Discuto a Grécia por Portugal

André Serpa Soares

Nas redes sociais há temas que desgastam os “artistas” que ousam debatê-los abertamente. Por exemplo, o futebol. Existem rivalidades óbvias, motivadas por “clubites” mais ou menos exacerbadas e tantas vezes credoras de racionalidade.
Apesar de uma ou outra recaída, como discutir futebol no facebook era algo que acabava por me desgastar – sobretudo, creio, porque não sou adepto do clube da “maioria ruidosa” – deixei-me disso por aqui.

No caso da Grécia, parece que estamos no mesmo pé. Discute-se profusamente a Grécia. Há posições firmes de um lado e do outro. Tenho ideia que os meus amigos de direita são contra qualquer nova ajuda ou perdão à Grécia e os de esquerda são favoráveis às posições do Syriza e do auxílio ao povo grego.
As posições, de argumento em argumento, vão-se extremando. De tal forma que acaba por parecer que estamos de novo a discutir o Sporting e o Benfica.

Não há meio termo. Não há flexibilidade na discussão. Tudo é branco ou preto. [Read more…]

Filas há muitas (2)

filas marcar consulta amadora

Junção de 2 fotogramas da reportagem da SIC, para ser ver a totalidade da fila para marcação de uma consulta no Centro de Saúde da Amadora em 31 de Março de 2015.

“Não temos de estar em filas para levantar dinheiro”, disse o líder parlamentar do PSD. E para marcar uma consulta, já conta? E para a sopa dos pobres?

A balada do Acordo Ortográfico de 1990

atual actriz

New York Cops – NYPD Blue: Season X, Episode Y
AO90 (08 Jul. 2015)
“NYPD Blue” AO90 (original title)

Versão portuguesa da sinopse:

Neste episódio, um leitor é atacado por ‘atual‘ e por ‘actriz‘, ao ler um texto publicado no Expressoem que se conta algo de insólito ocorrido na cidade que nunca dorme, antes de uma representação da peça “Hand to God“, de Robert Askins, no teatro Booth  para quem não souber, este teatro fica a cerca de vinte minutos a pé de um edifício nosso conhecido.

O detective (efectivamente: detective) Sipowicz, depois de descobrir que algo de semelhante aconteceu ao mesmo leitor, exactamente no mesmo local e há muito pouco tempo, encontra um júri que pode exigir a candidatos a apresentação de documentos comprovativos de fatos. Sim, comprovativos de fatos. Hoje, no sítio do costume.

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Privatização dos exames

ingles cambridgeNotícia: Público

Aqui está o que se adivinhava. Privatização dos exames, agora em segunda etapa, a seguir alargando a mais anos e outras disciplinas.

O que é que leva um estado a passar a um país estrangeiro uma competência sua, passando um atestado de incompetência aos seus profissionais e colocando-se numa posição de perda de soberania? Nada, excepto criar negócio onde ele não existia. Pior do que um incompetente, só um incompetente com poder. Nuno Crato, com o seu saco de vaidade, faz o pleno.

Debaixo de cada pedra um fascista

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A propósito de uma assembleia municipal democraticamente eleita, afirma Ivo Portela, um ex-autarca também sufragado pelo povo de Tábua (fica aqui) que “essas pessoas inclusivamente deveriam ser expulsas do concelho de Tábua, porque estão a sabotar o nosso desenvolvimento”.
Bom, não façam lá perguntas difíceis só porque uma autarquia decide pagar 200 salários de um mês a uma empresa privada porque o que é importante é “continuar com esta política ativa de desenvolvimento”. Portugal dos pequeninos. 

Comissão Europeia premeia Cicloficina dos Antos, FPCUB fica com o prémio

carta_reciboCicloficina dos Anjos

A Comissão Europeia, através do seu programa Do The Right Mix, premiou há um ano a Cicloficina dos Anjos  com a atribuição de 2600€ para esta criar e dinamizar pequenas cicloficinas universitárias em Lisboa. Como a Cicloficina não existia formalmente, a candidatura foi feita em nome da Federação de Cicloturismo (FPCUB).
Durante o projecto, a Cicloficina dos Anjos suportou todos os custos, pedindo facturas de todos os gastos em nome da FPCUB para que esta posteriormente transferisse o valor para a Cicloficina. No entanto, após a recepção do montante do prémio, a FPCUB recusou-se a fazê-lo, ao contrário do acordado.
Em suma, a Cicloficina dos Anjos venceu o prémio, realizou o projecto criando 3 novas cicloficinas universitárias, e a FPCUB decidiu ficar com esse dinheiro atribuído pela Comissão Europeia. [Read more…]

