O insignificante mercado interno

Da forma mais simplificada possível, o que é a política de austeridade? Eu que não sou académico vejo a coisa assim: o estado reduz drasticamente o investimento na economia interna, aumenta os impostos, corta nos salários, pensões e apoios sociais e despede trabalhadores para ter dinheiro para cobrir o défice e reequilibrar as contas públicas. Sim, eu sei, é uma explicação muito limitada, mas é aquela que a maior parte das pessoas conhece.

Acontece que as contas continuam fraquinhas e isto não está com aspecto de melhorar. Se calhar a austeridade não funciona. Já há algum tempo que andam por ai uns perigosos radicais de esquerda (que até têm uns prémios Nobel), que dizem mesmo que a boa da austeridade ainda piora a situação. Mercado interno, espiral recessiva blá blá blá… Fundamentalistas. Incitam-nos a dizer não a mais austeridade!

Mas os gajos que mandam nisto insistem que é mesmo por ai. Austeridade para a frente! E no meio de tudo isto, o “insignificante” mercado interno vai desaparecendo nas brumas da espiral recessiva. Ficam os hipermercados e as exportações. God save PSI-20 and the Netherlands!

A China e a India e a miséria dos seus povos….

A China e a India conseguem aumentos do PIB a roçar os 10%, porque as suas economias assentam no lado da oferta, baixos salários, nenhuns ou baixíssimos apoios sociais, não têm consumo interno.Estão virados para a exportação para a rica Europa e Estados Unidos. Acontece que estes dois deixaram de ser ricos, não compram, a China, A India e outros países com a taxa do PIB a crescer a dois dígitos vão ter que desenvolver o mercado interno.O Brasil está no rol, nos últimos dez anos tirou 40 milhões de pessoas da pobreza.

Só os mercados internos da China e da India, se e com capacidade de compra eram suficientes para dar um piparote na crise mundial, e arrastar as economias não só dos países desenvolvidos mas tambem de muitos países em desenvolvimento.Acontece que isso tambem levanta problemas. Desde logo uma corrida às matérias primas e consequente aumento de preço, lá se vão as jeanes a cinco euros…

Depois povos com as necessidades essenciais resolvidas começam a pensar em coisas perigosas como sejam a cultura e o conhecimento e isso leva a problemas sociais e políticos…

A Europa e os Estados Unidos têm que travar de vez a “bolha financeira” que não corresponde à economia, isto é, não representa a riqueza criada e deixar de vez de acreditar piamente, naquela máxima: “dá o teu dinheiro aos bancos que eles sabem melhor do que ninguem onde aplicá-lo” porque como se vê é falso!

Podemos e devemos queixar-nos mas a verdade é que fomos nós, pessoas, que achamos possível ganhar cada vez mais, que os bancos nos davam cada vez mais dinheiro na remuneração dos nossos depósitos, que andamos a comprar sapatilhas a um euro,(assente na exploração do dumping social) como se tudo isto fosse natural e sustentável.

Não é!

A salvação está nas PMEs exportadoras…

A EDP, a Galp, a CGD, os bancos, os centros comerciais, a TMN, a Refer, a Rave, as autoestradas, as pontes, o TGV, o aeroporto, as milhentas empresas que absorvem as mais valias do nosso trabalho, que não saem da órbita do Estado com boys e girls, as construtoras que apresentam milhões de lucros todos os meses, todas estas empresas não são chamadas quando toca o sinal de alerta!

São as PMEs que representam 80% do emprego e 70% do PIB que ninguem conhece, que não fazem primeiras páginas, que não vão ao Prós e Contras, essas, são as chamadas. Não pertencem ao PSI 20, nem frequentam os corredores do poder, labutam e operam em mercados altamente concorrênciais, onde ganha quem tem mérito, qualidade e preço competitivo. Estes empresários metem lá o seu dinheiro, muitas vezes garantindo empréstimos bancários com a propriedade da família, arriscando, persistindo…

Mas os melhores CEOs do Mundo estão nas grandes empresas de rendimento garantido, em monopólio ou perto disso, apoiados pelas “golden-shares” do Estado, onde trabalham os filhos e os netos de tudo o que é político ou que já foi, ganhando o que nunca ganhariam se estivessem num mercado livre.

Enquanto os portugueses não perceberem esta ganância, e andarem convencidos que estas empresas que vivem à custa do Estado e em condições particulares de “posição dominante”, são a chave do problema, nunca saíremos desta economia moribunda que não cria riqueza e que arrasta tantos cidadãos para a miséria. Sem aumentar a produtividade nem as contas públicas no “são” nos safam! Sem criar riqueza como pagamos as dívidas?

A prioridade são as empresas exportadoras que tambem substituem importações, que vendem valor acrescentado, que se dedicam a actividades onde o país tem vantagens competitivas. Peter Drucker, o célebre guru da gestão das empresas já cá fez um estudo a dizer tudo isto. Apontou as actividades a apoiar pelo Estado e os “clusteres” a desenvolver.

Mas, ao contrário, nos últimos trinta anos só ouvimos os políticos a defenderem as grandes obras públicas! Porque será?