Está aberta a época de caça ao voto docente!

O governo de António Costa, durante os últimos seis anos, não reverteu as várias malfeitorias perpetradas por Maria de Lurdes Rodrigues e por Nuno Crato e conseguiu acrescentar algumas da sua responsabilidade, incluindo o roubo de tempo de serviço.

Como há eleições, cá está a prometer fazer o que não quis fazer e deveria ter feito enquanto foi primeiro-ministro.

Note-se que não é possível discordar do ainda chefe do governo quando afirma que é preciso acabar “de uma vez por todas com este absurdo que é [a carreira docente] ser a única carreira no conjunto do Estado em que durante décadas as pessoas têm de obrigatoriamente se apresentar a concursos e andar com a casa às costas e andar de escola em escola de quatro em quatro anos”.

O problema é que “este absurdo” é antigo, não apareceu a semana passada – no mínimo, António Costa teria de explicar por que razão não resolveu este problema, mas o que interessa agora é o soundbite da promessa, sequioso de votinhos. Do lado dos professores, se houver sensatez, só pode haver desconfiança e votos contra. Basta lembrarmo-nos das maiorias absolutas de sócrates e de passos para sabermos do que as casas gastam.

Costa ainda faz uma ligação vazia, fazendo depender a vinculação de mais professores aos quadros de uma alteração do modelo de concurso. Não se percebe (ou talvez se perceba, mas já lá vamos), uma vez que é perfeitamente possível vincular mais professores mantendo o modelo.

O modelo é centralista, é verdade, e cego, é certo, fazendo depender a colocação de uma nota. As injustiças que advêm deste modelo, no entanto, são também a garantia de que não há possibilidade de cunhas. Costa, tal como o resto do arco da governação, sonha entregar as escolas às câmaras municipais, incluindo no embrulho a escolha dos professores.

A municipalização da Educação, tal como a regionalização, é uma ideia maravilhosa no papel e terrível em Portugal. Diante do caciquismo endémico que transforma tantos presidentes da câmara em pequenos ditadores que distribuem favores e dinheiros, as escolas ficariam entregues a caprichos e cunhas.

Costa, amigo, não contes comigo!

A senhora e o cavador

 

Era uma vez uma senhora que geria uma propriedade agrícola. Certo dia, um dos dois cavadores morreu e, para poupar dinheiro, a senhora decidiu que era melhor não contratar mais ninguém. O outro cavador ainda se queixou, mas lá foi fazendo o trabalho dele e o do falecido.

A senhora, um dia, sempre preocupada em poupar dinheiro, resolveu que a enxada do cavador era muito cara e substituiu-a por um modelo mais em conta. O cavador ainda disse que isto assim ia ser difícil, menina, se ao menos arranjasse mais um cavador, qualquer dia a terra não ia render. [Read more…]

Custo por aluno e os sonhos húmidos dos liberais

O Ministro da Educação comunicou ao país que, de acordo com cálculos do Ministério, o custo por aluno na escolas públicas teve um “brutal aumento”. Ainda acrescentou que isso se devia ao facto de haver mais funcionários e mais docentes (o que estará muito longe da verdade) e de ter havido descongelamento de carreiras, levando a que mais professores tenham chegado ao topo de carreira. Passados alguns dias, o Ministério ainda explicou que o custo por aluno foi alcançado graças a uma conta muito simples (simplista, diria eu): divide-se o orçamento do Ministério pelo número de alunos.

O mundo liberal português, imediatamente, veio logo gritar pelas virtudes do privado, onde o custo será inferior. Pelo meio, lá reapareceram os mitos do cheque-ensino e da liberdade de escolha (como se os colégios obcecados pelos rankings deixassem entrar qualquer aluno, independentemente da quantia). Noutros tempos, coube a Carlos Guimarães Pinto fazer figuras tristes. Desta vez, foi Rui Rocha (mais um da madrassa Insurgente) a disparatar.

