinariamente simpática. A S. é filha do D., um antigo estudante de doutoramento da AUTH, com quem a M. me põe em contacto para encontrar pessoas que tenham regressado às aldeias desta parte da Grécia nos últimos anos. Como seguramente quase nenhuma destas pessoas falará inglês muito bem e o meu grego é inexistente, a S. ofereceu-se gentil e entusiasticamente para me ajudar a traduzir a conversa. Sinto-me um pouco estranha porque as entrevistas anteriores foram feitas em inglês e agora as pessoas falam e eu não percebo nada do que me dizem. Se não fosse a jovem estudante estaria completamente perdida. É de facto estranho. Embora tenha feito entrevistas noutras línguas na minha vida, incluindo, como disse ali atrás, aqui mesmo na Grécia, foi sempre em línguas que conhecia razoavelmente. Assim, vi-me naturalmente grega. Ou ter-me-ia visto se não fosse, uma vez mais, a jovem e entusiasmada S.

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Postcards from Greece #44 & #45 (Thessaloniki)

«Como me tornei sociólogo» ou «My first job»

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É o título, respetivamente, em Português (do livro ‘Histórias de Verão, Contos de Inverno’, editado pela Asa) e em Inglês (do livro ‘The Man who wouldn’t get up & Other stories’, editado pela Vintage) de um conto de David Lodge, de quem nada leio há imenso tempo, embora tenha lido quase tudo (exceto os ensaios sobre estudos literários e a sua autobiografia saída mais recentemente). O conto é sobre um sociólogo marxista que recorda o seu primeiro emprego, ainda estudante, como vendedor de jornais na estação de Waterloo e a competição pela venda de mais jornais com dois colegas da classe trabalhadora. O aumento da venda de jornais, por causa da competição entre os três, apenas fez com que o patrão aumentasse os seus lucros, sem que os vendedores tivessem tido qualquer compensação. Quando o verão acaba, o estudante deixa o seu trabalho como vendedor de jornais, deixando aos colegas a tarefa interminável de aumentar as vendas. Nessa altura, ele reconhece, como se tivesse tido uma revelação: «eu vi como o capitalismo explora os trabalhadores» e decide tornar-se sociólogo e professor universitário, tomando a decisão com base no facto de a universidade ser um contexto menos afetado «pela ética protestante e pelo espírito do capitalismo», para usar o título de um livro que todos os estudantes de sociologia do mundo lêem, de Max Weber. Mal sabia o estudante ficcional de que algumas décadas mais tarde já não é bem assim… mas adiante.
 

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Postcards from Greece #43 (Thessaloniki)

«Valeu a pena ter vivido o que vivi…»*

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… cantava ontem a Maria da Fé, depois do primeiro brinde ao meu aniversário, no Portogalo**. Achei a circunstância adequada à ocasião, apesar de não gostar por aí além de fado. Ou melhor, eu explico, há fadistas que gosto de ouvir e letras e músicas de gosto bastante. Mas em geral, o fado só me faz sentir alguma coisa especial, quando estou fora de Portugal e o ouço assim de repente. «Valeu a pena ter vivido o que vivi/ valeu a pena ter sofrido o que sofri/ valeu a pena ter amado quem amei/ ter beijado quem beijei… valeu a pena», ora bem, pareceu-me como já disse, adequado à celebração do meu 51º aniversário. Apesar de nunca me ter sentido com uma idade específica (pode ser-se ‘ageless’?) e de sempre ter gostado muito de fazer anos, a verdade é – convenhamos, também não sou propriamente desprovida de bom senso – que já vivi mais do que aquilo que poderei esperar viver, mesmo que tenha uma vida longa. E portanto, depois do meio século, parece uma boa altura para fazer os balanços e balancetes deste fado. E concluo, pois, como no fado, valeu a pena ter vivido o que vivi, sofrido o que sofri, amado quem amei, beijado quem beijei, passado o que passei, sonhado o que sonhei, conhecer quem conheci, ter sentido o que senti, cantado o que cantei e chorado o que chorei, nos meus 51 anos sobre a terra. E acho que não é preciso dizer mais nada, embora ao extenso rol cantado pela Maria da Fé pudessem ser acrescentadas imensas outras coisas que, naturalmente, só fazem com que os meus 18 268 dias tenham valido mais a pena.

