Neste texto de Daniel Oliveira, encontramos, no mesmo parágrafo, ‘excepcionais’ e ‘atual’.
Para quem ainda tiver dúvidas (apesar das bases: quer a teórica, quer a outra) acerca de escreventes da norma portuguesa europeia intuírem a função diacrítica de consoantes não pronunciadas, a recaída excepcionais de Daniel Oliveira – apesar da aparente destreza na supressão do ‘c’ de actual (com função, sim, embora não diacrítica) – poderá ajudar a perceber que a simplificação proposta pelos negociadores do Acordo Ortográfico de 1990 lhes toldou (fiquemos pelos aspectos técnicos – aqueles que me interessam – e não enveredemos pelo labirinto político) a dimensão leitura, indissociável, em leitores/escreventes experientes, da dimensão escrita.
Dito (ou escrito) de outro modo, ao grafar ‘excecionais’, um escrevente português terá a sensação de que o -cecionais dessa palavra, em vez do [-sɛsjuˈnai̯ʃ] pretendido, reflecte um [-sɨsjuˈnai̯ʃ] inexistente e, por isso, não abdica do ‘p’.
Sim, porque não é só no livro do Eduardo Guerra Carneiro e na canção do Sérgio Godinho que isto anda tudo ligado.
É evidente que tudo se complicará se Daniel Oliveira (ou qualquer falante de português europeu) tiver o hábito de ler textos em português do Brasil. Pois, claro, no Brasil, excepcion |-al, -ais continua a existir (ide ver ao Houaiss, ide, ide) e significa “em que há exceção”. Pois. Isto do AO90 não é tão simples como andaram por aí a dizer e, claro, não é bem a meia hora vaticinada pelo antecessor de Edviges Ferreira. Sim, é muito complicado. Mais vale acabar com este imbróglio, antes que seja demasiado tarde.
Desejo-vos um óptimo e excepcional fim-de-semana.
Post scriptum: Em discussão no edge.org: “what scientific idea is ready for retirement”? Vale a pena ir lá dar uma espreitadela.
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