Vamos, por momentos, imaginar que o aluno da escola pública fica mais caro que o de qualquer escola privada. Esse dado, só por si, não chega e permitir-nos-ia dizer disparates de natureza contrária ao dos liberais, como, por exemplo, que, por vezes, é preciso gastar mais dinheiro para que um produto tenha mais qualidade. Também poderíamos dizer que o barato sai caro (se nos lembrarmos de que alguns colégios preparam os alunos para exames, sem se preocuparem com a formação integral de cidadãos, a crítica até faz sentido).

Nada de novo ou de especialmente importante, mas as seitas, de vez em quando, fazem prova de vida e, normalmente, fazem-no insistindo em disparates.

Deram um ministério ao Tiago

Tenho aversão ao egotismo, ao bairrismo, ao nacionalismo, ao clubismo, ao corporativismo e a outros –ismos que levam as pessoas a declarar que são superiores ou que pertencem a grupos e instituições superiores. Penso sempre que estes –istas estão a milímetros de defender que pertencem a uma raça superior, o que me faz lembrar campos de concentração e outras coisas prejudiciais à saúde.

Quando, finalmente, se tomou a decisão de permitir que não houvesse aulas, o alegado ministro da Educação apareceu, com voz grossa, a afirmar que ninguém estava de férias e que os funcionários docentes e não docentes iriam ter de continuar a apresentar-se nas escolas, sempre que fosse necessário.

Acontece que a maioria dos funcionários docentes e não docentes já anda nas escolas há muito mais tempo do que Tiago Brandão Rodrigues, o alegado ministro. Tiago, aliás, parece um daqueles meninos ricos a quem os pais compravam uma bola das mais caras e ficava convencido de que sabia jogar futebol. Deram-lhe um ministério e acredita que passou a perceber do assunto. [Read more…]

Tiago Brandão Rodrigues e as casas de banho das escolas

A remodelação que não chegou à Educação

[Santana Castilho*]

Que mostra a remodelação, para além de António Costa pensar que com ela atirou para o limbo do secundário Pedrogão Grande, Tancos, Infarmed, ERSE, professores e demais instrumentalizações impúdicas de quem já se julga o novo dono disto tudo?

Os factos asseveram que quanto mais explícito for o apoio de António Costa a qualquer ministro, maior é a possibilidade de rapidamente ser cuspido do Governo. Com efeito, dois dias depois de lhe manifestar apoio público (apesar do estrondoso falhanço da protecção civil, cifrado em mais de 100 mortos), Costa atirou Constança Urbano de Sousa pela borda fora.

Pouco tempo volvido sobre a recomendação categórica para que tirássemos “o cavalinho da chuva”, veio a vaquinha voadora da remodelação e Adalberto Campos Fernandes foi nas águas, solidário com o patusco Azeredo Lopes que, horas antes, tinha sido classificado por António Costa como um “activo importante” do Governo.

A saída do secretário de Estado da energia, Jorge Seguro Sanches, que exigiu à EDP a devolução de 285 milhões de rendas excessivas (contratos CMEC) e criou uma taxa sobre as renováveis, aliviou providencialmente o “irritante” com a China Three Gorges. [Read more…]

Ministério da Educação cometeu ilegalidade

O Tribunal da Relação de Lisboa considerou ilegais os serviços mínimos impostos aos professores na greve às avaliações do final do ano lectivo anterior. Já se sabia que a medida era insensata e antipedagógica, só faltava confirmar a ilegalidade.

O Paulo Guinote, o Rui Cardoso e o Alexandre Henriques já comentaram.

O que terá a dizer o Ministro da Educação, na qualidade de responsável por uma medida ilegal e contrária ao respeito por toda a comunidade educativa? Se o da Defesa se demitiu por causa de umas armas que não fez desaparecer, o que deveria acontecer a um ministro que é responsável por ter ido contra a lei?

O que terão a dizer os sindicatos e os professores que andaram a brincar às greves, em nome de nada?

O que terão a dizer os professores que aceitaram participar em conselhos de turma ilegítimos?

