De olhos na cultura

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“Nós na nossa vida precisamos de mais do que de ciência. Precisamos de poesia, precisamos de arte nas suas mais variadas expressões” (Passos Coelho!!!!). Visto isto, meus irmãos e irmãs que andais a exigir apoio à cultura, podeis descansar. Isto foi dito esta semana e não passa pela cabeça de nenhum de nós que o (ainda) 1º ministro esteja a mentir, já que tal não lhe está no hábito. Pelo contrário, parece denunciar um sério empenho na matéria. Outra coisa não seria de esperar de um homem que – diz ele- leu os clássicos do marxismo-leninismo (sic) em criança e, pelos 14 anos, lia Thomas Mann e, logo a seguir, os existencialistas – ” Sartre, Camus, Russell (…) como é próprio dessa idade” (sic). Temperava essas leituras com Sócrates e Nietzsche! Declarou ainda, na passada, o seu amor pela poesia de Herberto Hélder o que, se fosse afirmado há uns meses, poderia tirar o poeta do seu recatado silêncio (mérito de que poucos se podem gabar embora, no caso,com imprevisíveis consequências).

Ora, cientes das qualidades intelectuais de Passos Coelho e perplexos com a revelação da sua fulminante precocidade, só podemos esperar o melhor. Quantos de nós – oh sim, quantos de nós?…- já líamos tais autores nesta idade? Eu, humildemente confesso, só lhes peguei bem mais tarde; mas eu sou um tipo vulgar. Passos Coelho não! Todavia, permita-me, senhor 1º ministro, que recomende aos seus assessores um pouco mais de calma no seu entusiasmo. Se é verdade que há muito quem acredite sem reservas nestas declarações – as mesmas pessoas que, benza-as Deus, nunca duvidaram de que o prof. Marcelo, entre os seus múltiplos afazeres, lia dois livros por dia -, também há por aí muitos espíritos cépticos que, Deus lhes perdoe, acharão as suas histórias um rol de vigarices, já que vosselência, com o espírito modesto que o caracteriza, nunca deixou escapar a mais pequena pista de que havia lido tais obras e tais autores. Não se lhe nota, dizem eles. Mais lembram, os velhacos, que V.Exa. e o seu governo não têm feito outra coisa que não enganar e mentir aos portugueses, o que é um manifesto exagero, fruto, sem dúvida, de espíritos aleivosos. Ainda hoje vi V. Alteza proclamar:”…Aqui, em Coimbra…”, o que constitui uma verdade irrefutável uma vez que, indubitavelmente, se encontrava em Coimbra. Quanto ao resto do discurso, mais do que julgar o que é verdade e o que é mentira, importa relevar que, do alto da sua modéstia, V.Exa., mais uma vez, ocultou discretamente a sua arrasadora erudição procurando, na prosaica vulgaridade do discurso que fez, atingir o alvo da compreensão e entendimento dos que, entre nós, são mais débeis de mente. Bem haja por isso. Segue assim, V. Eminência, a lição do seu alegado mestre B. Russell: “A estupidez coloca-se na primeira fila para ser vista; a inteligência coloca-se na rectaguarda para ver.”

Comments

  1. Ana A. says:

    Resta-me agradecer ao autor as gargalhadas que acabei de soltar! (Apesar da triste figura inspiradora).

  2. martinhopm says:

    É preciso descaramento para vir com estas aldrabices todas. Tenha tento na língua, é o que se lhe pede, «menino precoce»
    Nem até hoje ele leu aquilo que diz, quanto mais naquela idade.


  3. Sem comentários…

    Mas ver e ouvir Garcia Pereira, saltando o interlocutor…….

  4. Carvalho says:

    Só me ocorre uma lembrança já com uns anos:
    Após ouvir as minhas críticas a políticos, pergunta-me o meu filho mais novo:
    “Ó pai, porque é que os políticos não são pessoas decentes?”
    O mais velho nem me deu tempo a responder:
    “Pá, se fossem pessoas decentes não eram políticos, eram trabalhadores como o pai.”

    Pois.