Deixem os predadores sexuais em paz, suas vagabundas!

Há tempos foi um revisor da CP. No Domingo foi um condutor dos Transportes Urbanos de Coimbra. E, num caso como noutro, o batalhão de bestas quadradas que patrulha as redes e as caixas de comentários dos jornais deu o ar da sua mentalmente indigente graça e sentenciou o caso: são elas, as vagabundas, badalhocas, vadias e putas que provocam os inocentes abusadores. São as saias, os decotes e o cabelo solto e cheiroso. O homem bem quer ser o sexo forte, mas estas porcas obrigam-nos a ser predadores sexuais. As mulheres, no entender destes trogloditas, deviam vestir-se como na mais radical das ditaduras wahhabitas: tapadas dos pés à cabeça, com uma viseira estreita para não se espetarem contra as paredes. E ser lapidadas em caso de não conformidade. Não admira que estes merdas sejam contra o feminismo. Era o que mais faltava, as mulheres ganharem consciência da sua condição e insurgir-se contra o papel socialmente instituído de subalternas submissas dos homens. Umas radicais! Moderados são os machistas, os misóginos e os violadores. Estivessem elas fechadinhas na cozinha, de avental e bandolete, a cozinhar, limpar, lavar, arrumar e a cuidar dos putos, e estaria tudo bem. No tempo do Salazar não havia estas bandalheiras. Raisparta a democracia.

Feminismo vs Liberdade Individual

Há certezas absolutas que ninguém pode refutar quando falamos nas desigualdades entre homens e mulheres. Temos o exemplo dos salários ganhos por cada género, sendo que por cada euro ganho por um homem, uma mulher recebe 84 cêntimos. O problema coloca-se quando nos questionamos pela razão desta desigualdade factual. O movimento feminista fala de uma sociedade patriarcal, uma sociedade em que o homem tem predominância apenas pelo género. As feministas, que tanto criticam o capitalismo e aqueles que têm o lucro como algo positivo, são as primeiras a falar das diferenças salariais. Pelos vistos, o dinheiro não é assim tão irrelevante quanto isso. O movimento feminista, que não podemos confundir com as mulheres, não defende a igualdade de oportunidades para os indivíduos de ambos os géneros, mas sim uma igualdade de resultados. Se antes, as pessoas viviam numa ditadura pela ordem, agora vivem numa obsessão pela igualdade. Colocaram essa obsessão à frente da liberdade individual, não permitindo que as mulheres sigam o seu caminho, mas impondo uma luta identitária contra os homens.

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Ouve-me

Liliana Garcia

E se em vez de um apagão feminino fizermos antes um clarão feminino?
Séculos de história já trataram de apagar o feminino. Nós conseguimos melhor que apagões. Colocar a mulher na obscuridade não me parece a melhor forma de luta para aumentar a visibilidade do papel da mulher na sociedade, seja para lutar contra a violência doméstica, seja para lutar pela igualdade de direitos. É no silêncio que se vão apagando mulheres vítimas de violência doméstica.
A igualdade de género não vai lá com apagões, mas sim com clareza, a começar pela clareza de pensamento. Quantas de nós se questionam sobre os papéis que assumem como seus (são uma clara vontade da mulher ou imposição social)? Quantas de nós educam os filhos, ou as filhas, no sentido da igualdade de género? [Read more…]

Respeito

Confesso que não conheço o Rui. A cara dele não me é estranha, mas distraído como sou, é natural que o tenha visto na tv…

Tropecei hoje num texto que ele escreveu e que merece ser lido. Aqui ficam as palavras do Rui: [Read more…]

A propósito da data

De uma conhecida recebi hoje isto, por ocasião do dia da mulher:

mulher

É bonito. Mas no momento seguinte faz lembrar a verdadeira selvajaria, a bruta.

No contexto da violência doméstica, de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2015, registaram-se 29 homicídios de mulheres. E nos últimos 12 anos houve uma média anual de 36 mulheres mortas, recordou a procuradora-geral distrital do Porto, Raquel Desterro.

E:   Em Portugal, 24% das mulheres já sofreram de violência física ou sexual por um parceiro ou não parceiro.

É preciso mais do que resistir mantendo a ternura, é preciso reagir. Abdicando, se necessário, de ser flor.

António de Oliveira Portas

Lides domésticas, procriação e uma salva de “pelmas” para as mulheres a preto e branco. Amém.

