A abolição silenciosa (e consentida) da democracia

Give up your rights

Ultimamente sinto-me no filme da democracia New World Order style que se desenrola nos EUA desde o muito mal explicado atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001. Há quem acredite que, com o 25 de Abril, assistimos a apenas um PREC. Na realidade foram dois. E ainda que um tenha ficado rapidamente pelo caminho, o “processo revolucionário em curso” levado a cabo pela mesma elite que já governava o país no tempo do outro senhor continua, e conheceu dias de franca expansão desde 2008, altura em que os verdadeiros terroristas do globo decidiram que os países mais vulneráveis da zona euro (entre outros) haviam de pagar as aventuras especulativas dos grandes bancos mundiais e da alta finança em geral. Como resultado de erros que não cometemos e do facto dos 2 partidos e meio que dominam o sistema político serem meros instrumentos nas mãos da verdadeira elite, assistimos hoje ao acelerar da perda de soberania financeira, que de qualquer forma já vinha sendo progressivamente alienada desde a adesão à União Europeia, mais tarde convertida em IV Reich.

Depois de aceite o sistema jurídico dual, caracterizado pela extensão de determinadas imunidades características da classe política a toda uma panóplia de corruptos da área financeira, legal e empresarial, e agora que a malta já se ambientou a ser um protectorado financeiro de instituições não democráticas lideradas por alguns dos criminosos que criaram as condições para a implementação desse mesmo protectorado, parece ter chegado o momento de uma nova fase do processo de abolição silencioso da democracia.

Primeiro foi a entrevista a Durão Barroso ao Expresso, o homem que traiu o país para poder servir oligarcas mais abastados em Bruxelas, que nos veio falar da necessidade de instaurar um regime de bloco central. O mordomo dos Açores acha que “o próximo governo de Portugal vai ser um governo que necessariamente, para ter maioria, vai ter os dois principais partidos e, se calhar, também o CDS, ou seja, PS, PSD e CDS, porque senão, um governo sem maioria parlamentar não terá quaisquer condições de levar a cabo algumas reformas que ainda vão ter de continuar”. Mais do que o apadrinhamento do centrão, José Manuel Barroso, (nome pelo qual é conhecido entre os burocratas onde não pode ser um “Durão” mas apenas um mordomo chamado José Manuel) parece estar a pedir maioria para uma revisão constitucional pois sabe bem que, no actual contexto, não precisa dos 3 partidos para conseguir uma maioria parlamentar. Quanto muito precisa de 2 e o segundo será sempre o CDS-Muleta.

Depois foram as novas regras para a internet, aprovadas há poucos dias ao nível das instâncias europeias, “O princípio do fim da internet como a conhecemos” para parafrasear o meu amigo J. Manuel Cordeiro. Trata-se de uma, digamos, reestruturação da net, que resultará em graus de acesso diferentes para entidades diferentes, num modelo que se espera segregador. Será uma nova era na qual a rede se assemelhará ao sistema jurídico: uma net para quem tem recursos, outra para as proles.

Antes de tudo isto tivemos a demonização do Manifesto do 70. Porque estão preocupados com as suas reformas, porque são radicais de esquerda, porque são irresponsáveis, porque querem atacar o governo quando as coisas começam a “correr bem” (aqui tenho que recorrer a uma expressão comum nas redes sociais que, não sendo verdadeiramente uma palavra, é de conhecimento generalizado e resume muito bem o país que está melhor, descoberto por Luís “Mozart” Montenegro: LOL) e outra vez porque são irresponsáveis. É incrível que já tenhamos chegado a um ponto em que apresentar uma visão alternativa à vigente representa um acto de heresia.

E como se tudo isto não bastasse, descobrimos agora que temos uns infiltrados da Al-Qaeda (como se já não nos chegassem os infiltrados da Irmandade da Goldman Sachs). Não tarda muito somos presos sem acusação formal e forçados a ver a nossa vida vasculhada sem que tenhamos o direito de abrir o bico. Só nos falta uma filial de Guantánamo nas Selvagens.

