Amar pelos dois. Por todos.

Ontem, ficámos a saber que, para alguns, o 25 de Abril e a Avenida da Liberdade são propriedade privada de uma franja da sociedade. Franja essa que decidiu monopolizar os bons valores de liberdade e democracia que terão sempre como data maior o 25 de Abril. Portanto, democrata? Sim, mas se fores democrata como eu quero.

 

A Associação 25 de Abril tentou impedir a Iniciativa Liberal de ir à marcha no dia em que se celebra a revolução que tirou Portugal de uma ditadura. Um partido que representa cidadãos na Casa da Democracia foi impedido pela A25A como se esta fosse proprietária da Avenida ou das celebrações. O mais lamentável disto não é a atitude da Associação, que surpreende um total de zero pessoas, pois há ódios ideológicos que se sobrepõem ao amor à democracia. Tanto protestam que os outros não ligam ao 25 de Abril como tentam evitar que vão às celebrações. O mais lamentável é ver que isto é encarado com normalidade. É certo que a democracia não fica em causa com este tique ditatorial, até porque se trata de uma associação que se apropriou de uma data de todos, mas devia causar algum desagrado a uma sociedade democrática. Ou democracia é só saber que podemos votar de 4 em 4 anos? Da mesma forma que se algum anormal desenhar uma suástica numa parede, também não fica a democracia em causa, mas mau é se acharmos normal. Mas não, pelo contrário. Confortavelmente, quase ninguém da esquerda, principalmente das forças mais radicais, se mostrou contra. Sendo que alguns até acharam uma boa atitude. Admira? Não, não admira. São gente que confortavelmente defende que o 25 de Novembro não é decisivo também para a nossa democracia. Isto, amigos, é a esquerda portuguesa? Errado. Deixemo-nos dos maus exemplos e falemos do melhor momento de ontem nas redes sociais. O Partido LIVRE convidou a IL e o Volt a juntarem-se à marcha. Mais uma vez, o LIVRE a mostrar que é a única esquerda que é progressista e contra dogmatismos. E também aproveito para aplaudir a atitude de Rodrigo Sousa Castro, que se colocou contra a atitude da A25A.

Eu gosto muito da democracia. Principalmente, porque é o único sistema político que permite corrigirmos os nossos erros. E também porque eu nunca sei se estou certo, por isso é sempre melhor haver outras ideias. Gosto da democracia para que todos tenham direito à sua palavra e às suas ações, mesmo que as ache reprováveis. Gosto que uma associação que devia comemorar o dia da liberdade negue a presença de um partido liberal, não tendo forma de controlar a via pública, e gosto que se possa criticar isso. Gosto que até algumas posições que eu duvido do seu caráter democrático possam conviver com as minhas. Sim, porque até quem gosta de andar sempre com Popper na boca se deve ter esquecido que este mesmo defende o debate de ideias até à última hipótese.

 

Gosto de defender ideias que se opõe a qualquer tipo de discriminação. E, melhor do que isso, que estão sempre a evoluir com o tempo. Porque ser liberal, mais do que uma ideologia, é uma forma de pensar. Espero que um neto meu me considere meio troglodita. É sinal que evoluímos. Talvez seja uma grande vantagem de liberais e outras ideologias mais ao centro: a rejeição de dogmas.

 

Não sei quanto ao Vasco Lourenço, mas os liberais, mais do que ideologias, amam a liberdade e a democracia. Não acham que a liberdade tenha dono ou um teórico, sequer. Por isso, seja na Avenida no dia 25 ou noutro local qualquer durante o ano inteiro, os liberais cá estarão para defender a liberdade. Até a dos outros. Os liberais prometem amar pelos dois, pelos três, pelos quatro, pelo povo inteiro. Se não é no 25 de Abril que se baixam as armas para celebrar algo que nos une a todos, nunca será.

 

25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais!

Comments


  1. Sem apoiar a posição do V. Lourenço, lembro ao Francisco que a liberdade, a democracia, a solidariedade, etc. não são conceitos ocos, vazios, descontextualizados que pairem nos ares de modo diáfano ou poético. Quando se fala em liberdade a sério ou democracia, temos de saber desde logo: liberdade para quem e democracia para quem?
    Nos EUA, esse gigante “democrático”, 20 estados insurgiram-se contra o projecto de lei de proibir, não as metralhadoras, mas os carregadores de mais de 10 balas, precisamente por considerarem tal ser um atentado às liberdades e aos direitos constitucionais (sic).
    Aqui pelo rectângulo, os liberais consideram um atentado às liberdades o facto de o estado( e muito bem) restringir os pagamentos aos colégios privados, canalizando esses fundos para o ensino público, atacando assim, alegadamente, a liberdade de ensino.
    Isto para dizer que as liberdades que se andam aí a reivindicar são para quem e para fazer o quê?
    Liberdades abstratas sequer existem.
    Porque será???????????

  2. Filipe Bastos says:

    É normal que o Francisco tenha a ilusão do 25 Abril sinónimo de democracia e liberdade: é jovem, foi o que lhe ensinaram, um dia há-de saber que é (quase) tudo treta.

    O 25/4 foi uma mera golpada corporativa de oficiais, que nem queriam que a malta saísse à rua. O posterior aproveitamento da golpada pela canalha política jamais mudará isso. O resultado foi este regime chulo, corrupto, irreformável.

    Mais grave é continuar a chamar a isto “democracia”: ir botar o botinho de 4 em 4 anos não é democracia, Francisco.

    As pessoas não escolhem, não decidem realmente nada. Apenas rodam o tacho e validam o saque. Metade ou mais já nem vota. “Democracia” é o que os beneficiários desta partidocracia podre chamam a esta para legitimar a podridão. Não vá nisso.

    • ANTONIO CARDOSO says:

      Na “mouche”, Filipe Bastos. Conheci alguns dos famosos conspiradores que, ao fim e ao cabo, queriam apenas defender a posicao de elite que tinham e …. ao mesmo tempo transferir para a Metropole tudo o que podiam para construir uma boa vivenda.

  3. Paulo Marques says:

    O Mayan explica:
    “Uma organização que organiza um desfile tem que comunicar que o vai fazer, tem de reportar o número estimado de participantes, etc. Por isso a IL pede a inscrição, para ter esse número. Tu, cidadão, tens liberdade de circulação e podes ir lá, fora de qualquer organização.”

    Ou espera, não explica, porque liberdade é não poderes rejeitar interesseiros na tua manifestação, ou qualquer coisa.