Sinais dos novos tempos: a pessoa mais poderosa de Portugal é uma Mulher e da Justiça.

Ontem, ao princípio da noite, a TVI anunciou, segundo os seus critérios, o nome da pessoa mais poderosa de Portugal. E a escolha é sem margem para dúvidas uma surpresa. Logo pelo facto de não ser um homem, mas sim uma mulher. Mas também pelo facto de não ser uma CEO de um grande grupo económico, nem a herdeira de uma fortuna multimilionária, muito menos uma governante. A pessoa eleita pela TVI como a mais poderosa de Portugal foi a Dra. Joana Marques Vidal.

Entendo que a Justiça no nosso país viveu dois tempos. Um tempo pré – Dra. Joana Marques Vidal e um outro tempo pós – Dra. Joana Marques Vidal na Procuradoria Geral da República.

Parece-me ser uma pessoa serena, discreta, frontal, pouco mediática, mas altamente competente e eficiente que mudou a Justiça em Portugal. A  Dra. Joana Marques Vidal exerce as funções de Procuradora Geral da República, desde Outubro de 2012, por nomeação do Presidente da República. A sua nomeação marcou também uma viragem no mundo da justiça portuguesa atendendo a que foi a primeira mulher a ocupar o lugar cimeiro na PGR.

Ao contrário dos seus antecessores na Procuradoria Geral da República como Cunha Rodrigues, Souto Moura ou Pinto Monteiro, fala muito pouco, mas quando fala é pragmática e assertiva.

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Uma surreal entrevista de emprego:

acontece tanto que parece ser normal.

Dia da Mulher


Uma das razões porque ainda faz sentido celebrar o Dia da Mulher

Duo olho negro

duo olho negro

(composição retirada do Face sem autor conhecido)

Os dias são nossos. Todos os dias são nossos.

Não sei bem qual delas admiro mais: se a minha avó Maria, que pariu 13 filhos sozinha e ainda ajudou a nascer meia aldeia; se a minha avó Leontina, que pariu apenas 10, 8 dos quais ao lado da minha mãe, numa esteira, no chão (“mandava-me ir chamar a tia Amélia e eu já sabia para que era”), que percorria os 20 km que separam Antões de Pombal com um cesto de laranjas à cabeça, para vender nos tempos de fome; se a avó do meu homem (que também foi muito minha, nos anos em que convivemos), que ficou viúva aos 32 anos, com cinco filhos e sem qualquer ajuda; ou a minha mãe, uma muralha à prova de tudo. [Read more…]

Se não fosse 8 de Março

Se não fosse 8 de Março, eu saberia escrever sobre ti. Quem?

Tu, a que partiu? A que ficou? A que sorri? A que sofre? A forte, que nada parece afectar? A frágil, que mesmo assim é o meu castelo? A que é a minha vida? As que foram? A que me deixou? A mãe, as mães que tive? As madrinhas dos meus sonhos? Tu, o sol das minhas noites, o luar dos meus dias? Tu, a de uma noite, de muitos dias, de sempre? Tu, a recordação de outro tempo? Tu, a perene, o exemplo, a genica e o ânimo?

Se não fosse 8 de Março, eu saberia escrever sobre ti. Não importa quem. [Read more…]

Mulher e estendal

Como outros passeiam os cães de companhia, ela traz à rua o seu estendal. É preciso que vos diga que não é capricho nem bizarria, não há nela nenhuma excentricidade. É que há casas que são tão pequenas que nem o sol lá consegue entrar. E secar a roupa nesta cidade é um problema de que não se fala. Há casas baixinhas, sombrias, infiltrações de água, paredes corroídas, azulejos que se desprendem das paredes, senhorios que vivem longe e não assistem à lenta agonia das casas que arrendaram, há miséria, miséria, tantas formas de contar a miséria nesta cidade. Até a água a conta, no seu percurso sinuoso pelas paredes de casa, a tinta a estalar em crateras amareladas, a mancha negra a alastrar no tecto, “qualquer dia caem-nos os vizinhos em cima”.