Resumindo:

  1. Somos levados a acreditar que devemos pagar uma crise pela qual fomos responsáveis mas que na verdade não fomos. No processo transferimos a nossa soberania financeira para instituições privadas ou comunitárias cujos responsáveis não são eleitos mas nomeados pelos seus pares.
  2. Aceitamos a existência de um sistema jurídico ao qual a elite é imune.
  3. Somos levados a acreditar que esta demência a que alguns chamam “ajustamento” está mesmo a correr bem e influenciados a dar suporte ao bloco central de interesses.
  4. Assistimos ao início da censura na internet.
  5. Observamos a demonização de qualquer tentativa de pensamento alternativo ao vigente.
  6. Somos confrontados com a ameaça do terror (e quem nos colocou na rota da Al-Qaeda, quem foi? O José Manuel…).

Inexistência de soberania financeira, sistema jurídico viciado, corrupção generalizada, concentração de poder em pequenas elites protegidas pelos partidos políticos que nos colocaram nesta situação, censura e informação manipulada, demonização de toda e qualquer alternativa e instigação do medo. Tudo isto perante uma sociedade portuguesa (e europeia) confusa, revoltada e à mercê das Marines Le Pen desta vida. Quanto tempo faltará até que estejamos a implorar por uma ditadura, e já agora por um chip subcutâneo?

Comments

  1. Hugo says:

    Há neste post muitos exageros e incorrecções. Em primeiro lugar, a responsabilidade da crise. Foram governos legitimamente eleitos em democracia e liberdade (especialmente um deles) que endividaram o país até ao pescoço (mais de 100% do PIB). Não foi a Goldman Sachs (aliás grande parte da nossa dívida foi comprada por bancos portugueses, a maior parte dos quais está agora com prejuízos). Com essa divida construiu-se parte do “estado social” que temos. Naturalmente o peso do serviço da dívida aumentou sem correspondente aumento da matéria colectável e da riqueza pública. O resultado foi chegar ao ponto em que se tem que cortar em algumas despesas públicas. O que me leva à reestruturação e às críticas que lhe lançam. Lançar críticas a uma ideia é bem capaz de ser a base de qualquer democracia, mas para o autor do post a liberdade de opinião é boa desde que não ataque as suas próprioas ideias. O pedido de reestruturação é equivalente a eu ter pedido um empréstimo para comprar um carro e depois vejo que não consigo pagar as prestações. O banco diz-me “venda o carro e salde parte da dívida” e eu respondo “não, não, vocês é que têm que me dar melhores condições para eu pagar”. Não sei como isto é honrado, mas alguém me há-de explicar. Dir-me-ão que estão em causa vidas de pessoas e não carros. Perfeitamente de acordo. Então nesse caso, o estado que comece por proteger os mais desvalidos. Mas o que vemos? Pessoas que ganham 1500 euros por mês a queixar-se de que só vão ganhar 1400 e ainda por cima têm que pagar mais 5 euros quando vão à consulta ou 4,25 de portagem para irem visitar os sogros a Vale da Burra. Entretanto, velhotes com 150 euros de pensão têm que fazer pela vida ou casais desempregados perdem a casa e vão viver para a rua. Belo estado social e bela justiça social. Depois vem a censura na internet, porque há empresas que transmitem teras de informação por dia e vão ter um serviço melhor que os blogues com 10 visitas por semana. A única coisa com que concordo a 200% é com o sistema judicial para quem há filhos e enteados. Aqui há dias um padeiro roubou alegadamente 70 cêntimos e foi condenado por um tribunal pagar 200 e tal euros (e nós todos fomos condenados a pagar o processo). Por outro lado, quem rouba milhões vê as multas e os processos a prescrever. E o maior problema é que isto pode ser absolutamente injusto, mas… é legal. Não admira, já que passamos do 8 para o 80, de um sistema em que prendia sem culpa formada pessoas só porque se suspeitava que o sr. A era comunista para um sistema que oferece 1001 garantias aos cidadãos. Obviamente, quem tem mais dinheiro tira um muito maior proveito desse sistema. Basta ver a diferença de tratamento entre um padeiro e um banqueiro.

    • Boa tarde Hugo,

      Nota prévia: não posso deixar de reparar que começou imediatamente por pegar na Goldman Sachs, algo que no texto só existe enquanto link e que, apesar de provavelmente ser o principal centro do crime financeiro mundial, aqui é meramente ilustrativo de uma realidade mais macro e apenas é citado por ter desenhado o embuste grego.

