Paráfrases

Depois da “Pátria onde Camões morreu de fome e todos enchem a barriga de Camões” (Almada), e da “Pátria onde Pessoa morreu de bêbado e todos se emborracham com Pessoa” (parafraseio meu, já velhinho), bem vinda será a Pátria onde Herberto morreu em silêncio e todos declamamos Herberto.

Pátria assim é mesmo de poetas, e escreve-se com letra grande.

Perdigão perdeu a pena

Perdigão Perdeu a Pena

Não há mal que lhe não venha.

 

Perdigão que o pensamento

Subiu a um alto lugar,

Perde a pena do voar,

Ganha a pena do tormento.

Não tem no ar nem no vento

Asas com que se sustenha:

Não há mal que lhe não venha. [Read more…]

Hoje é o dia

E. ainda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome
e onde todos enchem a barriga de Camões!

José de Almada Negreiros, A Cena do Ódio


Domingos Sequeira, Morte de Camões

Entrevista a Luís Vaz de Camões

Herman José: Humor de Perdição – Entrevista Histórica a Luís de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Ref: E se tudo o mundo é composto de mudança,
Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

Mas se tudo o mundo é composto de mudança,
Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

Mas se tudo o mundo é composto de mudança,
Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Mas se tudo o mundo é composto de mudança,
Troquemo-lhes as voltas que ainda o dia é uma criança.

Cantiga, de Luís de Camões


Lida por Manuela de Freitas

A opinião de Luis de Camões sobre o acordo ortográfico

Como em qualquer polémica há argumentos para todos os gostos. Os argumentos idiotas, de um lado ou do outro, irritam-me. Na imagem temos a ortografia de Luís de Camões, ou para ser exacto das primeiras edições impressas da sua obra que o manuscrito não chegou aos nossos dias, demonstrando o ridículo deste argumento:

Uma banda de infiéis à obra-prima que possuímos, a nossa bela língua portuguesa, tal como a praticavam Eça, Camões, Pessoa, Camilo, Aquilino, Miguel Torga e tantos e tantos outros, (…)

E não é  que de todos os autores citados apenas o otorrinolaringologista terá publicado em vida com as actuais normas ortográficas?  Chama-se desonestidade, a invocação da nossa língua como sendo o que sempre foi neste caso no capítulo da grafia, mas também se pode chamar ignorância, ou nacional-parvoísmo, que é a mesma coisa.