O que terão a dizer os pais e encarregados de educação que permitem que, desde 2005. os governos destruam um dos pilares de qualquer país civilizado?

A palavra, a palavra justa, sensata, humanista, é de ouro. O silêncio é lixo. A maior parte das palavras, de resto, também. Acho que não me apetece beijar-te, Portugal.

Teoria geral da política: uma negação confirma os factos

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Jovem, queres ser bué rico? Vai p’ra prof!

Jovem, pá, não te entendo, man! Tu mais os teus amigos não querem ser profs? Mas tu não vês, jovem, que os professores portugueses, segundo a OCDE, são os únicos trabalhadores do mundo que chegam a milionários apenas com o ordenado? Diz a OCDE que os profs tugas ganham quase 30000 paus por ano, logo no início da carreira, man!

Os outros licenciados, jovem, ganham muito menos que os professores, é o que diz o pipol da OCDE. Tu, porque és jovem e, portanto, ingénuo, podias pensar uma cena tipo “Mas, se calhar, os outros é que estão mal e deviam lutar para melhorar a vida!” És mesmo jovem, jovem! Em Portugal, a coisa é ao contrário: quem está melhor é que está mal e o mundo só está certo se fizermos com que os que estão melhor fiquem tão mal como os que estão pior, tás a ver? Portanto, os professores é que ganham mais, não são os outros que ganham menos, topas? [Read more…]

Anormalidades de um ano “normal”

[Santana Castilho*]

Tiago Brandão Rodrigues, em registo que já constituiu padrão, disse várias tolices a propósito do início do ano-lectivo, a saber: “estão criadas todas as condições para que o ano escolar possa começar a tempo; pudemos fazer algo que não acontecia até 2016. Em 2016, 2017, e acreditamos que também em 2018, começámos com normalidade e tranquilidade os anos-lectivos e em Setembro; há pouco tempo tivemos anos-lectivos que se iniciaram em Outubro e Novembro”.

Anos-lectivos a começarem em Novembro? Só quando o pequeno ministro era ainda mais pequeno e usava fraldas. Nunca há pouco tempo.

Vejamos, agora, detalhes de um ano-lectivo que para o ministro começa com normalidade e tranquilidade, mas que para o vulgar dos mortais arranca com uma pesada dúvida: os sindicatos ameaçam com uma paralisação de aulas logo em Outubro.

É pouco chamar obscena à colocação de professores a 30 de Agosto, por parte de um Governo que, ao invés de os proteger, os agride desumanamente. Porque é desumano, até ao último dia das férias, muitos professores não saberem se têm trabalho ou se têm que ir para a fila de um qualquer fundo de desemprego; porque é inumano, depois disso, dar-lhes 72 horas para arranjarem alojamento e escola para os filhos, algures a dezenas ou centenas de quilómetros de casa, como se não tivessem família nem vida pessoal. Esta forma com que o Governo tratou os seus professores esteve ao nível da insensibilidade patenteada por quem o representa, quando afirmou que a desgraça de Monchique foi a “excepção que confirmou a regra do sucesso”. [Read more…]

Cretinices do dia

O ministro que tem a pasta da educação, Tiago Brandão Rodrigues de sua graça, afirmou hoje de manhã que as negociações informais tinham falhado e que, assim, não valia a pena ir para negociações formais. Aqui está um conceito novo: negociações informais. Mas, mesmo assim, são a valer. Só que não contam porque são informais. Mas contam porque não houve cedências (formais) e, portanto, nada muda do que poderia mudar nas negociações formais. Enfim, está atribuído metade do troféu da cretinice.

António Costa andou estes anos todos a falar em reposições mas agora o que tem para oferecer são 2 anos e uns meses de recuperação de tempo de serviço dos professores, em vez dos 9 anos. Deverá ter havido um mal entendido do lado dos professores, pois estes não perceberam que as reposições eram ao nível dos balanços dos bancos. Nestes sim, houve reposição e da boa.

