A Tirania do Preconceito

O texto de Francisco José Viegas recordou-me como a opinião publicada é ainda mais centralizadora que o Estado.

No passado foi a relação extraconjugal de Sá Carneiro – onde andavam os meninos e as meninas da esquerda caviar por essa altura? Depois foi Cavaco Silva e as suas origens modestas. Hoje é Passos Coelho o filho de um médico de província que vive nos arrabaldes da suspirante metrópole.  Como sempre foram o António, a Maria, a Felisbela, o Fernando, o Marco, a Isabel, o Carlos, o Jorge ou o Rui nascidos no Porto, em Vila Real, Viseu, Évora, Faro ou Braga e sempre desconsiderados por essa pretensa elite pensante por não terem nascido no eixo Lisboa-Cascais nem serem filhos de distintos Republicanos da capital ou de Monárquicos do mais puro-sangue azul.

Depois são os gordos, os baixinhos, as gordas e as baixotas, os feios e as feias, as desdentadas ou os carecas. É a tirania. Qualquer coisa serve para afastar os que não pertencem à clique. Os que não se enquadram na célebre máxima das públicas virtudes/vícios privados ou que não nasceram/vivem no bairro de Alvalade, nos quelhos do Estoril, nas vielas de Cascais ou nas belas propriedades de Sintra, sem esquecer a Lapa. Nós, os bárbaros, nascidos entre os calhaus do Douro, os batatais do Minho, as tripas do Porto ou os móveis de Paços/Paredes/Rebordosa, eu sei lá que mais, servimos apenas como meros adereços, como motoristas ou criadagem. Até ao dia, um dia, destes.

Normalmente, nas horas de aperto, quando o país se afunda e o povo se farta, eles, os bárbaros, são chamados a por ordem na latrina irrespirável. Quando assim acontece, os outros, os puros, os arianos da treta, lançam mão deste tipo de atoardas mostrando a sua verdadeira natureza: por muito banho que tomem, por muito que raspem e voltem a raspar com esmero a planta do pé, não há meio da terra, essa marca indelével da nossa estirpe, desaparecer.

Foi deles, destes senhores e destas senhoras pertencentes à tirania do preconceito, que me lembrei quando vi os ataques de que foi alvo Elisabeth.

Douro Vinhateiro

Ricardo Quaresma regressa ao Dragão

E o ciganinho vai mesmo voltar.
Pareço bruxo!

Agrupamentos Escolares

quem sabe é quem decide e não um pombo

Continuação do meu artigo intitulado Senhor Primeiro-Ministro publicado em 23 de Junho último.

Transferir-se de um país para outro, nem simples nem fácil. Sim Senhor, bem sei que falta o verbo dentro da frase anterior, mas está escrito propositadamente. É uma frase de final de decisão. Na Grã-Bretanha não tinha mais nada a fazer, excepto educar as minhas catraias, que estavam já educadas. E caso fosse necessário, bastava apenas apanhar um avião e resolver os problemas, como fiz, ou traze-las para Portugal, como também fiz. A vida debruçava-se entre dois pontos. Dois pontos diferentes entre si. Como tenho reiteradamente dito, no Reino Unido estava tudo feito na vida escolar e académica, em Portugal tudo estava para ser feito. Pareceu-me que era o meu destino, ficar em Portugal. O que acabou por acontecer até ao dia de hoje. [Read more…]

Flores de Hulk para Alycia

De vez em quando aparecem gajos capazes de uma banda desenhada num campo de futebol.

Falham.

Insistem com a solidariedade dos amigos. Solidariedade é uma palavra bonita, comuna e bonita.

– tenho de te deixar esta flor, Alycia, é a minha despedida, já não és.

Aliás 3.

Numa cerimónia privada, sem televisão, como devem ser as despedidas. Há mais clubes no mundo capazes e sabedores, que no relvado pisam pessoas, e o futebol são elas, no mundo, e não são muitos, o que é pena, as flores de Hulk para Alycia foram versos, não foram golos de jornada.

– adeus Alycia para ti 3 flores, só consegui 3.

FC Porto 4-2 Genk
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Super-Hulk no FC Porto-Genk e o golo fabuloso do Super-Quaresma na Liga Europa


E agora, vamos lá ganhar a Liga Europa!

