Está aberta a época de caça ao voto docente!

O governo de António Costa, durante os últimos seis anos, não reverteu as várias malfeitorias perpetradas por Maria de Lurdes Rodrigues e por Nuno Crato e conseguiu acrescentar algumas da sua responsabilidade, incluindo o roubo de tempo de serviço.

Como há eleições, cá está a prometer fazer o que não quis fazer e deveria ter feito enquanto foi primeiro-ministro.

Note-se que não é possível discordar do ainda chefe do governo quando afirma que é preciso acabar “de uma vez por todas com este absurdo que é [a carreira docente] ser a única carreira no conjunto do Estado em que durante décadas as pessoas têm de obrigatoriamente se apresentar a concursos e andar com a casa às costas e andar de escola em escola de quatro em quatro anos”.

O problema é que “este absurdo” é antigo, não apareceu a semana passada – no mínimo, António Costa teria de explicar por que razão não resolveu este problema, mas o que interessa agora é o soundbite da promessa, sequioso de votinhos. Do lado dos professores, se houver sensatez, só pode haver desconfiança e votos contra. Basta lembrarmo-nos das maiorias absolutas de sócrates e de passos para sabermos do que as casas gastam.

Costa ainda faz uma ligação vazia, fazendo depender a vinculação de mais professores aos quadros de uma alteração do modelo de concurso. Não se percebe (ou talvez se perceba, mas já lá vamos), uma vez que é perfeitamente possível vincular mais professores mantendo o modelo.

O modelo é centralista, é verdade, e cego, é certo, fazendo depender a colocação de uma nota. As injustiças que advêm deste modelo, no entanto, são também a garantia de que não há possibilidade de cunhas. Costa, tal como o resto do arco da governação, sonha entregar as escolas às câmaras municipais, incluindo no embrulho a escolha dos professores.

A municipalização da Educação, tal como a regionalização, é uma ideia maravilhosa no papel e terrível em Portugal. Diante do caciquismo endémico que transforma tantos presidentes da câmara em pequenos ditadores que distribuem favores e dinheiros, as escolas ficariam entregues a caprichos e cunhas.

Costa, amigo, não contes comigo!

Comments

  1. balio says:

    O absurdo de os professores andarem de 4 em 4 anos a mudar de escola é, se bem creio (o Nabais que me corrija se eu estiver errado), culpa fundamentalmente dos sindicatos dos professores, que preferem este sistema para que os professores tenham oportunidades de, pouco a pouco, irem aproximando a escola em que estão colocados da sua casa.
    Suponhamos por exemplo um professor que é natural de Aveiro. Esse professor é colocado em Bragança. Ele tem duas possibilidades: ou ficar todo o resto da vida em Bragança, logo longe da sua terra amada (Aveiro), ou então, daqui a 4 anos, concorrer outra vez, para ser colocado em (digamos) Viseu, e daqui a mais 4 anos voltar a concorrer e ser colocado em Mortágua, e daqui a mais 4 anos voltar a concorrer e, finalmente, ser colocado em Ílhavo, ao pé da sua terra. Os sindicatos de professores exigem que este sistema seja mantido, precisamente para que todos os professores tenham a oportunidade de, um dia, talvez daqui a 12 anos, serem colocados perto das suas terras preferidas.

    • Paulo Marques says:

      A menos que mostre que uma parte significativa prefere mudar de 4 em 4 anos durante décadas a criar raízes, não acho que as pessoas funcionem assim.
      A estabilidade dos colaboradores é má para a eficiência.

  2. Rui Naldinho says:

    Excelente artigo, de uma lucidez pouco comum.
    Eu diria mais:
    Costa, amigo, “vai-ta ***** menino! “

  3. JgMenos says:

    Que o problema é antigo e que a questão não é fácil , leva-me a interrogar-me: como era no tempo em que o Estado era pessoa de bem e efectivamente avaliava o desempenho dos professores?
    Uma coisa é certa, contratos de um ano sem renovação assegurada – salvo desqualificação – é pura estupidez.

    • António Fernando Nabais says:

      E quando é que foi esse tempo, seu hitlerzinho lindo?
      O segundo parágrafo está tão acertado que fico surpreendido. Até estou preocupado comigo.

      • JgMenos says:

        Não te preocupes, fica onde estás que estás no teu natural.
        Nesse tempo estabeleciam-se padrões que iam além das notas; alguns seriam inadmissíveis com o atual regime político, mas tantos outros exigiam que houvesse gente de bem em cargos de chefia.
        Talvez não saibas mas ‘gente de bem’ é algo diferente do que possa dizer o registo criminal.
        Talvez não saibas nem tenhas disso experiência, mas chefia é, para gente de bem, algo mais do que subir na carreira ou no partido.

        • POIS! says:

          Pois é! Chefia é mesmo isso, para gente de bem.

          E para V. Exa?

    • POIS! says:

      Pois noutros tempos era outra coisa. A avaliação estava sempre presente.

