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Nos últimos dias foi notícia e fonte de vasta polémica nas redes sociais (como costume) a saída de Alberto Gonçalves do Diário de Notícias e de José Vítor Malheiros do Público. No segundo caso deixo a análise para outro aventador que quer escrever sobre o tema. Fico-me pelo Alberto Gonçalves.

Sou um leitor atento das crónicas do Alberto Gonçalves na Sábado. Normalmente é a primeira coisa que faço quando compro a revista. No caso do DN faço-o na net, em especial através da página de facebook do autor já que há muito deixei de ser cliente do Diário de Notícias. Um breve nota: fui durante anos leitor diário do DN, hábito adquirido na universidade e recordo, mais tarde, que num dos principais quiosques da Maia me comentou a proprietária que só tinha dois clientes do jornal, eu e um advogado. Passado uns tempos o DN entrou numa rota descendente, por motivos já uma vez explicados no Aventar e também eu me passei para a concorrência.

Voltando ao tema, nem sempre concordo com os escritos do Alberto Gonçalves. Porém, a qualidade da escrita e a sua manifesta frontalidade sempre me fascinaram. Além disso, na imprensa escrita, não existe mais ninguém dito de “direita” a escrever assim, sem medo das palavras, sem pinga de politicamente correcto. Sempre me espantou como era possível este Diário de Notícias o permitir. Daí não ter ficado admirado quando li na sua página no facebook que por decisão da direcção do DN, tinha terminado a sua colaboração com este jornal. Estava mesmo a ver que isto ía acontecer.

Por questões de falta de independência da actual direcção? Por pressões do actual poder político? Não e não. Não existe esse luxo chamado “independência” como estamos todos fartinhos de saber mesmo antes desta notícia que descreve as escutas do caso Marquês. Nem tão pouco o poder político se vai incomodar com os escritos de um só comentador. É verdade que o Alberto Gonçalves atira a matar ao actual Governo e ao actual Presidente da República mas é o único e por isso não chega a incomodar e até poderia servir para dar como exemplo da “pluralidade”. O problema é outro. Os escritos de Alberto Gonçalves irritam fortemente uma certa clique que vive (sempre viveu) à volta dos media lisboetas, que deles se alimenta e a eles alimenta. Das viúvas de Sócrates (que vieram festejar rapidamente para o twitter e facebook) passando por alguns senhores dos salões do poder e dos media da capital. Eram esses os principais incomodados com os escritos de Alberto Gonçalves. E se na Sábado lhes era impossível chegar, já no DN a coisa muda de figura. No fundo até tenho pena do Paulo Baldaia, o que deve ter aturado, imagino as fúrias das meninas e dos meninos. Deus nos livre de tal sofrimento.

O que mais os incomoda nos escritos do Alberto Gonçalves é o facto de saberem que ele toca onde dói mais. Pior, que entrar em polémica com ele é arriscarem a passar por enxovalho. Ainda por cima, enxovalho intelectual. Sim, é que o Alberto Gonçalves, coisa muito típica e genuína aqui em cima, é daqueles que não tem papas na língua. Não manda dizer, diz mesmo. Além disso, não frequenta os salões nem os bares e restaurantes da moda de Lisboa. Para eles é uma espécie de labrego do Norte letrado e indomável. Ou seja, um verdadeiro problema que tinha de ser rapidamente resolvido. Obviamente que quando o dinheiro é dos outros (ou fácil) a coisa é simples.

O problema é que o DN continua a definhar em termos de audiências. No tal quiosque que vos falei já nem um só comprador. Segundo dados recentemente tornados públicos as vendas rondam os 10 mil exemplares. Mesmo assim continua cantando e rindo ao sabor das conveniências de uma clique que apenas se alimenta de uma imagem histórica hoje perfeitamente deslocada da realidade. É por estas e outras do género que o DN está como está. Quanto ao Alberto Gonçalves, cheira-me que é para o lado que dorme melhor. Ao contrário das viúvas de Sócrates, não precisa do DN para viver, ou no caso delas, sobreviver.

Comments

  1. Konigvs says:

    Mas desde quando é que o Diário de Notícias se vendeu bem no Porto? Nunca! Deve vender tanto como o sabão azul!!
    E desde quando é que os jornais hoje em dia vendem bem? Os jornais cumprem hoje uma função, que é a de propaganda e da manipulação. Dar dinheiro não é porque estão todos falidos. Talvez dêem dinheiro por certos caminhos duvidosos…

  2. Parabéns. Sem papas na língua. AG é enorme. É o Norte que eles também querem atingir.

  3. nuno says:

    Moreira de Sá bem podia comprar uma coisinha chamada honestidade intelectual. Com que então, o fascista Alberto Gonçalves é o único no DN que diz mal do governo e do PR, Contem-me vigarices que eu gosto.