Num cantinho da sala ficava o estendal e era preciso afastá-lo para passar. E a roupa não secava. Lavava-se ao sábado e os dias passavam, a roupa ganhava cheiro a humidade, a janelas fechadas, à comida que se cozinhou, e não havia forma de ficar seca. E a roupa húmida no corpo, não há pior, esse frio que vai atravessando a pele, fica-se gelada até à alma. Então lembrou-se de ir ela atrás do sol. [Read more…]

Cadi

( Já publicado anteriormente)

(Desenho de Manel Cruz)
Cadi era uma mulher esbelta. Uma verdadeira Balanta-Bravo. Não tão bonitas como as Futa-Fulas, as balantas tinham um corpo de fazer inveja a quaisquer outras. A Cadi era o ver-dos-olhos de soldados, sargentos e oficiais. Mas apenas o ver-dos-olhos. Mais do que isso Cadi não permitia. [Read more…]

Carta à mulher do presidente

(Já lá vão uns anos, mas é sempre actual )

Minha Senhora, estava eu a jantar quando vi no telejornal as imagens do bombardeamento sobre a aldeia de Korisa.

Imagens da vossa bravura, imagens da coragem e determinação do seu marido.

Corpos carbonizados, dilacerados, fumegantes, esventrados, cabeças estouradas, pedaços de vida feitos em pedaços de carne morta.

Cem pessoas abatidas e muitas outras feridas gravemente, enquanto o diabo esfregou um olho.

Cem inocentes que Deus sacrificou às mãos de quem tanto reza, cem refugiados a caminho da longínqua esperança, olhos postos no fictício horizonte da solidariedade humana. [Read more…]

uma mulher roubou caramelos

Em Milão, no último fim-de-semana, numa cadeia de supermercados, uma mulher de 76 anos foi apanhada pelo gerente a roubar um saco de caramelos. Os caramelos custavam 78 cêntimos. O gerente é um homem de 37 anos e imagina-se que não teve dificuldade em apanhar a mulher. A polícia foi chamada. O gerente denunciou o roubo e a ladra, apanhada em flagrante. A mulher confessou e, humilhada (diz quem escreveu a notícia), admitiu que lhe apeteceu um caramelo mas que não tinha os 78 cêntimos.  O agente da polícia, comovido (também diz quem escreveu a notícia), pagou os 78 cêntimos do seu bolso, a mulher foi embora e alguns clientes aplaudiram. [Read more…]

A dor vestiu-se de mulher

adão cruz

A dor vestiu-se de mulher.
A dor vestiu-se de mulher de terra e flores e voou para lá das nuvens onde mora o vento.
A vida é um lugar muito longe lá para as bandas do sonho nas margens do silêncio na arte do encontro – desencontro na alegria de ser triste.

Nesta Galiza de poetas e água e céu e solidão onde um mar de rias baixas desagua dentro de nós pinta Jordi um rosto de mulher a ocre terra-siena e carmim.
…Que os cabelos e os jardins querem-se soltos e naturais como as aves e as manhãs.

Um homem nu toca Mussorgsky ao vivo como se Jordi pintasse Quadros de Uma Exposição.
Bem perto daqui há muito foi sonhada Nostalgia mas ninguém viu a luz vermelha fendendo as águas verdes e a dor já se vestia de terra e flores e a dor já fugia para lá dos montes onde moram mulheres de vento.

A sardinha quer-se como a mulher

(Foto do "Super Receitas")

Diz o povo que “a mulher quer-se como a sardinha: pequenina”.

Pois eu prefiro a sardinha como a mulher: boa. E sardinha boa é coisa cada vez mais rara. Não sei se se passa o mesmo convosco, mas este ano só me tem caído no prato sardinha congelada, e em pleno S. João. Uma miséria.

ninguém toca na minha mulher. eu preciso dela como ela de mim

eu precisso dela como ela de mim

Para nossa desgraça, hoje de manhã, enquanto tratava de cumprir os meus deveres com Aventar, a irmã de uma amiga de minha mulher foi assassinada. Não sabemos nem o motivo, nem o nome nem esse porquê necessário para entender a nossa vida. Apenas sabemos que ela colaborava comigo para Aventar, a presa, para sermos capazes de entregar um texto solicitado para hoje antes do meio-dia. Era impossível cumprir o pedido. Como é natural, Maria da Graça que sabe ironizar bem, perguntou-se com tristeza: como é que as mulheres não se sabem defender? Ripostei: nem todas, mas há muitas, como escrevi no texto que reproduzo cá para não esquecer

