Nasci e cresci muito perto da Sinagoga do Porto, “Sinagoga Kadoorie”, habituando-me, desde pequeno, a ter muito boa relação com crianças judias da minha idade, com quem brincava, tendo até conhecido nesse contexto de brincadeiras um dos meus melhores amigos, não percebendo enquanto criança que havia alguma diferença.
E de facto não havia, eram meninos como eu e hoje são homens como eu.
A Sinagoga sempre foi respeitada pelos portuenses, podendo eu afirmar que, nem nos tempos conturbados do PREC, foi alvo de qualuer ataque, nem o edifício nem os fiéis.
Para meu espanto, em 2015, vejo a querida Sinagoga a ser cercada por uma estrutura de ferro com 5 metros de altura e um sistema de câmaras de vigilância, contrariando o Plano Director da Câmara Municipal do Porto.
Instada pela comunicação social, a Comunidade Judaica do Porto esclareceu que se tratava de reforçar a segurança do templo em tempos de ataques terroristas islâmicos na Europa, para mais num momento em que a Sinagoga Kadoorie iria ser considerada como o templo judaico primo da Península Ibérica.
A esse reforço da segurança, numa cidade e num país que trata bem a Comunidade Judaica, surge mais tarde o anúncio da instalação no Porto do Museu do Holocausto, o primeiro museu ibérico do género, que seguiria o modelo do instalado em Washington, isto é, “os corredores do espaço procuram contar toda a história da perseguição, tortura e assassinato de mais de seis milhões de pessoas pela Alemanha de Adolf Hitler através de fotografias e ecrãs que exibem filmes reais sobre um acontecimento também conhecido por “Shoah” ou “Solução Final”.”
Sempre acreditámos que esses investimentos elevados seriam teriam sido angariados junto da Comunidade Judaica internacional, e que, sem dúvida, no respeitante ao Museu, vieram enriquecer a cidade do Porto, assim como mostrar a história do horror a que os judeus foram sujeitos durante o regime de Hitler e nunca deverão ser esquecidos.
Infelizmente, hoje, poderemos suspeitar de mais acerca da origem desses investimentos e do estatuto ibérico da Sinagoga do Porto, através da detenção do Rabino Daniel Litvak, responsável da Comunidade Israelita do Porto, detido ontem pela Polícia Judiciária, pela suspeita de irregularidades na emissão de certificados de descendentes de judeus sefarditas, nomeadamente a de Roman Abramovich, e por deter mais de três milhões de euros depositados em contas bancárias em Portugal e no estrangeiro.
“E de facto não havia, eram meninos como eu e hoje são homens como eu.” Isso tudo, gostei de te ler, Carlos.
Quanto a detenção, fiquei a saber agora. Tinha visto uma reportagem há uns dias, sobre este assunto, na RTP1.
Só uma observação:
Que eu me lembre não conheci nenhum ataque a edifícios ou fiéis de alguma religião durante “os tempos conturbados do PREC”.
Os poucos casos de que ouvi falar foram motivados por disputas locais em que padres se envolviam, ou eram envolvidos, em disputas políticas
Confirmo, Pois. Também nunca tive notícia de ataques a templos nesse período.