Mário Centeno e a Geringonça: Cavaco tem razão

Aníbal Cavaco Silva, provavelmente o mais nocivo político português do pós-25 de Abril. Um tumor maligno que, ao longo de 30 anos, medrou sem parar por todo o país, com efeitos que ainda hoje se fazem sentir.
Acredito que nunca tenha tido dúvidas, mas também é verdade que raramente acertou. Daí o meu espanto ao ouvi-lo dizer recentemente, na TSF, duas frases muito acertadas:
– Mário Centeno poderia ser ministro das Finanças em qualquer Governo de Direita.
– É espantosa a facilidade com que PCP e Bloco de Esquerda se vergaram às políticas do PS.
Um Governo que até começou bem, acabando com a vergonha dos contratos de associação no ensino, mas que em termos de políticas de Esquerda a sério se ficou por aí. Se alguém pensava que doravante os poderosos seriam o alvo do PS, enganou-se redondamente.
Estando o PCP e o Bloco reféns do apoio que deram ao Governo, compreende-se até certo ponto que os sucessivos Orçamentos tenham sido viabilizados. Mas aceitar continuadamente o perdão de milhões à Banca e à Energia, que não tem parado de aumentar ao longo da Legislatura, é mais difícil de engolir.
Entre as ajudas aos Bancos e as rendas e rendinhas à EDP, já se foram mais de 40 mil milhões. Só para dar um exemplo, dava para pagar o Rendimento Mínimo durante mais de 130 anos.
E isso transforma a Esquerda em conivente, desde 2015, das políticas neo-liberais do Bloco Central que nos governam há 40 anos.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Como é óbvio, o melhor seria uma espécie de “golpe de estado institucional”, onde o parlamento maioritariamente de esquerda, nacionalizava todos os bancos falidos, inibia a EDP de ter rendas energéticas, impunha tarifários nas autoestradas, à Brisa, obrigava as petrolíferas a fazerem entre si concorrência, punha as cadeias de hipermercados a cumprir horários, começando logo por os encerrar ao domingo, e antes das 22horas, nos dias úteis, tal como acontece lá fora, naquela Europa com a qual gostamos de nos comparar, mas só para o que lhes convém, … enfim uma autêntica mudança de hábitos, entre muitas outras coisas que aqui não citei.
    Eu até punha os Colégios privados a serem obrigados a receber os alunos que no ano anterior tinham tido sucesso escolar no ensino público, com o Estado a pagar a sua mensalidade, para ver se os rankings se mantinham. Nunca se sabe se não aconteceria um milagre?
    Só que as coisas não se passam assim. E não se passam assim porque estamos cercados. Atados de mãos e pés, no plano financeiro, precisamente pelos personagens que hoje abonimanos, Cavaco Silva incluído. Mas também por Guterres, Barroso e Sócrates.
    Mesmo assim, ainda haveria uma solução, que pelo menos nos satisfizesse o ego. Mas não, “infelizmente as cadeias estão esgotadas, cheias de pessoas comuns, não havendo já espaço para ladrao de colarinho branco”.
    A nossa perda de soberania é evidente a todos os níveis. Acresce que o PS só é de esquerda quando lhes retiram o tacho. Entrados na cozinha, vestidos a rigor como qualquer “chef” da direita, fazem quase sempre os mesmos pratos do PSD. É só uma questão de mais ou menos sal, coentros, salsa, vinagre, cominhos, pimenta, e ardor que nos causam, naquele sítio que eu não digo, quando se abusa das especiarias.

    • Elvimonte says:

      Não há “golpes de estado institucionais” que nos valham. Nem votar massivamente em quaisquer partidos é solução. Desde logo porque, contra todos os critérios de gestão prudencial, o Instituto de Gestão da Segurança Social (não sei se ainda é esta a designação) detém na sua carteira uma percentagem absurda de títulos da nossa dívida pública – portanto, ou nos “portamos bem” ou estamos tramados. Por outro lado, é preciso não esquecer que, depois de terem ameaçado, secaram mesmo os bancos gregos, com a subsequente submissão do governo – portanto, ou nos “portamos bem” ou estamos tramados.

      E, sem instrumentos disponíveis de política monetária e de política cambial, estamos sempre ainda mais tramados.

      • Ana Moreno says:

        “Nem votar massivamente em quaisquer partidos é solução” . Pode não ser solução, mas votar em partidos mais pequenos, (ainda) com menos vícios e redes de influências, é um caminho.

        • Elvimonte says:

          “(ainda) com menos vícios e redes de influências”, mas por pouco tempo.