Aconteceu mesmo, no Oeste

João Daniel Pereira

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A história que aqui se vai apresentar não é um mito urbano… Aconteceu mesmo, no Oeste, e NÃO numa Escola Pública!
Data: Quarta-feira, 17 de Junho de 2015.
Hora: Entre as 9.15 e as 9.30 horas.
Local: Um estabelecimento de ensino (NÃO uma Escola Pública), algures no Oeste.
Situação: Prova de exame nacional da disciplina de Português (12.º ano).
Depois de terem entrado nas salas, os alunos preenchiam os cabeçalhos das provas de exame, obviamente antes da entrega dos enunciados, o que só aconteceria, como está determinado, pontualmente, às 9.30 horas.
Eis que o inesperado acontece… Uma professora entra em cada uma das salas, chama a atenção dos alunos, explica o que é uma metonímia e retira-se em seguida.
Começa o exame e uma vez chegados ao grupo II, os alunos deparam-se com a pergunta 6: “Na expressão “paisagens olfativas” (linha 27), o autor utiliza: a) uma metonímia; b) um eufemismo; c) um paradoxo; d) uma sinestesia (isto na versão 1 porque na versão 2 foi: a) um eufemismo; b) uma sinestesia; c) uma metonímia; d) um paradoxo).
Ainda bem lembrados do que a professora lhes dissera minutos antes do início do exame, os alunos não têm dúvidas em assinalar a hipótese “metonímia” como resposta correcta – a) na versão 1 e c) na versão 2 da prova de exame.
Algumas horas depois de concluírem o exame, os alunos acedem ao sítio do IAVE e verificam, com surpresa, que a resposta correcta à pergunta 6 do grupo II da prova de exame de Português é, nem mais nem menos, que “sinestesia”. Manifestam o seu descontentamento uns com os outros e alguns confidenciam o que aconteceu a colegas de escolas públicas da mesma cidade. [Read more…]

A resistência grega

“A política na Europa tem de ser sempre de direita para manter a zona euro intacta” – José Gomes Ferreira (ligação para Facebook)

Era uma vez um consenso, entre a casta que domina a Europa dita democrática, e que mantendo a designação de socialista ou democrata-cristã bebe toda da mesma fonte, o neoliberalismo. Por esse consenso a escolha eleitoral dos povos estava restringida a eles próprios, excluindo obviamente a esquerda, esses perigosos comunas. Não Há Alternativa, declarou um dia um verme que proclamava não existir essa coisa da sociedade. E estava tudo a correr tão bem, os países mais ricos enriqueciam, os mais pobres enriqueciam alguns dos seus por conta de privatizações e do desvio dos fundos comunitários para negócios improdutivos. A Sul a corrupção alastrava, em toda a parte a alta finança especulava em liberdade. Estava tudo a correr tão bem, as desigualdades em crescendo, a liberdade de expressão presa na imprensa dominada pelos mesmos donos, a mesma casta, tudo assegurava a tranquilidade, a paz, um futuro brilhante.

Era uma vez uma fábula que um dia tropeça num país pobre, de ilhas e pedras. Onde um povo que sabe ter de seu o que conquistou disse que já chegava. Correu com os bandidos mais próximos, os dois ou três partidos que sempre a governaram, e escolheu um governo de esquerda. [Read more…]

“Casei com África”

“Eu sou o mais africano de todos os candidatos”.
O que são, pois, 40 ME para a Guiné-Bissau?

Os desígnios insondáveis das sondagens

Tendo recebido um telefonema em que alguém se propunha sondar-me em matéria eleitoral e tendo eu declinado o convite – como sempre fiz – lá fui parar, mais uma vez, à coluna dos que “não sabem/não respondem”.

Gostava que as palavras que aqui estou a escrever tivessem o efeito mágico de afastar estas abordagens de uma vez por todas. Notem que não consigo tratar mal ou ser indelicado para as pessoas que se encarregam destas tarefas, sobretudo as que nos abordam presencialmente. Geralmente são jovens a procurar ganhar um parco salário e, por isso, merecem-me, geralmente, simpatia e cordialidade. E não só os que fazem sondagens políticas, mas também comerciais – quando lhe perguntam que programas de televisão prefere, estão, de facto, a relacionar os seus dados pessoais com os seus gostos no sentido de escolher espaços de colocação da publicidade televisiva -, estas agora mais raras, sobretudo desde que as empresas aprenderam a piratear dados das redes informáticas (como esta…) e desenvolveram métodos mais fiáveis de medição de audiências. Mas lá que recuso, recuso. [Read more…]

O estado da nação é muito simples

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Fonte: Banco de Portugal

Privatização de tudo o que gera receita no estado e do que tem receita garantida via orçamento de estado. Negócios com prejuízo foram reorganizados por forma a vender a parte com receitas, ficando a parte com prejuízo para o estado.

Para quê? Esqueça a tese de termos gasto acima das nossas possibilidades. Olhe para si e conclua. Estas receitas serviram apenas para pagar os juros da dívida do empréstimo que tirou a banca da falência.

