Anunciar primeiro e pensar depois

O que vale é que em Lisboa não falta onde alojar estudantes deslocados e a preços baratos.

A (des) Graça que tivemos e o que nos espera

 

 

Tenho estado atento, como muitos portugueses, à campanha eleitoral. Naturalmente há áreas que interessarão mais a uns e menos a outros. Não fujo a essa regra. Novo aeroporto, TAP, SNS, economia, impostos, justiça, educação, etc., mas naturalmente cultura e património. 

Rui Rio até pode vir a ser 1º. Ministro. No entanto, e no que diz respeito à Cultura e ao Património Cultural não tenho ilusões. A sua actuação como Presidente da Câmara do Porto fala por si. 

O que fez no Rivoli? Lembram-se do Filipe La Féria? Podem sempre ler aqui, aqui e aqui.

E sobre a gestão municipal à época? É ler….

Outro mito é o da reabilitação urbana. Neste capítulo o que se passou com o modelo de gestão implementado, SRU,  também é elucidativo. E o célebre Quarteirão das Cardosas?

Claro que o PS enganou o pessoal da “Cultura” ao dizer que repôs o Ministério da Cultura. Tretas, pois limitou-se a nomear um titular (uma titular, diga-se) para o cargo sem criar o Ministério. Atiraram-se à época ao Passos Coelho por ele ter passado a Cultura a Secretaria de Estado. Mas nada disso aconteceu. Não havia Secretaria de Estado, havia era Secretário de Estado (primeiro Francisco José Viegas, de má memória, e depois Barreto Xavier, idem). A CS comeu de cebolada. O BE também. Desde 1980 que não houve semelhante período sem Secretaria de Estado nem Ministério. Estamos assim desde 2011, à mercê de vontades individuais, conforme os gostos e as influências dos amigos e das amigas dos titulares.

Se lermos os programas eleitorais vemos a importância que dão ao Património Cultural. Zero.

Giram todos à volta do mesmo.

E ainda se fala mal da Justiça

Afinal a Justiça é bem mais eficaz do que a Banca: olhem como Joe Berardo arranjou património para cumprir as suas obrigações.

Garagem Liz – mais uma vítima das superfícies comerciais

[Jorge Cruz]

O processo de destruição legal de património é uma pratica diária que parece continuar alegremente até que exista o ultimo exemplar para destruir. Não se percebe para que existe um ministério da cultura com delegações regionais, câmaras municipais, serviços de urbanismo e de licenciamento de obras, tudo enxameado de técnicos competentes. Para além destas instituições existem ainda regras, regulamentos, planos de tudo e mais alguma coisa, associações de defesa do património, Icomos, Unesco, enfim, existe tudo o que é necessário, mas mesmo assim continuam a acontecer casos como o da “Garagem Liz”, na esquina da Rua da Palma com a Calçada do Desterro em Lisboa.

O edifício é classificado como Imóvel de Interesse Público “pelo seu Valor Arquitectónico e Artístico” (Decreto nº 8/83 de 24-1), e integra a “Carta Municipal do Património”. Construído em 1933, com projecto do arquitecto Hermínio Barros, foi concebido para um uso misto de garagem e actividade comercial, tão ao gosto da época, com “uma notável inserção na malha urbana”. A obra constitui um “interessante exemplar da arquitectura modernista de Lisboa, inserido no movimento estético-arquitectónico generalizado na década de 30, do séc. XX, muito ao gosto ‘Art Déco’, com alguns apontamentos Arte Nova”.

Por estas razões foi classificado como imóvel de interesse público.

Interesse público, é o contrário de interesse privado. Considerou-se que o edifício é “representativo de uma época e de um estilo arquitectónico com influência na malha urbana da capital”. Quer pelo seu desenho, fachada e planta, quer pela sua funcionalidade, ligada ao ramo automóvel, uma actividade importante nas primeiras décadas do sec. XX, quando o uso automóvel começou a generalizar-se. Devemos recordar como o automóvel é dos elementos “urbanos” mais estreitamente ligados ao movimento moderno, quer pelo tipo de objecto, quer pelo tipo de “modernidade” que representava à época, quando ainda não era um factor de ameaça ao funcionamento urbano. Tal como os cinemas, os edifícios industriais e os mercados, os edifícios ligados ao ramo Automóvel são elementos patrimoniais importantíssimos deste período histórico e artístico. Por isso foi, e bem, classificado como tal. O objectivo da classificação de imoveis é a sua conservação e defesa, de modo que se mantenham e sejam um testemunho das respectivas épocas.

