“É muito difícil dizer não a um amigo”

Retrato_oficial_Miguel_RelvasOntem, Miguel Relvas lançou um livro que terá alegadamente escrito. O facto de ter o seu nome na capa fará com que, no mínimo, tenha equivalência a autor. De qualquer modo, para bem do sucesso da obra, espero que a capacidade argumentativa de Relvas tenha melhorado ou sido melhorada.

A peça do Público é absolutamente exemplar, ao permitir que a realidade se mostre a si mesma. Basta ver a quantidade de vezes que palavras como “amigo” ou “amizade” foram utilizadas pelos entrevistados para justificar o título do texto: “O outro lado da governação são os amigos”.

Numa assistência constituída sobretudo por políticos, todos negaram ou, no mínimo, omitiram essa qualidade, substituindo-a pela de “amigo”. Paula Teixeira da Cruz classificou mesmo a sua presença como “um acto pessoal, muito pessoal”, talvez por oposição a actos menos pessoais ou pouco pessoais e num contraponto às justificações dos assassinos mafiosos que pedem desculpa ao iminente assassinado dizendo-lhe: “Não é pessoal, é negócio.”

Face às afirmações de alguns dos presentes, ou seja, dos amigos, fico, no entanto, com a impressão de que há, por vezes, a confissão de que a sua presença implicou, aparentemente, alguns sacrifícios. [Read more…]

Angela Merkel, uma aluna petulante e mal comportada

Senhora chanceler, vá fazer isso noutro sítio

Foi desta forma que, após duas chamadas de atenção, o presidente do Parlamento alemão puxou as orelhas à tagarela que, em total desrespeito pelo deputado que intervinha na tribuna, conversava alto e em bom som com o líder parlamentar do SPD. Petulante, a chanceler levantou-se e, na companhia do seu colega reguila, foi sentar-se nas cadeiras vazias mais atrás para continuar na sua amena cavaqueira, ignorando os trabalhos em curso no Bundestag. Um belo exemplo da cultura democrática da mais alta figura do país que mais lições de moral dá aos europeus.

As lições de propaganda de Marques Mendes

MarquesM

Em artigo de despedida do painel de cronistas da visão, Marques Mendes dedicou algumas linhas a elogiar Jorge Sampaio, recentemente distinguido com o Prémio Nelson Mandela. Não irei discutir a justiça na entrega do galardão mas apenas a conclusão genial do barão social-democrata: esta distinção é relevante por ser ilustrativa da afirmação de personalidades portuguesas à escala planetária. E aproveita a deixa, claro, para fazer um mimo ao amigo Durão Barroso.

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Sala de espera

Sento-me entre estas mulheres, eu que apenas espero por quem há-de sair, como se partilhasse a angústia delas, uma mais entre elas, na sala de espera, eu tão vestida –  de roupa, de palavras, de artifícios -, elas nuas com a sua roupa coçada, os seus gestos bruscos, o seu cansaço de muitos anos. Mulheres castigadas, que até da doença se sentem culpadas, que se deitam para que um médico as toque como se assim se rebaixassem, que sentem o corpo como algo que lhes não pertence mas do qual devem sentir vergonha. [Read more…]

Aceitam-se legendas

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© autor desconhecido

Assis está definitivamente perdido

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Francisco Teixeira

Assis escreve hoje outro texto no Público que constitui a continuação da sua perdição cultural e ideológica que, no essencial, mostra que quando não é vácuo está errado e não percebeu, dos salões luxemburgueses, a Europa em que as pessoas reais vivem.
Centro-me apenas nos erros mais evidentes e confrangedores…

Erro 1: “Grécia tornou-se o pedaço doente da nova Europa.”
Assis repete aqui os piores e mais soezes estereótipos ultradireitistas: o problema europeu é a Grécia!
Nem sequer imagino como um tipo como o Assis pode pensar isto, e dizê-lo! Por decoro, nem sequer contra-argumento.
Erro 2: “Ocorreu em 2011, quando Georgios Papandreou, recém investido nas funções de primeiro-ministro, informou uma Europa incrédula de que as contas relativas às finanças públicas helénicas tinham sido aldrabadas. Começou aí a crise das dívidas soberanas que tanto prejuízo causou no Velho Continente.” [Read more…]

O alcarnache

Na lavoura, o alcarnache é sobejamente conhecido. Corta-se-lhe a rama mas basta um pedaço de raiz para a erva regressar com igual esplendor. Adapta-se aos herbicidas, torna-se forte com as adversidades e só desaparece quando tudo o resto secou.

Há personagens assim na política e a apresentação do livro de Miguel Relvas reuniu uma parte delas. A revista Sábado publicou esta semana um depoimento de Norberto Pires, ex-presidente da CCDR Centro, a denunciar como funcionam as pressões partidárias, no caso do PSD/CDS mas podia perfeitamente ser do PS, os partidos que têm passado pelo poder. É o mundo de Relvas, e de outros, como Marco António Costa, os homens do partido, que decidem lugares nas listas de deputados e nas nomeações. A corte esteve presente na apresentação do doutor por prescrição. [Read more…]

O futuro aprisionado no passado

fantoche

O season finale do Prós e Contras encheu-se de malta nova para debater o futuro do país. Independentemente da minha concordância ou discordância com as opiniões dos membros do painel, que dentro daquilo que é a sua ideologia política ou pensamento económico souberam argumentar com coerência, não posso deixar de referir a pobreza das intervenções dos líderes das duas maiores juventudes partidárias do país. O líder da JS limitou-se a fazer campanha por António Costa, sendo mesmo acusado por Mendes da Silva de estar a ler o teleponto no telemóvel, insistindo no discurso repetitivo e vago que, em parte e contra todas as expectativas, permitiu à coligação PSD/CDS-PP ultrapassar o PS nas sondagens. Já o líder da JSD regressou à narrativa gasta do confronto geracional, apontando o dedo aos nossos país e avós, responsáveis pela herança de dívida que nós, os jovens, carregamos aos ombros. Uma não-questão. Uma não-questão porque o único erro que os nossos pais e avós cometeram, no limite, foi votarem nos nossos carrascos. Porque quem onerou a minha geração e as que estão para vir foi uma casta de políticos irresponsáveis do chamado arco do poder, cuja incompetência aliada ao eterno embuste eleitoralista, cultura despesista e gestão clientelista em função dos interesses do costume nos trouxe até aqui. Creio, se a lógica não me falha, que Simão Ribeiro estaria com certeza a falar para dentro. Será que os barões do seu partido ouviram?