Sem prejuízo de melhores opiniões e de estudos especializados, gostaria que alguém me explicasse, como se eu nunca tivesse tido ou dado aulas, de que modo é que, havendo meios e vontade, um aluno ficará
brutalmente
violentamente
extraordinariamente
irremediavelmente
prejudicado nas aprendizagens, chegando-se ao ponto de os especialistas
(ou seja, toda a gente excepto os professores)
anteverem uma catástrofe cognitiva, um atraso talvez mesmo mental, a estupidificação de uma geração inteira, uma bomba atómica que arrasará para sempre o cérebro das crianças confinadas.
Entendamo-nos: não pode haver pandemia sem efeitos também nas aprendizagens, mas, mais do que inundar as escolas de normativos, de testes atirados de cima para baixo
(hoje, Nuno Crato, no Diário de Notícias, delira com a necessidade de fazer testes, muito testes, mais testes, os testes que os professores já fazem e mais outros testes ainda e pensar em médias e comparações entre turmas)
é necessário
- confiar nas escolas e nos professores (o que seria uma das maiores novidades das últimas décadas);
-
pensar seriamente em atacar as desigualdades sociais que colocam os alunos em patamares cognitivos diferentes logo no princípio da escolaridade (outra grande novidade do século);
-
a propósito do ponto anterior, pensar muito e depressa nas consequências económicas e sociais da pandemia, em vez desta obsessão de construir aeroportos e pontes, no seguimento das habituais negociatas que servem para beneficiar os privados de encosto (contrariar esta tendência seria ainda outra novidade espantosa!)
Toda esta gente que vive em pânico com o mito da dificuldade de recuperação de aprendizagens é uma gente que não tem capacidade de aprendizagem. Gente irrecuperável, mas com poder.
Ou então é pragmática, e tal como no apoio às empresas, sabe que pouco é possível e custará caro em austeridade. Por muito que se queira, não haverá nem meios, nem boa vontade, que os fundos não são para isso.
Tem algumas coisas boas Professor ! Por exemplo; descobri que, afinal de contas, temos (?) um extraordinário número de “especialistas” em virologias, imunidades e quejandos.
Achar que todo este circo irá afectar de forma catastrófica e irremediável toda uma geração de estudantes é uma patetice tão grande como achar que não irá ter impactos mais ou menos profundos na aprendizagem, formação e saúde psicológica de parte substancial das crianças e jovens, particularmente os já de si mais carenciados.