Os agentes da ortografia

Quis pedir ajuda, mas a língua estava morta.
Mesa & Rui Reininho

Si cada español hablara de lo que sabe y solo de lo que sabe, se haría un gran silencio nacional que podríamos aprovechar para estudiar.
— Manuel Azaña (apud Felipe González)

Wenn der Mann auf dem Bett liegt und dieses ins Zittern gebracht ist, wird die Egge auf den Körper gesenkt. Sie stellt sich von selbst so ein, daß sie nur knapp mit den Spitzen den Körper berührt; ist diese Einstellung vollzogen, strafft sich sofort dieses Stahlseil zu einer Stange. Und nun beginnt das Spiel.
Franz Kafka, (ARD, adapt. 00:26:51)

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Há erros ortográficos que nos dão indicações importantes sobre aspectos fonéticos e fonológicos. Um *’fato’ em vez de ‘facto’ ou um *’contato’ em vez de ‘contacto’, por exemplo, dão-nos interessantes pistas sobre as quais nos podemos debruçar hipoteticamente logo no segundo ponto deste decálogo. De igual modo, é sabido (por exemplo, por Cook) que um falante de uma língua estrangeira, através de certas características ortográficas presentes em textos escritos nessa língua — e não só com dados denunciados pela pronunciação —, pode desvendar particularidades do sistema fonológico da língua materna e não só do sistema de escrita em que o falante, leitor e escrevente aprendeu a ler e a escrever.

Também é sabido há muito (por exemplo, por Maria Helena Mira Mateus) que um <s> em vez de <ç> (como a *’insersão’ em vez de ‘inserção’ dos autores da Nota Explicativa do Acordo Ortográfico de 1990) demonstra a falta de adequação do “critério fonético (ou da pronúncia)”, pois “a ortografia portuguesa é fonológica e etimológica e não fonética”. Sabe-se agora também que <ç> em vez de <s> (como um *’dorço’ em vez de ‘dorso’) leva a polícia brasileira a ter dúvidas sobre a autenticidade de documentos.

Adiante.

No sítio do costume, tudo como dantes.

Através da RTP, percebe-se, de facto, que o Acordo Ortográfico, efectivamente, é um embuste. Facultativamente, também se percebe, efectivamente, que o Acordo Ortográfico, de facto, é um embuste.

Exactamente.

Continuação de uma óptima semana.

Nótula: Voltei de férias, embora o meu regresso, pelos vistos, não agrade a todos. Todavia, convém sempre sublinhar que “a forma como está escrito” é a única coisa que interessa quando se discute ortografia ou sistemas grafémicos, por muito que isso possa irritar alguns leitores. De facto, convém não estar “à espera do comboio na paragem do autocarro“.

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Comments

  1. Antonio M.Marques says:

    Será bom, de faCto, que quem fala de algo, vista o fato da Sabedoria elementar. O caso das consoantes mudas, tem dado pano para mangas… de alpaca. Não se escrevem as consoantes que não se pronunciam, mas, em “facto”, pronuncia-se o C, por exemplo. Haverá outras discrepâncias ou desacordos quanto ao Acordo, mas não estará tudo, de todo, mal

  2. Manuel Silva says:

    O AO propôs-se unificar as duas grafias principais (de Portugal e do Brasil), implicando os outros países da CPLP.
    Mas, de facto, causou um maior número de disgrafias (grafias diferentes, que não existiam).
    A prpfessora Maria Regina Rocha, em «A falsa unidade ortográfica», Público, 19/01/2013, deu conta disso fazendo a contagem.
    Pode ler aqui o artigo: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/acordo/a-falsa-unidade-ortografica/2772

  3. pois é,,, ainda hoje vislumbro , por vezes, gráficos Publicitárió-Comunicantes acerca de ” Pharmácias”! e, fico estremunhado, mas depois tento regressar ao início, claro – que remédio,perante tal direção – quando de tal sentido estou necessitado:-) Conclusão: então, informem-me da tal : “Farmácia”, e logo lá irei depositar meus dízimos à Cambada vigente. ( quando estou Mt distraído, evidentemente 😉

  4. Felizmente há o AO

  5. Abaixo o AO…

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