Ora, o que é que se presta para acontecer, pese embora este cenário? O edifício vai ser [Read more…]

Braga e o Património

A bimilenar Bracara Augusta, popularmente conhecido como Braga e por muitos tida como “a terceira cidade de Portugal”, é um sítio que se orgulha de apagar, tanto quanto possível (e para lá do possível), quaisquer vestígios dos antanhos.

Tudo quanto não seja cimento armado ou asfalto corre risco de ser levado na enxurrada (e há, de facto, muitas enxurradas em Braga).
Foi assim no longo reinado de 37 anos de Mesquita, o Machado que tudo cortou, e continua a tradição já com o novel Ricardo Rio. Cujo mote foi “mudança”. E a cidade precisava, precisa de “mudança”.

É que nem o cheiro mudou, Ricardo.

O Bengaleiro do Reino

patrimonio_jeronimosCoisas que nem se ensinam nem se aprendem na escola: idoneidade.
via Eurico de Barros

O roubo de um comboio de Lisboa

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José de Lisboa

Estamos a ser roubados.
Com intensidade e duração variáveis, o património ferroviário português tem sofrido nas últimas décadas muitos atentados, saques e roubos, uns velados e outros mesmo na luz do dia, como é o caso que quero denunciar.

Está a poucas horas ou dias de desaparecer, sob a forma de sucata de luxo, a primeira automotora elétrica de corrente monofásica 25 kV em Portugal e no mundo inteiro, conhecida como “Unidade Tripla Eléctrica” número 2001, ou seja, UTE 2001. [Read more…]

Diz que é uma espécie de TSU

Luis Marques Mendes em entrevista com Tania Madeira . Conversas com vida .

Foto: Paula Nunes@Diário Económico

Num momento de singular inspiração, Luís Marques Mendes teve este apontamento, digno de figurar na saudosa rúbrica “Concatena, filho, concatena“:

Este imposto sobre o património é uma espécie de TSU de António Costa.

Apesar de há muito viver rendido à perspicácia do barão do PSD, suspeito que Marques Mendes se tenha esquecido de pensar antes deste momento de profecia futurológica. É que, em 2012, a tentativa de Pedro Passos Coelho de retirar rendimentos aos trabalhadores para aliviar a pesada austeridade que pendia sobre os patrões foi, em certa medida, o início do fim político de Pedro Passos Coelho. Encheu ruas e praças por todo o país, com os números a atingir as centenas de milhares de manifestantes. Honestamente, e talvez esteja errado, ou não fosse eu um esquerdalho patego, tenho algumas reservas quanto ao efeito mobilizador de um imposto residual, cobrado a uma ínfima parte da população e cuja condição multimilionária não sei sequer beliscada, no seio da população portuguesa.  [Read more…]

O Embuste no Vale do Tua

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O destino do AMOR” é certamente um slogan que enche de orgulho José Cascarejo, ex-autarca de Alijó, cúmplice da pornográfica barragem do Tua e elevado, claro, à categoria de director da coisa. Aliás, é um slogan que enche de orgulho todos os autarcas do vale do Tua.

E ao prezado leitor do Aventar apresenta-se-lhe a questão: “como se promove um pretenso “parque natural regional” instituído depois de perpetrado o crime que inutiliza metade do vale do Tua? A resposta é fácil: criam-se frases fantásticas, polidas e reluzentes, a puxar à emoção do espaço aberto e livre. A natureza a pulsar quer oferecer-nos o que tem de melhor:

“É a natureza que grita!” (de facto, grita…)
“São os vales, as sombras das frondosas árvores” (serão os milhares de sobreiros e oliveiras cortados por causa da subida das águas?)
“São as águas cristalinas que refrescam o amor” (as águas eutrofizadas, é isso?)

