É de pequenino que se corrompe o menino

Na capa do Expresso da semana passada, nada de novo: há colégios privados que continuam a corromper o sistema e a vender médias elevadas para quem as pode e quer pagar.

Seja génio ou mandrião, qualquer filho ou filha de pais ricos pode corromper o sistema educativo e comprar as notas que pretende para o curso que quiser. É um modelo de negócio de décadas, e eu ainda sou do tempo em que alunos do meu liceu, na Trofa, iam para colégios no Porto “subir a média”.

Igualmente grave é a afirmação na primeira página do Expresso:

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Rankings das escolas: 21 públicas nos primeiros 25 lugares

O post original já tem alguns anos, mas por continuar muito actual, justifica-se a repetição.
A nossa Comunicação Social acéfala teima em repetir ano após ano um conjunto de dados que nada diz sobre o ensino em Portugal – como comparar uma escola pública gratuita e universal com outra que selecciona os seus alunos?
Assim, como quem de direito não faz o seu trabalho, o Aventar decidiu elaborar o seu próprio «ranking» das escolas secundárias.
Partindo das Classificações de Exame em cada escola, decidimos acrescentar uma variável sócio-económica e uma outra relacionada com o número de alunos que cada escola levou a exame. Estas variáveis destinam-se a corrigir as assimetrias regionais e económicas que se verificam no nosso país e a dimensão de cada estabelecimento de ensino.
Essas duas variáveis traduzem-se da seguinte forma no nosso «ranking»:

– bonificação de 20 pontos (em 200) para as escolas públicas dos distritos do interior do país;
– bonificação de 10 pontos (em 200) para as escolas públicas dos distritos do litoral do país (excepto Lisboa e Porto)
– bonificação de 10 pontos (em 200) para as escolas privadas do interior do país;
– bonificação de 5 pontos (em 200) por cada 100 exames realizados para todas as escolas.

Tendo em conta estes valores, obviamente subjectivos (mas tão subjectivos como a lista que a comunicação social anualmente publica), o «ranking» do Aventar é o seguinte:

1 – Escola Secundária Alves Martins (PUB, Viseu) – 215,69
2 – Escola Secundária Jaime Moniz (PUB, Madeira) – 196,37 [Read more…]

Os rankings e o colaboracionismo dos professores

Copio do facebook do José Gabriel, com uma vénia demorada, um excerto que corresponde àquilo que penso sobre a publicação dos rankings, ou melhor, sobre o modo como os rankings são interpretados: «Esta fraude estatística, destinada, inicialmente, a acalmar os ardores hormonais das direcções do Público – e, como é costume, a sangrar o erário público a favor das empresas privadas -, transformou-se numa anedota de efeitos nefastos e pasto fácil de comentários analfabetos.»

Não me espanta, portanto, que os ignorantes atrevidos e mal-intencionados continuem a transformar este rito anual num momento de propagação da ideia de que os rankings são um instrumento de avaliação do trabalho das escolas.

Também já não me espanta, por ser habitual, que, ao fim destes anos todos, directores de escolas e professores se tenham deixado contaminar por esta febre, ao ponto de comemorarem subidas em rankings ou de transformarem descidas em momentos de pura depressão, aceitando méritos ou culpas que não lhes cabem completamente, contribuindo para que a Educação não seja verdadeiramente discutida, aceitando o pensamento simplista de que o sucesso dos alunos depende apenas das escolas ou a ideia de que as escolas devem assumir uma atitude de concorrência empresarial, desvirtuando, afinal, a sua função.

Um dos problemas da Educação – que são muitos – consiste, cada vez mais, no facto de que os professores interiorizam – ou normalizam, como está na moda – os disparates proferidos e impostos por ignorantes e vendedores de banha da cobra com poder político e/ou mediático. Quando, numa área de actividade, os profissionais agem contra a própria área, a esperança é cada vez menor. Hoje, é dia de rankings: não faltarão patetices.

Leituras em dia de rankings

Em dia de divulgação dos rankings dos exames, aí ficam algumas ligações, sendo de saudar que alguma comunicação social já consegue fazer títulos sem que se caia na asneira de insinuar que os ditos rankings são um instrumento de avaliação do trabalho das escolas ou dos professores. Lede, leitores.

