EDWARD WESTERMARK
HUMAN MARRIAGE ON THE HISTORY OF MANKIND , MacMillan Press, Londres, 1891
Este texto foi escrito como tese de doutoramento, em pleno apogeu do debate das ideias de Darwin e da evolução das espécies. Era também a época em que a psicologia começava a mudar: de ser uma simples análise da mente humana e do habitat ecológico onde essa mente morava, para a análise do que essa vizinhança social e emotiva, causava entre as pessoas que nem sempre estavam satisfeitas com as suas formas de vida e com as relações de vários outros seres humanos. O médico Sigmund Freud começara, em 1889, a entender que não era a ecologia social a que danava a mente humana, mas as pessoas danavam-se emotivamente ao querer obter o que parecia impossível, como analiso no meu texto de Abril de 2009: O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade, e – book editado pelo Repositório do ISCTE e o Repositório Nacional, ligação ao do ISCTE-IUL: https://repositorio.iscte.pt/handle/10071/1459. Freud podia provar que a evolução da mente humana transcorre dentro de ela própria, por causa da descoordenação entre as tendências do instinto humano (Id). A realidade organizada da psique (ego), e a função crítica e moralizante do super ego reprimem o desorganizado Id, parte da estrutura da personalidade que contém dentro de si os impulsos básicos e desorganizados da personalidade ou o si próprio em que o inconsciente não consegue apaziguar os desejos do consciente que procura o que social e individualmente estava eticamente proibido pelo consciente, entidade social da mente. Ideias que usa Westermarck, como as de Darwin, no livro que lhe causara fama, mencionado antes, ao analisar o que é o elo da vida social, a sexualidade dos seres humanos e a procura da sua satisfação, No Capítulo I do livro I, Westermarck, começa com esta ideia: O Matrimónio normalmente é um conceito que designa uma instituição social….Por outras palavras, o Id que impulsiona o
ser humano na procura do prazer – aos homens todas as mulheres e às mulheres todos os homens ou outras actividades libidinosas com quem lhes apetecer -, é contido pela parte social da mente, o ego, e sublima o superego que quer devanear entre alternativas socialmente anti-éticas. Freud, por acumulação de descobertas, define estes conceitos no seu ensaio de 1920 Beyond the Pleasure Principle, elaborados e formalizados três anos mais tarde, no seu texto The Ego and the Id. As propostas de Freud, em consequência, as ideias de Westermarck e Malinowski mais tarde, sofrem a influência da ambiguidade do conceito freudiano do unconscious e a conflituosidade dos seus vários usos por diversas teorias analíticas. Parece ser este o motivo pelo qual não se detêm nas ideias freudianas, pois a teoria do inconsciente não lhes resolve o problema de provarem que a humanidade nunca foi promíscua. Bem ao contrário, para Freud, especialmente no livro Totem e Taboo de 1913, compara os doentes neuróticos ocidentais com as supostas formas de vida promíscuas dos nativos da Austrália Central. Não é por acaso que Freud subintitula o texto como Semelhanças entre a vida psíquica dos selvagens e dos neuróticos. O autor compara os ritos de povos primitivos com a neurose, relacionando o significado original do totémico com o processo pelo qual passa o desejo inconsciente. O termo neurose foi criado pelo médico escocês William Cullen em 1769 para indicar desordens de sentidos e movimento causadas por efeitos gerais do sistema nervoso. Na tal que, embora cause tensão, não interfere com o pensamento racional ou com a capacidade funcional psicologia moderna, é sinónimo de psiconeurose ou distúrbio neurótico e se refere a qualquer desordem entre as pessoas. Essa é uma diferença importante em relação à psicose, desordem mais severa. A palavra deriva de duas palavras gregas: neuron (nervo) e osis (condição doente ou anormal). Fonte, os livros citados de Freud, as minhas analises desses textos e o meu livro O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade e as palavras logicamente sintácticas de http://pt.wikipedia.org/wiki/Neurose.