E porque um parque natural, estimará o prezado leitor do Aventar, é algo visual (para lá de sonoro, olfactivo, táctil e emotivo?), qual a melhor imagem possível para promover o vale do Tua?
A resposta tipicamente cascarejana não podia ser outra: uma estrada de terra batida, remotamente africana ou na América selvagem e… um carro.
Um carro vermelho que é para ser ainda mais bonito.
Se o parolismo tinha limites, os mesmos acabam de ser ultrapassados por um carro vermelho.

Não seria de prever, prezado leitor do Aventar, que um parque natural se promovesse com imagens do mesmo parque natural?
Ou tem esta gente bem almoçada medo e pavor de mostrar que o “parque natural regional do vale do Tua” é o que sobra depois do conluio que tem levado a barragem do Tua avante?

E o que dizer do vídeo promocional que consegue a proeza de não ter uma única imagem natural do parque? Porque um vídeo promocional de um parque natural… em animação digital?
Tenham vergonha…

Hotel no Mosteiro de Alcobaça!

Ora o que nos reserva ainda este governo? Um hotel no Mosteiro de Alcobaça!

Uma PPP, agora em Alcobaça. Mais uma vez não há justificação para isto. Se o fazem por doutrina, ao menos publiquem-na! Que vergonha! O Sr. Primeiro Ministro e o Sr. Secretário de Estado da Cultura são dois ignorantes em matéria de cultura e património. Primeiro foi a barragem do Tua, com o amén do ex-Secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas; Depois foi o Crivelli, também da “lavra” de FJV. Seguiram-se os Mirós, e o Museu dos Coches, e agora nada mais fácil. Estrangula-se a gestão e apresenta-se como alternativa um Hotel!

Se para as contas públicas seguem o que é determinado, dizem eles, pelo estrangeiro, porque é que no que diz respeito ao Património e à Cultura fazem tábua rasa dos compromissos internacionais, e fazem de conta que não há doutrina internacional sobre esta matéria?

Shame on you Sr. Primeiro Ministro! Shame on you Sr. Secretário de Estado!

Companhia Portuguesa de Pesca (Olho de Boi, Almada, 2014)

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© Célia Amado (2014)

Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão?

A propósito da criação de uma rede entre os sítios inscritos na Lista da Unesco como Património Mundial, tivemos declarações de um dos Vices-Presidentes da CCDRN. Cito:
“O vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) Álvaro Carvalho defendeu hoje em Coimbra incentivos fiscais para que se possa preservar o património classificado do Alto Douro Vinhateiro.
A CCDRN quer que sejam criados incentivos fiscais, como “IMI mais reduzido ou outras medidas compensatórias em termos de IRC e IRS”, de forma a preservar o património do Alto Douro Vinhateiro, zona classificada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).” In http://www.ionline.pt/artigos/dinheiro/comissao-coordenacao-norte-quer-incentivos-fiscais-douro-vinhateiro
Continua a ignorância. O Estatuto dos Benefícios Fiscais prevê que os proprietários de bens classificados como Monumento Nacional (é o caso dos inscritos na Lista da Unesco como Património Mundial) tenham isenção de IMI. Aliás o que está de acordo com a Lei de Bases do Património, a Lei 107/2001.
O que tem acontecido é que por força de uma alteração no Orçamento de Estado de 2007, o IMI está a ser cobrado indevidamente a muitos proprietários no Porto, em Guimarães, em Évora, Sintra, etc.,etc.
Essa alteração traduz-se numa diferente redacção da transposição do referido Estatuto dos Benefícios Fiscais para o OE. Ora então temos tido sucessivos Orçamentos de Estado com essa nova redacção. E então a Autoridade Tributária está a cobrar o IMI desde 2009, ou seja com efeitos retroactivos (só podem cobrar até cinco anos antes), pois são as ordens decorrentes do chamado memorando de entendimento (o da Troika). Há pessoas com ordenados penhorados por causa disto. Há inclusive um caso em que um proprietário de duas casas em dois Centros Históricos (em concelhos diferentes) classificados como Monumento Nacional, numa casa tem isenção de IMI, noutra não!
Por um lado temos a Lei de Bases do Património, por outro temos a Lei que define o Estatuto dos Benefícios Fiscais. E ainda as sucessivas Leis dos Orçamentos do Estado. Portanto, o que será necessário é alterar o tal artigo dos OEs, corrigindo-o de acordo com a legislação existente. Qual IMI mais reduzido qual carapuça!

