Claro que este título é uma figura de estilo, mas aquela que o Google e seu doodle do dia merecem.
Viollet-le-Duc foi o pai de uma teoria genocida que imperou na relação entre arquitectura e património medieval a partir de meados do séc. XIX, entre nós com atentados praticados durante décadas. Tratava-se de repor a pureza original dos edifícios, como se a História morresse no séc XIV, arrasando tudo o que lhes foi acrescentado entretanto.
Se por um lado se compreende, o século XIX foi muito dado ao goticismo melancólico e romanticista, não me parece anacrónico acrescentar que também eles deveriam ter compreendido. À arquitectura revivalista (que é outro campeonato, não destrutivo) chamou Ramalho Ortigão olhando para a estação do Rossio estilo manuelsinho, entre nós tendeu-se para a reinvenção do estilo que nunca existiu.
Sendo verdade que cada tempo deixa a sua marca, este deixou-nos uma destruição profunda, que António Ferro prolongou no tempo, e muito (a título de exemplo: os Paços de Guimarães e os panos da muralha de Óbidos tem muito mais de séc XX que de idade média).
Somos das principais vítimas das ideias de Viollet-le-Duc: a nossa época dourada da decoração arquitectónica, o maneirismo e o barroco, sofreu a amputação de dezenas de retábulos e milhares de azulejos, já para não falar das paredes picadas onde existiam frescos, que o medievo se queria alvo ou cor de pedra, como nunca fora. Triste ideia a do Google hoje, em homenagear o criador de um ideia triste.
Nas imagens a Sé Velha de Coimbra como já foi.
Pior ainda foi o que fizeram com a Igreja de S. Tiago, na Praça do Comércio…telhadinho de duas águas…efim.