PCP – inaceitável justificação contra a comunicação de Zelensky

O PCP exerceu o direito de votar contra a comunicação de Zelensky à Assembleia da República por vídeo-chamada, porque felizmente está num país que vive em liberdade numa Democracia liberal desde Abril de 74. Os militantes do PCP lutaram como ninguém mais contra a ditadura que nos ensombrou durante 48 anos, aos quais agradeço e dedico o meu mais profundo respeito, mas se dúvidas houvesse, não era esta liberdade e esta Democracia que o PCP pretendia, não obstante a ter institucionalmente respeitado.

A sua luta não foi pela Democracia liberal, pela liberdade individual, mas pelo derrube do fascismo com a finalidade de instaurar uma “ditadura do proletariado” alinhada pelo imperialismo soviético, que se opusesse ao imperialismo norte-americano.
O muro de Berlim caiu com o processo de desanuviamento que Gorbatchov permitiu na U.R.S.S, contra o qual o PCP sempre se opôs, tendo estado sempre ao lado dos poderes imperiais russos, herdeiros da ideia de império euroasiático já defendido pelos czares depostos pela Revolução de Outubro.
O Fernando Moreira de Sá foi muito certeiro ao chamar a atenção em post para posição do Daniel Oliveira no “Eixo do Mal” de ontem: Putin é o agressor e a Ucrânia a agredida!
O PCP foi coerente com a sua luta contra o bloco ocidental das Democracias liberais, tomando posição em conformidade com os comunistas gregos e, em particular, com o Partido Comunista da Federação Russa, apesar de haver já vários dissidentes que ousaram chamar o boi pelos nomes, como Evgeny Stupin.

O que é inaceitável, do meu ponto de vista, não é a liberdade de se exprimir como lhe aprouver, mas a justificação que apresentou para sustentar o seu voto:
O PCP condena todos os actos criminosos, incluindo em cenário de guerra, tenham ocorrido ou ocorram em solo da Ucrânia, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia ou de outros países.
(…)
O PCP reafirma que o que se impõe é pôr termo à escalada em curso e contribuir para o cessar-fogo e uma solução política negociada para o conflito e que assegure a paz e a segurança colectiva na Europa
.
Acresce que sua deputada Paula Santos entendeu que:
Assembleia da República, enquanto órgão de soberania, não deve ter um papel para contribuir para a escalada da guerra, para contribuir para a confrontação ou corrida aos armamentos mas sim o oposto, o papel da Assembleia da República deve ser em defesa da Paz.

Dito por outras palavras e sem ambiguidades nem tergiversações, O PCP entende que esta guerra começou em 2014, à qual o Ocidente nunca ligou importância, que os Estados Unidos, através da Nato, empurraram a Ucrânia para uma reacção bélica de Putin ao armá-la desde 2014 e que Zelensky está ao serviço do Bloco Ocidental contra a Federação Russa.

Esta leitura do PCP é humanamente inaceitável no actual contexto de guerra, não porque tenha ou não razão no que refere, mas por ser absolutamente insensível ao sofrimento individual de cada ucraniano! Há já muitos milhares de mortos, milhões de refugiados e mais ainda deslocados em fuga e não é por se dizer que se pretende uma paz imediata que ela é conseguida!
São massacres atrás de massacres, crimes hediondos, guerra sem qualquer misericórdia, assassinatos casa a casa, porta a porta que fustigam as populações indefesas aos quais o PCP, em nome de tácticas geopolíticas e estratégicas, reage sem qualquer compaixão.
E não pode, ou não deve, comparar Zelensky a Putin, pois, de momento, são as forças de Putin que invadiram a Ucrânia e não o contrário!

Muito certeiramente, Rui Naldinho, em comentário ao post de Fernando Moreira de Sá, afirma:

O PCP é o mais coerente de todos os partidos. O que escreve de certa forma é verdade, mas só no que concerne à política doméstica. A nível internacional as coisas não se passam bem assim. Mas também é isso que os está a matar.
Enquanto uns marram de forma obsessiva contra o vermelho, a direita, o PCP marra contra as 51 estrelinhas duma bandeira às riscas.

Se o PCP tivesse justificado o seu voto contra a comunicação de Zelensky à Assembleia da República pelo facto de não pretender dar guarida a uma pessoa que tem por aliados mercenários, milícias e batalhões para-militares fascistas armados pelo Estado ucraniano, talvez tivesse sido mais certeiro, mas, ainda assim, estaria a colocá-lo na mesma posição de Putin que também dá guarida e financia o mesmo género de terroristas.

Esta justificação inaceitável, por mais que o Daniel Oliveira insista, responsabiliza apenas quem a emanou, mas é certo que a extrema-direita europeia financiada por Putin irá explorá-la até à exaustão.

Comments


  1. Há tantos democratas mandando
    em homens de inteligência,
    que, às vezes, fico pensando
    que o capitalismo é uma ciência

  2. estevesayres says:

    Ninguém acredita (só se for por causa da Páscoa), é que a Rússia de Putin, vá negociar a Paz com um indevido que negociou a entrada da NATA e UE na Ucrânia!
    O Povo Ucraniano tem que tomar em mãos a luta contra este neoliberal com tiques a roçar…
    Pelos visto a guerra vai continuar…

    • Paulo Marques says:

      “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força” é perfeitamente valido quando é do clube certo, não sei do que se queixa.