A oligarquia do Estado Português

Hoje é dia da mentira. É dia de dizer que o PS é de centro-direita, é dia de culpar o neoliberalismo pelo mal do nosso país, é dia de dizer que não vivemos afogados em impostos… Infelizmente, temos uma esquerda não-PS que constantemente abana estes fantasmas para que não se suje a sua pureza ideológica de igualdade e dos amanhãs que cantam.

 

Ontem, António Costa “anunciou que vai pedir a fiscalização sucessiva dos diplomas com novos apoios sociais que a oposição aprovou no Parlamento e o Presidente promulgou”. A razão que Costa deu é o facto de ser inconstitucional, pois aumenta a despesa fixada no Orçamento de Estado. Finalmente, temos um primeiro-ministro responsável e que tem um respeito máximo pela Constituição. Se fosse o mesmo PM que tínhamos em Abril de 2020, às tantas, dizia que era para manter os apoios “diga o que disser a Constituição”. Pelo menos foi o que esse disse sobre o confinamento.

 

António Costa revela-se indiferente ao valor da Constituição quando é para retirar liberdades ao cidadãos, mas é um verdadeiro fiel à mesma Constituição para cancelar apoios sociais. Só isto seria suficiente para acabar este texto com um resumo da seriedade do nosso PM, mas calma, que há mais.

 

O senhor que está preocupado com o tratamento do dinheiro público para ajudar pessoas que perderam tudo devido às restrições impostas por causa da pandemia é o mesmo que achou bem meter milhares de milhões numa companhia aérea falhada. Na verdade, a TAP é uma ótima metáfora do socialismo. Falha, mas funciona para os amigos graças ao bolso dos contribuintes. O nosso Governo acha mais estratégico um voo para Cancun, que é onde milhares e milhares portugueses têm a sua vida, mas não acha lá muito estratégico apoiar pessoas que perderam tudo ou que estão em risco disso.

 

A explicação para isto é muito simples. O PS defende a intervenção do Estado quando beneficia quem o próprio deseja. Se a mercearia do senhor José for necessária para o PS, esta mercearia passa a ser estratégica. Se o PS defendeu que não podemos deixar cair a TAP, não foi pelos trabalhadores, foi pela elite que beneficia com a existência da TAP. E quem diz TAP diz outras empresas, as tais estratégicas. Estratégicas para o bolso de quem o Governo decide que seja. E esta é a oligarquia do Estado Português.

 

Temos um Estado que está a decidir quem passa e quem fica. Quem tem comida garantida e quem vai ter de lutar por ela. Quem tem os salários em dia e quem se vai ver grego para o conseguir. Neste momento, ser desempregado com amigos no PS é melhor do que estar empregado em muitos sítios. Isto não é Capitalismo, é amiguismo. O Estado decide quem tem o caminho facilitado nesta pandemia. E apesar de ser o modelo falhado que nunca falhou, mas que afinal nunca foi bem aplicado, ou foi, mas a forças imperialistas deturparam e tal… Sim, isto é socialismo.

Comments

  1. O Francisco, como outros da mesma linha de pensamento afunilado, faz imenso esforço para tomar a parte pelo todo, concluindo inteligentemente que a parte é igual ao todo. Dando como exemplo algumas e só algumas intervenções do estado, defende que tal prova o oligarquismo do sistema que apelida de socialismo, como se fosse mesmo. Assim, extrai a brilhante conclusão que o liberalismo não fez mal nenhum ao país (ficamos sem saber se tal se aplica apenas ao rectângulo ou a outros casos).
    Conclui ainda que “vivemos afogados em impostos” e que isso é sinal de que não há por aqui liberalismo nenhum, mas sim socialismo.
    Cabe perguntar: quem é que vive aqui afogado em impostos? São as grandes empresas, tipo Jerónimo Martins, EDP, BPN ou o Zé pagante? E o que é que essa salada toda tem a ver com socialismo?
    Porque será que a TAP é que é a metáfora do socialismo e os milhares de milhões roubados às pessoas e injectados na banca já não são?
    Oligarquia do estado? Todos sabemos que a verdadeira oligarquia não está no estado, mas antes naquelas elites que usam o aparelho para prosseguir os interesses mais inconfessáveis.
    A quem interessa denegrir o estado para ocultar quem realmente mexe os cordelinhos?
    Claro que não pretendo branquear o funcionamento da máquina, mas precisamente os casos apontados e muitos outros só mostram a absoluta necessidade de o aparelho ser escrutinado e colocado ao serviço das pessoas e não das oligarquias.
    O Francisco e seus amigos defendem o oposto.
    Porque será?