      Vamos então pegar no caso da Grécia. Talvez o senhor não esteja a par, mas é de conhecimento generalizado que a Goldman Sachs foi contratada pelo governo grego para mascarar a dívida do país e, dessa forma, enganar a União. Ou seja, o Estado é mau porque se endivida, mas o Banco que trabalha no sentido de enganar a União Europeia é completamente inocente. Principalmente quando o responsável pelo departamento que vendia estes “produtos” se chamava Mario Draghi. Mas repare: o senhor está no seu direito de acreditar naquilo que quiser. Se quer acreditar que as dívidas soberanas são da exclusiva responsabilidade dos maus governantes ou, melhor, do cidadão comum que gastou demais, está no seu direito. A realidade, para quem a quer ver, é que a alta finança mundial manipula todos os sectores de actividade e a esmagadora maioria de políticos de merda que se vão sucedendo. Relembro-lhe que, antes de 2008, a percentagem da dívida portuguesa detida por credores estrangeiros rondava os 75%. Hoje está abaixo dos 20%. Os números, os ganhos obtidos por esses mercenários e a forma como conseguiram transferir o risco para as instituições das quais estamos dependentes fala por si. O senhor fala em exageros e incorrecções mas a sua imprecisão é aqui fundamental: a nossa dívida até pode ter sido comprada pelos bancos nacionais mas essa é uma realidade significativa desde 2008 quando a bolha rebentou.

      Em segundo lugar, existe aqui um aspecto (entre outros) que nos separa: se você considera que aqui os políticos são eleitos em democracia e liberdade, então com certeza que será um dos poucos homens de direita a defender o governo de Nicolás Maduro, eleito com base no mesmo tipo de democracia e liberdade. Eu vejo essa democracia e liberdade de outra forma pois não considero assim tão democrático que as elites partidárias do PS e do PSD, orientados pelos interesses económicos conhecidos por todos, que escolhem não o melhor mas aquele que melhor serve esses interesses, protagonizem um sistema eleitoral democrático e livre. Aquilo que o senhor entende por democracia e liberdade eleitoral para mim significa “a possibilidade de escolher entre aqueles que a elite designou”. Caso contrário, nulidade como Passos Coelho ou AJ Seguro nunca liderariam os seus partidos.

      Queria também recordá-lo que se foram os governos mais recentes a levar a dívida para valores astronómicos, os problemas estruturais da economia começam muitos anos antes, com a decapitação da agricultura e/ou das pescas pelo padrinho do BPN. Mas se a sua crítica se dirigia à acção de José Sócrates, gostava de o relembrar que os programas de investimento público, imediatamente anteriores ao “crash” de 2008, foram incentivados e aplaudidos por Bruxelas e Berlin.
      Outra meia-verdade a que nos vamos habituando nos blogs cuja função é defender o governo chamando-lhe “socialista” para enganar quem anda a dormir é essa de que “com essa dívida construi-se o estado social”. Não meu caro. Construíram-se as fortunas de Mellos, Espiritos-Santos, Amorins e afins.

      Construíram-se monopólios para a elite deste país. Fizeram-se BPN’s, BPP’s, auto-estradas paralelas, e muitas obras públicas em Lisboa. Isso não é estado social nenhum. E claro que, desta forma, a encher os bolsos de quem mal paga impostos, a dívida tornou-se insustentável. Num país onde a corrupção política do bloco central é tolerada e prática comum e onde as fortunas da meia-dúzia de milionários de topo aumentam 7,5 milhões de euros no pico da crise o que podemos esperar?

