O Conde Ferreira e a invasão da Ucrânia – Crónicas do Rochedo #56

Nigel Farage says Ukraine invasion is result of EU and Nato provoking Putin

Olhem quem se juntou ao PCP e a outros companheiros de luta de certa esquerda portuguesa, o Nigel! Que maravilha. Por estes dias, vejo juntar-se a este belo grupo de “Putinianos dos Últimos Dias” os chalupas que acreditavam que a vacina para combater a Covid era uma estratégia do Bill Gates para nos “chipar” a todos ou que nos iam infiltrar uma cena qualquer no braço com 5G (confesso que nesta estive esperançado pois nalgumas zonas deste belo rochedo a rede de telemóvel é miserável. Não resultou, dasss). E os terraplanistas. Sim, esses também andam por essas bandas. Les beaux esprits se rencontrent….

Ver o Nigel, o Tiago e a Raquel juntos no mesmo barco fez-me olhar para a realidade com outros olhos. Quando era adolescente (no século passado) costumava juntar-me com os amigos na conversa noite e madrugada fora ali para as bandas do cruzamento da Areosa. De quando em vez surgiam umas figuras fascinantes que desciam a rua de Costa Cabral até ao cruzamento. Eram os mais rebeldes pacientes do Hospital Conde Ferreira. Escapuliam-se dos seus dormitórios pela calada da noite e vagueavam pela Costa Cabral. Uns apareciam nas Antas, outros no Marquês e os que vos falo inclinavam para a “minha” Areosa. Talvez por ser a descer. Talvez.

O que sei é que se juntavam a nós, pediam um cigarro, acendiam e fumavam o SG Filtro com o vigor e o prazer de um fruto que lhes era proibido. E falavam. Falavam muito. Para alguns, no meu grupo, era uma verdadeira conversa de doidos e afastavam-se. Para mim (e para o nosso José Mário Teixeira) não era motivo de alheamento. Pelo contrário. Nunca percebi se por um certo pudor e respeito ficava ali a ouvir. Ou, se calhar, era curiosidade. Ou ainda, como diziam, era proximidade – diz-se que os “tolos” reconhecem os seus pares. Who knows…

De repente, sem mais nem menos, partiam. Subiam em direcção ao seu hospital. E ficávamos nós a comentar esses momentos que eram sempre surreais. O mesmo surreal que sinto quando ouço os Boaventura, as Raquel e outros espíritos sobre a culpa da Ucrânia, da Nato, do imperialismo e do Sérgio Conceição na invasão russa da Ucrânia.

No fundo, continuo na mesma. Fico a ouvi-los. Bastava pedirem e até lhes oferecia um cigarro. Já não um SG Filtro pois disso não há por estas bandas. Mas um Camel dos meus. E depois, era vê-los partir. Não para o hospital, como os outros do passado século. Para o conforto dos seus sofás de couro de Professor Doutor com todas as letras numa qualquer faculdade das nossas Universidades. Só que destes tenho medo. Podem vir a ser professores da minha filha. São professores dos filhos dos outros. MEDO.

Comments

  1. JgMenos says:

    Dessa pandilha, o que mais me delicia é quando me falam do putsh de 2014!
    Os parasitas do putsch de 1975 falam de um outr em que as armas estavam todas nas mãos de uma repressão assassina de civis!

    • POIS! says:

      Pois, pois!

      As duas situações são mesmo muito semelhantes!

      A propósito: tenho aqui uma vala comum no quintal que me está a causar problemas. Não conhece ninguém que trate de casos desses? Quero plantar umas árvores e tenho medo que a fruta saia demasiado proteica.

      Eu pedia ajuda aos vizinhos mas há 47 anos que não tenho nenhum. Também não faz mal, eram todos salazarescos.

      Já lá diz o povinho, na minha terrinha: “Enquanto Menos se delicia com um putsch. vamos vendo subir a conta da lusch”.

      Diz o povinho. Lá na minha terrinha.

  2. POIS! says:

    Por acaso…

    Uma coisa que não consigo compreender é porque é que a esta gente não gosta da NATO.

    Embora não pareça, eu não tenho nada contra a NATO. Pelo contrário!

    Até acho que cada português devia ter uma NATO.


  3. Nada como engolir e bem a versão made in America tanto da pandemia como da guerra na Ucrânia, exorcisar o supremo vilão, apesar de os factos mostrarem o contrário. Os factos? Que se lixem os factos! Quem quer saber deles? A única coisa que interessa é o discurso do Império. Tudo o que for contra isso é para anatemizar o mais possível e os que tal defendem não passam de traidores à Pátria, energúmenos a extirpar, untermenschen… Mas onde é que eu já vi isto????

  4. Paulo Marques says:

    Escondam as crianças, o marxismo cultural ataca outra vez!!!

  5. Vítor Cruz says:

    Pois é Fernando Moreira de Sá, nós é que estamos certos, os outros estão loucos. Ninguém em seu juízo vai tomar à letra o que Jorge Cruz escreveu no poema do tema “os loucos estão certos” popularizado pelos “Diabo na Cruz”…

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Os loucos estão certos
      Os certos estão fartos
      Os fartos são modernos com os pés no chão
      Os sogros estão pobres
      Os pobres estão mortos
      Os mortos são vivos em preservação
      O bairro está cheio
      As cheias estão à porta
      O António das chamuças mudou de canal
      Os loucos estão certos
      É preciso ouvi-los
      Foram avisados não nos querem mal
      Os loucos estão parvos
      Os parvos estão no trono
      O trono que era bênção fez-se maldição
      Os trilhos estão cruzados
      A fome aí à espera
      O tio veio ao casório para insultar o irmão
      Os padres comem putos
      Os putos comem ratos
      Na igreja de São Torpes hoje há bacanal
      Os loucos estão certos
      É preciso ouvi-los
      Foram avisados não nos querem mal
      Ai, ai, ai
      Já que a gente se habitua ao ai
      Ai, ai, ai
      Já que a borga continua
      Já que o ritmo não recua
      Seja o filho avô do pai
      Os loucos estão certos
      Os certos estão fartos
      Os fartos são modernos com os pés no chão
      Os trilhos estão cruzados
      A fome aí à espera
      O tio veio ao casório para insultar o irmão
      Os padres comem putos
      Os putos comem ratos
      Na igreja de São Torpes hoje há bacanal
      Os loucos estão certos
      É preciso ouvi-los
      Foram avisados não nos querem mal
      Ai, ai, ai
      Já que a gente se habitua ao ai
      Ai, ai, ai
      Já que a borga continua
      Já que o ritmo não recua
      Seja o filho avô do pai