          Quando aparecer um partido que, entre outros objectivos, proponha a reforma do sistema eleitoral, acabando com as listas fechadas (até o sistema do Líbano já tem listas abertas) e o monopólio, detido pelos partidos, da apresentação de listas para as eleições legislativas, provavelmente até concordarei consigo.

          Não obstante, o histórico de resultados eleitorais permite concluir que, ressalvando as naturais excepções, mais de 80% dos lugares considerados elegíveis à luz de critérios objectivos, conduzem à eleição de quem os ocupa. Portanto, muito antes do primeiro voto cair nas urnas, logo no momento da apresentação de listas, já há quem possa abrir a garrafa de champanhe, porque já está virtualmente eleito.

          E, da direita à esquerda, todos estão satisfeitos com o “esquema” que é, em minha opinião, o vício primordial. Desde a monarquia constitucional que é assim. “Os partidos elegem-nos e nos votamos neles” (Eça de Queirós, de memória).

      • Paulo Marques says:

        É, felizmente, mais complicado do que isso. Nada nas regras nos impedia de seguir a ideia que circulou sobre a Itália https://www.politico.eu/article/parallel-currency-italy-possible-eurozone/ . Era conveniente que alguém aprendesse MMT para perceber o que isso nos permitia, mas não é para o futuro próximo.

    • JgMenos says:

      «Cavaco Silva incluído. Mas também por Guterres, Barroso e Sócrates»
      O cavaco saiu em 95; Barroso/lopes-; 2 anos; Guterres/Sócrates 13 anos.
      Dívida em 1995 – 58,3%
      Dívida em, 2010 – 96,2%

      Sempre suspeito que exista um amontoado de cretinos na capital que pensa proclamar a independência e declarar o resro do país uma colónia.

      • ZE LOPES says:

        Ou seja: venha a nós o reino da Coelha!

        “Sempre suspeito que exista um amontoado de cretinos na capital”. O quê? V. Exa. mudou-se para Lisboa em conjunto com a sua pandilha lá da Igreja da Coelha?? Estou verdadeiramente surpreendido!!

      • Rui Naldinho says:

        O Menos desconhece que na altura de Cavaco Silva tínhamos um instrumento de política financeira que se chamava escudo. Era sempre possível emendar a mão.
        Mas “prontos”, o rapaz Menos para vender o seu “peixe”, diz qualquer coisa sem puxar muito pela tola.

        • ZE LOPES says:

          E não só! E os fundos europeus da época? Chegaram a representar 3% do PIB, se não me engano. Ou seja, em alguns anos, a grande maioria do crescimento real!

        • JgMenos says:

          Talvez o inteligente queira dizer que desvalorizar salários é o instrumento que lhe falta para equilibrar as contas e dar a sensação que alimenta as mams de estado.

          Mas estou certo que me saberá explicar que não é isso que quer dizer.

          • ZE LOPES says:

            V. Exa. entusiasmou-se tanto que até já comeu um bocado às mamas. Lá por ter sido contemplado (aliás tardiamente, burocracias!) com o título de DMT (Dono das Mamas Todas) isso não lhe dá o direito de fazer isso! Não é bonito!

          • Paulo Marques says:

            Onde é que está provado que: 1) a moeda descia a pique, não aconteceu nada disso nos falhanços do ERM ; 2) isso tinha que ter alguma coisa a ver com salários? Se calhar sobrava um bocadinho mais por mês sem a usura das rendas e da eletricidade. Se calhar.

          • Rui Naldinho says:

            Foi isso que o teu amigo fez, precisamente. Desvalorização cambial.

      • Manuel Silva says:

