Algumas considerações sobre a selecção de Portugal e o Euro 2012

Quero fazer estas considerações antes de começar o Euro 2012 de futebol, eu que gosto do jogo e aprendi que em futebol só há duas certezas: a bola é redonda e prognósticos só no fim do jogo.

Vamos por partes:

O futebol está cheio de mafiosos? Está (mas digam-me uma única actividade humana que envolva milhões de pessoas – telespectadores incluídos – que não esteja cheia de mafiosos. Uma só.).

O futebol apela a instintos básicos do ser humano? Apela (mas digam-me uma única actividade humana que envolva milhões de pessoas – telespectadores incluídos – que não apele a instintos básicos do ser humano . Uma só.).

O futebol português desceu para o 10º lugar da FIFA? Desceu (mas digam-me uma organização que envolva quase todos os países do mundo onde Portugal esteja, há muito tempo, entre os dez primeiros. Uma só.).

Portugal vai ganhar o Euro? Não. Portugal deveria ganhar o Euro? Não. Portugal chegará aos quartos de final? Provavelmente não. O grupo de Portugal deixa muitas hipóteses optimistas? Não. Portugal pode ir aos quartos de final, às meias, à final e ganhar o Euro? Pode. Como? A Grécia, por exemplo, ou a Dinamarca, já ganharam, porque aí reside uma das belezas do futebol: a bola é redonda e prognósticos só no fim do jogo.

Os jogadores de futebol que atingem este nível de competição são demasiado bem pagos? São.  Esse dinheiro provém do erário público? Não. E provém dos sócios dos clubes de futebol? Em ínfima parte. E provém dos espectadores? Também em pequeníssima parte. Então quem paga tanto aos jogadores? Os telespectadores. E os telespectadores pagam para ver os jogadores de futebol? Uma baixíssima percentagem, apenas os que aderem directamente ao pay-per-view. Então, se os telespectadores não pagam aos jogadores e o dinheiro provém dos telespectadores, eu estou doido? Não. Então quem paga? As receitas provêm da publicidade, do merchandising e, é claro, dos consumidores. Ah, provêm dos consumidores de material de futebol, bolas, chuteiras, apitos? Não, quase nada.

A publicidade vive sobretudo de jogadores de futebol? Não. Os jogadores de futebol são os mais bem pagos no mundo da publicidade? Quase nunca. As selecções dos países em crise devem ir ao Euro 2012? Devem. Gastar dinheiro? Não, ganhar dinheiro, é isso que acontece às selecções que chegam ao Euro 2012. O valor das despesas das selecções nos hotéis deve-se aos quartos luxuosos dos jogadores? Muito pouco. Uma selecção só aluga quartos no hotel? Não. Aluga cozinhas? Aluga. Aluga campos de treino? Aluga. Aluga espaços médicos? Aluga. Aluga locais para centros de imprensa? Aluga serviços? Aluga ginásios? Aluga privacidade? Claro que aluga. Acredito que esses números que por aí andam e dão custos diários por selecção com diferenças entre os 4700 euros e os 33.000 se referem às mesmas listas de despesas? Só se fosse parvo. Compara-se o incomparável? Compara-se. Porquê? Boa pergunta.

Tenho a certeza destas coisas que digo? De quase todas, excepto daquelas que tenham que ver com os jogos em si, com aquilo que se passa em campo. É que em relação a isso só tenho duas certezas: a bola é redonda e prognósticos só no fim do jogo.

Comments

  1. Pisca says:

    Brilhante post, com um pequeno senão, a quantidade de jogadores bem pagos, dizendo de outra forma, principescamente pagos é infima, comparada com o total dos mesmo nas diversas competições

    Há que não esquecer dos que tendo-lhes sido prometido um salário que por vezes nem ultrapassa os 3.000 euros mensais, ficam meses e meses sem receber e com alguma sorte irão ver metade ou um terço do que lhes é devido, e boca calada, porque jogador exigente (do que lhe é devido), será mal visto pelos restantes “patrões” do meio

    Basta falar com alguns no activo e já retirados, há milhões de euros de salários que nunca foram pagos

    ps: não esqueçam que se trata de uma carreira que com alguma sorte terá entre 10 a 15 anos, com um topo de 6 a 8 anos

  2. A. Pedro says:

    Sim, Pisca, tem razão em relação à “quantidade de jogadores bem pagos, dizendo de outra forma, principescamente pagos é infima, comparada com o total dos mesmo nas diversas competições”. Estava a pensar nisso quando escrevi “Os jogadores de futebol que atingem este nível de competição” mas posso não ter sido suficientemente claro. Mas é isso.