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o dia internacional da mulher no natal

o trabalho que dá à mulher comemorar o dia de natal

Nestes dias, temos falado de Natal, de Orçamento de Estado, de presentes, mas nunca da mulher internacional que prepara estas festas. Essa mulher que trabalha, não apenas para ganhar um ordenado, mas também em labores domésticas, como esse de preparar o natal e as comidas da festa, limpar a casa, limpar às crianças a casa, os tachos e ornamentar a mesa da festa. Difícil tarefa especialmente em dias como este, com frio, chuva e lama que desfaz ornamentos, suja a casa, dá frio e sono e faz das crianças uma sujidade, após banhos, penteados que as mães têm tomado esse especial cuidado para mostrar o melhor do melhor. Será que consegue? Para saber, falemos de mulheres…

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Os grelos

(Pormenor de quadro de adão cruz)

Eu seguia rua abaixo, pelo lado esquerdo de Sá da Bandeira. À minha frente ia um casal, ela de meia idade, gordinha, ele mais velho, hemiplégico, de bengala na mão direita, arrastando a perna esquerda, pendendo sempre para a direita, trajectória que a mulher ia corrigindo com um pequeno toque na mão dele. Se assim não fosse, as sequelas do seu AVC, à semelhança de um GPS, obrigavam-no a tombar para fora do passeio.

Lá mais ao fundo, frente ao Pingo Doce, o homem, como se uma mola o puxasse sempre para aquele lado, faz, com toda a facilidade um rodopio de noventa graus para a direita, ficando em linha recta com a porta do supermercado. A mulher olha para a direita e para a esquerda (look right  and look left, à londrina) e atravessa a rua, tendo o cuidado de pegar na mão do marido, pois de outra forma, com a sua pendência para a direita, ele iria desembocar dez ou vinte metros acima.

Já dentro do Pingo Doce, resolvi seguir os passos daquele par amoroso, ao mesmo tempo que ia dando uma olhadela às prateleiras que me interessavam. A dada altura verifiquei que o homem parou, olhando insistentemente para o sítio onde estavam as carnes de porco. A mulher puxou-o mas ele resistiu. Apoiou-se na prateleira, encostou a bengala, e com a mão direita pegou numa embalagem contendo uma orelha de porco. Imediatamente a mulher gordinha o dissuadiu dizendo-lhe:

 – nem penses, vou-te comprar uns grelinhos que vi ali e que têm um aspecto do carago!

– Que se fodam os grelos, respondeu ele de forma bem entendível, apesar da fala meia entaramelada.

Só tive tempo de dar meia volta e tapar a boca com a mão, a fim de abafar uma explosiva gargalhada, que eu não saberia explicar aos circundantes.

amar uma mulher

o amor dos meus amores, pela sua doçura, paciência e dcompanhia

…para a mulher que trata de mim… ela sabe quem é

 

Não é simples definir a palavra amor. Ainda mais, se estamos apaixonados por ela.

Por ser um sentimento, é capaz de não precisar definição. Os sentimentos vivem em nós, multiplicam-se em nós, fuzilam-nos sem morrer e fazem de nós seres felizes, especialmente se tratam da nossa saúde, não no sentido calão de ironia, mas na realidade tomam conta de nós e ficam tristes se vêm que nos próprios, aparentemente, não cuidamos estes corpos doentes e envelhecidos, que, não entanto, ainda têm a força de trabalhar com ímpeto e gracejo.

Amar uma mulher hoje em dia, e que o amor permaneça ao longo do tempo, com a fiel companheira da nossa cronologia, que apenas tem um homem, esse que a ama e mais nenhum, que eu saiba. Não pior felonia que as mulheres que amamos, por causa da sua libido, andem também com outros, esse amor que em todos os meus textos, denomino amor de meia hora, que não exprime sentimentos nem apoio. Se assim for, seria uma prostitua e era mais fácil pagar às senhoras de rua que amar a nossa

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o crescimento das crianças (5ª parte – o que sou)

entre os Picunche, linhagem patriarcal, a autoridade é da mulher.