        Ó cretino JGMenos (também José, afinal, João Pires da Cruz):
        E qual era a dívida em 2015?
        Não convém, portanto, esqueceste-te.
        Já sei, era dívida escondida do Sócrates, aquele Diabo útil, senão como é que justificavas o injustificável?
        O «além-da-Troica» do teu Menino de Oiro, que deu uma recessão de quase 6%, hás-de dizer que diminuiu a dívida.
        Nada me admira, depois de ter visto um porco a andar de bicicleta.
        Ó cretino, queres responder a estas perguntinhas simples?
        Talvez encontres justificação para boa parte do que passámos desde 2011 e ainda estamos a passar.
        Aqui vão:
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange o NSRFU (Novo Sistema Retributivo da Função Pública), a que Miguel Beleza chamou Novo Sistema Ruinoso da Função Pública? Os problemas com este sistema continuam aí.
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange a 1.ª baixa do horário da Função Pública para 35 horas? Os problemas com esta baixa continuam aí.
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange a corrupção com os fundos europeus? Os problemas com esta baixa continuam aí (por julgar).
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange o erro da opção da rodovia (autoestradas) em vez da ferrovia? O estado da CP passa, também, por aí.
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange o erro da opção da Ponte Vasco da Gama não ter ficado com tabuleiro para comboio? Os problemas com esta opção estão aí, de que a péssima opção do Aeroporto do Montijo é exemplo.
        Esta opção prende-se apenas com o custo da ligação a Lisboa do aeroporto de Alcochete, que implica uma ponte ferroviária. Lembro-te de que o Estado Novo deixou essa infraestrutura na Ponte 25 de Abril.
        O Montijo será uma péssima opção, irá fazer circular aviões sobre as populações, desde Coina ao Montijo, passando pelo Barreiro, Baixa da Banheira, Alhos Vedros, Moita, Chão Duro, Lançada, Sarilhos Grandes, Sarilhos Pequenos, Afonsoeiro, Samouco. E nas descolagens, sobre Alcochete.
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange a forma à bruta como acabou com a frota pesqueira? Até hoje ainda não nos recompusemos.
        ─ O legado de Kavaco (1.º ministro) não abrange o desrespeito pelo ambiente (o seu ministro Ferreiro do Amaral invocava, ironicamente, os cágados quando recebia críticas às obras feitas à bruta. Veja-se o rasgão na Serra dos Candeeiros para passar a A1.
        Se formos à PR, porque não falar do esquema das Escutas a Belém, forjado pelos teus dois amigos ideológicos, José Manuel Fernandes e Luciano Alvarez, se não me engano neste nome?
        E o negócio da casa no Algarve com o amigo Fernando Fantasia?
        E o negócio das 200 mil acções oferecidas pelo impoluto Oliveira e Costa?
        O legado do teu príncipe Kavaco está muito para além do fim dos seus mandatos.

      • Paulo Marques says:

        Se calhar se tu e os teus colegas de profissão deixassem de fazer planeamento fiscal era um bocadinho mais baixa, não?
        Independentemente disso, quando é que se queixa da perigosa dívida do teu Trumpeiro? E o Japão vai à falência quando?

    • Rui Naldinho says:

      …abominamos…

  2. Rui Naldinho says:

    Ressalvo para:
    …não tinham tido sucesso escolar no ensino público…

  3. Ana A. says:

    “Estando o PCP e o Bloco reféns do apoio que deram ao Governo…”

    Só há uma forma de acabar com isso: Votar massivamente no PCP e no Bloco, nas próximas legislativas!

    • JgMenos says:

      Até fico comovido…

      • ZE LOPES says:

        Fica…comovido? Hummmm!

        Não quereria antes dizer de que fica na condição de “Cu Movido”? Esta choisa do Achordo Ortographico é 1ma Des Graça! Vóchelência cu diga!

      • abaixoapadralhada says:

        O Padreca Observador está quase a chorar.
        És um chulo nojento, oH Menos ou devo dizer Cruz !

    • Boa, ´bamo nessa com força, Ana A. ! Avisar a malta :

      ” Estando o PCP e o Bloco reféns do apoio que deram ao Governo…
      só há uma forma de acabar com isso: Votar massivamente no PCP e no Bloco, nas próximas legislativas! “

    • Paulo Marques says:

      Não estão reféns do governo, estão reféns do mesmo que o DiEM 25, achar que não há vida para lá da Eurolândia e que as reformas que não aconteceram nos últimos 20 anos estão ao virar da esquina.

  4. JgMenos says:

    Há um idiota aí acima que ainda não percebeu que se juntou ao cómico na lista dos ‘sem resposta’.

    • ZE LOPES says:

      Pá, não faça isso! Conheci gente que se suicidou por muito Menos!

    • Paulo Marques says:

      O João nunca responde a ninguém, atira postas de pescada sem conteúdo como o resto. Como já dizia o comuna,
      “It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it!” – Upton Sinclair

  5. Orlando Sousa says:

    Ver o Cavaco chamar traidores da classe operária à Catarina e ao Jerónimo é lindo!

    • Paulo Marques says:

      Melhor conhecedor disso em Portugal do que Cavaco não há, pelo menos.

  6. João Mendes Fagundes says:

    É pá, não se zanguem, a vida são dois dias, o Carnaval são três, e a legislatura quatro. É p’a gastar….

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