Desproporção (ou inoperância) policial

Durante as últimas semanas tem-se verificado um acréscimo nas acções das polícias (PSP e GNR) em operações stop, colocação de radares e carros descaracterizados, à paisana, naquilo que, na minha opinião, é um aproveitamento do MAI das fragilidades das pessoas. Vivemos tempos difíceis, por conta da pandemia. Os rendimentos desceram e muitos perderam o trabalho que tinham, tendo, agora, dificuldade em arranjar nova colocação. Por tal, é inadmissível o cerco policial (por outras palavras, a caça à multa) que se tem verificado.

Ontem, durante a noite, em Reguengos de Monsaraz, várias pessoas foram atropeladas, durante uma rixa. A polícia esteve presente, neste caso a GNR, e assistiu ao momento. No entanto, nada fez. A passividade das forças de segurança, neste caso, é revoltante e não serve a população.

A gravidade do caso em concreto é de extrema importância. A polícia, em qualquer que seja o caso, deve estar ao serviço da comunidade, nunca contra ela. Ainda assim, e desde sempre, não é isso que acontece. As forças de segurança estão, historicamente, ao serviço das elites. E isso tem de mudar.

Ainda a caça à multas

De acordo com os dados cedidos ao CM pela GNR, no primeiro semestre deste ano foram detectados 15 757 automóveis a circular sem o respectivo visto válido da inspecção. (…) Segundo as autoridades policiais, a falta de seguro e de inspecção dos veículos estão no topo das infracções detectadas. [CM]

Esta notícia é um bom exemplo de manipulação. Quem a ler poderá pensar que os veículos são sujeitos de forma igual a acções de fiscalização e que, dos autos levantados, a maioria das infracções consiste em falta de seguro e de inspecção. Acontece que os veículos não são seleccionados aleatoriamente.

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Ao que isto chegou

Já tinha observado a situação noutras vezes mas neste mês disparou. Da primeira vez fiquei na dúvida. Estaria mesmo o polícia no meio da estrada a olhar para a minha matrícula para me mandar parar? Entretanto a dúvida dissipou-se e agora tenho a certeza. De há uns tempos para cá, nas operações stop, a polícia manda parar os carros de forma selectiva.

Funciona assim:

  • um polícia posiciona-se num local onde possa ver bem a matrícula do carro que se aproxima;
  • se for uma matrícula que corresponda ao mês de inspecção obrigatória, manda o carro parar;
  • depois vai ao lado do condutor, como de costume, pede os documentos, seguro e documento da inspecção;
  • se tudo estiver em ordem, paciência, lá pode o condutor seguir viagem;
  • se falta a inspecção, pimba!, são 250 euros de multa.

Isto não é inventado. Ontem mesmo fui alvo deste ataque. [Read more…]

Profissão: Polícia-Comissionista*

é uma tarde de verão de um dia de Maio; a Guarda Nacional Republicana, quase centenária como a república nacional, tem um brigada junto a uma rotunda, junto à linha do comboio. Passam carros, os agentes bem fardados levantam a mão, param os carros. Boa tarde, senhor condutor, os seus documentos e os documentos da viatura, se faz favor, com certeza, senhor guarda. Os meus documentos, os documentos deste veículo. O senhor onde mora? Moro ali. A sua carta de condução não condiz com o seu bilhete de identidade. Senhor guarda, eu sou um cidadão do mundo, tanto moro aqui como moro na casa do meu pai ou noutro sítio qualquer, sou um cidadão do mundo. Não é nada, só há um domicílio. Tem três dias para apresentar a carta rectificada. Remeto-me ao meu novo estatuto de não-cidadão do mundo e preparo-me mentalmente para o processo de ter um domicílio, só um. Ao lado, a um condutor faltava comprovativo do seguro automóvel, vou ter que o autuar, mas oh senhor guarda, eu tenho os papéis em casa, vou ter que o autuar, estou aqui para trabalhar. Nós agora somos avaliados pelo número de multa que passamos. Fez-se luz na minha cabeça: a polícia da república agora trabalha à comissão, quais vendedores de sapatos (com o devido respeito). Faço um esforço e tento imaginar quantos países da África Negra pagam os seus agentes da lei com base na quantidade e qualidade das multas. É isto a República?

* qualquer coincidência com a realidade é verdade. Sim, eu sei, o MAI apressar-se-á, novamente, a desmentir categoricamente a mercantilização das polícias.