 

 Queira o leitor lembrar de que gostava de debater, enquanto transfiro parcialmente para si meus dados de trabalho de campo, pelo menos dois assuntos centrais. Um, é que as crianças que crescem, o fazem na medida de que a memória social impinge a sua memória individual. É dizer, que a criança que temos em frente a crescer, é resultado do saber acumulado cronologicamente no tempo. No tempo que a criança vive e que os ancestrais andaram a viver, perto ou longe do tempo da criança. O saber é contínuo, embora conjuntural nas suas mudanças. O processo educativo que resulta da interacção de um mesmo povo, a traves da Historia, ou com outros povos a traves também da Historia, é o que faz o que sou. Um segundo assunto, é que esta racionalidade da criança, indivíduo com uma epistemologia acumulada também, é diferente da racionalidade cognitiva do adulto. O entendimento é diferente. As várias gerações que vivem dentro do mesmo tempo, têm tido experiências diversificados, quer pelo ciclo, quer pelo tempo que a pessoa leva na Historia do seu ser social. Experiências que são emotivas, mas orientadas pela razão, porque a criança observa para calcular, e calcula. Eis que tenho levado ao leitor ao longo de tempo, para trás e para frente, como a linguagem Internet permite, reiterando casos e a abrir lentamente as historias, em torno ao elo processual que Victoria, Pilar e Anabela, estruturam do processo racional da reprodução social. Comparar três povos de diferentes línguas e experiências, não é simples, mas é interessante para quem trabalha os dados do quotidiano. Um quotidiano prolongado para mim, porque os Picunche os conheci sempre, os de Vilatuxe faz trinta e cinco anos hoje, e os de Vila Ruiva, vinte e dois. E queira o leitor entender que somos poucos a estudar à criança como entidade humana que entende e aprende e não é um problema a resolver. Os adultos procuram que a criança seja um adulto em pequeno,

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Vimes

A mulher que amanha o peixe

A mulher que amanha o peixe

Sempre que a vejo no supermercado onde vou, reconheço que não é por acaso. Muito bonita a mulher que amanha o peixe – não sei se amanha se amanhece! -.

Rosto combatido, dorido, olhar sofrido e manso, não sei o que faz desta mulher um poema, se os olhos negros e fundos, se o desenho rasgado da face, se um gesto brusco da natureza revoltada de cansaço. [Read more…]

O futuro de Anabela Lopes de Abrantes

O futuro de Anabela Lopes de Abrantes

Em desespero, nos anos 80 do Século passado, procurava uma casa para o meu projecto de pesquisa sobre O Saber Letrado, financiado para mim e equipa pela antiga Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT), que muito bem nos tratava, hoje Fundo para a Ciência e Tecnologia (FCT). Éramos vários. A casa devia ser grande e isolada: demanda da minha equipa!

Acabava de estudar as mentes dos membros da aldeia de São João do Monte. Para esse estudo, residi na casa de um pastor de ovelhas, com a sua mulher e os seus filhos. Aluguei-lhes um quarto. Às vezes, cozinhava o meu comer, outras, era convidado pela família. A pesquisa demorou um ano: nem sempre podia estar na aldeia, situada a oito quilómetros de distância da Vila de Nelas, sede do concelho. Usava um carro Morris, desses pequenos, denominado mini Morris. Carro trazido da Grã-Bretanha, com o volante do lado direito. Um desespero! As ultrapassagens eram impossíveis, não havia auto-estradas em Portugal, apenas a A1, ou Lisboa – Porto, desenhada para entrar em todas as cidades. Um desespero! Mas, nós que gostávamos de pesquisar, não nos importávamos. Íamos. Éramos fortes. Tínhamos imensa paciência. De Lisboa a Nelas, era preciso passar por Coimbra, pelas intermináveis curvas da estrada da Beira. Entre Coimbra e Nelas, pelo menos cinco horas de condução, e entre Nelas e São João do Monte, mais uma hora. A sorte foi ter acabado num livro intitulado Fugirás à Escola para Trabalhar a Terra. Ensaios de Antropologia Social, publicado em 1990 b), pela antiga Escher, hoje Fim de Século. O livro acabou por ser publicado também em Paris, pela Editora L’Harmattan: Échec Scolaire ou École en Échec? que até ao dia de hoje não pagou nem meio cêntimo pelo texto…mas vender, vendeu e bem, com 2ª edição. Como dizem por ai, todo o escritor de livros de ciência, é um escritor pobre….A minha pesquisa acabou na rodagem de um filme, realizado por Sarah Harrison, Alan Macfarlane e eu: Of priests, peasants and, peacocks gravado em DVD na Biblioteca da Universidade de Cambridge, Universidade a que os três pertencemos. Com esse filme, acabei a minha pesquisa em São João do Monte: o início foi desesperante, ninguém queria falar comigo, fugiam, escondiam-se, eu tinha que meter um pé entre a porta e a aduela da mesma. Tanto insisti, que acabaram por ser meus amigos e contaram-me as suas histórias de vida. Mas, fiquei farto e cansado, cheio de frio, sobretudo no inverno quando ia pastar as ovelhas com o Manuel, o senhor da casa onde eu morava. A sua história de vida era tão criminosa que não a reproduzi, publiquei apenas alguns excertos na nossa Revista Ler História.

