Bilhete do Canadá – No Rescaldo da Bola

Foi obra sofrer cerca de duas horas a ver a transmissão do Portugal-França por uma estação televisiva canadiana, portanto em inglês e sem os apartes gostosos que a nossa língua proporciona, porque a RTP-Internacional é assim uma espécie de caixote do lixo. Não transmitiu o jogo por este canal e, a partir das 20 horas (de Lisboa), passou a transmitir um programa muito chato e sem graça, sob a batuta dum sujeito com cara de lua cheia e sorriso embevecido. Quando todos esperávamos, por nos parecer decente e lógico, que a normalidade se iria repor com o noticiário da meia noite (de Lisboa) e consequente passeio de imagens da selecção e do país, a RTP-Internacional teve o topete de repetir a xaropada. Tinha razão uma secretária de estado das Comunidades, militante do PSD, que rotulou tudo o que não fosse Europa de Resto do Mundo. Na verdade, a RTP, e não só, trata-nos como um resto deste mundo. Mas quando há eleições ou é preciso dinheiro, lembram-se de nós e aparecem cá, lampeiros, com uma cesta de penduricos para os amigalhaços. Nós, que não somos tão parvos como a RTP nos julga, aprendemos com o tempo a ver as diferenças entre a forma como o Canadá e a nossa ditosa Pátria nos tratam.


Pois foi um sofrimento e tanto. Mas valeu a pena. Não apenas pelo fulgurante resultado com que o Éder nos brindou, mas pelo que nos obrigou a reflectir. A comunicação social tem-se encarregado de passar de Fernando Santos, de Cristiano Ronaldo, da selecção nacional, uma imagem medíocre. O que se passou neste jogo que deu a taça de Campeão Europeu a Portugal, virou tudo de pernas para o ar. O treinador revelou-se um homem notável, na sua humildade, Cristiano Ronaldo teve um comportamento exemplar, a equipa deu uma lição de resistência e unidade invejável face a uma equipa francesa cheia de brutalidade e presunção. No futebol e na política, temos de ter a maior reserva em relação à comunicação social dita de referência, porque cada vez mais ela se revela um clube de compadrio e arranjismo. Se a RTP, por exemplo, dispensasse dois terços dos seus comentadores encartados e dos seus humoristas armados em fazedores de opinião, poupava muito dinheiro e dava um grande alívio a todos nós.

Esta é uma hora de imensa alegria e esperança. Vamos vivê-la intensamente. Em Toronto, milhares de portugueses juntaram-se em jubilosa celebração no Little Portugal, o bairro onde está a maior parte da nossa comunidade.

Foi bom e correcto estarem presentes no Stade de France o Presidente da República e o Primeiro Ministro, lado a lado com os seus homólogos de França. Foi lindo de ver a paixão por Portugal da nossa gente em terra francesa.

E foi dum ridículo espantoso que Durão Barroso, metido entre os VIP e ignorado em geral, tivesse aproveitado uma entrevista de rodapé, junto ao rectângulo, para se elogiar a si mesmo com o mais total despudor e falta de classe. Disse que o Goldman Sachs é a instituição financeira mais importante do mundo e que ele tinha sido escolhido pela sua competência… Provavelmente a mesma com que serviu de mordomo na Cimeira das Lajes, essa que levou a guerra e a miséria ao Iraque, e ao Médio Oriente em geral. Mas que rendeu a ele a presidência da Comunidade Europeia e a Paulo Portas uma condecoração americana, dada pelo seu amigo Rumsfeld, o mesmo que se viu acusado internacionalmente por pertencer a uma multinacional de produtos farmacêuticos que andou a fazer patifarias. Tudo rapaziada fina. É capaz de ser giro ouvir no parlamento estes dois melros. Para já, Barroso vai para o Sachs jogar à bisca com o José Luís Arnaut…

Comments

  1. Augusto says:

    Não podemos esquecer as pessoas que não são ‘adeptos’ e não aprecia futebol nem a hipocrisia resultante das afirmações referentes a ‘patriotismo’ (que só se manifesta quando há futebol). Gritaria, hino, declarações festejos, etc. E quando não se refere ao futebol ? Onde está o patriotismo ? O que fariam pela ‘Pátria’ se lhes fosse pedido ?
    É que nem as notícias de mais importância são anunciadas nos telejornais. Só futebol. Discriminação ?

  2. anónimo says:

    No campeonato europeu e primeiro lugar está o povo da Islândia que prendeu e julgou os políticos corruptos.
    Em segundo lugar o País de Gales que votou pela saída da União Europeia.
    Mas esses valores e essas conquistas humanas são vergonhosamente omitidas pela RTP1.
    Para a RTP1 o que vale é o fado, futebol e fátima, as drogas com que envenena o país.
    Para a RTP1 o que vale são as “proezas” dos traidores e dos gatunos. São o “sucesso” e a recompensa da Luizinha, do Paulo Portas e do Durão Barroso.
    A RTP1 é a máquina de lavar a gatunagem.

    • Augusto says:

      E não é só a RTP1 ! E há bem piores.

      • anónimo says:

        A RTP1 é suportada pelos impostos. Quem é que fiscaliza a qualidade da porcaria que produz?


  3. Parabéns!