Incentivo suicida do Ocidente aos ucranianos

Importa e muito conhecer a História, particularmente a mais recente, para compreender a invasão russa da Ucrânia, mas a interpretação dos factos divide-nos, por fazermos, naturalmente, leituras diferentes.
O que nos deveria exclusivamente interessar neste momento, é como tratar o problema real actual de modo a pararmos a destruição, a morte e a fuga do horror provocados por Putin. Sobre a condenação desta invasão só pessoas muito mal-formadas não o fizeram, mas isso não demove o monstro. Numa guerra não há moral, não há ética, não há humanidade que resista à motivação bélica de quem a pratica. Não se deixem enganar nem iludir: Putin não quer saber de quantos são os que o condenam, de quão forte será a Rússia atingida por sanções económicas. Putin só persegue um objectivo – ganhar esta invasão e sequente ocupação. Nada o desviará desse propósito a não ser que o matem!

Neste contexto, temos uma Ucrânia a que permitimos que sonhasse vir a pertencer à União Europeia e à OTAN e aos ucranianos uma vida democrática e próspera como a que se vive no Ocidente. Acontece que esse sonho que alimentámos aos ucranianos esbarrou com a monstruosidade de Putin escudado no seu imenso arsenal bélico.
Qual é a situação neste momento? Estados Unidos e União Europeia abandonaram a Ucrânia a fazer frente ao monstro, se excluirmos a boa vontade de condenações verbais, de discursos inflados de indignação, de Parlamentos com moções de condenação e de sanções económicas que mais fustigarão a Europa do que Putin.
Pobres ucranianos sozinhos a quererem resistir à inevitável derrota!
A Zelensky, presidente ucraniano democraticamente eleito, incentivamos a continuar a resistir, a fazer acreditar que poderá vencer aquela monstruosidade, apelidando-o de herói!

Haverá alguma heroicidade num presidente que conduz o seu povo para uma morte certa, mais cedo ou mais tarde?

Tendo já vencido a guerra no plano mediático, Zelensky, ou por estupidez, orgulho ou, vá, ilusão, não dá conta que em cada dia que passa morrerão mais ucranianos e que do monstro só poderá esperar maior ferocidade?
Acharão mesmo os Estados Unidos, União Europeia e Zelensky que Putin está preocupado com quanto arsenal bélico perderá ou quantos russos morrerão? Nada disso impedirá o monstro de prosseguir e, quantas mais dificuldades encontrar, com mais dureza fustigará os ucranianos.

Uma guerra é uma guerra, volto ao início, não se conte com misericórdia, para mais quando abandonámos aqueles que, talvez por consciência pesada, os apelidamos de heróis!

De heróis precisará a Ucrânia para se reconstruir, para lutar pelo regresso a uma vida democrática, depois de assumir a derrota, antes que chegue a inclemente chacina de Putin. Mais vale um passo atrás para depois se dar dois em frente, mas…, mas para dar esses dois em frente é preciso estar ainda vivo.

Os senhores da OTAN, se estivessem ao lado da vida dos ucranianos, seria isso que aconselhariam a Zelensky, e estariam interessados em negociar com Putin para atingir um rápido cessar-fogo e os termos de uma rendição da Ucrânia! É que, em boa verdade, trata-se de uma guerra entre Estados Unidos, seus aliados e a Rússia, onde quem sofre são os ucranianos entregues a uma morte certa.
Mas não. Abandonam a Ucrânia, incentivam-nos a caminhar para a morte, chamam-lhes heróis, ou seja, parece que ganham mediaticamente por cada morte ucraniana, tal como os extremistas islâmicos, que chamam de mártires aos suicidas que se fazem rebentar.

Por cada dia que passa, serão mais ucranianos que se entregarão à morte, e qualquer incentivo a resistir a Putin não é mais do que um suicídio colectivo.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Subscrevo este texto.
    E depois ainda há quem ache as guerras um comportamento assente na racionalidade.

  2. POIS! says:

    Estou de acordo. Subscrevo também.

    Aliás, ainda ontem comentei um “post” do A. Pedro Correia (“Resistência”) e penso que o que lá está escrito encaixa perfeitamente no do Carlos.