    • Luís Lavoura says:

      “os milhares de milhões roubados às pessoas e injectados na banca” SÃO socialismo. Ninguém disse que não eram! São a socialização do prejuízo, que é precisamente a assinatura mais típica do socialismo.

      • POIS! says:

        Pois tá bem!

        Este comentário merece bem a Medalha de Lata do Descaramento.

      • Paulo Marques says:

        Já dizia o barbudo, de cada um de acordo com quanto mais depende da caridade do patrão, à banca de acordo com o que quiserem.

  2. Luís Lavoura says:

    Temos um Estado que está a decidir quem passa e quem fica.

    Exatamente. A política adotada a pretexto da epidemia levou à maior conquista de poder pelo Estado nos últimos decénios. Atualmente, o Estado é que decide quem vai à falência e quem se mantém à tona. O Estado dispõe do poder para, a pretexto do combate à epidemia, levar à falência setores inteiros da atividade económica ou, alternativamente, transformá-los integralmente em subsídio-dependentes.

    É trágico.

    • POIS! says:

      Poie, e continua…

      Mais uma Medalha de Lata para Lavoura! O homem hoje está imparável!

  3. Rui Naldinho says:

    Sendo hoje o dia da mentira, por ironia, “uma das verdades mais verdadeiras contidas no texto do Francisco”, é precisamente quando ele insinua que António Costa é de Centro Direita. Se não é, parece!
    Chamar ao PS de hoje e a António Costa em particular, socialista, só pode dar para rir. Quando muito um democrata com laivos de cristandade amorfa.
    Quanto à TAP, tenho a certeza absoluta, que se esta ainda hoje estivesse nas mãos de privados, nos moldes em que a PàF a privatizou, estaria na mesma a receber ajudas do Estado, em montantes similares aos actuais, tal como os bancos privados receberam no passado, quase todos mais ou menos falidos, ou foram resgatados da falência, com novas caras, como o BPN e BES, com aquela velha treta do “não vamos buscar nada ao contribuinte, quem paga é o Fundo de Resolução”. Se bem entendo o Fundo de Resolução não existe. Ou melhor, existe no papel, alimentado por bancos que nem para eles próprios tem dinheiro para fazer face a um conjunto de imparidades nos seus balanços, daí o Estado retirar do OE todos os anos, várias centenas de milhões de euros, para alimentar aquele poço sem fundo. Quando se deu o desastre do BES, o Fundo de Resolução tinha pouco mais de 600 milhões de euros, se não me falha a memória. O Novo Banco já papou quase cinco vezes esse montante.
    A desastrosa privatização da Groundforce, recentemente desmascarada por Pedro Nuno Santos, esse sim, com laivos de socialista ou social democrata, mostra bem como a PàF “libertou o país das garras do socialismo”, com um conjunto de privatizações ruinosas, os CTT são outro belo exemplo, onde em última análise se aquilo der para o torto, pagamos todos, e nessa altura que se foda o liberalismo.
    Há uma coisa no entanto com o qual eu concordo em absoluto com o Francisco. Há uma boa parte da oligarquia do Estado dominada pelo PS. Isso está até no seu ADN. Ē assim desde o 25 de Abril de 1974. A explicação é simples e eu estou farto de martelar no mesmo assunto. O PS tem necessidade de se apropriar do Estado para também eles terem acesso a lugares de topo nas grandes empresas como a EDP, Galp, CTT, Bancos, REN, ENDESA, etc, etc…a direita acede por via natural, pois são eles os donos disto tudo, pai, filho e espírito de família, mesmo sem dinheiro, enquanto os socialistas mendigam alguma paridade neste sector, o das elites, sem nunca alcançarem essa proximidade em número de sortidos.
    Quanto aos apoios aprovados no parlamento estou totalmente de acordo com a Oposição. São justíssimos, pois o que está em causa não é a relação entre o volume de negócios facturado e a despesa fiscal paga ao Estado. A maioria destes negócios foge do fisco como o diabo 👿 da ✝️. Mas se foram obrigados a encerrar, ou proibidos de exercer actividade profissional, pelo governo, a bem da saúde de todos, têm direito a ser ressarcidos do prejuízo.
    Agora que é engraçado ver a direita que se fartou de cortar e surripiar rendimentos aos portugueses, no tempo da Troika, incluindo o monumental aumento de impostos, do qual o IVA da Restauração é um bom exemplo, de Victor Gaspar, já nem falo da célebre TSU, vir agora reclamar apoios do Estado aos pequeninos, lá isso é.
    O Mundo está cheio de contorcionistas, saltimbancos e engolidores de espadas. É por isso que o Circo será sempre o maior espetáculo do mundo, mesmo em tempos de pandemia. Jamais passará de moda. Pudera, com artistas destes!