    Num meio que fosse ocupada por gente decente e não por amanuenses partidários há muito que Alberto Gonçalves não escrveia na comunicação social. Esse escroque elogiou o soldado que esmagou a mão de Vítor Jara e o impediu de continuar a tocar guitarra antes de o fuzilarem, no Chile em 1973.

    É este escarro humano que tantos gostam de ler. Liberdade a Pata que Vos Pôs.

    • Nascimento says:

      Por acaso não está a pedir muito ao Senhor da “postada”?O Senhor da “postada”,tem uma bela concepção de Jornalismo 😂!Um ser sujo 🐷 como esse Gonçalves é considerado como uma “vítima” …haja pachorra.

    • nuno says:

      Tenho aqui três camaradas que apreciaram negativamente o meu comentário. Também acham que esmagar a mão de um prisioneiro político antes de o fuzilar é digno de eologio, é? Conseguem ver-se ao espelho de manhã e não vomitar?

    • Por que será que o outro lado da barricada só consegue “escrever” debitando ordinarices pelo meio? Que gente….

      • nuno says:

        Ordinário e muito, até extra ordinário, é quem tolera e defende defensores da tortura e de execuções políticas.

  4. Rui Naldinho says:

    Meu caro

    Jornais a definhar não faltam. E vão continuar infelizmente, mas por culpa dos jornalistas.
    A maioria deles já teria desaparecido não fosse estarem por detrás deles, o dinheiro de muitos empresários que suportam prejuízos atrás de prejuízos, ano após ano, apenas por razões de agenda política, ou de interesse comercial.
    O Público, jornal a que me habituei a ler sempre deu prejuízo. Belmiro de Azevedo já confessou ser um capricho pessoal do qual não abdica, porque um grupo como a Sonae, e agora em parceria com Isabel dos Santos na NOS, necessita de ter um órgão de comunicação social que dê suporte informativo à estratégia do grupo.
    O DN há muito que vai no mesmo caminho. A definhar. No Norte, por acaso desapareceram dois jornais centenários, o Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro. Só que já ninguém se lembra porque um está transformado em Banco e o outro em Centro Comercial.
    O Observador esse blogue da direita política, nunca deu um cêntimo de lucro, mas continua a dar emprego a uns quantos jornalistas e comentadores desde que “cantem a tabuada à maneira da PAF”.
    O jornalismo está em crise? Pois está!
    Porque há muito deixou de informar e de dar notícias, procurando o mínimo de rigor, e acima de tudo de dar o CONTRADITÓRIO, essa palavra mágica que desapareceu do léxico dos jornalistas e da comunicação social, para se tornarem em órgãos de propaganda da direita, a proprietária de todos os jornais e televisões. Porque há várias direitas.
    Ou será que Proenca de Carvalho é de esquerda?
    Ou será que Sócrates também era um esquerdista do BE, do PCP, do Livre, ou mesmo daquele PS profundo do tempo de Arnaut, Salgado Zenha, Edmundo Pedro ou Raul Rego?
    O problema é que as comadres se zangaram e lutam pelo domínio do espaço na comunicação social, e nessa luta, quanto pior melhor.
    Logo, assim sendo, resta a blogosfera que não sendo a verdade nem a realidade, funciona como escape.
    Para ouvir meias verdades, mentiras ou tretas, não necessito dos jornais. A net dá-me tudo isso de borla.

    • nuno says:

      O DN tem Barreto, Bento, Taborda da Gama, Proença de Carvalho, aquela págian de opinião de domingo era só disto. E O Sá vem-se queixar que é a esquerda. Das duas uma, ou acho que somos nós parvos e ceguinhos ou então é ele que o é.

  5. nuno says:

    Olha, olha, ligaram a moderação dos comentários.

  6. Nome Obrigatório says:

    “(…) o Alberto Gonçalves atira a matar ao actual Governo e ao actual Presidente da República mas é o único (…)”

    hahahaha…

    • nuno says:

      Não dês corda a aldrabões, pá. Moreira de Sá continua nas realidades virtuais. Sente a falta da Secção do PSD no DN, De Franciscos Almeidas Leites, Pedros Correias, e outros que faziam propaganda enquanto escreviam notícias e aguardava por vez no governo de Passos ou num banco qualquer.

