Quer um cardiologista? Vá a Fátima

Carta aberta à Dra. Emília Barbosa (Hospital de S. João)

Dra. Emília Barbosa,

Não me conhece nem eu a si, mas posso dizer-lhe que não vou esquecer o seu nome nos próximos anos e espero que também não se esqueça do meu.

Na consulta de cardiologia que o meu pai hoje tinha agendada com a senhora, no Hospital de São João, no Porto, e que já começou com uma hora e meia de atraso porque a doutora agenda consultas para um horário prévio àquele a que efectivamente lhes dá início, e pouco lhe importa quão penoso pode ser para um doente debilitado esperar por si, nessa consulta, dizia eu, a senhora começou por repreender o meu pai por obrigá-la a ter de “mandar desinfectar o consultório” por ter entrado lá com “o sangue todo contaminado com um micróbio”.

Como sabe, ou saberia se tivesse consultado o processo com mais vagar, o meu pai é um doente renal, cuja vida depende da realização de diálise peritoneal. Estes pacientes têm um risco altíssimo de infecções. No caso dele, o serviço de Nefrologia desse mesmo hospital havia detectado indícios de infecção, rapidamente tratada, e já totalmente curada no momento em que o meu pai se apresentou na sua consulta. Repreender um homem doente e debilitado por obrigá-la a “desinfectar o consultório” não só é incorrecto do ponto de vista médico (bastava ligar para o serviço de Nefrologia e falar com um colega, se lhe custa muito ler o processo), mas lamentável do ponto de vista humano. [Read more…]

O teu nome é João?

sao_joao_bragaEntão este post é para ti.

Última hora

Segundo o Expresso, Sócrates “prefere ficar na prisão do que ir para casa de pulseira electrónica“. Electrónica? Efectivamente: electrónica.

Arena

Um filme de João Salaviza, Palma de Ouro no Festival de Cannes (para curtas-metragens), 2011. Detido em casa com pulseira electrónica, Mauro arranja problemas…

Ficha IMDB.

Nos 75 anos do Portugal dos Pequenitos

Excerto do documentário Vida & Obra de Cassiano Branco de Edgar Pêra. Particular atenção à leitura de Paulo Varela Gomes.

Também podia comentar a entrada, hoje, de Joana Vasconcelos num espaço para o qual tem tanta competência para intervir como para se dedicar ao mergulho de grande profundidade em apneia, mas não vale a pena: é tudo a brincar.

A Mariana Mortágua tem

Publiquei este vídeo no Facebook porque a sua partilha a partir de uma página estava bloqueada, alguém deve ter andado a brincar às denúncias. Vai a caminho das 200 partilha 700 partilhas 5206 partilhas e 151.425 visualizações, o que nunca me tinha acontecido com um vídeo, imagem etc. etc.

E como tenho acesso à forma como cada um a partilhou posso constatar que não, não é maioritariamente gente do Bloco, nem sequer de esquerda. Mas gente que escreve coisas como esta:

Oxalá esta “menina” um dia seja Governo!

A explicação da Mariana Mortágua é clara e simples, e obviamente que tem razão. Mas não é isso, ou só isso: há quem tenha nascido com este talento natural para a política, inspire confiança nas pessoas comuns, chamem-lhe empatia ou carisma. Uns têm, outros bem tentam mas não. O BE teve a sorte de mal se afastou da direcção quem tinha chegar a Mariana. Se calhar não é só sorte. Seja o que for, só precisam de arrumar os egos na prateleira e dar espaço a quem tem.

Adenda: vídeo substituído pelo original, com outra qualidade. Os mesmos 20 minutos, e a disponibilidade de outras intervenções na conferência “Quem ganhou com as privatizações?

Ditaduras imunes a sanções

Raif

No país do wahhabismo e dos financiadores do terrorismo islâmico, o blogger Raif Badawi ficou ontem a saber que a pena de 1000 chicotadas e 10 anos de prisão por alegados “crimes” de insulto e renúncia ao Islão é mesmo para cumprir. Outra coisa não seria de esperar de uma nação governada por fundamentalistas sedentos de sangue que condenam cidadãos à morte por bruxaria.

Agora a ironia: no passado mês de Maio, a Arábia Saudita reiterou a sua intenção de presidir ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, poucos dias depois do regime ter colocado um anúncio para recrutamento de 8 novos carrascos para dar vazão ao crescente número de execuções e amputação de membros no país. Só nos primeiros 5 meses de 2015, as autoridades sauditas executaram 85 condenados, um crescimento assustador face aos 87 executados em todo o ano de 2014.