 

Colégios voltam a dominar o ranking dos exames (note-se: “dos exames”)

Os rankings escolares são como as omeletes

O “ranking” das escolas que mede o sucesso dos alunos

Da Causalidade Lógica e Factual

Ministro da Educação diz não ser “adepto” de listas

Há mais vida para lá dos rankings

Os rankings no Aventar

O argumento falacioso de RMD

Lê-se aquilo e talvez se pense que faz sentido. Até que se repara nos pressupostos.

Não sou professor, logo a mensagem não me é dirigida, mas permito-me imiscuir-me. Afinal de contas, se RMD está qualificado para mandar bitaites sobre educação, porque não o hei-de fazer também, até porque todos tivemos aulas – logo somos especialistas em educação.

No textículo de RMD comparam-se escolas secundárias com universidades. O argumento é que as segundas são óptimas, apesar de públicas, enquanto que as primeiras são uma porcaria, excepto se forem privadas. Logo, os professores do secundário só podem ser fraquinhos, acrescento eu.

A questão é que a comparação é inválida por várias razões.
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A mentira dos rankings das escolas

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Fiz há uns anos o meu próprio ranking das escolas. Com critérios geográficos e sócio-económicos, coloquei em primeiro lugar uma escola pública do distrito de Viseu.
Um outro ranking, promovido pela Universidade do Porto, chegava à conclusão de que os melhores alunos da instituição tinham vindo maioritariamente de escolas públicas. Dois exemplos na cidade do Porto separados por menos de um quilómetro: do Colégio do Rosário, transitaram 56 alunos para a Universidade do Porto, mas 3 anos depois, apenas 4 alunos estavam entre os melhores 10% da instituição. Da Escola Secundária Garcia de Orta, mesmo ao lado, entraram na Universidade 114 alunos e, desses, 14 faziam parte dos melhores 10% ao fim de 3 anos.
Mais recentemente, o Ministério da Educação introduziu nos dados indicadores estatísticos, como o perfil sócio-económico, que, mais uma vez, colocavam as escolas públicas nos primeiros lugares.
Comparar escolas públicas e privadas é simplesmente ridículo, porque são realidades completamente diferentes. Da mesma forma que comparar escolas públicas entre si é igualmente ridículo. Porque são também realidades muitas distintas.
É apenas um exemplo. Uma das melhores escolas públicas, a Infanta D. Maria, de Coimbra, está em 35.º lugar no ranking. A escolaridade média dos pais dos seus alunos é de cerca de 15 anos, ou seja, ensino superior. A percentagem de alunos que não precisam de apoios do Estado (Acção Social Escolar) é superior a 90%.
Agora vamos à Escola Secundária de Resende, no distrito de Viseu. [Read more…]

“Escolas públicas preparam melhor os alunos para terem sucesso no superior”

escolas privadas e publicas - preparacao dos alunos

Olha a excelência dos rankings. Nada de surpreendente para quem alguma vez tenha estudado. Uma coisa é marrar para o exame, e ter boa nota, outra é aprender. É um estudo de 2013, mas muito oportuno agora que tanto se fala na suposta excelência do ensino privado.

Universidade do Porto analisou os resultados de 2226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos e concluiu que os provenientes das privadas têm piores resultados (…)

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Dia de São Ranking

Graças à abundância de dados estatísticos, vivemos no paradigma da rankinguização, porque tudo é rankinguizável. Ele é as três melhores cidades com as mais belas repartições de Finanças, ele é as dez livrarias com mais ácaros no mundo, ele é os cinco cus mais espectaculares dos países nórdicos, ele é o diabo a quatro!

No fundo, esta moda está associada a uma certa pimbalhização (o neologismo está a render, hoje), patente em revistas e livros de auto-ajuda com títulos como “As dez maneiras de a/o deixar louca na cama” ou “As quinze perguntas que deve fazer a si próprio dois minutos antes de se levantar”.

Ontem, voltaram a ser publicados os rankings das escolas e reapareceram os mesmos erros de análise e as mesmas frases bombásticas. Por isso, não há muito mais a dizer, porque o mundo está transformado num campeonato perpétuo.

Os defensores cegos do Ensino Privado continuam a esconder que as escolas mais bem classificadas, de uma maneira geral, escolhem os alunos, desvalorizam as disciplinas que não estejam sujeitas a exames nacionais, inflacionam as classificações internas e desrespeitam abundantemente os direitos laborais dos professores.

Entretanto, pessoas ligadas às escolas públicas deixam-se arrastar para este festim de marketing, comemorando subidas nos rankings e ajudando, desse modo, a perpetuar publicamente a ideia de que estas listas servem para avaliar o seu trabalho. Ora, a verdade é que, em muitos estabelecimentos de ensino, uma média negativa pode corresponder a um enorme sucesso, se se tiver em conta muitos outros condicionalismos.

