Universidade do Porto: os alunos mais bem preparados vêm das escolas públicas

Edificio-Reitoria-Universidade-do-PortoUm estudo feito pela Universidade do Porto verificou que os alunos provenientes das escolas públicas revelam melhor desempenho durante o seu percurso académico. Assim, os autores do estudo chegaram à conclusão de que as escolas privadas conseguem preparar melhor os alunos para entrar na Universidade, mas, segundo o pró-reitor da Universidade do Porto “o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública.”

Este estudo, baseado numa amostragem aparentemente significativa, é, em primeiro lugar, mais um elemento que deveria servir para chamar a atenção de todos aqueles que se limitam a uma análise simplista dos rankings: a qualidade de uma escola não se pode medir apenas com base nas notas dos exames.

Em segundo lugar, deve obrigar a reflectir sobre a real importância dos exames, nomeadamente no que respeita à possibilidade de que o peso excessivo dos mesmos exames acabe por perverter o processo de ensino, levando a que professores, pais e alunos se preocupem demasiado com um momento, desvalorizando o percurso. Se é certo que a esquerda tem demasiados tiques pavlovianos de rejeição dos exames, não é menos certo que os exames não são a receita milagrosa que Nuno Crato e os seus apaniguados defendem como a suprema panaceia de todos os males do ensino.

Finalmente, o pró-reitor volta a ter palavras judiciosamente críticas sobre um sistema de acesso à Universidade que se limita a premiar os alunos com capacidade para tirar boas notas, o que nem sempre é garantia de um bom desempenho no percurso académico.

Este estudo não tem de ser visto como uma vitória da escola pública sobre a privada e deve servir, sobretudo, para repensar muito do que deve ser melhorado na Educação. Apesar disso, não posso deixar de sorrir face ao silêncio de uma certa e determinada blogosfera sempre pronta a festejar os rankings e a apoucar as escolas estatais.

Comments

  1. Ora aqui está um estudo completamente imparcial com uma conclusão, ironicamente, ela também, nada redutora. Porque deixam análises de regressão ao alcance de certos investigadores? Coloquem-nos na última prateleira, caramba. Mas pronto, entraram na sala e eles já estavam com os resultados do SPSS na mão, eu entendo. Então, supervisionem o relato de resultados e a apresentação das conclusões, alguém, por favor.

  2. Tiro ao Alvo says:

    Não vejo assim muito clara a vitória da escola pública contra a privada; vejo, isso sim, uma crítica evidente ao mau sistema de acesso às universidades que ninguém parece querer mudar, tanto os da esquerda, como os da direita. Para mim, é aí está que está o nó górdio do problema.

    • António Fernando Nabais says:

      Parece que concordamos numa coisa: este estudo não pode nem deve ser visto como vitória ou como derrota de coisa nenhuma e arrisca-se a ser tão redutor como a leitura apressada dos “rankings”. O problema não está apenas no sistema de acesso à universidade, mas também numa concepção limitada do ensino que tem reflexos na prática de escolas que se preocupam demasiado com os exames.

  3. Camilo says:

    Se uma escola consegue fazer melhor com o mesmo aluno este tem mais possibilidades de entrar na universidade. Mas depois aí as capacidades naturais voltam a fazer a diferença.
    O problema está por isso no método de acesso às faculdades.

Trackbacks

  1. […] Um estudo feito pela Universidade do Porto verificou que os alunos provenientes das escolas públicas revelam melhor desempenho durante o seu percurso académico. Assim, os autores do estudo chegaram…  […]

  2. […] escolas públicas ou em empresas concorrentes). Bónus: ainda por cima vende jornais, mesmo que o único trabalho científico conhecido sobre a qualidade público vs privado demonstre o contrário do anualmente publicitado, mesmo que seja óbvio que os melhores professores […]

  3. […] Mais uma vez, estamos na presença do pensamento simplista que reduz a avaliação das escolas ao lugar que ocupam no ranking. O mundo reduzido a listas e gráficos parece muito simples, sobretudo quando não se quer perceber que a questão do sucesso educativo é um bocado mais complexa. É curioso, a propósito, que tenha havido um estudo em que, por exemplo, se concluía que os alunos das escolas públicas estão mais bem preparados dos que os das privadas. […]

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