O resultado? Estamos pior do que no início da legislatura. Recorde-se qual era o objectivo da austeridade: reduzir a dívida pública e controlar o défice. Este continua sem chegar aos valores exigidos pelo euro e a primeira aumentou significativamente. O défice diminuiu graças ao colossal aumento de impostos e a dívida disparou devido aos custos com os juros.

Menos saúde, menos educação, menos justiça, mais horas de trabalho, mais impostos, menos salário. Este é o estado da nação.

Vêm aí melhores tempos? Nada para aí aponta. Não podemos continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes.

Política mesmo (assim)

Ontem, no Política Mesmo, José Luís Arnaut teve dia aziago. O tema era a situação da Grécia e os convidados eram, não porque a TVI tenha grandes escrúpulos democráticos, mas porque gosta de fogo de artifício, divididos num suposto esquerda – direita. A esquerda presente era facilmente identificável: Ricardo Pais Mamede e Mariana Mortágua. À direita é que as coisas se complicavam. Além do “moderador” – Paulo Magalhães, a mim não me levas – brilhava o mui ínclito José Luís Arnaut e, porventura julgavam eles, Francisco Seixas da Costa, diplomata por vocação, gastrónomo por devoção. Se julgavam isso, saiu-lhes mal a festa. Já por várias vezes tenho apreciado o equilíbrio das posições de Seixas da Costa, designadamente em política internacional. Não decepcionou, mais uma vez (ou melhor, se alguém saiu decepcionado, não foram aos espectadores). Os verdadeiros diplomatas vão rareando e, em situações como a que se vive hoje, isso é dolorosamente evidente.

Sai mais uma fornada de estágios para mascarar os números do desemprego

Desemprego

Enquanto as tropas do PaF acenam com o milagre da recuperação do emprego, a realidade, essa malvada, insiste em deitar por terra as mais variadas tentativas de manipulação do departamento de engenharia política do desemprego. Depois das notícias da passada semana, o Publico revelou ontem novos números que deitam por terra a propaganda laranja-azul. Sócrates prometeu 150 mil empregos, Passos Coelho destruiu o dobro: 298 mil empregos desapareceram no espaço de 4 anos. Notável.

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2010-2011: Pedro Passos Coelho em campanha

Para os que não têm memória, para os que acreditam no mito dos mitos urbanos.

Damm! Os comunas tinham razão…

Euro PCP

Nesse maravilhoso mundo das redes sociais, encontrei esta montagem interessante que nos mostra esse distinto cidadão português que liderou os destinos do país até ser engolido pelo pântano que entretanto se criou à sua volta e que hoje exerce funções na ONU. A sua previsão, pouco antes do advento do euro, era a de que a moeda única colocaria Portugal no pelotão da frente de UE. Passados 17 anos, Portugal continua a ser um carro-vassoura, disputando com a Grécia a liderança da cauda da Europa. Boa Guterres, acertaste em cheio!

O outro protagonista desta montagem é Carlos Carvalhas, antigo líder do PCP e reconhecido perigoso comunista. Daqueles que, suspeitamos, poderá alimentar-se de criancinhas ao pequeno-almoço. A sua premonição, contudo, parece encaixar como uma luva no triste fado que a adesão ao euro se revelou para o nosso país. A coisa é tão certeira que chega a ser chocante. São cassetes.

Vale tudo para fazer de conta que está tudo bem

Até dar dinheiro que se pediu emprestado. Portugal disponibiliza 40 milhões de euros para a Guiné-Bissau.

Os desígnios insondáveis das sondagens

Tendo recebido um telefonema em que alguém se propunha sondar-me em matéria eleitoral e tendo eu declinado o convite – como sempre fiz – lá fui parar, mais uma vez, à coluna dos que “não sabem/não respondem”. Gostava que as palavras que aqui estou a escrever tivessem o efeito mágico de afastar estas abordagens de uma vez por todas. Notem que não consigo tratar mal ou ser indelicado para as pessoas que se encarregam destas tarefas, sobretudo as que nos abordam presencialmente. Geralmente são jovens a procurar ganhar um parco salário e, por isso, merecem-me, geralmente, simpatia e cordialidade. E não só os que fazem sondagens políticas, mas também comerciais – quando lhe perguntam que programas de televisão prefere, estão, de facto, a relacionar os seus dados pessoais com os seus gostos no sentido de escolher espaços de colocação da publicidade televisiva -, estas agora mais raras, sobretudo desde que as empresas aprenderam a piratear dados das redes informáticas (como esta…) e desenvolveram métodos mais fiáveis de medição de audiências. Mas lá que recuso, recuso. Agora que as sondagens – e, quando querem poupar dinheiro, as entrevistas sobre o valor das ditas – estão a ferver, devidamente comentadas por entrevistados conspicuamente parciais, quer sejam assumidamente pertencentes a partidos – quase sempre próximos do poder – quer sejam jornalistas sabujos e servis, espécie que abunda em todos os canais e jornais, ocorre-me deixar aqui esta nota. [Read more…]