“O atentado que provocou 84 mortes na cidade francesa de Nice gerou uma vaga de indignação nas redes sociais portuguesas. Pena é que não tenha sido dirigida ao terrorista que acelerou ao volante contra a multidão no feriado nacional de 14 de Julho.”
Assim começa a defesa da CMTV escrita por Leonardo Ralha, jornalista do Correio da Manhã. Um parágrafo apenas e logo batemos em duas falácias. A primeira reside na afirmação de não ter existido uma “vaga de indignação nas redes sociais portuguesas” dirigida ao terrorista. E a segunda, depreende-se, a cobertura, digamos noticiosa, da CMTV não pode ser objecto de críticas.
Ralha desenvolve, no segundo parágrafo do seu texto, a explicação que encontra para essa onda de protestos, para os quais o Aventar, sumariamente, também contribuiu. Segundo o cronista, houve “raiva” demonstrada “aos órgãos de comunicação social” por estes “mostrarem imagens chocantes”. Não, corpos “seminus, estropiados, desarticulados, a escorrer litros de sangue, de olhos abertos“, usando as palavras de Vasco Pimentel, não são apenas imagens chocantes. Constituem um exercício de voyeurismo, tal como os que diariamente enchem esse canal de televisão, esticado até à exaustão. Não se trata de “ocultar consequências”, nem de fazer “desaparecer causas”, Leonardo Ralha. A cobertura da CMTV procurou, e conseguiu, mostrar as entranhas da carnificina, como forma de atrair a mesma audiência que entope uma estrada perante um carro acidentado do outro lado.
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