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Postcards from Greece #41 & #42 (Galátista)

É também uma manifestação de resistência…

 

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… explica-me a R., a propósito da ‘Kamila’, uma festa traditional que, ao contrário do que eu pensei quando me falaram dela inicialmente, dada a data (6 de janeiro), nada a tem a ver com o natal. Estávamos em Galátista, onde vive a minha outra colega, exatamente para que eu assistisse à Kamila. Ontem esteve mais um dia maravilhoso, cheio de sol, e quando chegámos à aldeia, devia ser meio dia, já o cheiro da carne grelhada, tão típico da Grécia, enchia o ar. Fomos subindo a rua, passámos a pequena igreja e entrámos no largo principal da aldeia. Estava muita gente, mesmo muita, numa confusão de cumprimentos, risos, música e o cheiro mais evidente que nunca da carne a grelhar em assadores à volta do pequeno largo. Encontrámos a M. e a filha e o marido e mais umas quantas pessoas. No meio do largo, três cavalos entravam deslumbrantes, faziam umas piruetas e desapareciam. Depois entraram 3 músicos, dois flautistas e um tocador de bombo e os dançarinos, muitos, homens e mulheres, vestidos de trajes tradicionais. Os homens com as camisas brancas compridas atadas à cintura com uma faixa preta e, por cima, um lenço vistoso. As mulheres com os mesmos lenços vistosos à cabeça ou aos ombros, saias compridas e blusas a condizer, bem maquilhadas e bonitas para a festa, pois então. Todos, homens e mulheres traziam pequenas garrafas de ouzo ou tsipouro e dançavam com elas nas mãos. E bebiam delas, pois claro! O barulho era intenso, como só os sul europeus sabem fazer, em dias de festa, ou em outros, vá, quando se junta muita gente alegre.

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Postcards from Greece #40 (Néoi Epivátes)

‘It’s a different kind of happy…’

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Estive muito tempo sem escrever postais, o Natal e isso e o facto de não ter sempre histórias para contar e, por incrível que pareça a quem me conhece, não ter sempre alguma coisa a dizer. De qualquer maneira o postal número 39 foi há imensos dias e hoje é um dia tão bom para escrever o postal 40 (que, na verdade deveria ser o 59) como qualquer outro. Foi bom reencontrar Salónica onde a deixei, seja como for, ontem, após uma viagem cansativa, como quase todas. A única coisa de que não gosto muito quando viajo é da deslocação de um lugar para o outro. Já o disse de outras vezes, noutros postais de outras viagens, que deveríamos ter acesso ao tele-transporte, a uma lâmpada de Aladino, a um anel especial ou um botão em que carregaríamos quando nos apetecesse mudar de ares ou quando tivéssemos de visitar outras paragens. Perde-se muito tempo entre aviões, comboios, táxis autocarros. E, na maior parte dos casos, é isso mesmo que sentimos: que perdemos tempo.

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Postcards from Greece #38 to #39 (Thessaloniki)

‘T’as dejá tout vu’

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disse-me a minha colega (que fala comigo sobretudo em francês, respondendo-lhe eu numa misturada de inglês e francês, formando uma língua bastante original, devo dizer) há três dias, enquanto nos dirigíamos para o instituto onde eu fui dar outro seminário sobre turismo rural, o ATEI, a uns poucos quilómetros de Salónica. Já íamos atrasadas, o Seminário estava marcado para as quatro da tarde e ela tinha-me vindo buscar aqui em baixo, perto de casa. O que ela não sabia, nem eu até ter descido à Agios Dimitrios, era que o trânsito estava um caos. Mal cheguei ali abaixo apercebi-me da estranha calma e da ausência de carros, olhando lá para o fundo, dois quarteirões à frente, vi duas grandes carrinhas azuis, da polícia, que bloqueavam a rua. Estavam junto ao edifício – muito bonito por sinal – do Ministério da Macedónia e Trácia. O que se passava não sabia ainda, mas a calma da rua devia-se então ao bloqueio da polícia. Ainda assim, esperei no sítio combinado. Passaram muitos minutos e liguei à minha colega que me disse que estava a chegar. Passaram mais uns minutos e nada. Ligou-me. Que não podia passar e que fosse ter com ela depois do Ministério. Fui andando depressa, ou tão depressa quanto podia. À porta do ministério muita polícia e muitas carrinhas grandes, quase autocarros, a bloquear pelo menos dois quarteirões. Muitos elementos do corpo de intervenção, armados até aos dentes, e uns cinquenta (se tanto) manifestantes (vim depois a saber, desempregados) que protestavam. Passei por eles e mais à frente, metida numa confusão de carros, lá encontrei a minha colega.