  4. Paulo Marques says:

    Está de parabéns, chamar perigoso socialismo esquerdista retirar apoios a quem mais precisa é exercício superlativo da novilíngua libertária. Não é qualquer um que consegue ignorar o dicionário quando escreve; não serve ser ignorante, é um nível de contradição só possível a quem é capaz de mentir a si próprio para mentir aos outros.

  5. Filipe Bastos says:

    O post contém algumas verdades óbvias: o PS usa a Constituição como e quando lhe apetece; o criminoso ‘investimento’ na TAP nesta altura e sem consulta popular; a hipocrisia e a dualidade de critérios deste governo sucateiro.

    Já outras o Francisco não vê, ou parecem-lhe muito pequeninas, pela mesma miopia ideológica de que acusa a esquerda. O joseliveira e o Naldinho já constataram várias.

    Não vale a pena constatar mais; constatemos outra coisa.

    Estas discussões socialismo / capitalismo são sempre variações da falácia ‘No true Scotsman’. De ambos os lados.

    Para a direita do Francisco, o mundo só é liberal e capitalista quando o Estado for do tamanho dum alfinete, os impostos voluntários ou quase, os mercados perfeitos, os governos não forem corrompidos pelo capital, as negociatas público-privadas não existirem, todas as pessoas livres e felizes como passarinhos. Qualquer outra coisa é socialismo.

    Já a esquerda divide-se entre os estatistas e os que, como eu, não querem mais Estado ou outros líderes: querem, à falta de melhor termo, socialismo libertário. Democracia a sério, mais directa. Em ambos os casos, tudo o resto não é socialismo.

    E não se passa disto. Até o mundo ser exactamente como cada lado preconiza, tudo é usado como argumento para demonstrar que o não é – logo, só pode ser o oposto. Cada lado reclama assim tudo que é bom para si, tudo que é mau para o outro.

    • Paulo Marques says:

      É uma falsa equivalência, não é por nenhum dos dois ter existido em estado consistente (em dimensão suficiente) que não se pode observar que delegar a gestão económica de algum sector ao capital dá desastre, sempre. Já não delegando a gestão, mas não necessariamente controlando, depende das opções.

    • Filipe Bastos says:

      Tal como um direitista dirá que já se constatou que a gestão do Estado corre sempre mal, que uma repartição mais justa da riqueza acaba sempre em fome e ditadura, etc.

      Nisto até estamos do mesmo lado, v. e eu; mas se o histórico da direita é desastroso, o da esquerda não fica atrás. Daí ser até contraproducente falar em socialismo: inquina sempre as conversas, traz demasiada bagagem.

      • Paulo Marques says:

        Há algum sistema de saúde público desastroso? Há algum sistema de pensões público desastroso? Há algum sistema de educação pública desastroso?
        Desastroso não é sem falhas, graves até; somos todos humanos, muitos incompetentes, e muitos sociopatas. Ou sem ineficiências, não estou a dizer que é sempre e automaticamente bom. É não colapsar sem entrar em contradições de ter que sustentado a qualquer custo. Pode-se ignorar o que era deixar falir e entregar as pessoas à sorte dizendo que o problema se resolvia com magia, mas poupem-me.

    • brasucaprobrasil says:

      Bastos

      “o criminoso ‘investimento’ na TAP nesta altura e sem consulta popular”

      Querias a TAP para os teus amigos.? Não enganas ninguem fascistoide

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