Mark Twain
Era uma vez a ideia de que era necessário unificar as ortografias dos países de língua portuguesa. Dizia-se que ninguém percebia ninguém, que era sempre uma confusão nas reuniões da lusofonia, cada um a escrever em ortografias diferentes.
Inventou-se, então, no pior sentido da palavra, o chamado acordo ortográfico: ia haver edições únicas, textos únicos, palavras iguaizinhas como gotas de água. Depois, foi aquilo que não se viu, até hoje.
Não se viu ortografia: a confusão aumentou, a escrita das consoantes articuladas tornou-se hesitante, equívocos relativamente a clubes que ninguém pára ou clubes para os quais não virá ninguém, editoras que adoptam mais ou menos o acordo ortográfico, articulistas que são relativamente a favor do acordo ortográfico, jornalistas em busca de um “padrão ortográfico”.
Na wikipédia em português (ou em portugueses), há, segundo parece, um confronto ortográfico entre editores dos diferentes países lusófonos “em parte, devido às tentativas mútuas de imposição das diferentes variantes da língua portuguesa.” Mas, então, estes problemas não iriam desaparecer no mundo da escrita em português?
Confirma-se, portanto, que a notícia de que há uma unificação ortográfica é muito exagerada. Note-se: Mark Twain utilizou um eufemismo de ‘mentira’. Nem ele tinha morrido, nem a unificação ortográfica nasceu – as pessoas brincam aos acordos e quem se lixa, com vossa licença, é a ortografia, transformada numa moamba de cozido à portuguesa com cobertura de moqueca de camarão de Moçambique e pudim de abade de Priscos.
É um açordo, com aroma de baba-de-camelo!
Muito boa apreciação. Uma usurpação, uma palhaçada, este acordo burrográfico.