Danças no salão da existência

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«Ninguém sabe dizer o que é a alma», e nem sequer «a sua versão científica, a mente», começa por escrever José Luís Pio Abreu no prólogo do seu último livro, O bailado da alma.

Ninguém sabe dizer, mas há quem não se importe de tentar, correndo riscos, como ele, afirmando por exemplo que «o mimetismo humano (a tendência para dançar a dança dos outros) é tão grande que se acumulam evidências de que os próprios órgãos e hormonas humanos podem dançar com os de outra pessoa», e que «de uma mente fazem também parte as mentes de outras pessoas», o que torna em certa medida indefiníveis «os limites de uma alma ou, se quisermos, do espírito.» Seríamos, assim, e num certo sentido, um só, como creio que somos, na continuidade dessa germinação primordial propiciada pela água.

Mas Pio Abreu afirma mais (mediante os processos próprios à observação científica, racionais e verificáveis, note-se): que quando um corpo e os seus impulsos nervosos morrem, o baile continua, no seu constante movimento inscrito no tempo, que é onde existe a alma (ou a mente), que não carece de espaço, como o cérebro, e que «não procede apenas pelo raciocínio, mas, sobretudo, pela intuição.»

Eis um livro que, sem misticismos nem poesia (embora eu pessoalmente encontre grande poesia em tudo o que Pio Abreu tem escrito), passeia pelas Neurociências e pela Filosofia, pela Física e pela Termodinâmica, pela Biologia e pela Matemática, pela Psicopatologia (o território em que o autor, médico psiquiatra, se tem especialmente confrontado com a ideia de alma) e pelas Ciências da Informação.

Um passeio discursivo arriscado, dirigido ao homem comum, e que compõe uma narrativa intelectualmente estimulante para todos os que procurem fugir da camisa de forças do pensamento positivista ainda dominante, com grande dano para o desenvolvimento da medicina, por exemplo, apesar de todos os progressos científicos – grandemente promovidos por um processo evolutivo tecnológico ao qual falta pensamento, por exemplo sobre a acção da consciência sobre a matéria. Uma dança ainda por ser dançada, no fundo, que faz deste O bailado da alma um contributo de valor inestimável para os espíritos mais inquietos (curiosos, insatisfeitos, e sempre prontos para um pezinho de dança com as ideias).

O bailado da alma – O que é a mente, para além do corpo?
José Luís Pio Abreu
Publicações Dom Quixote, 2014

Comments

  1. Grande Homem! Excelente Psiquiatria ! Óptimo Professor! ~
    Vou comprar 🙂

Trackbacks

  1. […] Danças no salão da existência. […]

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