      A saudosa PIDE, por exemplo, avaliava bastante.

      Já para não falar das professoras, quando tinham que casar com quem tivesse rendimentos mais altos. Essas eram avaliadas mesmo em casa.

      E os reitores e diretores também eram grandes avaliadores. Tanto que colocavam quem lhes apetecia, tivesse ou não habilitações. Aquelas senhoras que tocavam piano e falavam francês tinham sempre lugar assegurado nos liceus de província, para não morrerem de tédio a fazer de donas-de-casa.

      • JgMenos says:

        Sempre aquele ressabiamento típico da ralé maioritária – nada de subir que dá trabalho, outros que desçam!

        • POIS! says:

          Pois aqui temos…

          Uma bela autocrítica. É sempre comovente ver um salazaresco encartado retratar-se de forma tão singelamente despretensiosa.

          Eu, pelo Menos, já gastei um pacote de lenços e dois rolos de cozinha.

        • Júlio Santos says:

          Sr. Nabais pois eu não tenho qualquer completo em lhe dizer que votarei no PS se for preciso o meu voto para ganhar as eleições mas não votarei nele se fôr para ter maioria absoluta. Estarei atento às sondagens. A isto, chama-se um homem de esquerda responsável.

          • Paulo Marques says:

            Voto responsável é um voto de compromisso em propostas que têm intenção de serem cumpridas. No caso do PS, o que é de esquerda já passa do compromisso, nem há intenção de ser cumprido. À terceira.

  4. Júlio Santos says:

    Sim, votem noutro e vão ver o trambulhão que levam. A direita ou a extrema direita oferecem-se para fazerem melhor. Não confundam as pessoas, deixem-nas pensarem pela cabeça delas.O tempo dos puxa-sacos já lá vai, ou não?

    • António Fernando Nabais says:

      Sim, está-se mesmo a ver que o autor do texto defende o voto na direita e na extrema-direita. Ler é muito importante.
      Ai coitadinhas das pessoas, que não podemos dar a nossa opinião, que podemos confundi-las! O Júlio era menino para propor dez anos de reflexão em vez de um dia, que era para não confundir as pessoas, coitadinhas.

      • Júlio Santos says:

        Não, quando a opinião é tendeciosa e as pessoas poderem confundi-la com a direita ou extrema direita, o que, para um professor que tem beneficiado com o governo da geringonça, é grave.

        • António Fernando Nabais says:

          Só um iletrado é que poderia confundir a minha opinião com a de alguém de direita ou de extrema-direita, bastando ver que há referências críticas a Nuno Crato e a Passos Coelho.
          As pessoas tendenciosas têm o mesmo direito à opinião do que as outras.
          Faltaria, ainda, se o Júlio tivesse cabedal para isso, provar-me que as minhas críticas às políticas educativas do PS (e dos gémeos PSD-CDS) estão erradas.
          O tempo de serviço foi roubado aos professores por este governo – deve ser um benefício.

          • Júlio Santos says:

            “Costa amigo, não contes comigo” parece ser o mote da sua campanha contra um partido de esquerda. Isto aliado à sua referência a dois ministros da educação de esquerda, como sendo os dois únicos maus da fita, esquecendo os anteriores de direita, dando a entender querer lançar a confusão nas hostes da esquerda. Estou errado? peço desculpa mas a boa intenção, por vezes, trai os melhores.

          • António Fernando Nabais says:

            Já há muitos anos que o PS não é um partido de esquerda, o que quer dizer que Maria de Lurdes Rodrigues não é um ministro de educação de esquerda. Não fiz referência a Tiago Brandão Rodrigues, porque não tenho a certeza de que tenha sido ministro. De qualquer modo, mesmo que consideremos que são de esquerda, o que é que isso diz sobre a competência ou sobre a qualidade das políticas? O Júlio é pouco tendencioso, é.
            Esquecendo os anteriores de direita? Vou transcrever aqui o primeiro parágrafo do texto – veja se consegue descobrir a referência Nuno Crato: “O governo de António Costa, durante os últimos seis anos, não reverteu as várias malfeitorias perpetradas por Maria de Lurdes Rodrigues e por Nuno Crato e conseguiu acrescentar algumas da sua responsabilidade, incluindo o roubo de tempo de serviço.” Conseguiu? Ainda não? Leia outra vez.
            Não, o PS não leva o meu voto há muitos anos (já levou) e só um professor distraído é que pode acreditar nas promessas de António Costa – seis anos depois, promete resolver um problema que existe há mais de vinte? O Júlio também deve acreditar no Pai Natal, calculo.

    • Paulo Marques says:

      “Votem em mim! Os outros são piores!”
      O melhor que posso dizer disso é que é um lema.

  5. Júlio Santos says:

    Sr. Nabais a isto é que se chama um homem de esquerda responsável para que o poder não caia nas mãos da direita ou da extrema direita.

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