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Postcards from Greece #35 to #37 (Thessaloniki)

אמא של ישראל

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ou ‘mãe de Israel’ ou ainda ‘madre de Israel’, em ladino, como era chamada até à II Guerra Mundial a cidade de Salónica. Desde finais do século XV Salónica recebeu milhares de judeus sefarditas, ou seja, oriundos da Península Ibérica, e especialmente espanhóis, em consequência da sua expulsão pelos ‘reis católicos’ Fernando e Isabel. Trouxeram com eles a língua, o ladino, e diversos saberes e ofícios, como a cartografia, impressão, medicina, entre outros. O seu conhecimento de armamento constituiu à época uma mais valia para os otomanos. Rapidamente se multiplicaram em Salónica, agrupando-se em comunidades e fundando sinagogas que tomaram o nome dos seus países de origem: Espanha, Portugal e Itália, ou das suas cidades principais. Salónica foi durante muitos séculos a cidade com maior número de judeus na Europa.

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Postcards from Greece #34 (Thessaloniki)

‘Thessaloniki: many stories, one heart’

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vi escrito ontem num camião que recolhia o lixo. Gostei da frase, porque é isso mesmo. Uma cidade múltipla, com mil histórias, ou 2300 anos de história(s), mas um só coração. Pesquisei e trata-se de um projeto (http://manystoriesoneheart.gr) desenvolvido por um habitante da cidade – Theodoros Ploumis – em 2016 para o concurso Apps4Thessaloniki – Tourism edition. A ideia era ser uma app de tourism, um guia, com informações úteis, às quais Theodoros resolveu juntar histórias dos habitantes e dos visitantes da cidade. Um projeto bonito, portanto, feito de histórias e coração.

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Postcards from Greece #33 (Galatistá)

Todas as aldeias têm o mesmo cheiro

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especialmente no inverno. A frio e a lareira. Uma mistura que para mim é como voltar a casa dos meus avós, nas aldeias em que nasceram os meus pais. Hoje cheirava assim, tal e qual em Galatistá (Γαλάτιστα), a aldeia onde vive uma das minhas colegas, a uns 40 quilómetros de Salónica. Mas é absolutamente o campo. As montanhas imponentes e a seguir os vales ora verdes, ora carregados de oliveiras. As azeitonas na Grécia são, provavelmente, as melhores do mundo. Quanto ao azeite tenho dificuldades em decidir entre o nosso, o italiano e o grego. De qualquer maneira é bom, tal como é boa a comida grega, especialmente a que comemos hoje ao almoço na pequena taverna da aldeia, onde toda a gente fuma, pois claro. A refeição, abundante, composta por diversos pratos gregos, muito queijo feta (com tomate, no forno), souvlaki de galinha, carne de porco frita em azeite e regada com sumo de limão, salada com molho doce, barriga de porco grelhada, regada com mais sumo de limão, batatas fritas caseiras como já não há, uma espécie de salsicha enorme grelhada de que não sei o nome. Tudo bem acompanhado com retsina, um vinho branco ao qual é adicionada resina de pinheiro durante o processo de fermentação. Depois, café grego e uns bolinhos de mel tradicionais nesta altura do ano. Os bolinhos, tal como o é, geralmente, a sobremesa aqui na Grécia, foram oferecidos. Outro dia também me ofereceram o café no Zythos. Filoxenía, portanto, já sabemos.
 

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Postcards from Greece #32 (Thessaloniki)

Não sei onde vão os pássaros ao por do sol, em grandes bandos

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que avisto daqui da minha breve varanda em Salónica. Todos os fins de tarde em que estou em casa assisto à dança dos pássaros, centenas deles, voando em grupo ao por do sol, dirigindo-se não sei bem para onde. Nunca soube onde vão os pássaros, nesta azáfama ao por do sol, em parte alguma. É, no entanto, uma coisa digna de ser vista, sobretudo por cima da igreja de São Demétrio aqui em frente e, sobretudo, recortando-se contra o céu que se tinge de cor de laranja ao mesmo tempo que as antenas de televisão.

