Estou em crer que não haverá nada mais genuíno do que a capacidade de sentir empatia por outro ser. Acredito nisto porque não considero a empatia algo exclusivamente humano. Porque a sentimos nos animais, por parecerem ser capazes de sentir as emoções uns dos outros e também dos humanos. E isso faz-me crer que, escondido nos confins dos mistérios do universo que nunca chegaremos a compreender, a empatia tem um lugar muito próprio e apropriadamente seu.
O medidor de felicidade determinado pelo sentir vem enchendo o inferno (algo que só o pensamento determinou o que seja).
A empatia tornada dever, a felicidade tornada direito, é ao pensamento que cabe determiná-las como padrões para a vida.
Pois mas…
Não concorda V. Exa. que uma ansiedade vestibulante, acompanhada de uma conceptualidade ectópica pode tornar desmesuradamente volátil uma elucubração psicogénica?
Urge o retorno. Encontramo-nos pulicidas!
Eis a essência do que o Jg diz todos os dias:
— o mundo é cruel e injusto
— ninguém pode ou deve esperar nada de ninguém
— a propriedade é sagrada; o resto é secundário
— do berço à cova é cada um por si; quem sugerir o contrário só pode ser demogogo, oportunista ou ladrão.
Conheço mais pessoas que pensam assim. Mesmo acreditando nisso, não se aborrece de uma perspectiva tão triste e limitada? Resigna-se à ‘rat race’? A viver como um hamster numa roda, a apregoar as virtudes da ganância e do egoísmo?
Um dia rebenta o clima, um asteróide ou um vulcão. Morremos todos como os dinossauros. De que valeu, diga lá, a sua moral direitalha e tacanha, as suas palas de esforçada formiguinha, toda a vida a levar a sua palhinha, asinha, asinha?
Não pergunto com acrimónia; é só curiosidade.
Diz o que gosta de acreditar que seja a direita.
Acima escrevi: A empatia tornada dever, a felicidade tornada direito, é ao pensamento que cabe determiná-las como padrões para a vida.
Em que é que isso casa com a sua arenga?
Sendo certo que o pensamento não é a ‘doutrina do coitadinho’ com que a esquerdalhada gosta de se querer acreditar por tão boazinha, que parte a assaltar de boa consciência!
E que empatia oferece a sua direita? Só se for para com banqueiros e ‘empreendedores’. Que padrão tem o seu lado além de ganância desmedida?
Que vida além da rat race que mencionei, da eterna rodinha de hamster onde trabalha, poupa e investe, sempre a acumular mais um tostão, mais um tostão, até ao dia em que morrerá abandonado num lar, mas – ó felicidade! – um lar um bocadinho melhor que o do vizinho menos poupado, que não mamou no Airbnb nem investiu tão sabiamente na criptoteta?
Gosta de lembrar a realidade à esquerdalhada; muito bem. Mas que há para celebrar na sua realidade de mamões e miseráveis, onde uma dúzia de mânfios é tão rica quanto meio planeta?
O desmedido é grau, de uma comum e generalizada ganância.
Uns querem lucros outros subsídios, e saúde e casa e mama de todo o género.
Deixe-se de vender o homem novo e trate de viver com o velho, de modo eficiente, produtivo e com a empatia que ele possa merecer.
Ui, saúde, casa e comida, rais parta os pobres a querer coisas!
Então deixa de desviar impostos e promover rendas a quem só quer saber do lucro.
As reflexões do César Alves são uma distracção bem-vinda da politiquice em que andamos mergulhados.
Creio que deve distinguir-se empatia de pertença: amiúde esta até inviabiliza a empatia, como no futebol ou na política, que costumam vilificar os adversários. Para mim, empatia é um sinal de inteligência; a pertença é uma tendência inata e nem sempre racional.
Há uma linha muito fina entre a necessidade de pertencer a algo e o carneirismo acéfalo. Basta ver a turba das redes sociais, dos clubes ou dos partidos. Pode ajudar a mitigar a solidão, como diz o César, e no tempo das cavernas o grupo era uma questão de sobrevivência. Mas esse tempo já lá vai. Dispenso rebanhos.