  7. Paulo Só says:

    Não entendo grande coisa de quem é quem nos jornais em Portugal, porque morei mais fora que dentro, mas acho o DN, o Publico (que era melhor e piorou) e a TSF de uma parolice total. TV nacional não vejo. É só politiquice, futebol e horas de telejornais vazios, com reportagens mórbidas em hospitais.E há pessoas como aquele José Miguel Tavares, ou o Vasco Pulido Valente e outros, pagos para vomitar ódio e vacuidades diariamente. A verdade é que em Portugal se fala muito e se fez pouco. Cada jornal deve ter uns 30 comentadores.Quantos tem o Financial Times? Deve sair mais barato do que pagar jornalistas de qualidade, que não convivam nesse mundo de dinheiro, vaidades e futilidades masculinas que são a política e o futebol. Só assim se entende que o PR tenha saído da TV. As pessoas não estão habituadas a colaborar para construir algo culturalmente pertinente, nem há mecenato que sustente instituições que emitam estudos e reportagens com bases sólidas. Cada um se acha o rei na sua pequena capoeira, sem se dar conta que num país pequeno e pobre como Portugal andam todas na mesma capoeira, frequentam as mesmas escolas, os mesmos restaurantes, as mesma praias. Não tenho mais paciência. Agora só leio imprensa estrangeira, e uma coisa ou outra em Portugal, para ficar a saber das artes e espectáculos, habitualmente em papel para evitar o copiar colar dos sites, e porque acho mais agradável.

  8. joão lopes says:

    o moreira de sá é um grande mentiroso.ai é so o alberto? olhe,hoje a pasquinada toda comemora o facto de os juros estarem acima dos 4%.fazem uma festa ,percebe?acontece que os portugueses é que pagam a factura,porque a politica não devia ser uma especie de benfica/sporting…mas é.Mais:o futebol esta em guerra so porque o benfica é muito beneficiado,da mesma maneira que o psd é mesmo muito beneficiado nos jornais e tv.

  9. António Melo says:

    O Alberto Gonçalves distinguiu-se sempre por ser uma espécie de imitação barata e tardia do Vasco Pulido Valente: pelo estilo emulava o mestre e – como todo o bom discípulo – procurava ultrapassá-lo no ódio visceral a tudo o que mexe, ou seja, a tudo aquilo que não se enquadrava nas suas concepções bem comportadas, arrivistas e com um toque de novo-riquismo, do mundo. É um sub-produto de uma classe de escrevinhadores que se assemelham àquelas comadres que passam os dias na soleira das portas a comentarem os mexericos e a praticarem a arte de mal-dizer, pondo de vez em quando a mão na boca e arregalando muito os olhinhos porcinos ao mesmo tempo que exclamam “cala-te boca…”, ao mesmo tempo que agitam as batas sebosas e escarafuncham os pés mal-cheirosos. Corresponde a um grau zero da política e a uma degradação moral do comentário jornalístico. Em nada representa o Norte (muito pelo contrário !) e resta-me dizer-lhe como se dizia antigamente: “Vai e dá lá saudades, que é coisa que aqui não deixas !”.

  10. Pedro says:

    Primeiro, é muito conveniente para si separar o AG do Malheiros, ignorando este, porque aqui já pode mais livremente lançar a suspeita de um saneamento do AG por razões ideológicas.

    Segundo, desde quando o AG representa o que quer que seja do Norte ou da opinião do Norte? Eu, que sou do norte, não tenho nada a ver com as opiniões do AG. Aliás, o AG é da velha escola do VPV e, mais remotamente, do extinto Independente, duas instituições nacionais que nasceram e medraram em Lisboa. Vamos lá, se faz favor, deixar de lado, estas apreciações “orgânicas” de uma pretensa guerra “labregos” do norte vs “elites” do sul. Eu, que já sou acima de Aveiro, estou muito mais distante das elites opiniantes do Porto do que de muitos do que escrevem em Lisboa ou Tavira.

  11. Petição Particular: Moreira de Sá, Gonçalves, etc, e mais malta fina do Porto, parem de falar em nome do Norte. A malta, de Bragança a Melgaço, até cá abaixo à Figueira, ou onde lá acaba o Norte, agradece.

    • Manuel Rocha says:

      Tem toda a razão.
      O Norte é o Minho, o Alto Douro e Trás-os Montes.
      Daquilo que estão a falar é a fossa, para onde vai todo a “mike eco romeo delta alfa”, que vem do Norte

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  1. […] Posso não concordar, mas registo com agrado que Paulo Baldaia assuma que não quis continuar com a colaboração de Alberto Gonçalves no DN. Nada que me surpreenda. Enquanto leitor, resta-me procurar continuar a ler o cronista na […]

  2. […] hoje três meses, o Fernando Moreira de Sá escreveu sobre a saída do Alberto Gonçalves do DN, e deixou-me o José Vítor Malheiros e o […]

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