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Tiago Brandão e a testosterona

Irritado com as reivindicações dos professores, o ministro da Educação ameaçou que, caso os docentes continuem a insistir na recuperação integral do tempo de serviço (repito: tempo de serviço e não reposição do dinheiro roubado), não terão direito sequer aos dois anos e picos oferecidos pelo Ministério.

Seria de estranhar uma atitude destas num ministro que se diz tão amigo dos professores, e que até consegue estar em festas em que estejam dois, mas ocupar um cargo e exercê-lo são coisas diferentes, do mesmo modo que das palavras à mentira vai um fonema de distância.

Fontes próximas do ministro garantiram que se tratou de uma descarga de testosterona do jovem político, desafiado pelos assessores a assumir uma posição um pouco mais máscula, na senda dessa referência do marialvismo que é Maria de Lurdes Rodrigues.

Os professores entre a frouxidão e a má-fé

Santana Castilho*

Quem tenha acompanhado o comportamento negocial do Ministério da Educação após a assinatura do compromisso estabelecido com os sindicatos, em 18 de Novembro de 2017, vê inflexibilidade e má-fé. Entre outras, duas questões são determinantes no conflito latente, sendo que a ordem para as resolver não é arbitrária: primeiro, o reposicionamento correcto na carreira (porque os professores recém-vinculados não podem ser alvo das interpretações delirantes da secretária de Estado Alexandra Leitão); depois, (e só depois para não se amplificarem as injustiças de reposicionamentos incorrectos) a recuperação do tempo de serviço, como referido na declaração de compromisso e recomendado pela Resolução n.º 1/2018, da Assembleia da República.

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Tenha vergonha!

Santana Castilho*

“A lucidez é um sorriso triste.”
Mário Pinto de Andrade

Toca-me a pouca sorte de ter que estar atento ao breviário de cordel que Tiago Brandão Rodrigues vai escrevendo. Na Gulbenkian, durante uma conferência internacional, referiu-se ao plano que teve o computador Magalhães por estrela, classificando como errada a decisão que lhe pôs fim e criou, assim o disse, “um défice oculto nas competências de muitos dos nossos alunos”. Longe do país na altura dos factos e arredado dos problemas da Educação como sempre esteve e continua, o ministro debitou vacuidades sobre o que desconhece. [Read more…]

Afinal as vacas não voam

Santana Castilho*

Seria divertido, não fora uma espécie de vomitório, analisar comportamentos políticos e institucionais ao longo dos tempos. A direita, que ontem gritava a necessidade de reduzir as “gorduras” do Estado e tesourava sem critério tudo o que era público (Educação e Saúde que o digam) apresenta-se agora a protestar com vigor contra a redução do financiamento dos serviços do Estado. O CDS conservador, pouco dado noutros tempos à justiça dos descamisados, é agora o primeiro a exigir demissões, enquanto a tradicional esquerda radical ajeita a gravata da contenção responsável e abotoa com classe o paletó da responsabilidade de Estado. O Ministério Público, esse decantador enigmaticamente vagaroso de processos que poderiam inspirar J. K. Rowling, acaba de fulminar, um ano depois, três secretários de Estado do PS, que aceitaram da Galp uma viagem rapidinha para ver a bola. Talvez possamos agora admitir que um procurador persistente, algum dia, nos venha garantir que a viagem em jacto privado para o Brasil, mais a semana de férias para si próprio e família, que o então primeiro-ministro Durão Barroso, do PSD, aceitou do empresário João Pereira Coutinho, sempre estiveram ética e legalmente separadas da venda da Quinta da Falagueira, que o Estado fez, uma semana depois, ao irmão do generoso amigo de Durão Barroso.

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O exame de português

Com que então o exame de português não será anulado. Acho vergonhoso que se ignore a possibilidade de alguns alunos saírem beneficiados com a fuga de informação. É certo que para a maioria dos alunos haveria a injustiça de ter que repetir a prova. Mas a alternativa é grotesca. 

