Como normalizar o Estado Novo e piscar o olho à extrema-direita: a lição de Rui Rio

Quando Rui Rio afirma que a justiça portuguesa , em termos de eficácia, piorou desde o 25 de Abril, está a assumir que uma ditadura é compatível com a existência de um sistema de justiça idêntico àquele que, com as suas imperfeições e falhas, vigora no seio das democracias ocidentais, o que é absolutamente desonesto e revelador do embuste que é o rótulo de campeão da seriedade que os marketeers ao serviço do PSD nos têm tentado vender. Um inception de embustes, portanto.

Um sistema que prende, tortura e manda matar por delito de opinião não é um sistema de justiça. É, apenas e só, a expressão da vontade do mais forte. E o mais forte era o directório fascista do Estado Novo, dos seus patronos e clientelas. Para Rio, este arranjo autoritário que protegia a elite e arrasava o pobre e o dissidente é mais eficaz que o sistema de justiça em vigor, que, apesar das suas limitações e falhas, repito, é um sistema de justiça, equiparado ao dos nossos parceiros europeus e restantes democracias consolidadas.

O sistema de justiça que o regime fascista construiu para se proteger e proteger os seus, bem como os interesses das elites acopladas ao Estado Novo, como as famílias Espírito Santo, Champalimaud, Mello ou Queiroz Pereira, que controlavam todos os grandes negócios pagos por Salazar com recurso à miséria dos pés descalços e dos estômagos a ranger de fome, pela via de uma corrupção e tráfico de influências ainda mais impunes que as que temos hoje, dizem-nos quase tudo o que precisamos de saber sobre o projecto de Rio, que ainda há dias afirmou querer tornar o Ministério Público dependente de políticos nomeados, num ataque sem precedentes ao princípio da separação de poderes.

Não sei o que será mais grave e infeliz: se o “nazizinho” proferido há dias por Rosa Mota, se o insulto de Rui Rio a todos os que sofreram às mãos da ditadura fascista e do seu sistema de justiça arbitrário, que Rio considerou “mais eficiente”. E não, não se trata apenas de “julgamentos políticos”. Trata-se de um regime profundamente corrupto e discriminatório, que Rui Rio tratou de normalizar, quiçá para piscar o olho à extrema-direita, com a qual tenho cada vez menos dúvidas que se coligará, se dela precisar.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Andamos mais preocupados com as bacoradas de Rui Rio, as quais seriam irrelevantes para o tempo que corre, pois não ultrapassaria os 30% das intenções de voto, não fosse a estúpida arrogância de António Costa, de há uns tempos a esta parte, primeiro com a borla fiscal à EDP, seguido da sua benevolência irritante para com a incompetência recorrente do Cabritinha, culminando neste verdadeiro desastre de campanha eleitoral, digno de um “menino da mamã.
    Estas tiradas de alguns dirigentes do PSD, podia aqui recorrer a Manuela Ferreira Leite, por exemplo, já se tornaram um pouco anedóticas, tão irrefletidas que são.
    É claro que Rui Rio sabe que sem o aval do PS não mexe mais do que um pintelho, na Justiça, muito menos na PGR, a não ser nas nomeação do titular. Para se alterar o status quo actual, são necessários 2/3 dos deputados do parlamento, e no final ainda levamos com o TC.
    Rio está simplesmente a lançar o barro à parede a ver se cola.
    Claro que não cola, porque “ ou há moralidade ou comem todos”.
    Então Oliveira e Costa condenado a 12 anos nunca meteu o rabinho na cela, Rendeiro deu de frosques, só os peões de brega como Vara e Isaltino se chamuscaram, e era agora com Sócrates e Pinho que isto iria mudar.

  2. Tal & Qual says:

    É o hitlerzinho…

  3. JgMenos says:

    «está a assumir que uma ditadura é compatível com a existência de um sistema de justiça idêntico àquele que, com as suas imperfeições e falhas, vigora no seio das democracias ocidentais»

    Como todo o treteiro, quando não pode justificar a parte refugia-se no todo.
    O que é o dia-a-dia do sistema de justiça tem nada a ver com o excepcional do que enquadra a liberdade política.
    Quanto ao mais, é tema a tema, e vale mais uma política de condicionamento industrial que uma selva de regulamentos pela mão de imbecis abordáveis por benesses aos partidos que os tutelam.

    • Tuga says:

      Menos

      “uma selva de regulamentos pela mão de imbecis abordáveis por benesses aos partidos que os tutelam.”

      De repente lembraste-te como era no tempo do Estado Novo, não foi

      • JgMenos says:

        Quanto à corrupção no Estado Novo, bem nos calhava ter esses mesmos níveis, eram trocos comparado com o que se vê por aí.

        • POIS! says:

          Pois mais uma vez…

          As nossas almas estão parvas!

          Afinal…havia corrupção no Estado Novo? Palavrinha de honra?

          Estou perfeitamente siderado. Confesso que fiquei surpreendidamente surpreso! Reconhecer “uns trocos” é realmente melhor que nada!

          É realmente um Menos em Estado Novo que estamos todos os dias a descobrir com espantoso espanto!

          Trata-se de um discurso, pelo Menos, tão amigo, tão moderado, tão cordato, tão pedagógico, tão comedido, tão ameno, tão brando, tão prudente, tão suave, tão ponderado, tão morno, tão temperado, tão fresco, tão contido, tão equilibrado, tão pautado por uma sageza tão sagaz e tão lúcida que a todos nos deixa em profundo, místico e arrebatado êxtase!

          Tão inesperado que ninguém, verdadeiramente, dele esperava estar á espera!

          Mas dá-se o fato e fica-se estupefato!

        • Tuga says:

          Caríssimo Nacional Socialista

          “Quanto à corrupção no Estado Novo, bem nos calhava ter esses mesmos níveis, eram trocos comparado com o que se vê por aí.”

          É verdade que se não sabia. Os teus colegas da PIDE trabalhavam para que nada se soubesse

    • Tuga says:

      Os teus amigos ditos democratas apagam os meus posts, nazizito

      • JgMenos says:

        A comunada faz normalmente o mesmo aos meus, e chamar-lhes comunas é o nome próprio.
        Idiotas como tu, a acenar com o nazismo a propósito de tudo e nadam têm o que merecem.

        • Tuga says:

          “A comunada faz normalmente o mesmo aos meus,”
          Não percebo como. Estás todos os dias aqui a vomitar ódio fascista !

          Ficas ofendido por chamar nazi a um Salazarista ?
          Passo a chamar-te Nacional Socialista como o teu ídolo Hitler

    • Paulo Marques says:

      O planemanento central a beneficiar gente de boas famílias que sabem usar um fato é que era bom, pá. A comunada até estraga famílias como os Salgados, Ricciardis; nada se salva!