Posso escolher já o adversário? Venha daí o Besiktas do nosso ciganito…

Os golos do Sporting em Brondby – Leões asseguram a continuidade na Liga Europa

Com a vitória por 3-0 sobre o Brondby, na Dinamarca, o Sporting assegurou a passagem à fase de grupos da Liga Europa. Os golos da equipa ‘verde-branca’ foram marcados por Evaldo (45 m), Nuno André Coelho (75 m) e Yannick, quando já havia transcorrido metade do desconto de tempo concedido pelo árbitro.

O Sporting foi feliz, ao obter o primeiro tento em cima do intervalo e o terceiro no período de descontos. Todavia, o grande impulso para o favorável desfecho foi dado pelo golo do ex-portista Nuno André Coelho, obtido com um remate a cerca de 40 metros da baliza, a que o guarda-redes Andersen, do Brondby, respondeu com um “frango”.

A ganhar por 2-0, a exibição  melhorou gradualmente e, contra a maioria das previsões, os “leões”afastaram da competição o Bronbdy, equipa vencedora em Lisboa.   

Certidão de óbidos

(adão cruz)


(Texto de Marcos Cruz)

CERTIDÃO DE ÓBIDOS

Tenho uma amiga que não sabe de onde veio, ou de quem veio, mais precisamente. Veio ter comigo assim, de repente, do nada, como terá vindo ter com ela mesma. Depois de algumas conversas, e percebendo que, embora perdidos na encruzilhada de sentidos que a vida nos aponta, ambos vivíamos em nós mesmos, e por isso nos entendíamos, confidenciou-me que o segredo da sua génese lhe fora sonegado desde que mostrou curiosidade sobre ele. Fê-lo, claro, porque faltavam cartas na mesa. Desorientada, naturalmente, disparou em todos os sentidos, como uma mãe que procura um filho desaparecido, tocando nos ombros de cada oportunidade, à espera de que ela se vire e a cara lhe sorria. Desenvolveu a fé. Falhou, falhou, falhou. Foi aprendendo, por razões de sobrevivência tão intimamente ligadas a quem tem algo de fundamental para encontrar, mesmo não sabendo o que seja ou não tendo pistas sobre onde esteja, a retirar de cada falhanço a ilação certa, o aspecto bom. Reverteu em amor o que para quase todos seria medo e ódio, uma vida amarga, um mar de espinhos. Como a roda de um carro, ou talvez de uma bicicleta, dada a sua propensão, de raiz dedutível, para as coisas mais transparentes, menos engenhosas, foi acima e abaixo, ao oito e ao oitenta, e entre ambos chegou a deixar de rodar, por uns tempos. Ou seja, tentou tudo. O aconselhável e o impensável, o sensato e o louco, a diluição no colectivo e o radicalismo individual. E os tons do meio, tantos quantos pôde, até hoje, coleccionar. Quando, numa dessas vagas, deu comigo, era como se quase não lhe faltassem peças do puzzle mas não soubesse onde as pousar, como se não tivesse chão. Propus-lhe um uso incerto do meu, algures entre a realidade e a fantasia, um meio conto. Parecia decidida a ficar, a permanecer, mas acabou por deixar o meio conto a meio, não sem antes se fazer valer da experiência acumulada na sua busca pessoal para me desbloquear uma veia criativa, uma via construtiva, e acender mais uma luz no sentido da minha vida, ironia de um destino que ela, então, não reconhecia como tal, ou não reconhecia de todo. Foi para casa, para Óbidos, a terra onde nasceu. Ter-se-ão passado dois meses. Hoje recebi uma carta dela. Lá dentro, li que não lhe importava já outro sentido na vida do que estar bem e em paz, e sorrir, com dignidade, esteja onde estiver, faça o que fizer, seja qual for o desafio que lhe aparecer pela frente. A questão terá deixado de ser descobrir o sentido da existência para passar a ser existir em todos os sentidos. Nos dela e nos dos outros, como existe, de facto, no meu. Pensando nisto, aliás, perguntei-me se o verdadeiro sentido da vida dela, por paradoxal e até algo triste que enganadoramente se afigure, não seria ajudar os outros a encontrar o sentido da vida deles. Varrendo com uma mão os pensamentos e já quase a guardar, com a outra, o envelope, estremeci de surpresa quando, ao passar os olhos pelo remetente, li: Rua do Cemitério. Então, não me perguntem porquê, tive a certeza de que a minha amiga estava bem, como que renascida. Aquela carta era uma certidão de nascimento. E, pelo que não deixa de ser outra ironia do destino, uma certidão de Óbidos.