O professor que denunciou o caso soube da fuga de informação no sábado anterior à realização da prova. Aparentemente, só denunciou o caso ao Ministério da Educação depois de ver a prova. O IAVE deveria ter agido de imediato. No entanto, o Ministro da Educação afirma que a hipótese de anulação do exame nem terá sido equacionada!  E que, “se alguém saiu beneficiado, sofrerá as consequências previstas no regulamento”. O ministro não tem os pés na terra. Como é que ele acha que vai saber quem terá tido acesso à mensagem que circulou por WhatsApp? Enfim. 

Exames, provas de aferição e o que importa

É possível conceber um sistema de ensino exigente, criativo e consistente com ou sem exames nacionais ou quaisquer outras provas externas às escolas. Importa, isso sim, conceber, isto é, pensar.

As decisões sobre a aplicação de exames ou provas ou o diabo a quatro não podem, no entanto, estar sujeitas a tiques, modas ou alternâncias políticas entre caranguejolas, geringonças ou outros veículos. Importa, isso sim, pensar, ou seja, conceber.

Deste modo, não faz sentido impor exames nacionais com o argumento de que só assim o sistema poderá ser exigente, como é absurdo banir os mesmos exames porque havia algo parecido ou igual no tempo da outra senhora ou porque a maioria do mundo não faz assim. Importa, mais uma vez, pensar. Pensar sobre os instrumentos e a sua utilidade.

Este governo, no que se refere à Educação, limitou-se a uma certa cosmética de esquerda (de que são provas o fascínio pela “flexibilização” ou o horror aos exames enquanto coisa fascista), mantendo o essencial que a direita, desde Maria de Lurdes Rodrigues, impôs, o que inclui congelamentos e, sobretudo, a degradação das condições de trabalho dos professores. [Read more…]

E do baú dos sempre-em-pé saiu o homem novo!

Santana Castilho*

Quando vi a apresentação do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, lembrei-me do primeiro-ministro mais divertido da época democrática, de sua graça Pinheiro de Azevedo, e da resposta vernácula que deu a propósito do sequestro de que foi vítima. Não a escrevo, por decoro. Contenho-me para não a soletrar como contributo único que o perfil merece, em sede da discussão pública que ora decorre. Pinheiro de Azevedo imaginava-se rodeado de gonçalvistas. Eu sinto-me sequestrado por pedabobos que querem redesenhar a realidade. Falo para si, secretário de Estado João Costa, que o seu ministro limitou-se a saltar para o estribo do comboio em movimento.

A questão não é o perfil de saída dos alunos. É o seu perfil de entrada. São todos os problemas trazidos para o interior da escola, cuja solução não lhe cabe, muito menos sem meios nem autonomia. Fixe o que lhe digo. Se por parte dos professores se verificar uma adesão acrítica à sua modernidade bacoca e ao seu piroso homem novo, não exulte. Preocupe-se. Significará isso que a classe atingiu o auge da desistência. Ou da resignação. Escolha a palavra.  [Read more…]

A pós-verdade do grande negociador?

Santana Castilho*

Se o problema fosse escolher um par, preferia Costa e Tiago a Passos e Crato. Se a questão se resumisse ao mal menor, este Governo ganhava. Mas se sairmos do preto e branco e nos libertarmos do quadro maniqueísta que por aí tem dificultado o reconhecimento do óbvio, porque o Governo é de esquerda, a conclusão é evidente: o importante não se fez e no mais são os erros que dão o tom.

Sobre esse problema primeiro e maior que é a indisciplina na Escola (de que todos evitam falar para não se exporem ao julgamento sumário das redes sociais e ao risco da má imagem mediática), sobre os alunos que chegam à Escola sem a educação mínima que os pais não puderam ou não souberam dar-lhes, a resposta foi a demagogia dos tutores, que já existiam, mas que agora atendem dez com os meios que antes tinham para quatro.

Sobre a monstruosidade dos mega-agrupamentos e a falácia da autonomia das escolas, tudo como dantes enquanto avança, de modo sub-reptício e com coniventes silêncios, a municipalização da educação, que há pouco se combatia porque vinha da direita e agora se deixa passar, porque sopra da esquerda. [Read more…]

Afinal, qual é o problema da imprensa com Tiago Brandão Rodrigues?

