
A guerra, por ser sempre execrável, tem a capacidade de acordar o compromisso. Tem a capacidade de exorcizar ambiguidades. Tem a capacidade de expor carácteres. Num círculo vicioso que evidencia a fraqueza humana. Porque os pequenos males são permitidos por uns e procurados por outros até ao grande mal acontecer. E essa é a grande lição que a história diz que não é aprendida. Se a integridade fosse princípio permanente e universal, as “batotas” éticas que são relevadas em nome de uma paz que por isso mesmo nunca deixará de ser frágil, mas na verdade, em nome de uma cobardia, essa sim, pandémica e regressiva, não seriam toleradas. Porque a guerra não é mais que a soma ou o produto desses pequenos e recorrentes vícios.
A nossa perdição não está na desgraça caótica e medonha da guerra. Essa é, infelizmente, apenas a consequência. Os motivos estão a montante. As razões estão antes. No encolher de ombros da relativização. No paliativo da distância e da falta de empatia. Mas acima de tudo, na dócil e medrosa permissão da “trafulhice” moral. Pior, na assídua e inconcebível participação voluntária nessas mesmas “trampolinices”. Em nome de um sonho. Em nome de uma utopia (quase sempre muito mais distopia). Normalmente apenas em nome da cobarde preguiça.
Por muita vontade que já possa ter, um ditador nunca o será sem um obediente. Um trafulha nunca o será sem um tanso. E um “bully” nunca o será sem uma vítima que o permita.
Quem conhecer ao de leve a história da Rússia, nem é necessário ser um russófilo, seja neste mapa geográfico pós queda do muro do Berlim, seja no anterior, do tempo da URSS, seja mesmo no período Czarista, constatará com alguma facilidade que o país foi sempre governado com mão dura, por tiranos, déspotas e ditadores da pior espécie, como Estaline à cabeça.
Dito isto a Rússia sempre foi uma ditadura. Mesmo no período da chamada Perestroika, onde houve algum alívio das restrições da mobilidade e liberdade de opinião, a democracia foi sempre uma miragem.
Com o fim do comunismo como entidade geopolítica, representado na queda do muro de Berlim, com o acelerado desenfrear da globalização dos mercados, o neoliberalismo subsequente das economias puseram termo à História, como se a luta de classes tivesse terminado, mas, pior ainda, como se o Mundo tivesse entrado numa fase de paz duradoura, sem que alguém tivesse apetites extra territoriais. Seja por questões de segurança, seja por questões económicas. Líricos!
Ao longo da História foi sempre o apetite pelo Império que fez as delícias de muitos tiranos e autocratas coadjuvados caninamente pelo seus súbditos mais próximos, deixando milhões de mortos pelo caminho, onde nem as crianças inocentes eram poupadas.
Pensar-se que com o fim do comunismo a Rússia iria mudar no plano político militar, como pensarmos que a China, a maior economia na actualidade, irá mudar um dia próximo, é de uma fragilidade intelectual enorme.
A Rússia é um dos maiores exportadores de petróleo e gaz natural, do planeta. Conhece muito bem a dependência de terceiros, das suas fontes de energia. E conhece ainda melhor como funciona o capitalismo e os mercados.Com aquele vasto território, não me admira nada que tenha recursos intermináveis, alguns deles nunca explorados ou descobertos.
O actual poderio da Rússia, de certa forma fomos nós que lhe proporcionámos, pela nossa dependência deles. Há vários PM’s a liderar empresas russas ou com negócios privilegiados com eles, da Alemanha à Finlândia, passando pela Itália, desde a queda do muro de Berlim, tal como em relação à China, na ânsia de deslocalizarmos a produção industrial para sítios mais baratos, sem regras ambientais, seja por via da mão de obra, seja por via da distância geográfica das fontes de energias.
A Rússia sabe que as sanções só produzirão efeitos até aos primeiros sinais de recessão no Ocidente, nomeadamente na Europa.
Jogam num tabuleiro onde o factor tempo lhes poderá ser favorável. Não se importam com o mal estar do seu povo.
Vamos assistir a um jogo de palavras durante vários meses até percebermos quem cede primeiro, perante os sinais de definhamento da economia. Perante uma fuga maciça de ucranianos para os países da CEE.
É nessa altura que eu vou perceber se o Ocidente está mesmo solidário com a Ucrânia, ou se foi Sol de pouca dura.
A guerra é uma coisa terrível, mas só para quem a sofre e se faz mártir. Para os outros é tudo uma questão de mais ou menos hipocrisia, bem servida na CS.
É muito significativo que o Rui, na sua arenga, nem sequer tenha feito a menor alusão ao imperialismo americano e menos ainda ao seu braço armado, a NATO. Porque será?
Claro, nada têm a ver. O seu único problema é Putin ser um autocrata. Como se os regimes ditatoriais fossem alguma vez atacados por essa razão. Todos bem sabemos como o amigo americano convive docemente com as mais ferozes ditaduras, desde que subservientes, claro.
Alguma coerência talvez desse jeito…
Sobre isso já escrevi ontem. E anteontem. E por variadas vezes. Não vou repetir-me todos os dias.
Ou no presente momento há alguma invasão militar Norte americana?
Nao, não há.
Agora que a Rússia, a Ex URSS e o regime Czarista, são todos eles uma sucessão ininterrupta de ditaduras, a História prova-o.
Ou você ainda tem dúvidas? É que se a si lhe assiste essa dúvida, então nem vale a pena responder-lhe.
“É que o pior cego é aquele que não quer ver.”
Quando decidiram que não podiam deixar os trabalhadores tomar conta do país, não era batota ética.Quando decidiram que iam controlar a queda, não era utopia. Quando decidiram controlar a eleição para controlar o país, e o mundo, e acabar com a história, não era trafulhice. Quando se achou bem fazer negócios, aceitar a lavagem de dinheiro, e vender nacionalidades, não era relativização. Quando tudo continuou, incluindo a dependência do gás e petróleo a bem do mercado, apesar de crimes internos e externos, não havia falta de empatia.
Tudo em nome de uma utópica pax americana a bem dos negócios, claramente a culpa só pode ser do marxismo cultural.
E se é complicado, encontrei um desenho:
https://www.thetimes.co.uk/article/mi6-regrets-helping-vladimir-putin-to-get-elected-says-ex-spy-chief-tbttxxljf
Ou no presente momento há alguma invasão militar Norte americana?
Ehehehehehehe!!!
Ainda em 2003 rebentaram com o Iraque e com os países da Primavera árabe!
Oh Naldinho. Vai dar banho ao cachorro!!
Pronto, como isso aconteceu em 2003, 2004, 2005,….está justificada a invasão da Ucrânia por parte dos Russos.
Ó Tal & Qual, essa nem o “ganda noia”!
Está justificada, sim senhor!
Aliás, desde que um tipo chamado Caim invadiu um tal Abel que todas as invasões estão justificadas.