Memofante

O ex-Secretário de Estado da Cultura   Francisco José Viegas, na sua coluna de 23 de Junho no Correio da Manhã, a propósito de um livro (Portugal em ruínas, da Fundação Francisco Manuel dos Santos) refere-se ao trabalho do autor, Gastão de Brito e Silva, dizendo que este fotógrafo “… reúne num pequeno livro ……….dedicado a espiar não só as ruínas dos monumentos, mas também os sinais e os testemunhos deixados pelo tempo em edifícios que tudo corroeu: a incúria, o desprezo, o desinteresse, a ignorância e a fúria da construção civil”. Termina o artigo: “São, por si só, diques que não resistiram à nossa passagem ou ao nosso esquecimento, a doença fatal de um país.”

 

Pois. Lembrei-me logo de quatro coisas, entre várias: a barragem do Tua, o acordo ortográfico, a reestruturação dos serviços da área da administração do Património Cultural (Museus, Arquivos, etc.), e os bens Património Mundial . E a propósito da passagem de Francisco José Viegas pelo Governo, lembrei-me também ( isto da memória é tramado! ) de um artigo de Vasco Pulido Valente (também ele ex-Secretário de Estado da Cultura) de 11 de Janeiro de 2009, no jornal Público, intitulado “Uma história portuguesa”, que não resisto a citar parcialmente (recomendo a leitura na totalidade), pois assenta como um fato da House of Bijan nos titulares da pasta da Cultura dos Governos Sócrates (especialmente Isabel Pires de Lima, Gabriela Canavilhas e Elísio Sumavielle), e nos titulares da área da Cultura dos Governos Passos Coelho ( Francisco José Viegas e Jorge Barreto Xavier.
Nunca a gente que ocupou o Ministério da Cultura conseguiu perceber que a sua principal responsabilidade era o património”.
E não se chega à presente catástrofe em menos de anos sobre anos de abandono e de incúria. Quando se pergunta como depois da democracia e da Europa acabámos nesta melancólica miséria, basta pensar na política de promoção e defesa do património cultural; no oportunismo, desorganização e pura estupidez de que ela precisou para durar.

Lapidar.

Mosteiro de Santa Clara

Convento durante 500 anos, reformatório de menores, escola profissional, projecto de pousada. Quase 700 anos de história ao abandono.

Rui Feijó

Rui Feijó (1921-2008) foi o primeiro Delegado da Secretaria de Estado da Cultura do Norte.
Fazia ontem anos se fosse vivo. Foi homenageado na Casa das Artes, à Rua Ruben A, no Porto. Edifício este pelo qual lutou, entre outras coisas muito importantes e estruturantes, na área da Cultura e do Património. Deixou trabalho feito e é um exemplo do que deve ser um Director-Geral.
Na área cívica e política teve também intervenção, tendo no período anterior ao 25 de Abril ajudado muita gente (Manuel Alegre esteve refugiado na sua casa em Lousada, por exemplo).
O seu legado está por estudar, mas a homenagem foi merecida. A ele voltaremos.

Património e patrimóino

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Tanta água passou debaixo das pontes e a direita portuguesa, através dos seus opinantes, na hora da verdade,mostra o ar castiço e reaccionário que lhe é atávico, afastando-se de qualquer réstia de cosmopolitismo com que alguns dos seus raros letrados insistem abençoá-la. A discussão a propósito da venda dos quadros de Miró patenteou até à obscenidade esta alma pequenina.

Pulido Valente escreve, no Público, um texto confusamente bronco em que, após exorcizar a ignorância do povo a que, com náusea, pertence – tentando mostrar que mais de 99% da população,designadamente os jovens licenciados, em relação aos quais parece nutrir um ódio especial, não faz ideia de quem é Miró e, a bem dizer, não sabem nada de nada -, alinha umas confusas linhas com considerações sobre se o pintor catalão tem alguma importância na história da arte em Portugal. [Read more…]

Emannuel Viollet-le-Duc, o nazi do património

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Claro que este título é uma figura de estilo, mas aquela que o Google e seu doodle do dia merecem.