Os Truques” apresentam uma hipótese. Ou melhor, 65.250 hipóteses amarelas.

Factos? Quem quer saber de factos?

factos

Segundo o JN, Tiago Brandão Rodrigues “desce” porque, apesar dos factos, que “parecem ilibar o ministro“, a “baralhada” – que Tiago Brandão Rodrigues não criou – é tal, que o ministro já não se livra da desconfiança. Entretanto, numa qualquer repartição do clube do avental, as tríades amarelas esfregam as mãos na perspectiva de mais uma vitória.

Se acha que este absurdo abre um precedente, em que “baralhadas” jornalísticas criam casos fracturantes do nada, desengane-se: a falta de rigor em muitas redacções deste país, aliada à manipulação da opinião pública denunciada e aos interesses que tomaram essas mesmas redacções de assalto, não são propriamente novidades. Factos? Quem quer saber de factos? O que interessa mesmo são as realidades de ocasião que se constroem, ainda que na sua origem estejam o boato ou a informação manipulada. E não é que funciona?

via Os truques da imprensa portuguesa

Os tocadores dos tambores do empreendedorismo

Santana Castilho

Pelo Expresso de 22 de Outubro, fiquei a saber que está criada uma “fábrica de líderes” (sic) em Cascais. A matéria-prima para a fabricação são 10 mil alunos de 50 escolas de Cascais. Diz a notícia que se trata do “maior programa municipal de empreendedorismo nas escolas” e afirma o obreiro mor, vereador Nuno Piteira Lopes, que quer “despertar o espírito empreendedor dos mais novos, dando-lhes ferramentas para encararem a criação de negócio próprio”. A iniciativa é da DNA Cascais, dita pelos costumes como associação sem fins lucrativos, mas verificada, de facto, como uma emanação da Câmara Municipal de Cascais. Com efeito, os associados fundadores são empresas municipais e a própria câmara e os órgãos sociais confundem-se, ora com políticos do PSD, ora com elementos da autarquia. Tudo em casa, pois, com a municipalização da Educação a passar de fininho, sob a égide da geringonça.

Softkills” (é talvez um acto falhado, mas é assim que está escrito no texto que cito) e “coaching”, são dois instrumentos pedagógicos com que o despertador de espíritos, Piteira Lopes, conta para catequisar 10 mil indígenas. O presidente da Câmara Municipal de Óbidos, o primeiro que se chegou à frente logo que a municipalização deu os primeiros passos, aquele que anunciou filosofia para os alunos do 1º ciclo do básico, yoga para os do jardim-de-infância e golf e eco design para os do secundário, não está mais só em matéria de arrojo. Já só faltam 306 contributos das restantes câmaras do país, no prometedor caminho da municipalização da Educação, para termos o curriculum nacional transformado numa empreendedora nave de loucos. [Read more…]

Quem quer tramar Tiago Brandão Rodrigues?

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Ao mexer com os poderosos e multimilionários interesses do ensino privado, Tiago Brandão Rodrigues colocou a cabeça a prémio e, desde então, vem sendo alvo de uma verdadeira perseguição por parte da oposição, onde abundam beneficiários dos milhões que são anualmente transferidos para os colégios privados, e de parte da imprensa nacional, onde patrocinadores e alguns cronistas têm também estreitos laços com o sector, algo que ficou provado com alguns casos de manipulação da opinião pública, na qual Público, TSF e Visão participaram alegremente, isto apesar do caso mais grave, na minha opinião, ter sido aquele em que a RTP anunciou a dimensão de uma manifestação a favor das posições dos colégios privados, mesmo antes da mesma ter acontecido[Read more…]

Fraudes académicas e outros embustes

canudo

No espaço de poucos dias, surgiram dois novos casos de fraude académica, um clássico da vida política nacional. Primeiro foi Rui Roque, adjunto de António Costa, que apesar de não ter concluído o curso na FCTUC, não se alarmou ao ver uma nota curricular fraudulenta ser publicada no Diário da República. A cereja no topo do bolo foram as declarações prestadas ao Observador:

Os dados constantes na minha nota curricular de nomeação baseiam-se nas informações prestadas pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra datadas de outubro de 2009. Quando confrontado pelas vossas questões, eu próprio solicitei mais esclarecimentos da mesma instituição. Como ainda não obtive resposta, nada mais tenho a acrescentar.

