A morte é como o sabão*

Depois da morte de António Borges, e do que já foi escrito aqui e que subscrevo, publico um artigo sobre a morte e José Hermano Saraiva, que se aplica a António Borges. Que a terra lhes seja pesada. [Read more…]

Grande Contabilidade Mortuária

Há menos de um ano, espantávamo-nos com as mortes solitárias dos nossos velhos, cadáveres de uma, duas ou mais semanas de silenciosa putrescência, cadáveres mumificados e sem odor por meses, anos, de esquecimento e reserva, ou voluntária, no corte com os demais, «para não pesar a ninguém» ou então relegados por uma família deles despreziva, capaz de os olhar de soslaio por serem «demasiado lastro, demasiado monos, demasiado sonoros roçadores de gengivas ou repetidores fastidiosos de estórias». Quanto a mim, os Pessa e os Saraiva, que são uma ordem diversa de mortos, porque sob todos os focos, apresentam-nos sobejas lições de vida e em qualquer caso, mereceriam menor severidade parcialista que aquela suscitada por nós mesmos, comovidos ou não. [Read more…]

Na morte de Helena Cidade Moura

Helena Cidade Moura morreu no mesmo dia em desapareceu José Hermano Saraiva. O segundo ficará para a História como um extraordinário comunicador e não merecerá mais do que isso. A primeira não atingiu a visibilidade do apresentador televisivo, mas desempenhou várias funções meritórias nos âmbitos cívico-político e cultural, sendo exemplo disso a dinamização das campanhas de alfabetização e a dedicação ao estudo da obra de Eça de Queirós. Leiam, por favor, este testemunho de alguém que a conheceu pessoalmente.

Dúvida liberal

Quanto ganhava o artista José Hermano Saraiva por programa de televisão, no seu  stand up fora os livros, vídeos e outros amendoins que vendia por conta, usando uma popularidade conquistada com os favores do estado?

Sempre na televisão pública, eternamente paga por todos nós.

A minha vida sexual com José Hermano Saraiva (com vídeo)

Na primeira vez que fui aos Dias Medievais de Castro MarimJosé Hermano Saraiva constava do programa. Ainda lhe escutei parte de uma oração na capelinha do castelo, irritei-me e saí. Como qualquer ex-aluno da FLUC, com formação em História ou Literatura, via pela primeira vez ao vivo aquela fantástica capacidade de transmitir, e aquela total ignorância no saber.

Ignorância que hoje se designa revisionismo histórico, coisa que ingenuamente e ignorando a existência de um tal Rui Ramos me parecia na altura definitivamente arrumada a um canto.

Ora na manhã seguinte, descíamos a encosta para a manhã no século presente, com chuveiro, pequeno-almoço e tudo, ia respondendo a alguém que não considerava um jurista de seu nome José Hermano Saraiva com habilitações para historiador, quando choco com o destinatário a meio metro (quem conhece o cotovelo que defende o castelo percebe). Acontece. Olhámos um para o outro, e cada um seguiu o seu caminho, tendo ficado claro que o convidado a orador não estava habituado a ouvir de voz viva uma evidência repetida em qualquer corredor de universidade a sério. O problema da historiografia portuguesa é esse. [Read more…]

Humanista

Defino-me como um humanista. Sinto a vida como um valor supremo e por isso sinto muito orgulho na história de Portugal e nos vários episódios que se foram resolvendo “da melhor maneira”.

Vem isto a propósito do José Hermano Saraiva. Ou antes, da sua morte.

Não fiquei contente com a sua morte apesar de o ver mais como o JJC do que como o viu a Céu.

Entendo a Céu – somos da mesma geração e o JHS fez parte da nossa aprendizagem. Por sorte (ou azar) sempre adorei história, apesar de ser mais dado aos números e muito cedo dei de caras com a fragilidade científica do JHS. A sua ligação à Ditadura chegou-me ainda mais tarde. Não tenho, por isso, qualquer respeito intelectual pelo senhor.

Mas isso não me impede de ter ficado triste por ter lido “Menos um” no título do post.

Nem pelo facto dele ter sido o responsável directo pela morte de muitos portugueses lhe desejaria a morte. A ele como a outros imbecis.

José Hermano Saraiva

Morreu o historiador. Uma oportunidade de o conhecer melhor, não obstante os «baldes de àgua fria» que às vezes apanhamos por sermos novos e não sabermos «da missa metade».

Aqui fica um exemplo de como sabemos muito pouco da nossa História (admito, mas quero aprender, com humildade).

Foi também advogado, professor do ensino liceal e ministro da Educação. É sobre este cargo que fui à procura de informação na História do Ensino em Portugal de Rómulo de Carvalho (António Gedeão), editada pela F.C.G., obra de referência: J. H. Saraiva esteve no poder enquanto ministro da Educação durante ano e meio, sucedendo a Galvão Teles.  Segundo Carvalho, Saraiva viu-se envolvido numa luta incómoda com a Academia de Coimbra:”É uma história quase anedótica mas que merece ser citada, pois teve papel preponderante no processo de renovação do ensino que então se pretendia executar.”

Um episódio triste, uma vez que foram feitas detenções a estudantes (Alberto Martins – ex-Ministro da Justiça entre 2009 e 2011-, o estudante que contestou publicamente o Governo de que José Hermano Saraiva fazia parte), violências foram praticadas, proibições aos estudantes de continuarem a estudar na Universidade, etc.

Por aquilo que me deu conhecer, J.H.S. terá, em Abril de 1969, reorganizado o Instituto de Meios Audiovisuais, de que fazia parte a Telescola. Não me consta nada mais de significativo, a partir da leitura daquela obra.

Apesar do episódio que Rómulo de Carvalho refere, não deixo de admirar o comunicador e o amante da nossa História, que foi José Hermano Saraiva. Isso ainda não vi em mais ninguém…Teremos outro?

Um homem não é só o seu passado!

Menos um


José Hermano Saraiva (1919-2012).

Fotografia de Abril de 1969