Eles decidem por nós

Triple A

João Vieira Pereira, colunista-blogger do Expresso muito apreciado pela ala liberal nacional, brindou-nos ontem com aquilo que, na minha qualidade de leigo do economês, me parece ser uma verdade absoluta nos tempos que correm:

Os mercados e as agências de rating funcionam a velocidade diferentes, mas se tivesse de escolher em que indicador confiar, o rating continua a ser o mais fiável. Estas agências analisam tendências de longo prazo, olham para os fundamentais da economia e decidem sobre a capacidade de um país pagar as sua dívidas no futuro.

Não só é fiável como continua a sê-lo. As premissas que regem os ratings atribuídos pelas agências privadas norte-americanas, promiscuamente ligadas a especuladores diversos, continuam tão fiáveis como no dia em que atribuíram um triplo A ao Lehman Brothers, imediatamente antes deste falir. Mas o que é verdadeiramente interessante neste curto mas esclarecedor artigo, é perceber o entendimento que um opinion maker tão experiente na matéria tem sobre estas agências, tão servis aos interesses do costume como o político mais canalha e corrupto, considerando que estas “decidem sobre a capacidade de um país pagar as sua(s) dívidas no futuro“. O que o nosso país possa ou não fazer é irrelevante. São os marionetes das Goldmans desta vida que o decidem por nós, essa é a verdade absoluta. JVP limitou-se a constatá-la. E pensar que ainda anda por ai tanta gente que pensa que a nossa soberania financeira (e não só) foi transferida para as instituições europeias…

Saída limpa

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Mais c, menos c, está a orrer om normalidade

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“está o fato“, escreve-se num jornal onde a aplicação do acordo ortográfico decorre com normalidade.

Em honra da Fitch

Governo propõe alteração do hino nacional para: “Levantai hoje de novo o outlook de Portugal”.

O Aluno, essa “Hostia” sagrada

Francisco da Cunha Ribeiro

Li num jornal sério que uma “professora,  agredida por um aluno, acabou suspensa das suas funções”. Quanto ao agressor, nem uma palavra. Quero crer, porém, que não o aplaudiram pela cobarde agressão; que o não repreenderam por não ter ido mais além na violência da sua agressão;  ou que lhe não subiram de imediato a nota à disciplina de Moral.
Mas a notícia esclarece ainda que “ a professora fez dezanove participações disciplinares relativas à mesma turma, desde o início do ano letivo”. Ora, dezanove participações disciplinares, ao longo do ano, serão de facto muitas participações… A Sra professora que me desculpe, mas não deve  saber o que anda a fazer… A turma em questão “certamente repleta de bons rapazes e boas raparigas ” não merece tanta participação disciplinar… É que  com esta resma de participações sabe-se lá se os meninos e as meninas não ficam traumatizados… Coitados! Mas há mais: ” a Escola pediu avaliação médica da professora…”  Pediu, e, a meu ver, fez  muito bem! A sra professora só pode sofrer da caixa dos pirolitos!  Admite-se lá fazer participações disciplinares a alunos tão disciplinados! Noutros tempos, sim, era normal os professores despacharem os alunos com participações disciplinares, hoje em dia não é necessário, visto o comportamento exemplar dos nossos alunos. Nos dias de hoje, em que os pais educam tão bem os seus filhos, ninguém irá entender que, em vez de uma participação disciplinar, não se dê ao aluno uma decisiva e eficaz lamparina.

Partiu Sue Townsend

sue twon
A morte de uma escritora com a qual se mantém, ao longo dos anos, uma empatia e uma cumplicidade que ultrapassa a dimensão literária, entristece-nos como se nos desaparecesse um amigo. E a repetida constatação de que a obra continua ou, quem sabe, cresce com o tempo, é fraca consolação.

Sue Townsend era, para além dos seus inegáveis méritos literários, uma mulher e uma artista corajosa. A saga de Adrian Mole que a tornou famosa, não é só uma incursão pelo desenvolvimento, da infância à idade adulta, do seu neurótico e impagável anti-herói. É ainda um retrato humorístico, sim, mas também cáustico e implacável do thatcherismo e, no final da saga, de um blairismo que vem a decepcionar profundamente a socialista – mesmo! – que Sue era. Nada escapa – e não deixou de ter sérios incómodos por isso – à sua pena afiada, como se prova no hilariante A Rainha e Eu, onde a autora nos conta as desventuras da família real britânica, reduzida a utente de um bairro social após a vitória de um imaginado “partido republicano”.

Leiam, pois, um livro dos seus em sua memória e, se não a conhecem, verão que não resistem a ler os seguintes.