Como diria Ricardo Araújo Pereira, isto é “mangar com a tropa”. Mas, honra lhe seja feita, teve a dignidade de apresentar a sua demissão, poucas horas após ter sido revelado o embuste. Miguel Relvas não teria feito melhor.  [Read more…]

Programas de Português nos Cursos Profissionais: o que é um ano lectivo?

Para se ser Ministro da Educação, em Portugal, é fundamental não se saber o que é exactamente um ano lectivo. Não faz sentido, mas é normal.

O final do desastroso mandato de Nuno Crato ficou marcado por uma boa notícia: a reposição da Literatura e da História da Literatura nos programas de Português do Ensino Secundário. Talvez estranhamente, alguns não rejubilaram, em nome de um estranho conceito do interesse dos alunos.

Esta alteração curricular deveria ter tido efeitos imediatos nos programas do Ensino Profissional, cujos alunos poderão vir a ser sujeitos ao mesmo exame de Português no 12º ano. Nada disso foi acautelado, o que, mais uma vez, não faz sentido, embora seja normal.

Os novos programas entraram em vigor no ano lectivo de 2015-2016, no Ensino Secundário. No que respeita aos cursos profissionais, os professores continuaram a leccionar o programa que continuava em vigor, devidamente desfasado do do ensino regular.

Este ano, depois de os professores terem começado a planear o ano lectivo, chegaram instruções, no dia 9 de Setembro (exactamente: 9 de Setembro), para que os alunos do primeiro ano dos cursos profissionais (10º ano, portanto) passassem a aprender, finalmente, os mesmos conteúdos do programa de Secundário. [Read more…]

A tentativa de “relvização” de Tiago Brandão Rodrigues

sabado

A revista Sábado deu o mote, o ministério da propaganda fez o resto. De um momento para o outro, Tiago Brandão Rodrigues é o Relvas do governo socialista, o gajo que deu o golpe na academia. Com a diferença que, ao contrário do que aconteceu com o ex-braço direito de Passos Coelho, a academia saiu em defesa do ministro da Educação e desmentiu o professor que acusou Brandão Rodrigues de se ter apropriado ilegalmente de 18 mil euros atribuídos pela FCT: [Read more…]

A escola ioiô

IoioUm dia, num futuro muito distante, haverá um ministro da Educação que, entre outras coisas, saberá, finalmente, o que é um ano lectivo. Trata-se de um conceito aparentemente de fácil apreensão, excepto se se for ministro da Educação.

Esse ministro ainda ideal, se tivesse tomado posse, por exemplo, em Novembro de 2015, iria ter o cuidado de não alterar o calendário de provas já estabelecido, dando início à preparação do ano lectivo seguinte, procurando demonstrar as razões que poderiam levar à manutenção ou à supressão de provas finais.

Um ministro prudente, desses que o futuro nos há-de trazer, não iria, para cúmulo, impor a realização de provas de aferição depois de o ano lectivo (ó expressão irritante!) já estar a decorrer. É claro que esse mesmo ministro, necessariamente sensato, depois de impor provas de aferição, não poderia, passados alguns meses, anunciar que, afinal, as provas anteriormente impostas passariam a ser facultativas durante o ano lectivo em curso. Por outro lado, esse ministro por vir não obrigaria as escolas a explicar por que razões optariam por não realizar provas cuja realização era exactamente facultativa, ao mesmo tempo que não lhe passaria pela cabeça declarar que, apesar de serem facultativas, preferiria que se realizassem. [Read more…]

Número de alunos por turma? Depois vemos isso!

