O governo não encerra, reconfigura

Que é como quem diz, recalibra.

A Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN) não quer que se diga que encerrou o Serviço de Atendimento de Situações Urgentes (SASU) do Porto. O serviço deixou de funcionar a 1 de Janeiro, quem precisar de atendimento urgente já não pode ir lá, o telefone está desligado, mas “encerramento” é uma palavra grande, tão definitiva, tão irrevogável.

Vai daí, em comunicado de imprensa, a ARSN explica que prefere chamar-lhe “reconfiguração”, numa “lógica de maior acessibilidade e proximidade às populações” que, “em síntese, se traduziu no alargamento de horário das unidades de saúde do Covelo e da Carvalhosa”, e que permite a redução do valor da taxa moderada, “que passa de 10 euros (atendimento em urgência) para 5 euros”.

Em resumo, fecham-se as portas de um serviço que funcionava para dar resposta a situações agudas e prolongam-se os horários de funcionamento de dois centros de saúde já existentes.

Mas se, no SASU agora encerrado (ui, escapou-se-me), o horário de atendimento em dias úteis era das 20h00 às 24h00, no Centro do Covelo será das 20h00 às 22h00, e no da Carvalhosa, das 20h00 às 22h45.

E se, aos fins-de-semana e feriados, o SASU recebia doentes entre as 8h00 e as 24h00, o Centro do Covelo estará em funcionamento apenas entre as 9h00 e as 16h00, e o da Carvalhosa até às 16h45.

A consequência óbvia será que os doentes que derem com o nariz na porta terão de recorrer aos serviços de urgência do hospital mais próximo, onde a taxa moderadora, e tenho aqui o recibo à frente que não me deixa mentir, é de 20,60 Euros, e onde a espera pode ser de muitas horas.

Da última vez que acompanhei o meu pai às urgências de um hospital público do Porto, havia, às 22h00, hora da mudança de turno do pessoal médico, 60 doentes para atender e as portas da urgência estavam sempre a abrir-se para deixar entrar mais alguém. Enquanto a situação dele se ia agravando a olhos vistos, perguntámos  a dois dos médicos de serviço quando tencionavam atendê-lo. Com mais desânimo que desconsideração, encolheram os ombros e responderam que não faziam ideia. “Não somos super-homens”, disse um. Pois não.

Foto: antigo SASU do Porto (Paulo Pimenta)

Comments

  1. nightwishpt says:

    São pobres, que se fodam.
    Acho que é essa a teoria.

    • Mais do que isso, será entregar a saúde nas mãos dos privados, com as Misericórdias à cabeça.

      • nightwishpt says:

        São as duas coisas, Carla, não vai arranjar dinheiro para ir ao privado por políticas desta gentalha, muito pelo contrário.

  2. Carlos Fonseca says:

    Desanca forte e feio nesses gajos, até à colonoscopia que os torne super-homens ou mulheres.

  3. j. manuel cordeiro says:

    Este não é o meu país. Onde é que se emigra para Portugal?

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