A teoria freudiana não ajudava. Bem pelo contrário, definia os ocidentais como doentes por não poderem materializar os seus desejos reprimidos pelo Id a consciência da moralidade dos acontecimentos. Westermarck teve que recorrer às definições egocêntricas do mundo ocidental, procurando leis de povos antigos, classificados como primitivos, ou de legislação de povos actuais, pretensamente promíscuos, mas legislados pelos códigos actuais. Como instituição, as leis primitivas definem uma relação entre um homem e várias mulheres ou várias mulheres e um homem. União reconhecida pelo costume e/ou a lei. Este comentário faz-nos pensar nos direitos e deveres que este tipo de união envolve entre diferentes sociedades e culturas. Comenta logo a seguir, os deveres dos adultos com os descendentes, como Westermack tinha definido noutro livro, do ano 1906. Malinowski, pela sua parte, com renovada dinâmica procura, enquanto vive com povos não ocidentais, provar que a teoria de Freud não era aplicável a outros sítios que possuíam uma estrutura diferente e investiga a relação entre homem e mulher que procriam para transferir aos descendentes masculinos púberes para a casa do irmão da mãe. Ambos descobrem que o matrimónio é uma instituição e não uma forma de vida promíscua de vida entre os não ocidentais, denominados também não civilizados. Concebem, assim, que o conceito de matrimónio não é unívoco, de que há varias formas, em consequência, várias definições que implicam diversos direitos e deveres, dependendo do contexto histórico-cultural em análise. Westermarck, passa, a seguir, a estudar esses deveres e obrigações: os sexuais primeiro, e o cuidado da infância, a seguir. A relação sexual, para gratificar a pessoa que acompanha no dia-a-dia, sendo esta relação um direito adquirido pelos que se acompanham em matrimónio. Acrescenta que a relação sexual, entre os povos pensados como promíscuos, não é necessariamente exclusiva, como o costume e a lei reconhecem ao se absterem de definir essa exclusividade, excepto se o adultério for uma proibição punida como ofensa. Ofensas que permitem ao outro/a, solicitar a dissolução do matrimónio, contravenções que nem sempre são punidas. Da sua investigação conclui que o estado matrimonial não é apenas uma situação de satisfação sexual, é também uma instituição económica, que pode afectar os direitos de propriedade, se os bens passam a ser em comum, ou se os bens ficam dentro da família de um dos cônjuges, quem paga esse não uso da terra própria enviando os seus descendentes, já adultos, para as trabalharem, com direito a casamento com uma pessoa da família e procriar com ela. É como o caso estudado por Radcliffe-Brown na África do Sul ou por Raymond Firth, entre os Maori. O livro que pode ser lido em: http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=10659090, no Capítulo III, comenta a hipótese do matrimónio promíscuo, absolutamente diferente dos comentários do Capítulo I do debate entre a instituição matrimonial, já definida, e as ideias sem base empírica ou documental, escritas pelos sociólogos e antropólogos do tempo de Westermarck, que tem por título: A criticism of the hypothesis of promiscuity: alleged instances of peoples living in promisicuity. Diz no capítulo referido que haveria uma interferência entre pais e crianças a viverem como uma família na vida primitiva, opinião oposta à dos sociólogos que têm escrito sobre idades antigas da história da humanidade, como Westermarck, com base em documentos e pesquisa empírica entre grupos sociais que têm subsistido até ao dia de hoje. A hipótese de Westermarck é que o grupo doméstico é uma conjuntura favorável para a sua reprodução por consistir num casal e nos seus descendentes, vivendo juntos e colaborando como uma família. Os sociólogos que cita têm uma opinião contrária; com base em suposições, retraindo o presente de etnias actuais com estrutura social muito elaborada, mal entendida por eles, ao denominá-las promíscuas. Normalmente afirmam que a raça humana deve ter vivido em configurações sociais sem matrimónio individual. Todos viviam numa horda, a tribo com acesso indiscriminado de todos os homens a todas as mulheres; as crianças nascidas destas relações pertencem a todos por igual, com o dever de tomar conta delas, criar, amamentar, ensinar a caçar, lutar e ganhar as guerras, ou pelo menos, aprender a fazer a guerra. Esta opinião tem sido exprimida por académicos como Bachofen, McLennan, Morgan, Lord Avebury, Giraud Teulon, Lippert, Kohler, Post, Wilken, Kropotkin, Wilutzky, Bloch, e muitos outros. Fonte para este troço do meu texto: Short History of Human Marriage, (1926), uso o texto traduzido para Castelhano em 1984 pela Editora Laertes S.A.de Ediciones, Barcelona, que pode ser lida em: http://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=10659090. O Volume I do livro de Marx O Capital, Capítulo 3, tem uma nota de rodapé que cita dos cientistas enganados: Bachofen, Das Mutterrecht, pp. xix. xx. 10. Idem, Antiquarische; Briefe, p. 20 sq. McLennan, Studies in Ancient History, pp. 92, 95.
