Quem me conhece e acompanha o que escrevo, certamente saberá que não tenho grande simpatia por Francisco Pinto Balsemão, o embaixador do sombrio Clube Bilderberg em Portugal. Mas uma coisa é não simpatizar (no meu caso é mais repúdio) com o indivíduo. Outra, muito diferente, é alinhar com comparações absurdas como esta, protagonizada por Estrela Serrano.
Estrela Serrano, para quem não sabe, faz lembrar um daqueles bloggers formatados do socratismo, sempre pronta para dar o peito às balas por qualquer donzela socialista em apuros. Como é seu direito. Daí a comparar o regabofe familiar-partidário que se instalou no governo à condução dos destinos de uma empresa privada, onde, naturalmente, os filhos do dono e fundador da empresa têm lugar na sua administração, é patético. Pura e simplesmente patético.
…é a descredibilização completa do sistema democrático: compará-lo a uma empresa familiar!
Mas, pensando melhor, a verdadeira democracia deveria ser sim, uma grande família, onde todos se tratassem bem e cuidassem uns dos outros!
Utopias…!
Percebo o ponto de vista, e concordo em grande parte, mas acho que os favores familiares e as cunhas são más e desmoralizadoras em todas as esferas da economia — não apenas pública, mas também privada.
Sou uma pessoa que trabalha numa grande empresa privada e passo-me todos os dias com a falta de aptidões de alguns filhos e enteados em cargos de chefia.
Ok, sim, concordo que as nomeações políticas afectam todos os cidadão enquanto as nomeações privadas, não.
Mas, por outro lado, penso que existe uma cultura pervasiva de favoritismo e nepotismo, aceite tacitamente como natural, a qual — por ser “natural”, acaba se estendendo ao sector público.
Na minha opinião, há um trabalho mais fundo a fazer em termos de mentalidades, se queremos uma sociedade verdadeiramente meritocrática, e não corrompida por favores e amiguismos. Eu sei que sou a excepção à regra mas sei que não daria um cargo de chefia a um filho ou sobrinho ou cunhado meu se achasse que existem outras pessoas mais competentes para tal. Mas ei, é nossa cultura, ou a nossa falta de cultura, ou a nossa sina. A mentalidade predominante é a de proteger “os nossos” acima de quaisquer outros interesses. (Mentalidade de “godfather” todos temos um pouco…). Em suma, a Estrela Serrano está a desviar atenções, e claro que isso é indesculpável, mas temos um problema mais profundo no nosso rectângulo à beira mar plantado, que é um problema de mentalidade, o qual se nota em todos os domínios.
Explique lá essa NATURALIDADE dos filhos do dono ter lugar garantido na administração da empresa, só porque é privada.
A ética não é um conceito relativo.
Ou está certo, ou está errado, independentemente do contexto.
Simples: se eu sou proprietário de uma empresa, nomeio quem eu quiser. Outra coisa, totalmente diferente, é nomear quem eu quiser para um organismo público, que não é meu. É difícil de perceber isto?
Então e se você for o diretor duma empresa QUE NÃO É SUA e precisar dum assistente…vai escolher alguém que não conhece ou de quem não gosta?
Se precisar de um assistente e trabalhar numa empresa bem gerida, será aberto um procedimento de recrutamento para preencher a vaga, no qual eu serei envolvido.