Ronaldo Herbalife

ronado-get-a-lifeGet-a-Life by Cristiano Ronaldo,  Bucareste – Roménia, 2013.

Postcards from Romania (34)

Elisabete Figueiredo 

Uma cidade, vendida a retalho e o que calçará Lady Gaga quando está sozinha?

Do autocarro turístico vejo Bucareste de uma maneira completamente diversa. Primeiro, estou protegida, não me sinto pequena, nem excluída, o que não deixa de ser um curioso paradoxo, já que me meto de livre vontade num lugar confinado, embora em movimento.

O autocarro atravessa o centro histórico, se é que podemos apontar um apenas a esta cidade. Vai da Piata Unirii até ao Arco do Triunfo e volta por outro percurso. A primeira metade do caminho é-me já familiar. O belo e o feio, o opulento e o miserável, o pobre e o rico. Nesta primeira metade, Bucareste é uma cidade que se vende a retalho. Em todos os prédios, sobretudo nos mais altos, anúncios. Coca-cola, pepsi (não somos exclusivistas, claro, sobretudo quando nos pagam), macdonalds, mercedes, bmw, banco x e banco y, os anúncios ocupam tudo e tornam tudo mais feio, mais caótico, mais suburbano até, ou, para ser completamente parva (ou realista), mais terceiro-mundista. Vamos nisto da publicidade, como se estivéssemos a ver televisão às horas das televendas, até à Piata Victoriei. [Read more…]

Postcards from Romania (33)

Elisabete Figueiredo

 As cidades, como as pessoas, precisam de tempo

Sou turista. Não adianta dizer que sou outra coisa qualquer. Gostava de ser viajante. De preferência que me pagassem para correr mundo – não todo, vamos excluir os ‘países com moscas’, como eu lhes chamo – e me deixassem ver tudo muito bem e, talvez, escrever sobre isso.

Sou turista. E assumindo essa condição faço hoje uma coisa que deveria ter feito ontem. Uma viagem de autocarro à volta dos principais locais de Bucareste. É por onde começo, geralmente. Para dominar mais ou menos fisicamente as cidades. Desta vez não. E deixei, então, que Bucareste me dominasse e, de certo modo, me excluísse. Mas as cidades precisam de tempo. E eu não sou pessoa que desista facilmente, já sabemos. [Read more…]

Postcards from Romania (32)

Elisabete Figueiredo

Bucareste é uma cidade agreste

O Palácio do Parlamento secou tudo à sua volta, menos o Boulevardul Unirii (antes a Avenida da Vitória do Socialismo). Maior que os Champs Elysées tem a meio a Piata Unirii. Nesta e nas ruas, gigantescas, à sua volta, imensos ciganos vendem isto e aquilo. Há muitos pedintes e sem-abrigo. Ao dobrar a esquina, imediatamente se entra noutra dimensão. Embora o gigantismo das ruas e avenidas continue e os palacetes e outros belos monumentos se misturem, de uma forma desagradável, com blocos de apartamentos de arquitetura ‘comunista’, feíssimos, degradadíssimos, a pobreza (nas ruas, pelo menos) diminui progressivamente até se alcançar a parte sul da Calea Victoriei (que atravessa uma parte da cidade, serpenteando e que é, segundo dizem e me pareceu por tanto gucci, chanel e vuitton e tanto hilton e radisson, a artéria mais chique de Bucareste.  [Read more…]

Postcards from Romania (30)

 Elisabete Figuieredo

Fui de comboio ao cinema, infinitamente, até Bucareste

O meu lugar tinha uma janela grande, não dividida. A velocidade do comboio, mesmo não sendo imensa, não me permitiu tirar muitas e, sobretudo, razoáveis, fotografias ao que passava além da janela. Então resignei-me e entre um livro (avancei 200 páginas hoje, claro), o caderninho de apontamentos a que estraguei o elástico, os passeios no corredor e algumas conversas, o que fiz mais foi olhar. [Read more…]

Postcards from Romania (29)

Nove horas de comboio

A Eniko vem para me levar à estação e despedir-se de mim. Custa um bocadinho, é certo, abraços e beijos e eu entro no comboio que me há-de levar a Bucareste supostamente em 8 horas e meia e a Eniko ali fica, do outro lado da janela, as duas maluquinhas a falar por gestos, a mandarmos beijinhos, a sermos ternas. E eu cá acho bonito.

