Alugam-se jardins centenários

No domingo passado, estava eu a dormitar na relva dos jardins de Serralves quando um dos seguranças se aproximou para avisar-me de que tinha de sair porque estava a ocupar indevidamente os jardins centenários da Fundação. Lá fui eu, estremunhada, para outras paragens com o meu paninho de estender sobre a relva.

Na edição de hoje do Jornal de Notícias fiquei a saber que os mesmíssimos jardins centenários vão ser encerrados ao público durante os próximos dias porque foram alugados a Jorge Mendes, super-mega-hiper empresário do futebol, que se casará em Serralves e pretende que a boda, recheada de estrelas do seu calibre, se mantenha livre de olhares indiscretos.

Serão encerrados, pelo menos até domingo, dia da boda, os 18 hectares de jardim, mais a Casa de Serralves, a Casa de Chá e o parque de estacionamento, tudo para que o copo-de-água decorra sem interrupções.

A vossa sorte, contabilistas da Fundação, é que o meu cartão de Amigo de Serralves está pago até Janeiro. Até lá, pode ser que me convençam a renová-lo, mas de certeza que não será transformando uma instituição cultural de referência e um dos mais belos parques do país em sala de banquetes para bodas e baptizados.

Foto: Instalação de João Paulo Feliciano

Comments

  1. Vergonhoso Portugal…

  2. António Joaquim Aragão Aires says:

    Invadir os relvados com bolas de pontapés nas bolas.

  3. Konigvs says:

    Sinceramente? Não acho que os jardins de Serralves valham o que chulam para lá se entrar. Aliás acho mesmo que no Porto, Serralves é o espaço verde que se cobra da entrada. No Porto há melhor, mais antigo e com muito mais história, e em todos se entra de borla, sem a chulicezinha capitalista da “fundação”.

    Se eu tivesse de eleger um jardim do Porto para um qualquer evento íntimo, nem que fosse só a dois, estou em crer que a escolha recairia no Jardim das Virtudes. E nem era preciso alugar o espaço. Tê-lo-ia só para mim pois lá ninguém vai visitá-lo. Nem os próprios portuenses sabem que ele existe e ali passam em volta dele todos os dias de carro. E ao menos poderia sempre dizer que tive a maior Gingko bilova do país, essa árvore tão especial, por testemunha.

    • No último fim de semana, no jardim das Virtudes ouvia-se um sujeito que creio que se chama PZ. Quando me deito debaixo das árvores só gosto de ouvir o vento e os pássaros.
      Em qualquer caso, não está em causa o mérito ou demérito dos jardins de Serralves.

  4. Rui Moringa says:

    O dinheiro sempre “fala” mais alto-
    Os principios e as pessoas nada valem.
    Lamentável.

  5. Dezperado says:

    Parece mentira mas não é……irreal…….

    Qualquer dia alugam ao Continente para fazerem a festa com o Tony Carreira……

  6. Orlando Sousa says:
  7. Anasir says:

    Indecente…

  8. Luís Coelho says:

    Pois é, minha cara senhora, fez bem em recolher o seu paninho porque há que dar lugar aos verdadeiros intelectuai$ deste país e arredores.
    No entanto, há algo de errado nesta história: então os casamentos e baptizados não ocorrem, agora, nos estádios de futebol do Euro? Para quem esteve ligado àquele evento, no mínimo devia ser obrigatório

  9. Mais um episódio do 24 de Abril…

  10. A nobre ideia que as instituições devem ser mantidas pelo erário público, como podemos conferir pelo passado recente, levou-nos ao estado em que estamos. Daí o “escandalo” destas mentalidades ricas(com o dinheiro que “alguem” vai pagar ) se revoltarem por Serralves fazer pelas receitas próprias. Sem querer ser advinho, presumo que no espírito dos milionários que se prestaram a pagar, esteja também o ajudarem o país que amam. Tenham vergonha!!

    • Nada disso. Justamente porque depende do financiamento privado é que a Fundação estabelece contratos com os seus mecenas, que é no fundo do que se trata esse conceito do “Amigo de Serralves”. Em troca de financiamento, compromete-se a preservar os seus valores institucionais, bem como a facilitar o acesso desses “amigos” aos seus múltiplos espaços. Transformar Serralves em salão de casamento põe em causa a salvaguarda dos valores que a Fundação diz querer assegurar. Leia os estatutos da Fundação e deixe lá a vergonha, que a moral e os bons costumes não são para aqui chamados.

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