É tão escabroso como isto: segundo uns jornais morreram em Coimbra já este ano 10 toxicodependentes aparentemente por overdose, segundo outras fontes foram só 4. Os técnicos policias ou não, sim porque de mortes técnicas falamos, apontam duas causas possíveis: heroína adulterada, como se circulasse no mercado de heroína que não o fosse, ou heroína não adulterada, tão pura que por engano os consumidores exageraram na dose.
A segunda hipótese não tem pés nem cabeça, heroína pura mata o primeiro, os segundos ficam avisados, além de que alguém a vender branca pura no meu bairro (sim, é do meu bairro que se trata) dá vontade de rir.
Tenham sido 4 ou 10, estas mortes têm uma explicação muito simples: indivíduos doentes são constrangidos pela lei a consumir todo o esterco possível e imaginário, em situações miseráveis, que se juntam à sua própria condição de marginalizados.
Houvessem salas de injecção assistida, e nada disto se passava. Portugal tem uma legislação razoável no que toca à posse das substâncias que a moral e os bons costumes considera ilegais, e que já deu muita luta para obter. Mas continua a misturar no mesmo pacote canibinóides e opiáceos, como se tivessem algo em comum, deixando por de lado, razões óbvias, as bebidas alcoólicas.
Na Suíça, onde a legislação avançou perante a evidência de que um heroinomano não deixará de o ser por decreto, e que ao estado cumpre tentar tratar, e não proibir, a taxa de mortes por overdose reduziu-se a um mínimo. Aliás muito gostava de saber qual a real causa das mortes atribuídas a excesso de consumo em Portugal: como esta triste estória demonstra nem sequer são autopsiados, ou seja, se andar um maluco a cortar cavalo com pó de talco nem um inquérito policial é aberto.
E quem ganha com tudo isto: o traficante, sobretudo o grande, que continuará a ganhar milhões à custa da infelicidade alheia. Já para não falar em toda uma lógica de pequena e média criminalidade associada ao consumo, e que a alguém deve interessar, ou o assunto estaria resolvido há muito tempo.
Tratar um toxidependente num hospital, dando-lhe a dose que necessita, é muito mais barato para o Estado, do que andar a proteger fronteiras, lanchas no mar, polícias em terra, gente a morrer de doenças e que tambem acabam nos hospitais. O problema é que há muita gente poderosa a ganhar dinheiro com a desgraça alheia…
“a alguém deve interessar, ou o assunto estaria resolvido à muito tempo.”
Isso é de certeza. Não são só os sucateiros que têm boas relações comerciais com os partidos.
A droga alimenta muita coisa, muita gente. Restaurantes caros, carros caros, barcos caros, roupas caras, sapatos caros, casas caras, decorações, televisores, telemóveis, relógios. e nunca mais acaba, tudo o que seja caro.
Ou quem é que julga que compra essas coisas?
Mas quem anda a fazer essas misturas, devia expandir os seus conhecimentos.
Acabava tudo mais depressa.
e se quem anda a fazer misturas é um louco? ou um assassino? ou um simples amargo por conta da dor? falou-se em ajustes de contas por conta do tráfico…. não tenho opinião formada sobre as salas de injecção assistida, mas acho que cada vez mais é urgente promovermos esta discussão.
e porque não fazer também como em espanha dando a heroína aos heroínomanos considerados incuráveis? concordo com o Luís.
Aliás , muitos toxico recorrem a um truque : quando a dose habitual já não bate , e têm de comprar muito mais para ter algum efeito , fazem o choradinho no Cat , desintoxicam e pronto , limpinhos prá dose bater outra vez. Não têm a mínima intenção de largar o consumo.