Resistir não é ilusão

A resistência de um Povo face ao opressor nunca é uma ilusão. É uma esperança. É um direito. Foi essa resistência, tantas vezes esmagada pelo opressor indonésio, que permitiu a Timor Leste conquistar a sua independência. Com sangue, muito sangue inocente. E com comunicação.

Ainda me recordo como se fosse hoje do barco onde iam muitos jovens, muitos sonhadores portugueses e de outras nacionalidades e jornalistas. O “Lusitânia Expresso”. E recordo os directos da rádio, as angústias dessa viagem ouvidas à distância. Nessa altura, não faltaram estratégias de comunicação, tentativas bem sucedidas de, entre outros, colocar Bono Vox (dos U2) a falar sobre a opressão vivida em Timor, de forçar os principais meios de comunicação social internacional a juntar a sua à nossa voz. E até uma manifestação em Madrid se fez. Sim, enquanto uns lutavam no terreno outros como Ramos Horta (Prémio Nobel da Paz) lutavam por esse mundo fora na procura de influenciar os que podiam ajudar na libertação do seu povo.

Não foi fácil. Demorou muitos anos, décadas até. Mas ninguém se atrevia a dizer a um timorense que era uma ilusão. Uma ilusão provocada por Xanana Gusmão. Não. Obviamente, cada vez que uma alta patente indonésia era abatida, uma aldeia libertada ou uma manifestação organizada, existia uma romantização e certamente não faltaram encenações. Porque é necessário puxar pela moral das tropas e das gentes. E não estava Timor a resistir? Como ensina a História, enquanto existir um Homem disposto a lutar a resistência não acaba. E esse é o erro mortal de Putin. Enquanto existir um ucraniano vivo disposto a lutar, a resistência não terminará. E estou certo que mais depressa morre Putin do que termina a resistência ucraniana.

Volodymyr Zelensky é o Xanana Gusmão dos ucranianos e tal como alguma direita criticava Xanana, o apelidava de extremista de esquerda, hoje certa esquerda faz o mesmo ao líder ucraniano, apelidando-o de extremista de direita. É um sinal dos tempos. Revelador. Ninguém gosta daqueles que nos mostram que os covardes somos nós.

Porque resistência e o combate pela Liberdade nunca é uma ilusão. É um direito. É o valor supremo de um Povo.

 

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Uma coisa é resistência ao longo do tempo contra a russificação do território da Ucrânia actual, e isso acredito que vai perdurar por décadas, um bocado como aconteceu em Timor, um país católico, contra uma Indonésia muçulmana, ou até com a Catalunha e o País Basco, onde subsiste um nacionalismo forte, outra coisa é a resistência armada no curto prazo contra a invasão russa.
    A ocupação de Timor pela Indonésia durou cerca de vinte e seis anos. Em Dezembro de 1975 foi ocupada pelo exército do país vizinho, e só em 2002 a Indonésia veio a reconhecer Timor Leste como país independente, mais por pressão internacional, do que por qualquer efeito da resistência armada. As Fretilin não passavam de uma centena, se tanto, de guerrilheiros sem grande margem de manobra. Tentavam sobreviver nas montanhas em redor do monte Ramelau, 3000 mts, e protegidos pela floresta típica do sudeste asiático. Faziam incursões esporádicas.
    Timor é uma ilha na confluência do Indico com o Pacifico, do qual 1/3 do seu território já é Indonésio. Só os outros 2/3 são Timorenses. No período colonial havia um enclave em território indonésio, não sei se posteriormente voltou às mãos de Timor ou se foi anexado. Qual o valor estratégico de Timor, a não ser algumas reservas de petróleo, que será sempre explorado por terceiros?
    Já a Ucrânia tem para os russos um valor b3m maus importante. Aliás sempre teve. A frota do Mediterrâneo da União Soviética, foi aí que esteve estacionada mais de 50 anos.
    Se vamos estar à espera 27 anos para que a Ucrânia se liberte da influência russa, sendo que parte desse território já tem uma percentagem significativa de russos, como a Crimeia ou o Donbass, por exemplo, a coisa parece-me bastante negra para o povo da Ucrânia.

    • Rui Naldinho says:

      Deve ler-se:
      “Já a Ucrânia tem para os russos um valor bem mais importante.”


  2. Totalmente de acordo! Lutar é um direito e o povo ucraniano (assim como seu presidente) têm legitimidade para o fazer. Não percebo as pessoas que criticam Zelennky. O que querem elas que o presidente faça? Que diga a toda a gente para ir embora, pousar as armas e dar a vitória de mão beijada à Rússia??
    Obrigada pelo texto.

  3. esteves aires says:

    Não me parece que este triste acontecimento seja igual , tendo em conta o que se passou nestes últimos anos, não estou aqui a concordar com a invasão do Exército do Putin, junto filme;https://www.youtube.com/watch?v=gOM7p0mAE-k