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a doçura de uma mulher

O parvo sonho de todo homem

para Rita Conde, amiga impagável, que me salvou o texto…

Não é simples escrever sobre a doçura de uma mulher, depois de ter escrito que as mulheres não gostam de nós. Sobretudo, pelos comentários que o meu ensaio recebeu, a maior parte de mulheres. Também não é simples por me parecer sentir nos meus ouvidos: caramba, este tipo parece gostar das melhores fêmeas. E não simples, porque no país machista em que vivemos, todo o homem com desejo libidinoso, gostaria de beijar esse corpo que escolhi entre várias imagens de mulheres belas. Mulheres que não falam, só se exibem e mostram as suas intimidades levemente escondidas por um pano, em frente de uma paisagem maravilhosa.

Se os meus sentimentos forem orientados pela libido que Freud tão bem estuda e analisa nos seus textos, por mim sempre citados como uma bíblia, o de 1906, Três ensaios sobre a sexualidade e o de 1923, O Ego e o Id, que aqui pode ser lido. Por os ter já comentado diversas vezes em anteriores ensaios, gostaria, apenas, de dizer, como Freud, que não é o sentimento libidinal o que orienta as nossas emoções. Não é a coxa nua da mulher da imagem, a que acorda os nossos sentimentos. Os nossos sentimentos são orientados pela companhia da mulher que acabamos por sentir ser a nossa companheira nas aventuras da vida. [Read more…]

Poemas do ser e não ser

Delicadamente

ela abriu a blusa e levantou os olhos

decidida.

Era uma mulher de guerra combatida

daquelas cuja face conta a história.

Mansamente baixou a medo as alças do soutien

inclinou a cabeça e fechou os olhos

à espera da minha mão.

Depois

comemos pão de centeio molhado num golpe de azeite

bebemos um capitoso vinho

e fomos à procura de uma paisagem com cegonhas.

Poesia no feminino (Homenagem a Lurdes Rocha Girão)

O meu amigo de infância, Luis Moreira, conhecedor do quanto admiro a MULHER, pelo amor que recebi de minha mãe e irmã e pelo mistério que a envolve, desafiou-me a escrever um texto no dia que alguém entendeu designar como “O DIA MUNDIAL DA MULHER”.

Para mim todos os dias, tal como para o Homens, é dia da mulher e por isso considero um absurdo e um símbolo da discriminação que a sociedade continua a fazer quando já estamos no século XXI.

Decidi por isso aproveitar o desafio do meu amigo para revisitar legados da minha querida mana, falecida em Novembro do ano passado. Encontrei um livro “Janela Indiscreta” de uma poetisa (Paula Salema), sua amiga, onde ela escreveu o prefácio que a seguir transcrevo:

Prefácio
Apesar da Idade que nos separa, somos amigas de longa data, e foi por isso que acedi a escrever este prefácio, no entanto tentei ser imparcial e isenta. [Read more…]

A mulher na gestão escolar


Fui convidada a escrever no Aventar por ocasião do chamado “dia da mulher”! Decidi falar sobre o “produto” da minha interessante actividade profissional!
Dedico-me à direcção da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, instituição de ensino superior público que integra o Instituto Politécnico de Santarém desde 1997. Até meados dos anos 90, a formação em desporto centrava-se na educação física escolar, sendo que em algumas escolas era incluída eventualmente uma especialização em determinada área.
Foi então aventada a criação de uma escola com formação especializada nas áreas do desporto mais emergente. A Escola Superior de Desporto de Rio Maior abriu portas em Setembro de 1998 e tem tido um crescimento exponencial desde então, quer em n.º de alunos quer de professores. [Read more…]

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