Viollet-le-Duc foi o pai de uma teoria genocida que imperou na relação entre arquitectura e património medieval a partir de meados do séc. XIX, entre nós com atentados praticados durante décadas. Tratava-se de repor a pureza original dos edifícios, como se a História morresse no séc XIV, arrasando tudo o que lhes foi acrescentado entretanto. [Read more…]

Barcelos

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Um hotel na Torre de Belém e o Museu dos Coches para a BMW?

Património cultural pode ser concessionado a privados.

Património na sucata

Leio no Público de hoje o que é tipicamente português: o abandono do património.

Estão abandonadas seis máquinas (locomotivas a vapor) na estação de Gaia: há 40 an0s expostas aos elementos.

Estes veículos fizeram história. Duas delas, dos anos 20, foram entregues a Portugal como indemnização da I Grande Guerra. Outra foi construída na Suiça em 1916 e circulou em praticamente todas as linhas de Portugal. Estes 3 exemplares arriscam-se a “rumar à sucata”.

Ou temos que esperar que venham mais uma vez os holandeses para nos restaurar as locomotivas? Em 2010 recuperaram o Comboio Real para o exibir com toda a admiração em Utreque, tendo sido vedeta no respectivo museu ferroviário numa exposição que decorreu em Setembro daquele ano e onde se puderam apreciar carruagens reais de toda a Europa.

Postcards from Romania (16)

Elisabete Figueiredo

O património que importa

… e enquanto as pessoas são o património que importa, chego a Sighisoara. Património da UNESCO. Mais uma folclorização. Podia ser pior, suponho, e é bonito de se ver, acrescento.

(Sighisoara, 10 de Agosto de 2012)

Acordo Ortográfico: saber dá trabalho

A discussão sobre o acordo ortográfico (AO90), muitas vezes, desvia-se para terrenos do gosto, da resistência ou da adesão à novidade, quando não inclui acusações infundadas de xenofobia ou declarações cegas de amor à lusofonia. Na verdade, estamos diante de um problema demasiado sério para que nos fiquemos por paixões ou por vácuas declarações de circunstância. Perceber os erros do AO90 dá trabalho.

Já tive ocasião de remeter os leitores para um texto lúcido de Maria José Abranches. Vale a pena darmo-nos ao trabalho de ler estoutro da mesma autora. Dá trabalho, com certeza, como acontece com tudo o que é importante.

Fica, aqui, uma citação, para abrir o apetite: “Todos os aspectos nefastos, propriamente científicos e culturais, deste AOLP foram já abundante e rigorosamente tratados por quem de direito. Parece, contudo, que os decisores políticos, por qualquer razão obscura, se mantêm imunes a todos esses argumentos, a pretexto de não poderem ter “opinião”… Revelam assim uma tremenda insensibilidade face ao valor patrimonial e identitário da nossa língua nacional, que é também, convém lembrar, património europeu, ao mesmo título que qualquer uma das outras 22 línguas nacionais da União Europeia.”

Quem não tem dinheiro não tem História

Museu Britanico, em Londres

O mercado já está a funcionar na Grécia: menos estado, menos segurança nos museus, mais espaço para a iniciativa privada, que naturalmente saberá conservar as peças agora desviadas do Museu de Olímpia.

O património histórico deve estar nas mãos dos empreendedores, caminho que de resto os britânicos já tinham traçado a grande parte do friso do Partenon, tão bem guardado em Londres. E como ficava bonita a Acrópole em Berlim.

Por estas e por outras, hoje também sou grego. Outros irão para a porta do Museu Nacional de Arte Antiga, aguardando a sua oportunidade.