GroeningCartoonNos últimos dez a quinze anos, várias vozes – com uma desfaçatez cada vez maior – têm defendido que a qualidade dos professores é o principal (ou o único) factor de que depende o sucesso dos alunos (mesmo que não haja sequer a preocupação de se saber exactamente o que é o “sucesso dos alunos”).

Na realidade, a repetição dessa ladainha tem servido para justificar várias medidas que deveriam escandalizar qualquer cidadão que se preocupe verdadeiramente com a educação dos jovens.

Colocar quase exclusivamente a responsabilidade do sucesso dos alunos no desempenho dos professores serve, antes de mais, para esconder a importância de muitos outros agentes sociais e individuais (entidades oficiais, meio socioeconómico, encarregados de educação, etc.). A própria interpretação dos rankings torna-se, deste modo, muito mais fácil, permitindo aos simplistas de serviço falar, com a descontracção dos ignorantes, em “escolas melhores” e “escolas piores”. [Read more…]

Intenções, palavras gastas, folclore

Santana Castilho*

Na penúltima semana de Março, o Governo falou ao povo. A 24, Tiago Rodrigues deu-nos a conhecer o resultado de um Conselho de Ministros dedicado à Educação. São cinco as epígrafes que sintetizam outras tantas políticas definidoras do rumo para a legislatura:
1. “Sucesso escolar”, com o anúncio de mais um Programa Nacional (este não é “integrado”) visando envolver toda a gente, menos, significativamente, os alunos e recuperando os mais gastos e vulgares lugares comuns sobre a matéria.
2. “Orçamento participativo”, isto é, demagogia primária e gongorismo cívico, que consistirá em atribuir, no dia do estudante do próximo ano (desta feita Marcelo não poderá invocar falta de previsibilidade), aos alunos do Secundário e do último ciclo do Básico, uma verba adicional, que será gasta segundo decisão deles, em prol da escola, entenda-se.
3. “Formação de adultos”, ou seja mais um programa, este “integrado”, como manda o prontuário de serviço, que recupera e elogia as Novas Oportunidades, de má memória (adiante fundamentarei).
4. “Educação inclusiva”, decidindo-se nesta sede a criação de um grupo de trabalho para reorganizar leis (como se o problema não fosse cumpri-las) e juntar aos diplomas dos graus não superiores um suplemento que ateste o que os titulares fizeram em contexto extra-curricular (admitindo eu que torneios de caricas não sejam elegíveis).
5. “Parcerias”. Sim, parcerias. Uma com o Ministério da Saúde, para habilitar os alunos do 10º ano com competências em Suporte Básico de Vida. A outra, com o Ministério da Economia, a cargo de estudantes do Ensino Artístico, tratará da “animação turística” das ruas das nossas cidades.
Aos que achem que estou a ser sarcástico em excesso, peço que leiam o documento com que o ministro comunicou com o país. Confiram a linguagem redonda, as formulações gastas, a pobreza de frases sem sentido. Reparem nesta, que explica o Programa Integrado de Educação e Formação de Adultos (PIEFA): [Read more…]

Ministério da Educação: mais uma volta, mais uma viagem!

09911Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) deu início à estafeta da prova de Dez anos para destruir a Escola. Isabel Alçada ainda ajudou um bocadinho. Nuno Crato (NC) recebeu o testemunho e conseguiu piorar o péssimo. É caso para dizer que, desde 2005, na Educação, os ministros fazem como os santos: ajudam nas descidas.

Quando Tiago Brandão Rodrigues chegou ao Ministério, houve críticas, porque não se lhe conhecia opiniões sobre Educação. Nada que impedisse MLR de ter completado uma legislatura desastrosa, sendo hoje uma senadora com obra publicada, como muitos ignorantes atrevidos. Por outro lado, o facto de NC ter perorado tanto sobre Educação não o impediu de ser um dos maiores desastres da área. [Read more…]