Leia-se a recomendação do Paulo Guinote para que haja uma melhor publicação dos rankings. Um dia, talvez seja possível, mesmo sabendo que os desonestos e os distraídos não ficarão calados.

Quem percebe de Educação? Os gestores, claro! (3)

Carlos Guimarães Pinto (CGP), apesar de se ter sentido ofendido com as minhas críticas, ainda se deu, generosamente, ao trabalho de contestar um outro texto meu.

Nesse seu sofrido comentário, continua a não responder a nenhuma das perguntas que lhe coloquei em qualquer um dos textos anteriores e faz deduções que são, no mínimo, cómicas.

Desta vez, vem armado até aos dentes com gráficos que, no seu entender, são suficientes para explicar a realidade, gráficos cujos dados, aliás, dependem da informação transmitida pelos governos, que, como se sabe, são entidades absolutamente competentes, impolutas e desinteressadas.

Em primeiro lugar, continua a não resistir ao fascínio do “rácio” professor-alunos, “rácio” esse que é suficiente para concluir que há professores a mais. É claro que, mais uma vez, CGP não explica, por exemplo, de que modo são contabilizados os professores. No entanto, a decisão de contratar mais ou menos professores não se pode limitar à comparação com outros países, mas, para compreender isso, lá está!, CGP teria de estudar mais. Ou melhor: teria de estudar.

Depois, atira mais umas tiradas, declarando, por exemplo, que os professores passam pouco tempo nas escolas a desempenhar outras funções para além das docentes, (como se fosse possível saber isso com base nos dados que utiliza), que os professores ganham mais do que alguém com as mesmas habilitações (o que não é o mesmo que dizer que os professores ganham bem) ou que os professores não andam a perder poder de compra. [Read more…]

O campeonato dos hospitais

bigstockphoto_Victory_Podium_-_Winners_In_Go_3778414Para os iluminados pelo espírito empresarialês, o mundo não é mais do que um conglomerado empresarial (holding para os amigos), o que faz com que qualquer instituição seja vista como uma empresa. No fundo, o empresarialismo é uma religião, com os gestores, erigidos em sacerdotes abençoados pela infalibilidade, a anunciarem virtudes cardeais como a concorrência ou a competitividade ou o empreendedorismo.

Sendo uma religião proselítica, é claro que os clérigos tudo fizeram até impor as suas crenças a entidades que não eram empresas, como é o caso das escolas e dos hospitais. Assim, criaram a ilusão de que o sucesso é sempre mensurável: a Igreja fazia proclamações; o empresarialismo anuncia estatísticas, rankings e percentagens. Como sempre aconteceu, a maioria, embrutecida, repete a ladainha.

Mais uma vez, hoje, pude confirmar a omnipresença desta seita. Silvério Cordeiro, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Gaia/Espinho e antigo director do Centro de Formação Profissional da Indústria da Cortiça, queixava-se de falta de obras e de equipamentos, em entrevista ao Jornal de Notícias. Para o administrador, isso fez com que a instituição perdesse “claramente competitividade face aos hospitais da região.” [Read more…]

O regresso ao ensino elitista

Santana Castilho*

A ascensão de Nuno Crato ao poder foi promovida por duas vias: o seu populismo discursivo, de que a desejada implosão do ministério foi paradigma, e a influência poderosa de grupos para quem a Educação é negócio. Chegou agora o momento em que o aforismo emblemático de César das Neves começa a colher prova no terreno das realidades: não há almoços grátis! O recentemente aprovado estatuto do ensino privado mostra ao que Crato veio e para quem trabalha. O seu actual direitismo, socialmente reacionário, está próximo, em radicalismo, do seu esquerdismo de outros tempos. O fenómeno explica-se, tão-só, por simples conversão de interesses e ambições aos sinais dos tempos. O resultado que se desenhou e ganha agora forma é o retorno a um sistema de ensino elitista, onde muitos serão excluídos.

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Para que serve um ranking das escolas?

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Imaginem uma lista ordenada da exposição solar das casas portuguesas. Sem ninguém se rir, misturavam-se as viradas a norte com as orientadas a sul, as do Algarve com as da Beira Alta, e proclamavam-se as virtudes e defeitos dos arquitectos que tivessem obtido mais luz natural na sala de jantar. Esta modalidade de comparar o incomparável, e ainda por cima premiar os vencedores com publicidade completamente gratuita, existe em Portugal.

