Não se pode viver apenas do comentário da política e das vicissitudes de uma penúria que todos bem conhecemos e à qual tacitamente há muito nos resignámos. Assim, para começar o ano, aqui deixo este pequeno apontamento de um passado que conservo na memória
1968, arredores de Lourenço Marques. Era habitual a organização de convívios “à portuguesa”, onde não podiam faltar as sardinhas, a broa, os grelhados – onde pontificava o frango à cafreal – e o vinho da Metrópole, conhecido como “água de Lisboa”. Já Charles Boxer, na sua obra dedicada ao “Império Marítimo Português“, realçava a particularidade da colonização lusa, de recriar noutras paragens, aquilo que para trás deixara na Europa. Cidade cosmopolita, de arquitectura arrojada e avenidas grandiosas, a capital de Moçambique destacava-se na África Austral. Local aprazível para viver e trabalhar, era também, o local ideal para as crianças, onde a praia, os jardins, cinemas e campos de jogos, preenchiam as férias grandes de todos nós.
Naquele fim de semana, fomos os três com os nossos pais, a um daqueles convívios-quermesses, decerto com fins beneficentes. O local era a Quinta do Marialva, cujo nome denota o apego dos seus proprietários, a ecos longínquos da história portuguesa. A patuscada fez as delícias dos adultos e ainda hoje recordo o gigantesco coronel Anta, um autêntico sósia de Mussolini que conseguia devorar dúzias de sardinhas, abundantemente regadas de tinto. Quanto a nós, os miúdos, tivemos a recompensa do dia. Aquele género de feira era sempre maçadora, afastando-nos dos brinquedos, da praia e dos vizinhos que connosco conviviam no ocioso quotidiano de verão. Após o prolongado repasto, surgiu o inconfundível vulto do Gigante de Manjacaze (1944-90), o Gabriel Monjane que povoava a nossa imaginação de temores e curiosidade. Conhecendo-o através de fotografias em revistas e jornais, foi com surpresa e emoção que tivemos o privilégio de receber a sua particular atenção. O Gabriel gostava de crianças e era uma pessoa calma e tímida. Para nosso grande alívio, caiu para sempre, a imagem que dos gigantes construíramos, através de leituras infantis ou de histórias inventadas pelos adultos, para nos “obrigar a comer a sopa”.
Na foto, a minha mãe com a Ângela, o meu irmão Miguel que olha desconfiado e eu próprio, encadeado com a luz ofuscante do sol austral. Quatro anões aos pés de um gigante.
Creio que este homem foi depois exibido num circo, em Portugal, onde contracenava com um anão. Há uma fotografia de um jornalista estrangeiro (censurada em todos a imprensa portuguesa) do gigante e do anão, em 1970, junto do caixão de Salazar.
Ah, isso já não sei. O homem foi simpático connosco e gostava que lhe dessem atenção, como é normal. Felizmente acabaram essas ignomínias circenses e agora também já se fala em proibir a exploração dos animais. pouco a pouco, as coisas vão melhorando, apesar de tudo*
*Sou contra as touradas, já agora.
Lembro-me de o ter visto na falecida Feira Popular de Lisboa
Na feira Popular, sim, com anões…
Claro, usado como animal de circo!!! Que mais podia ser????Como todos eramos considerados(ate hoje)!!!
Compreendo bem o que quer dizer. Ainda hoje e em vários pontos do mundo, as pessoas são usadas como diversão. Mas deixe-me que lhe diga que essa tarde daquele já longínquo ano dos finais da década de 60, o Gabriel não foi de forma alguma, usado como “divertimento”. De facto, era apoiado por gente da empresa Sonap, a empresa dos petróleos que hoje é conhecida por Galp. Foi convidado para o almoço, como todos os outros. Ao contrário daquilo que poderíamos imaginar, não era de forma alguma um comilão. Almoçou normalmente, ao invés do famoso coronel Anta. De facto, “nem tudo o que parece, é”.
Gostava de ter informcao sobre a sua familia residente em portugal, soube por fontes fidedignas que deixou um filho de nome Eduardo Gabriel Mondlane. Sou mocambicano e com ligacoes familiares.
Amigo Gui
Posso-lhe adiantar que a familia do Gabriel mora em Paço d´Arcos. Como o meu filho é amigo do filho dele poderei possivelmente arranjar mais informações.
Tb sou Moç. e conheci o Gabriel na Beira.
Os meus pais também vivem em Caxias. O filho de Gabriel Monjane deve andar perto dos 40 anos, não?
Eu conheci o Gigante, como era conhecido como proprietario do Restaurante Alfacinha, em Maputo e ate aos dias de hoje e assim chamado, nessa altura ele ficava sentado na cozinha do Restaurante, enquanto a esposa atendia a clientela
Para o sh. que quer saber noticias do filho do gabriel monjane pode entrar em contacto comigo mouramaria@live.com sou irma do Eduardo gabriel filho de monjae
Como se chamava a esposa de Gabriel Mondlane?
O gabriel foi uma grande personalidade
Lembro me perfeitamente, estive a seu lado.Em Lourenço Marques nos anos 70.