Idem, Studies in Ancient History. Second Series, pp. 55, 57; Morgan, Systems of consanguinity and Affinity, pp. 480, 487sq. Idem, Ancient Society, pp. 418, 500sqq. Avebury, Origin of Civilisation, p. 68sqq. Idem, Marriage, Totemism and Religion, p. 3sqq. Giraud-Teulon, Les origines du mariage et de la famille, p. 70. Lippert, Kultur geschichte der Menschheit, ii. 7. Kohler, “‘Ein Beitrag zur ethnolo
gischen Jurisprudenz,'” in Zeitschr. vergl. Rechtswiss. iv. 267. Post, Die Geschlechtsgenossenschaft der Urzeit, p. 16sq. Idem, Die Grundlagen des Rechts, p. 183sq. Idem, Studien zur Entwickelungsgeschichte des
Familienrechts, p. 54sq. Wilken, “‘Over de primitieve vormen van het huwelijk en den oorsprong van het gezin,'” in De Indische Gids, 1880, vol. ii. 611. Idem, Das Matriarchat bei den alten Arabern, p. 7sq.
Kropotkin, Mutual Aid, pp. 86, 313sqq. Wilutzky, Vorgeschichte des Rechts, i. 12sqq. Bloch, Sexual Life of Our Time, p. 188sqq. Fiske; Outlines of Cosmic Philosophy, ii. 345. Kulischer, “‘Die geschlecht”
É bem sabido que Edward Westermarck, além das suas capacidades intelectuais para as línguas, estudou a língua inglesa especialmente para investigar A História do Matrimónio, no Museu Britânico, o que lhe permitira escrever e falar esse idioma na perfeição. Os textos supra, foram as suas leituras e a sua contrariedade. Edward Westermarck fez trabalho de campo e bem sabia que nos grupos das etnias da sua época, não havia relações sociais promíscuas ou mistura confusa e desordenada de relações sociais. Observou com cuidado a organização social entregue a si pelas próprias etnias estudadas por ele e pelos seus estudantes ou as lidas de outros autores. Provar o começo da vida humana, é uma tarefa não apenas delicada, especialmente nos Séculos XIX e começos do XX, pela inexistência de elementos técnicos para estudar vestígios humanos, a sua organização, as suas palavras e entender as suas ideias. Quer Westermarck, quer os seus discípulos, receberam ataques e críticas, bem como uma justa apreciação do seu trabalho. Na Finlândia, a sua investigação e forma de pesquisar, influenciaram um crescente número de estudantes da academia Ábo em Turkuiou, entre eles Rafael Karsten, que estudara a cultura Inca do Peru, Gunnar Landtman, os Papuas da Nova Guiné, Hilma Granqvist (1890 Sipoo – 1972), Antropóloga Finlandesa de língua Sueca Swedish-speaking Finnish anthropologist, quem efectuou cumpridos estudos de campo entre os Palestinians. A Yrjö Hirn, estudante Finlandês devotado aos seus estudos de arte, literatura moderna e estética, tendo publicado o livro, em 1912, sobre os pintores impressionistas, intitulado Dos Impressionistas a Kandinsky, que pode ser lido em: http://books.google.pt/books?id=R_2wIujisH4C&pg=PA226&lpg=PA226&dq=Yrj%C3%B6+Hirn+Biography&source=bl&ots=pxtEEHu1gk&sig=IknMUgxm7Sy1Lq_GfP8jXF5Q71I&hl=pt- PT&ei=8p4ySvbLHMrOjAe5zIWVCg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=4 e Rolf Lagerborg, um incansável crítico da Cristandade, com recensões em todas as entrada Internet da página web http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Rolf+Lagerborg+Biography&btnG=Pesquisar&meta= O papel Violet, da peça de teatro de Berhard Shaw, Man and Superman (1905) é dominada por uma mulher moderna e auto consciente de ter lido Westermarck, como se pode apreciar na escrita e representação da peça de teatro, que pode ser lida em: http://www.archive.org/stream/mansupermancomed00shawrich#page/n7/mode/2up. O famoso antropólogo e sociólogo Claude Lévi –Strauss, considera-o como o derradeiro e melhor representante da Escola Inglesa da Antropologia; conseguiu envolver, com poder excepcional e militante, criar uma corrente de pensamento que renovou o nosso entendimento social e moral para fundar uma compreensão descritiva da humanidade.