Com que moral queremos nós, ocidentais, continuar a apontar o dedo a russos ou norte-coreanos se nos continuamos a sentar a mesa com este tipo de “gente”? Um ditador é sempre um ditador, tenha o petróleo que tiver. Alguém tem por aí um pacote de sanções para estes animais?

Cavaco condecora Teixeira dos Santos

No 10 de Junho é assim: o regime condecora o regime e Cavaco bem pode agradecer a Teixeira dos Santos pelo resgate do banco trafulha dos seus amigos trafulhas.

Com Francisco Assis vale tudo, menos andar de Renault Clio

Assis

Em entrevista à Rádio Renascença em Fevereiro de 2013, Francisco Assis criticava aqueles que apupavam o governo e pedia contenção verbal no Parlamento, que segundo o eurodeputado recorria a linguagem “extremista” nas suas críticas ao executivo de Pedro Passos Coelho. Como se esta curiosa simpatia pelo governo não fosse já suficiente, Assis fez a seguinte afirmação, que apanhou muitos socialistas de surpresa:

Será mais fácil fazer aliança com uma direita que, entretanto, se terá livrado da tentação neoliberal que hoje marca claramente a actual maioria

Volvidos pouco mais de dois anos, Francisco Assis veio dar o ar da sua graça à convenção do Partido Socialista, mas o discurso, no que aos seus potenciais parceiros do PSD diz respeito, mudou radicalmente. E radicalmente é o termo certo na medida em que, após as críticas a todos aqueles que no Parlamento usavam linguagem extremista para atacar o governo, é Assis quem agora qualifica o governo com quem há dois anos considerava coligar-se de extremista e apela com veemência ao afastamento do seu partido de qualquer compromisso com a coligação PSD/CDS-PP:

Não pode haver compromissos com esta direita extremista

Hoje é fácil coligar com a direita, amanhã são extremistas e Deus os livre de qualquer compromisso com essa gente. Com Francisco Assis, todas as opções estão em cima da mesa, excepto andar de Renault Clio.

Mais vírgula, menos vírgula, estamos de acordo

“Duarte Marques: Os portugueses não acreditam duas vezes na mesma farsa“. Lembram-se daquele que prometeu não aumentar os impostos em 2011?

Como está o teu nível de sinceridade, Durão?

Durão Balsemão

Há pouco mais de duas semanas, nas Conferências do Estoril, Durão Barroso afirmava perante a plateia que, desde a sua saída da Comissão Europeia, o seu “nível de sinceridade aumenta todos os dias“.

Apesar das dúvidas óbvias que tais declarações suscitam, tentemos por um momento abstrair-nos daquilo que é o historial do primeiro-ministro que abandonou o país por dinheiro e prestígio e assumir que as declarações do mordomo das Lajes, excepcionalmente, são verdadeiramente honestas. Partindo deste princípio, agrada-me a possibilidade de virmos em breve a saber um pouco mais sobre os meandros do nebuloso Clube Bilderberg, no seio do qual alguns acreditam que se decidem os destinos do globo. É que o magnata da comunicação social Francisco Pinto Balsemão prepara-se para passar a pasta de membro residente do steering committee desta organização ao senhor cherne, pelo que, dado o recente aumento do seu nível de sinceridade, talvez fiquemos em breve a saber um pouco mais sobre estas reuniões que juntam a elite europeia e norte-americana, sempre envoltas em total secretismo, patrulhadas por exércitos locais e cuja esmagadora maioria dos participantes partilham a extraordinária coincidência de serem eleitos ou seleccionados para cargos de relevo nos seus países e/ou em organizações internacionais pouco depois de por lá passarem. Alguns chegam mesmo a demitir-se dos cargos que anteriormente ocupavam, um mês depois de lá terem estado. Vale tudo.

Agora a sério: é claro que não vamos saber coisa nenhuma. Perguntar-lhe o que quer que seja sobre esta organização terá o mesmo efeito que a tentativa frustrada da jornalista Marisa Moura em 2013: silêncio. O nível de sinceridade de Durão, a existir, nunca chegará a tanto. Para além de que importa manter a maior parte dos ainda portugueses na ignorância. Eles não iam perceber…