  3. maria celeste ramos says:

    Porquê tanta raiva contra o “instinto básico” dos homens ??? Porquê tanta raiva contra o futebol ? então vamos ao Ballet e “opera” e teatro de shakespeare ??? e cantar de “tenor” ?? e tocar piano e falar francês ?? – mas que erudição – mafiosos no futebol ?’ e no PSD ???

  4. Tito Lívio Santos Mota says:

    eu gosto de ballet, de ópera, de Shakespeare e até falo francês.
    Mas, se o governo de Portugal tivesse a ideia estapafúrdica de criar um teatro de ópera em Bragança, Leiria Aveiro ou Faro, seria o primeiro a gritar “agarra que é ladrão”.
    Os jogadores de futebol são pagos em grande parte pelo contribuinte, SIM !
    Via os impostos e descontos para a SS que os clubes nunca pagam nem pagarão porque o povo português não votaria num partido que os fizesse pagar.
    Via as ajudas que o estado dá aos clubes. Pior, via as ajudas que o estado dá aos clubes para outras modalidades que os clubes mantêm apenas para desviar o dinheiro para o futebol.
    Via as instalações desportivas pagas e mantidas pelo contribuinte.
    Etc. etc. etc.

    A ópera, o teatro, o ballet, a literatura, a música, e também o handebol, a ginástica, o atletismo, etc. Não alimentam máfias de jogos (trafulhados) em linha.
    Não existe máfia de apostas na ópera, o teatro, o ballet, a literatura, a música, e também o handebol, a ginástica, o atletismo, etc.

    No entanto quem cria mais emprego em Portugal?
    A ópera, o teatro, o ballet, a literatura, a música, e também o handebol, a ginástica, o atletismo, etc
    Que não custam nem sequer 0,5% ao orçamento do Estado.

    Porquê?
    Porque não têm “comunicantes” que consigam convencer pessoas das mentiras e falsas verdades do poste do Sr. A. Pedro Correia.

    E é por essas e por outras que somos e havemos de continuar de ser um país do terceiro mundo, o reino dos três FFF.
    Nem que seja porque, não temos arcaboiço para aguentar o que grandes potências podem.
    Mas a coisa começa a mudar.
    A Alemanha, a França, a Itália e outros países já começaram a ver as poucas vergonhas do futebol com novo olhar.
    O problema é que os futeboleiros têm muito peso eleitoral.
    São fanáticos, e como fanáticos que são, preferem ouvir as cantigas dos mafiosos a apoiar gente honesta que queira pôr a casa em ordem.

    Em 2002 conseguiram correr com a ministra francesa dos desportos, só porque levantou a saia à Máfia das “picadelas” na Volta à França.
    Quem terá a coragem de levar pela mesma bitola para acabar com as máfias trapalhonas dos jogos de futebol?

    • A. Pedro says:

      “Porque não têm “comunicantes” que consigam convencer pessoas das mentiras e falsas verdades do poste do Sr. A. Pedro Correia.”
      Não se irrite, que o futebol não vale isso e faz-me lembrar algumas claques. Já me chamaram pior. Mas não estou ao serviço de ninguém, essa é que é essa.

      • Tito Lívio Santos Mota says:

        eu não disse que o senhor está ao serviço de seja quem for, disse sim que acredita nas patranhas dos serviços de propaganda das máfias futeboleiras.
        E não é o único, infelizmente.

  5. flamingo says:

    Os jogadores na selecção até a data ainda não mostraram o que valem.
    Nos clubes deles sim. A federação esta cheia de mafiosos.
    Humbertos, Joao V. Pinto e outros anafados. Os portugueses estão fartos das promessas que eles fazem ou aceitam que alguem faça por eles.
    Por mim nem deviam ir ao Euro 2012 – ficavam aonde quisessem a custa do dinheiro deles e não acusta do meu e de milhares de outros. A lingua não lhes cabe na boca!

    • Tito Lívio Santos Mota says:

      O meu pai teve durante anos um “par” feminino alternativamente nos campeonatos da Europa e do Mundo de Ginástica acrobática.
      Nos da Europa ficou quase sempre em segundo (atrás das russas) e no do Mundo em terceiro (atrás das russas e das chinesas).
      Se não fosse a Cimpor pagar as viagens e estadia…
      Mas quanto dinheiro do bolso dele e do das atletas foi gasto para que Portugal ganhasse medalhas de prata e de bronze?

      Lembram-se daquela medalha de prata (a segunda jamais alcançada por Portugal) que um senhor foi buscar em “tiro”? Foi nos anos 70.
      O homem pagou tudo do bolso dele.

      Se estes pândegos gostassem mesmo de futebol e tivessem um bocadinho de amor ao país (nem precisava ser muito, com o que ganham), pegavam, cada um, num ou dois dias de ordenado e pagavam as despesas de hotel e de avião.
      E até podiam dar uns cobres para o resto.

      E ainda querem que eu apoie esta cambada?

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