Dia de Mobilização Internacional: Somos todos gregos: [Read more…]

Pela desclassificação do Douro como Património Mundial da Humanidade

Valee e Linha do Tua, foto de Jorge Câmara


O Douro Património Mundial deve ser desclassificado imediatamente pela UNESCO. Dresden já o foi, por causa da construção de uma ponte sobre o rio Elba, e Omã também, por causa da invasão do Santuário do Oryx por uma exploração petrolífera.
É exactamente o caso do Douro e da Barragem do Foz-Tua, que destrói todo o Vale do Tua e a sua linha férrea. São danos irreversíveis, como muito bem diz a UNESCO, por isso a continuidade da construção da Barragem tem de implicar obrigatoriamente a retirada da classificação.
Nada que preocupe demasiado quem manda em Portugal. O que interessa para os neo-liberais que nos governam é ganhar dinheiro e os números é que contam. Mesmo que os contribuintes sejam obrigados a despender milhões por uma infra-estrutura totalmente desnecessária, o que interessa é que a EDP leve adiante os seus negócios.
Desclassifiquem o Douro imediatamente. E de seguida prendam, entre outros, os criminosos Mexia, Sócrates e Passos Coelho.

Todavia, o Comboio

“Conservar y rehabilitar el ramal de la línea férrea entre La Fuente de San Esteban-Barca d´Alva-Pocinho, como recurso patrimonial, motor cultural y de desarrollo socio-económico que debe ser conservado y transmitido a las generaciones futuras”

Vendem-se Chaves

Vende-se molho de Chaves a quatro horas da capital (Madrid).

Tem rio e possibilidade de construção de mega-barragem e reserva de caça de transmontanos.

Possibilidade de recursos petroleiros no sub-solo. Águas tépidas todo o ano.

Favor contactar o Ministério da Cultura.

Sobre a transferência do Museu Nacional de Arqueologia

O que pode querer um Ministério da Cultura que estabelece o prazo de um mês para o Director do Museu Nacional de Arqueologia abandonar as actuais instalações do Museu?

Pretenderá que ele cumpra a ordem de serviço?

É óbvio que o Ministério sabe que a ordem não tem qualquer viabilidade de ser cumprida. Não teria, em condições operacionalmente rigorosas, mesmo que tivesse sido acatada em Agosto, como se alega.

Assim sendo, o Ministério sabe que a ordem não vai ser cumprida. Atira o Director do Museu para uma situação de desobediência. Deixa-o de mãos atadas, com a cabeça no cepo. [Read more…]

Sismos e Património

Domingo, 1 de Novembro de 1755, dia de Todos os Santos, a cidade de Lagos acordou com um tempo primaveril. Muitas pessoas acorreram às igrejas para celebrar a missa.

Sentia-se no ar um odor a enxofre.

Por volta das nove e meia da manhã ouviu-se um rugido medonho.

Poucos minutos depois a terra começou a tremer. Abriram-se fendas no chão e muitos edifícios caíram.

Cerca de quinze minutos depois o mar recuou, deixando as praias em seco. De seguida, uma vaga gigante, ou melhor, uma enorme massa de água, surgiu do lado Sueste da Baía de Lagos e abateu-se sobre a frente ribeirinha da cidade, penetrando terra adentro até à zona de S. João. A esta vaga seguiram-se duas outras, intervaladas de pouco mais de dez minutos. A última foi a mais destruidora, não só pela entrada de uma massa de água com cerca de seis metros de altura no interior da estrutura urbana, como principalmente pelo seu refluxo, que arrastou pessoas, construções, haveres e víveres para o mar.

Descrições da época relatam este terrível acontecimento.

 “Pelas 9 ½ horas da manhã do predicto 1º de Novembro, estando o dia claro e sereno como d’estio, vento N. O., ouvio-se um grande trovão surdo; logo passado 3 ou 4 minutos principiou a tremer a terra com espantosa violência; o mar recolheo-se em parte mais de 20 braças, deixando as praias em seco; e arremettendo immediatamente para a terra com tamanho ímpeto, que entrou por ella dentro mais de uma légua, sobrepujando as mais altas rochas; tornando a retrair-se e rompendo por mais três vezes dentro de poucos minutos, arrastando no fluxo e refluxo enormes massas de penhascos e edifícios; e deixando por isso arrazadas quasi todas as povoações marítimas.”

“Continuou a terra a tremer até 20 d’agosto seguinte com poucos dias de interpolação, principalmente nos primeiros 5 mezes, quasi sempre de noite nos quartos de lua nova e velha.” [Read more…]