Há muito quem se questione sobre se a gravidade de comportamentos criminais de alguns políticos – refiro-me aos já condenados – não é muito menor que a devastação que provocaram no desempenho, dentro da lei, dos seus cargos. É sim; frequentemente. Mas são coisas de natureza distinta. Por isso, aos juízes exijo o escrupuloso desempenho do seu papel, rigor e sentido de justiça, no estrito âmbito dos seus deveres. Quanto ao resto, nós tratamos da luta política. Recuso em absoluto alienar a minha responsabilidade de cidadão na acção de juízes. Já tivemos Tribunais Plenários, não queremos mais. Não quero que o sistema judicial se encarregue de me vingar as ofensas e agressões políticas. Isso é outro plano. As respostas políticas dão-se na sua esfera própria, seja qual for a sua natureza. Pacífica ou não. Quem de direito tratará da justiça. De nós espera-se justeza.
Dizem que é um governo liberal…
Ninguém é perfeito, mas nem todos abusamos da imperfeição
Tirei esta fotografia em 2001, são os portões da Cimpor, em Souselas, tentávamos bloquear a entrada dos primeiros resíduos industrias tóxicos que ali iriam ser utilizados como combustível gratuito, num processo conhecido por co-incineração.
Foi uma luta inglória. Do outro lado estava um secretário de estado e depois ministro do Ambiente apostado em aplicar as técnicas neoliberais de combate político, à velha moda tatcheriana os cidadãos de Coimbra foram acusados de não passarem de uns nimbys (termo popularizado por Nicholas Ridley, secretário de estado de Margaret Thatcher), e a batalha quando perdida afirmou um político bem falante, firme, implacável, que escolhera a cidade onde estudara três anos (e que ficou a odiar profundamente por razões meramente passionais) como cobaia, José Sócrates de seu nome. O Zé.
Do lado da minha cidade a reacção foi conduzida de forma infeliz, num combate desigual, que esqueceu dois aspectos fundamentais: a localização da Cimpor já era em si um problema (como os ecologistas locais denunciaram ainda na década de 70) e mais do que uma questão ambiental era de um negócio que falávamos: a fábrica ia receber combustível gratuito e uma série de benfeitorias (que verdade se diga diminuíram mesmo a poluição que já levávamos). Fomos muito poucos os que questionámos o óbvio interesse económico, e levantámos suspeitas sobre a eventual corrupção do político que assim aparecia aos olhos dos portugueses como uma estrela cadente. [Read more…]
A prisão preventiva de José Sócrates
Quem me lê há algum tempo sabe da forma como me atirei a José Sócrates durante o tempo em que foi primeiro-ministro. «Atirei-me» a José Sócrates é, aqui, um eufemismo, porque no auge do socratismo o antigo primeiro-ministro tornara-se o meu ódio de estimação. Por razões políticas mas também porque, do ponto de vista jurídico, tudo me parecia demasiado óbvio: projectos da Câmara da Guarda, Cova da Beira, Freeport, licenciatura, compra da PT, Face Oculta, etc.
Três anos depois, José Sócrates está preso preventivamente. E ao contrário do que eu próprio poderia supor, não estou nada feliz com o desfecho. Ver a queda de um homem como José Sócrates não é uma coisa bonita de se ver.
Será talvez o tempo de deixar a Justiça trabalhar e, a seu tempo, avaliar o trabalho feito. Com a esperança de que todo este caso não tenha qualquer influência no futuro político do país. Era o que faltava que os principais beneficiários da prisão de José Sócrates fossem precisamente Paulo Portas e Passos Coelho – e logo eles…
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