Na palma da mão

adão cruz

Na palma da mão tenho sonhos de liberdade e silêncio para enfrentar a morte.

A música treme na palma da mão como incerteza de paisagem e futuro.

Quem dera adivinhar a cor desta canção cinzenta que se dissolve no ar que respiro.

Neste verão diferente do outro eu quero vestir-te de primavera sem medo dos tiranos e da moral burguesa.

Quero escolher as palavras do poema que fazem chorar teus olhos azuis e abrir o sonho à luz do meio-dia.

Quero renascer dos versos que dentro de mim acendem as estrelas e clamam por outros seres e outros mundos.

Quero seguir quem me chama para outros mares onde o sol sempre nasce e ilumina.

Creio que a terra é minha e de espirais de estrelas o meu regresso.

O sol arde nas nuvens e o mar verde leva-me para habitar contigo onde quer que estejas.

Não sei aprender a morrer fora das linhas desta mão incerta onde as flores de verão deixaram raízes no inverno e hão-de desabrochar na manhã de sol em que partirei.

A tua mão

adão cruz

Como simples aves damos as asas a caminho do sol para fugir às lágrimas que a terra espreme.

A luz incendeia a vontade de fugir mas a tua mão serena abre o coração à esperança onde a angústia cresce por entre músicas perdidas e restos de flores.

Eu continuo o caminho dos lábios que deixaram de suspirar e dos olhos que pararam de girar confundidos entre lágrimas e risos.

O longo caminho das sombras onde as plantas não falam nem as fontes nem os pássaros.

Mas a tua mão apertada mesmo que incrédula murmura baixinho que os prados se estendem a nossos pés.

E que as brandas ondas do mar deslizam suavemente sobre a areia cobrindo de espuma o teu corpo sonâmbulo que à noite desperta por entre o labirinto dos meus sonhos.

Que palácios pretende o vento impaciente em teus cabelos de fogo vencida a idade em que o coração treme sem casa para morar?

Dentro dos meus olhos

Dentro dos meus olhos uma tela azul enorme, como a luz dos teus olhos onde encerrei todo o céu que pude.

Um mar imenso de mil cores, mil jardins de flores, mil flores à minha escolha, ao critério dos meus dedos, ao sabor dos meus segredos e dos medos de não ser capaz.

Azul e mais azul de amarelo fustigado, um rasgo genial de vermelho, um reflexo de sol e de céu.

Nada te dizem as cores da minha mão se tento escrever-te numa tela ou pintar teu rosto na letra de um verso.

Tu não queres puxar os cordéis das minhas pernas em sentido de fuga. Não deixas abrir as janelas do vagaroso comboio translúcido, carregando ruas estreitas e novas lojas de palavras velhas.

Nas estreitas ruas das minhas mãos há longuíssimas raízes que te prendem a um labirinto de espelhos.

Grande como o céu, tão alto e tão à mão, não sei pintar-te assim. Vou recriar-te dentro de mim em projectada incandescência de quadros brancos, sem palavras, sem fundo e sem fim.

Poemas do ser e não ser

Delicadamente

ela abriu a blusa e levantou os olhos

decidida.

Era uma mulher de guerra combatida

daquelas cuja face conta a história.

Mansamente baixou a medo as alças do soutien

inclinou a cabeça e fechou os olhos

à espera da minha mão.

Depois

comemos pão de centeio molhado num golpe de azeite

bebemos um capitoso vinho

e fomos à procura de uma paisagem com cegonhas.

A mão de Henry é a mão do diabo

Não é a mão de Deus. A mão de Maradona foi um prodígio de classe, "apenas" deu o que faltava ao "génio" de Maradona. Altura!

 

Dois jogadores a disputarem uma bola, a sós, em plena área onde o inglês podia ir com as mãos acima do seu 1,90 m de altura. A mão de Deus foi necessária para dar sentido à disputa.

 

Ainda hoje é dificil ver se anda, ou não, ali a mão de Deus. É tudo bonito, como de um bailado se tratasse.

 

A mão de Henry é a mão do "diabo", não é mão subtil, é mão, braço e ombro "sucateiros", arrebanha ganancioso uma e outra vez, face oculta de um querer vencer de qualquer jeito.

 

A mão de Maradona faz-nos sonhar,como tambem o teatro é fingimento, que nós perdoamos por ser tão belo e sonhamos. É o segredo do poeta esse "fingidor" criador de beleza a partir do nada.

 

E entre os dois há a mão de Vata a dar sentido humano a Deus e ao diabo, uma mão humana, receosa, envergonhada.

 

Foi o vento…