Aquela que será provavelmente a maior fraude jornalística da República nasceu por pressão de vários chico-expertos, encabeçados por José Manuel Fernandes, um jornalista de causas, da Voz do Povo a porta-voz  dos Belmiros e neste caso do negócio dos colégios. Falo da entrega pelo Ministério da Educação ao belo prazer da comunicação social de dados respeitantes aos resultados dos alunos do básico e secundário, convenientemente manipulados em tabelas a que chamam ranking das escolas portuguesas. [Read more…]

Xeque ao ensino: o meu cheque-ensino é melhor do que o teu

escolaImaginemos uma pequena povoação em que existam três escolas, uma privada e duas estatais. Para que o cenário fique, apesar de tudo, verosímil, será importante afirmar que a primeira, ao longo dos anos, tem sido sempre a mais bem classificada nos rankings. Não reflictamos, para já e novamente, sobre as virtudes ou os defeitos dos ditos rankings, mas não esqueçamos, a bem da verosimilhança, que a escola privada tem sido frequentada, ao longo dos anos, por filhos de pessoas de estatuto socioeconómico elevado, uma vez que as mensalidades não estão ao alcance de todas as bolsas.

Entretanto, as duas escolas estatais têm sido frequentadas por jovens cujas famílias não têm possibilidades de os matricular na escola privada ou não estão interessadas nisso, o que pode acontecer por desinteresse ou por confiarem que os filhos podem ter acesso a um ensino de qualidade sem que isso dependa da frequência da escola privada. Aproveitemos, de qualquer modo, para fingir, por momentos, que o estatuto socioeconómico ou sociocultural não tem influência no rendimento e nos resultados escolares dos alunos.

Num país em que os rankings se transformaram, mal ou bem, num critério quase único para se avaliar a qualidade de uma escola, é natural que a maioria dos encarregados de educação da nossa pequena povoação gostasse de ver os filhos entrar na “melhor escola” da terra, ou seja, a privada. Por outro lado, o lugar nos rankings, mal ou bem, passou a ser uma preocupação das escolas, pelo que a privada tem recorrido, sempre que necessário, à selecção de alunos, preferindo os que possam garantir melhores resultados e convidando a sair os que acabem por ter um rendimento escolar mais baixo ou que tenham problemas de comportamento, ao contrário das estatais cuja autonomia é menor e cujo espírito é o de tentar integrar todos os alunos, independentemente das limitações e dos problemas. [Read more…]

Num dia de greve de professores temos de falar disto

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Façamos então uma pequena experiência, Vítor Cunha. Coloque os alunos da Escola Visconde de Juromenha a estudar no Colégio dos Plátanos e os alunos deste colégio a estudar naquela escola. E veja depois se não é a Visconde de Juromenha que fica em 2.º lugar no ranking e o Colégio dos Plátanos em 1285º.
Ou sigamos a sua teoria – dar liberdade de escolha aos alunos. Já estou a imaginar. Os putos do Bairro do Aleixo ou de Miragaia, no Porto, a entrarem pelo Colégio de Nossa Senhora do Rosário adentro, cumprimentando com educação as freiras e os padres; os miúdos do Ingote ou do Bairro da Rosa, em Coimbra, a invadirem de forma muito ordeira o Colégio Rainha Santa; a chavalada de Chelas e do Bairro da Quinta do Mocho, em Lisboa, a ocuparem os melhores lugares do Colégio de S. João de Brito.
Mas há uma condição: as escolas privadas não poderão seleccionar os alunos, terão de aceitar tudo o que lhes calhar em sorte. Para podermos comparar, não seria justo que uma escola pública tivesse de aceitar tudo e uma escola privada pudesse seleccionar, pois não?
Acredite, ia ser divertido… e o melhor que podiam fazer à Escola Pública.
Quanto aos custos, depende sempre da forma como se olha para os números. Para mim, é muito claro que o ensino público fica mais barato do que o ensino privado com contrato de associação.
Por último, sabe que é demagogia pura falar dos rankings da forma como o faz. É que se vamos falar dos rankings, apetece-me olhar para o da Universidade do Porto e ver que os seus melhores alunos vêm da Escola Secundária Garcia de Orta. [Read more…]

Universidade do Porto: os alunos mais bem preparados vêm das escolas públicas

Edificio-Reitoria-Universidade-do-PortoUm estudo feito pela Universidade do Porto verificou que os alunos provenientes das escolas públicas revelam melhor desempenho durante o seu percurso académico. Assim, os autores do estudo chegaram à conclusão de que as escolas privadas conseguem preparar melhor os alunos para entrar na Universidade, mas, segundo o pró-reitor da Universidade do Porto “o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública.”