O comboio parte da estação de Cluj-Napoca às 14h10 em ponto. Quem disse que na Roménia os comboios não andam a horas, engana-se. Partem geralmente a horas, mas algures pelo caminho vão perdendo a pontualidade… tem sido sempre assim. De qualquer forma os atrasos, mesmo do regional velhíssimo em que andei entre Brasov e Sighisoara, nunca ultrapassaram a meia hora. Aconteceu hoje e em vez das 8 horas e meia, demorámos 9h a percorrer um pouco mais de 400 km. São imensas horas, bem sei, para tão pouca distância. Mas a linha entre Cluj e Brasov é antiga e, embora o comboio – um intercity – suportasse velocidades maiores, a linha não. Por isso, nada a fazer senão estar fechada dentro do comboio as horas que forem precisas. A minha mãe há-de gostar de saber que só fumei, nessas 9 horas, quatro cigarros. Sinceramente, tenho os níveis de nicotina muito em baixo, embora tenha tentado repô-los assim que me apanhei na Gara Nord, em Bucareste. [Read more…]

Postcards from Romania (3)

Elisabete Figueiredo

 Entre Bucareste e Brasov

A estação de Bucareste Norte parece-se vagamente com um filme do Kusturica. uma confusão brutal. O intercity entre Bucareste e Budapeste é lento, mas confortável. Escrevo umas coisas no meu caderno novo, lilás. Leio umas páginas de ‘Uma Manhã Perdida’ da escritora romena Gabriela Adamesteanu.

Entramos na Transilvânia e as montanhas cortam-me o folego. Ao longo da janela desfilam carroças redondas, coloridas, lindas, dos ciganos.

Em Brasov a estação parece-se ainda mais com um filme do Kusturica. Mulheres de lenços na cabeça, rodeadas de crianças.

O taxista, desta vez, fala francês e não me rouba no preço. É até muito simpático. Oferece-se para me levar amanhã a Bran por 30 euros. Digo-lhe que quero ir de autocarro. Ele entende que um autocarro cheio de mochileiros não é sítio para uma mulher ‘elegante’ (?) como eu. Rio-me e digo-lhe que nãos e preocupe, que estou habituada a andar de autocarro. Insiste e dá-me um cartão. Digo-lhe que sexta-feira o chamo de certeza para me levar de volta à estação. desfilam carroças redondas, coloridas, lindas, dos ciganos. Em Brasov a estação parece-se ainda mais com um filme do Kusturica. Mulheres de lenços na cabeça rodeadas de crianças. O taxista desta vez fala francês e não me rouba no preço. É até muito simpático. Oferece-se para me levar amanhã a Bran por 30 euros. Digo-lhe que quero ir de autocarro. Ele entende que um autocarro cheio de mochileiros não é sítio para uma mulher ‘elegante’ (?) como eu. Rio-me e digo-lhe que não se preocupe, que estou habituada a andar de autocarro. insiste dá-me um cartão. digo-lhe que sexta-feira o chamo de certeza para me levar de volta à estação.

(Brasov, 7 de Agosto de 2012)

Postcards from Romania (2)

Elisabete Figueiredo

Para a Roménia viajam apenas os romenos

Sou a única portuguesa no avião. Suponho que para a Roménia, de Lisboa, viajem apenas os romenos. Não sei. Em Bucareste, 40 graus às 16h40. Apanho um táxi, depois de perguntar o preço (150 lei) para a estação central. O taxista fala em italiano, assumindo primeiro que eu sou italiana e depois que, não sendo, falo a língua.

Pergunta-me para onde vou de comboio. Brasov, respondo. Insiste que me leva por 700 lei. Respondo-lhe que não. Várias vezes. ‘Voglio andare a Brasov com il treno’ repito. Insiste, uma e outra e ainda outra vez. Repito: ‘voglio andare com il treno, mi piace viaggare sul treno’. Argumenta que o comboio é muito perigoso. Que vou ser assaltada na estação. Que o bilhete de comboio é muito caro. Digo-lhe que não vou nada ser assaltada, pergunto-lhe porque há-de dizer tais coisas sobre o seu país.

Deposita-me, com maus modos, na estação. Em vez de 150 cobra-me 200 lei. Entro na estação. Compro o bilhete. Um puto pede-me dinheiro, dou-lhe 1 leu. Peço ajuda a um casal de romenos sobre a linha do comboio.

Fumo um cigarro. Penso que não fui assaltada. Reconsidero. Fui, em 50 lei, mas pelo taxista.

(Bucareste, 7 de Agosto de 2012)