Acabaram-se as desculpas

Transversalmente, os partidos políticos, à semelhança da sociedade em geral, estão viciados na falsa concepção de que existe uma Justiça para ricos e outra para pobres.

Na verdade, quem é pobre ou quem é rico, tem o acesso mais facilitado à Justiça do que a classe média. Os pobres podem recorrer ao apoio judiciário, e os ricos às suas fortunas. Quem faz parte da classe média é que não pode recorrer nem a uma coisa nem a outra. Antes, enfrenta taxas absurdas.

É, pois, imperativo e urgente acabar com as taxas e os encargos proibitivos. E de uma vez por todas, à semelhança da Saúde, ser consagrado o princípio de “tendencialmente gratuita”. Pois se sem Saúde não há vida, sem Justiça não há sociedade.

Infelizmente, a Justiça tem sido assunto mais de títulos noticiosos do que de análise e ponderação. A reboque de fúrias, paixões e oportunismos, pouco se tem feito para começar, desde logo, a legislar melhor.

Do programa eleitoral do PS, existe um diversificado elenco de ambições e de medidas, mormente de modernização e de agilização, que quem as lê fica com a ideia que os socialistas têm estado na Oposição e não na governança.

Nada do que agora o PS propõe realizar, foi feito ao longo dos últimos 6 anos. Pela simples razão de que muito pouco – pois nada seria sempre impossível, por muito pouco que fosse -, foi feito em matéria de Justiça.

Efectivamente, os dois mandatos da Ministra Francisca Van Dunem, reduzem-se a 6 anos perdidos. Nada mais. E, talvez por isso, o PS nem se recorde, que esteve a governar nesses mesmos 6 anos. Prometendo, agora, tudo quanto havia prometido antes e mais um par de botas. Ainda que em matéria de taxas de justiça, apenas ambicione reduzir nos casos em que “importam valores excessivos”.

Ao fim de 6 anos, aperceberam-se que há “valores excessivos”. Lindo!

A verdade é que uma maioria absoluta, acaba com quaisquer desculpas: a Justiça só não se aproximará do povo e cumprirá a sua missão, se não houver vontade política.

Por isso, é bom que se deixem de merdas e arregacem as mangas. Se não for por convicção, ao menos que seja por vergonha. Se ainda houver, uma ou outra.

Boa, Suécia!

Portugal não ratificou alterações a convenção fiscal negociada em 2019 e, descontente com o impasse, Estocolmo pôs fim a acordo original. Agora, vai tributar pensionistas que vivem em Portugal, até há pouco isentos de IRS. “

A Direita e as Direitas – Crónicas do Rochedo 48

 

O principal pecado de RR começa logo nesta divisão. Rio era conservador às segundas, quartas e sextas e liberal às terças e quintas. Nos sábados e domingos dividia-se entre o descanso em Viana do Castelo e afirmar que era de centro esquerda. Em suma, RR era tudo e o seu contrário. No fundo, não era nada. E como não é nada, nada é o resultado da sua liderança no PSD. Um enorme nada.

 

A noite eleitoral de ontem foi um desastre absoluto para parte da direita portuguesa. O CDS-PP desapareceu do mapa que conta e o PSD levou uma pancada monumental. 

Podemos considerar que existem razões internas fruto das respectivas lideranças. Por um lado, temos o CDS-PP de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) que cometeu o erro de não ter feito as directas e, pelo outro lado, Rui Rio (RR) que foi péssimo na oposição. É uma leitura possível mas, a meu ver, simplista. 

Simplista porque o problema do CDS é anterior a FRS. O CDS estava em queda livre e vertiginosa desde que Paulo Portas desertou. A liderança de FRS foi minada desde o momento em que este decidiu, consciente ou inconscientemente, largar as amarras do “portismo”. A partir daí nunca mais teve sossego. Conviveu com um grupo parlamentar que não era o seu e com comentadores CDS nos diferentes órgãos de comunicação social que eram oposição à sua liderança e de fidelidade canina ao “portismo”. Como alguém escreveu (não sei se foi o Rui Calafate ou o João Gonçalves), FRS teve que viver rodeado de lacraus. O cúmulo foi ver como uns desertaram logo no momento anterior à campanha eleitoral e os restantes desertaram da campanha sem desertarem dos palcos oferecidos pelos OCS. Mesmo assim, sem grandes meios humanos, sem meios financeiros e sem boa imprensa até esteve bem na campanha eleitoral. Mas não foi suficiente. 

Por sua vez, Rui Rio com a vitória nas directas conseguiu ter tudo: os meios, a máquina, os opositores e até, pasme-se, boa imprensa. Mesmo assim, não evitou o desastre. Mesmo com a estratégia de comunicação do Rio bonzinho, tolerante e simpático. Quem não o conhecia até podia ser levado a acreditar. Quem conhecia o RR original (que ressuscitou na noite das eleições com o momento alemão) sabia que tudo aquilo era plástico. Não critico a opção dos seus estrategas de comunicação. Apresentar o RR original seria arriscar nem chegar aos 20%. Como os compreendo.

Contudo, o desastre eleitoral do PSD é mais complexo que isto. 

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