Este estudo, baseado numa amostragem aparentemente significativa, é, em primeiro lugar, mais um elemento que deveria servir para chamar a atenção de todos aqueles que se limitam a uma análise simplista dos rankings: a qualidade de uma escola não se pode medir apenas com base nas notas dos exames.

Em segundo lugar, deve obrigar a reflectir sobre a real importância dos exames, nomeadamente no que respeita à possibilidade de que o peso excessivo dos mesmos exames acabe por perverter o processo de ensino, levando a que professores, pais e alunos se preocupem demasiado com um momento, desvalorizando o percurso. Se é certo que a esquerda tem demasiados tiques pavlovianos de rejeição dos exames, não é menos certo que os exames não são a receita milagrosa que Nuno Crato e os seus apaniguados defendem como a suprema panaceia de todos os males do ensino. [Read more…]

A olhar para os rankings

Sempre que são publicados os rankings, voltam os mesmos erros de análise, o que quer dizer que o sol continuará a ser tapado com uma peneira.

Dos insurgentes e comentadores similares não se pode esperar mais do que um simplismo algo hermético, porque, para gente desta, resolver os problemas de Educação em Portugal resume-se a olhar para quem fica no topo dos rankings.

Os responsáveis pelos colégios, para explicar os bons resultados, portam-se, obviamente, como directores de empresas que têm um produto para vender (e, com isto, não pretendo pôr em causa a qualidade dos profissionais que aí trabalham, incluindo os próprios dirigentes). João Trigo, director do Colégio do Rosário, explica que os bons resultados se devem a “uma aposta na formação global dos alunos”, o que é tão vago que pode ser aplicado a muitas outras escolas cuja colocação no ranking seja inferior. O mesmo director atribui a fama de elitista ao facto de “os pais dos (…) alunos terem de ter dinheiro para pagar as propinas”, necessárias para a sobrevivência da instituição. [Read more…]

Ainda os rankings

 Em vez da oposição dicotómica ensino público/privado, gostaria que, no sector privado, se distinguisse o privado puro e duro e o privado subsidiado pelo Estado.

A ideia do Paulo Guinote é boa, mas não é tão simples de aplicar como isso.

O privado subsidiado, ou seja com contrato de associação, tanto diz respeito a escolas que podem escolher os alunos como a outras que não têm hipóteses de o fazer, e essa seria a distinção que fundamental.

Aqui no Aventar já tentámos fazer um levantamento das escolas nessa situação e terminámos por desistir, até porque a melhor fonte, a Carta Municipal de Educação, nem sempre está disponível. É certo que entretanto foi feito um diabolizado estudo por encomenda do governo anterior que poderia ajudar (e que neste momento nem encontro).

Complicando mais as coisas, um colégio pode ser subsidiado parcelarmente: é o caso por exemplo do Rainha Santa Isabel em Coimbra, que apenas não tem contrato de associação para todos os níveis de ensino, embora faça selecção de alunos quando lhe apetece.

A impressão com que fiquei é a de que escolas com contrato de associação puro e duro, ou seja, onde não há alternativas geográficas no ensino público, são muito poucas.

E valha-nos o ranking online do Público, onde podemos optar por ver apenas público e/ou privado.

Hoje há rankings fresquinhos

Não, não gosto de rankings. Por formação acredito pouco em seriações quantitativas, atrás de um número haverá sempre palavras e essas não se ordenam, e a própria palavra tem lá um king disfarçado mas que desperta o republicano que vive em mim. A vida, e a escola, não são um campeonato.

Do mal o menos, este ano foram disponibilizados dados que permitem enquadrar, no ranking do Público, um bocadinho da realidade atrás das médias: a conclusão é tão óbvia que nem vale a pena referi-la.

Mesmo assim a falácia continua. No bocadinho de escolas que conheço bem constato a espantosa subida de uma, iniciada o ano passado, com o pequeno detalhe de nessa secundária ter deixado de existir o ramo das humanidades durante anos, cuja ausência como é óbvio distorcia as médias. Ou entendo o sucesso da escola onde trabalhei o ano passado, que ficou no topo dos exames do 9º ano muito por conta de uma turma excepcional que este ano não se voltará a repetir com turmas de 30 alunos. [Read more…]

A magia dos números

Isto de números, e no caso de rankings, implica que se pense um bocadinho antes de usar.

