O Bem e o Mal, Soares.

Nasci depois de Abril e há experiências que, até por isso, não tive.

Tal como a Bárbara, também eu tive a bandeira na mão. Mas, a minha não era do mal. Com 12 anos a explicação que me davam em 86 era simples – o Soares é o bom. O Freitas? É o mau.

É a primeira experiência política de que me lembro. Tinha uma “espécie de colete” com sacos do Soares é Fixe. Os mesmos que deitaram abaixo a palmeira do Sr. José, pendurados num fio, que o camião do lixo, se calhar de direita, puxou até ao chão.

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Os comícios no Porto!!! Brutal!

A Avenida dos Aliados COMPLETAMENTE (mas mesmo COMPLETAMENTE!) cheia pelo povo, pelas pessoas boas. Recordo também, com saudades, as conversas que ouvia sobre o Freitas do Amaral e o que ele significava de regresso a 23 de Abril. Falava-se de política.

Daí, dou um salto ao dia em nos vimos (pensava eu na altura) livres do Cavaco. Corri para a mesma Avenida festejar a chegada de Guterres ao poder. Sem qualquer vida partidária até então, via em Cavaco um inimigo, o mau. Guterres era uma forma de libertação e, ao mesmo tempo, de esperança. Com Sócrates fugi da casa mãe. Senti um afastamento muito grande e, anos mais tarde, acompanhei de perto e por dentro o nascimento do Bloco que era, para mim, uma espécie de geringonça onde gente diferente se juntava em torno de um projecto comum. 

Razões muito diversas – expressas no Aventar desde 2009 – levaram-me a caminho da casa de partida e à casa de Mário Soares.

Hoje, olho para trás e vejo como os meus filhos não valorizam a dimensão política do “meu Mário Soares”. É natural que assim seja. Pela minha participação partidária sabem em quem voto, mas já tive que explicar a minha evolução ( regressão, dirão alguns) do “bonequinho para o punho.” Mas Bárbara, como eu, também eles não fazem ideia em quem vota a mãe. Gosto desse respeito pela individualidade de cada um de nós. O voto é isso mesmo, secreto. Também já surgiu a necessidade de falar de esquerda e de direita e até a propósito das recentes eleições americanas. Falar de política é algo que faz parte da nossa família e quero acreditar que isso vai fazer deles homens melhores. Será?

Mas, durante estes dias li muitas coisas más sobre o “meu Mário”. Também eu não gostei da última candidatura dele a Presidente, como não gostei de o ver candidato ao Parlamento Europeu. Era humano e, como todos, cometeu erros. Ele mais porque fez mais. Nunca se escondeu. Sempre fez o que, em cada momento, lhe parecia melhor, mesmo sabendo que não iria vencer. E, isso, é, em si mesmo, um exemplo.

Mário Soares é um homem que não morreu. O corpo, a matéria pode dizer outra coisa, mas enquanto houve um de Nós que se lembre  do bem contra o mal, do Soares é FIXE…

 

 

Comments

  1. maria isabel da silva e silva diniz de carvalho says:

    É isso mesmo e, para sempre “Soares é fixe”

  2. Num país livre, com liberdade de expressão e liberdades básicas, o voto secreto é cobardia e,… se for incentivado pelos líderes, é fomentar uma aptidão a ser enganado por políticos maliciosos. Se as pessoas discutirem abertamente quem apoiam ou pensam apoiar, e porquê. Isso torna os cidadãos comunicativos e participativos. Menos sujeitos ao Engano.

    Claro está, … num país opressor, sem liberdades básicas.. é mesmo melhor o voto ser secreto!

    Bjs

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