      O resultado é aquele que se quis aplicar. Poderiam haver outros caminhos. Se é possível cortar na despesa pública, não será também possível, por exemplo, taxas as grandes fortunas ou cortar rendas absurdas conseguidas através da corrupção política? Será mais prejudicial à economia chegar à porta da Mota-Engil ou do grupo Mello e dizer-lhes “desculpem lá meus senhores mas a renda X termina hoje”. Os magnatas, aborrecidos porque ficariam menos magnatas poderiam dizer, com legitimidade: “mas nós temos contratos onde tudo isto está acordado”. Pois têm. Da mesma forma que nós temos uma Constituição que não está a ser respeitada. A diferença é que alguns contratos podem ser desrespeitados outros não. Por isso um dos caminhos possíveis é efectivamente cortar na despesa. Mas não é o único. Para além disso, cortar na despesa não tem que incidir sempre nos salários, nas pensões ou na supressão de serviços vitais para a sociedade. Onde estão os cortes nas despesas principescas dos governantes? Onde estão os cortes nos balúrdios que os partidos gastam em propaganda, cantores pimba e lixo de cada vez que há uma eleição? Onde estão os cortes nas isenções concedidas à elite, aos seus rendimentos, às suas empresas e aos seus investimentos em geral?

      O senhor faz me uma acusação falsa e grave que o convido a explicar: a de que sou um defensor parcial da liberdade de expressão. Quanto ao pedido de reestruturação, remeto-o para os autores/subscritores do mesmo. Se se tivesse dado ao trabalho de ler o que escrevi antes do seu ataque standardizado, rapidamente perceberia que a única consideração que fiz sobre o Manifesto dos 70 foi relativa à demonização desta (e de qualquer outra) iniciativa por não se enquadrar no establishment actual. E do facto de ter descido ao ponto idiota de acusarem pessoas como Bagão Félix ou Manuela Ferreira Leite de estarem a tomar esta posição para salvaguardar as suas reformas como se delas realmente precisassem. É patético sabe? O defender da ideia e o acreditar nela. Patético.

      Mas já que estamos na “dignidade” da dívida, e sem querer recorrer a exemplos ilustrativos e simplistas como o que refere, será que existiu alguma dignidade na festa de crédito fácil concedido nas décadas que antecederam esta crise? Será que os bancos não sabiam o que estavam a fazer? Será que os reguladores alguma vez regularam efectivamente? Será que os bancos não sabiam quando concediam créditos a famílias sem condições para a médio prazo cumprir os seus compromissos? Será que os bancos e a sua publicidade manipuladora, tolerada pelos decisores deste país é inocente? Mas você acha que existe dignidade nos centros de decisão do sistema bancário? Melhor: acha que devemos tratar com dignidade quem não tem um pingo de respeito por quem quer que seja? Eu que sou radical e às vezes canibalizo umas crianças ao pequeno-almoço digo-lhe: não meu caro senhor: é trata-los como merda ou abaixo disso. Poucas coisas me dariam tanto prazer como, por exemplo, ver ruir o império BES ou ver uma reunião do conselho de administração da GS ser alvo de um atentado bombista de onde não sobrasse meio filho-da-puta para contar história.

      Reduzir o problema às “pessoas que ganham 1500 euros por mês a queixar-se de que só vão ganhar 1400” é um pouco coerente. A avanço da pobreza neste país é revoltante e assustador, e torna-se mais grave ainda quando olhamos assistimos ao enriquecimento dos mais ricos em simultâneo.
      A questão da internet não a vou discutir consigo caro senhor. Se o senhor acha que o acesso à informação deve efectivamente ser diferenciado mediante os seus recursos então pouco haverá a dizer-lhe sobre este aspecto…

      E finalmente estamos de acordo. Mau era que não estivéssemos! Até o Jardim Gonçalves ficou triste pelo facto do seu processo, aquele que prescreveu, não ter ido até ao fim, imagine nós, simples e comuns mortais (eu pelo menos sou, trabalho e pago impostos e ando aqui a ser diariamente roubado para depois levar com moralistas de blogues nazi-liberais a falar de despesa pública quando eles próprios são investigadores sem grande utilidade que não seja propagar o pensamento dominante) estarmos em desacordo. Mas sabe porque é que estas maroscas são todas legais? Porque são desenhadas pelos advogados e pelos bancos que se sentam todos os dias no Parlamento para nos roubar no exercício das suas duplas funções público-privadas.

  2. JgMenos says:

    O caminho seguro para a inconsequência é tudo denegrir e tudo exagerar.
    Mas o grau de arrogância como os inconsequentes se proclamam é coisa que só brandos costumes toleram!

  3. São radicais de esquerda uma ova!

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