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Postcards from Greece #31 (Thessaloniki)

Tudo estava calmo esta manhã, após a agitada noite de ontem

 

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Não se via nada que indicasse os confrontos entre manifestantes e polícia (ver postal #30) na Agios Dimitrios, mesmo junto à Universidade. Apenas 3 soldados armados até aos dentes, mas em pose relativamente informal, por mais paradoxal que isto possa parecer, se encontravam em frente ao consulado turco, como sempre. A visita de Erdogan à Grécia que se iniciou hoje* parece também não ter tido grandes efeitos em Salónica. Nem uma manifestação convocada, nem uma concentração agendada, informa-me a página da embaixada dos Estados Unidos que, aprendi ontem, tem separadores especiais para estes eventos, em Atenas e em Salónica. em Atenas parece que houve algumas manifestações, especialmente de curdos protestando contra o terrorismo de Erdogan, chamando-lhe evidentemente ditador. Parece que as conversas entre Erdogan e Tsipras não correram muito bem, com muitas tensões. São séculos de tensões acumuladas entre a Grécia e a Turquia. Relembro que nenhum presidente turco visitava a Grécia há mais ou menos 65 anos. Não sei se é bom sinal que o primeiro presidente turco a visitar a Grécia em 65 anos tenha sido justamente este. Mas adiante. Voltemos a esta manhã, que estava calma. Bebi o café do costume no bar ‘Os Piratas’ e apanhei um táxi porque tinha de imprimir umas coisas antes do Seminário sobre turismo rural em Portugal, aos alunos da Olga, da Maria e da Eleni. Os táxis, já o disse outras vezes, são extraordinariamente baratos na Grécia.

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Postcards from Greece #30 (Thessaloniki)

Potentially violent demonstrations

(fotografias tiradas daqui e daqui)
era o que estava aparentemente anunciado para hoje, embora eu não o soubesse antes de a Giota me ter vindo bater à porta do gabinete, por volta das 3 da tarde. Disse-me que devia sair antes das cinco porque ia haver manifestações e muito provavelmente confrontos entre os anarquistas e a polícia. Perguntei-lhe porque razão. Explicou-me que hoje se assinalava o aniversário da morte de Alexandros Grigoropoulos, um jovem estudante de 15 anos que foi morto em 2008 pela polícia.
 
A área da Universidade era, uma vez mais, uma zona a evitar depois das cinco horas, disse-me a Giota, coisa que confirmei com o segurança do edifício da faculdade, embora ele me tivesse dito que a partir das quatro fechava tudo. Arrumei as coisas e vim para casa. Apanhei o autocarro 16, o que dá uma volta bestial pelo centro e enquanto estava na paragem reparei na enorme quantidade de pessoas que saiam apressadas da Universidade. Reparei igualmente na escassez de trânsito, numa cidade que tem muito tráfego dia e noite. Saí uma paragem antes da Agios Dimitrios, à procura de uma papelaria específica que acabei por não encontrar e fui a pé para casa, depois. A rua estava estranhamente calma.
 

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Postcards from Greece #28 & #29 (Thessaloniki)

‘We are not lucky, it is a right…’

APERGIA_14d
disse-me o jovem estudante de Economia Agrária, quando eu referi que tinham sorte em não pagar propinas, nem na licenciatura, nem no mestrado nem sequer no doutoramento. Evidentemente fiz o comentário apressadamente e evidentemente o rapaz tinha (tem) absoluta razão. O ensino, em qualquer nível, deve ser gratuito. A educação deve ser gratuita. Ponto. Não é sorte, de facto, é um direito que todos deviam ter. A conversa teve lugar numa sala de aula pequena e pouco equipada da AUTH (Aristotle University of Thessaloniki para os mais esquecidos ou para os que só agora chegaram a estes postais) onde fui terminar o Seminário que aqui há uns dias havia dado noutro edifício, afastado da cidade – a quinta da Faculdade de Agricultura onde, supostamente – porque nada vi nesse sentido – os estudantes terão as aulas práticas de Agronomia. Portanto, eu estava ali na sala pequena da AUTH para terminar a discussão havida nesse outro dia. Quando entrei na sala, a Maria conversava com os estudantes sobre uns seminários e defesas de teses de mestrado e doutoramento a que deviam assistir. Os estudantes, aparentemente – porque a discussão era em grego – estavam incomodados por ter de assistir a cerca de 10 desses eventos.

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