No entanto, é-me impossível não comentar os comentadores de Westermarck, antes de fechar este parágrafo. O mais importante foi Émile Durkheim, que em 1895, na publicação francesa Revue philosophique, 40, 1895, pp. 606 a 623, reproduzido na edição electrónica do motor de pesquisa Classiques em Sciences Sociales, analisa as teses de Westermarck em 22 páginas, que podem ser lidas na sítio web: http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/index.html.
Durkheim começa por criticar os sociólogos amadores que, sob qualquer pretexto, opinam sobre relações sociais, especialmente sobre a origem do matrimónio, e acusa o autor que analisa de ter retirado dados de documentos certos e inéditos que provam as hipóteses por ele colocadas. Mas, para além desse tipo de pesquisa que Durkheim pensa ser importante, o investigador, após estudar documentos no museu, deverá endereçar os seus passos para a etnografia juntando assim dados escritos com factos positivos, estudados em forma de associação de ideias. Junta ao que vê, o que apurou nos documentos, como ele próprio fez para a Palestina, Marrocos e outros sítios, juntando, ainda, dados recolhidos pelos seus estudantes, especialmente os de Malinowski sobre os Mailú e os Massim. Mas, Durkheim lembra, no seu texto Les regles de la méthode cientifique, de 1894, que pode ser lido em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Durkheim_emile/regles_methode/regles_methode.html, que documentos sem dados de campo, passam a ser uma fantasia de quem se denomina sociólogo, sem provar com dados positivos o que andou a pesquisar entre pergaminhos e textos antigos.
Para saber mais, pode-se ler: Murrosajoilta: muistoja ja kokemuksia II (1918); Om Edvard Westermarck och verked från hans… by Rolf Lagerborg (1951); Sex and Society by M. Seymour-Smith (1976); Westermarck’s Ethics by Timothy Stroup (1982); Edward Westermarck: Essays on his life and works, ed. by Timothy Strouop (1982); Thinkers of the Twentieth Century, ed. by E. Devine el al (1985); Kadonneet alkuperät: Edvad Westermarckin sosiopsykologinen ajattelu by Juhani Ihanus (1990); Suomalaisen kulttuurifilosofian vuosisata by Mikko Salmela (1998); Suomen tieteen historia 2, ed. by Päiviö Tommila (2000); 100 Faces from Finland, ed. by Ulpu Marjomaa (2000); Ajatuksen kuku. Tankens vägar. Trains of thought, ed. by Inkeri Pitkäranta (2004) .Fonte: as minhas leituras e http://www.kirjasto.sci.fi/ewester.htm.
Edward Wetesmarck não ficou nada satisfeito com o seu imenso trabalho sobre a conjuntura do Matrimónio Humano. Parecia-lhe que devia acrescentar o contexto ético, moral e histórico sobre a conjunturalidade reprodutiva do matrimónio. Assim o fez.
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