Depois de Paula Teixeira da Cruz ter tido um ataque de bom senso e afirmado “está por provar que o sector privado seja mais eficaz do que o sector público“, Carlos Guimarães Pinto foi aos números.

No ensino saca dos rankings do costume. Convinha ler algumas letras, desde um estudo que demonstra o contrário, ao velho exemplo que arrasa os ditos cujos, já para não lembrar o óbvio, quem selecciona alunos obtém melhores resultados.

Aguardo que chegue à saúde mas espero que não tenha de ir parar às urgências de um hospital privado, já para não falar na espectacular oferta que este sector tem no campo da oncologia, por exemplo…

Os melhores professores e as melhores escolas estão no Norte e no Centro

Antes que algum leitor mais empernido de entendimento apareça por aí, quero deixar claro que o título deste texto não corresponde à minha opinião, por muito lisonjeiro que fosse para mim, profissionalmente nortenho há quase vinte anos.

Com base nesta notícia, será possível ler e ouvir comentários simplistas semelhantes ao título deste texto. As causas do insucesso escolar são conhecidas, sobretudo quando se está, efectivamente, interessado em conhecê-las e dependem muito das condições socioeconómicas dos alunos ou da importância dada à escola, entre outros factores menos decisivos (embora não menos importantes).

Que simplismos desses nos cheguem do exterior do sistema não admira. Já é mais grave quando são proferidos por quem está nas escolas, o que acontece, todos os anos, quando são publicados os rankings das classificações dos exames e os estabelecimentos mais bem cotados se apressam a publicitar o que fazem para que esses resultados aconteçam, como se o mesmo não fosse feito em escolas com piores resultados.

Aguardemos, então, pelas reacções, como costumam dizer os jornalistas desportivos, no fim do jogo. Entretanto, a Educação continua a ser um Património Imaterial ao abandono.

 

O ensino privado não é melhor que o público: selecciona os alunos, e claro que tem melhores resultados

Na discussão sobre os ensino privado alimentado pelos nossos impostos volta sempre o velho mito da suposta qualidade dos colégios. Aparentemente os pais escolheriam os colégios porque estes teriam melhores resultados.

Para começar esquece-se uma evidência: se fosse concedido aos pais escolherem a escola para os seus filhos e todos optassem pelo privado, além de o público ficar às moscas, gostava de ver a proclamada qualidade do privado que não pudesse seleccionar os alunos. Porque essa é a questão: quem escolhe alunos (como aqui provei que se escolhe, tendo em conta “o percurso escolar do aluno”) fica com os melhores e estes obtêm melhores resultados. É óbvio. Tão óbvio como este velho texto do Pedro Sales, que mantem a sua actualidade ranking após ranking:

O colégio São João de Brito é da Companhia de Jesus, a qual tem mais duas escolas com ensino secundário. O Instituto Nun´Álvares, em Santo Tirso, e o Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache – Coimbra. Como acontece com quase todas as escolas privadas no interior, têm um contrato de associação com o Estado. [Read more…]

Paulo VI, o Colégio que tem um contrato de associação no centro de Gondomar e que selecciona os alunos


O post do João José Cardoso sobre a manifestação das escolas privadas em Lisboa fez-me querer saber quais são as 93 escolas que têm contratos de associação no país. Aqui estão elas.
Com espanto, verifiquei que uma das escolas que mantém contrato de associação é o Colégio Paulo VI, em Gondomar. Estamos em presença de um bom colégio, mas não é isso que está em causa.
Porque o que está em causa é o seguinte: é um colégio que não cumpre o principal requisito das escolas com contrato de associação – oferecer educação gratuita a uma região que não dispõe de oferta pública. É que, em redor do Paulo VI, a menos de 1 ou 2 km, existe uma extensa rede de escolas públicas, todas com capacidade para albergar mais alunos. No total, são 47 escolas primárias (1.º Ciclo), 7 escolas E B 2 3 (2.º e 3.º Ciclos) e 4 Escolas Secundárias – Gondomar, Rio Tinto, S. Pedro da Cova e Valbom. São números que respeitam apenas à cidade de Gondomar e às freguesias limítrofes e que não contabilizam, por isso, as freguesias mais afastadas da freguesia-sede, como Jovim, Foz do Sousa ou Melres. [Read more…]